O debate presidencial promovido por UOL, Folha e SBT não produziu nenhum lance capaz de despolarizar a sucessão de 2018. Ao contrário. O programa
potencializou a sensação de que o jogo do primeiro turno está jogado.
Sem muita presença de espírito, Bolsonaro beneficiou-se da ausência de
corpo propiciada pela hospitalização. Presente, Haddad saboreou os
ataques que o vincularam a Lula. A lulodependência tornou-se para ele uma espécie de kriptonita
às avessas, pois é da cadeia de Curitiba que vem o superpoder que o fez
voar nas pesquisas, saindo de um dígito para mais de 20% das intenções
de voto. [será que a tão falada transferência, não passou apenas de mero impulso que sempre aumenta o 'ibope' de quem acaba de chegar a uma disputa?
Tanto que mesmo dentro da margem de erro Haddad perdeu um por cento - será uma 'destransferência'?
O fato ocorrido em 2014, quando o terceiro passou a segundo e foi para segundo turno, só reduz a credibilidade das pesquisas, que além da chamada margem de erro - 2% - também tem possibilidade de outro erro - 5% - já que sua confiabilidade é de 95%.
Dirão os devotos do presidiário de Curitiba que Bolsonaro caiu o mesmo percentual, só que os eleitores de Bolsonaro são genuínos e nos dez dias que restam vão crescer bastante.]
Os rivais de Bolsonaro e Haddad serviram aos espectadores
mais do mesmo. Em sua versão “doce de coco”, Ciro não perdeu a calma
nem quando Cabo Daciolo lhe perguntou por que preferiu o Sírio Libanês a
um hospital público quando precisou tratar da próstata, na noite
anterior. Soou insincero ao dizer que tomaria distância do PT se fosse eleito. Alckmin recorreu ao velho blá-blá-blá quando lhe esfregaram na face a corrupção
do PSDB. “Todos os partidos estão fragilizados”, disse. “Não passamos a
mão na cabeça de ninguém”. Marina gastou baldes de saliva dirigindo
apelos ao eleitorado feminino, que não a escuta. Escaldada pelo apoio
dado a Aécio em 2014, absteve-se de assumir novos compromissos. Meirelles, Dias e Boulos esforçaram-se para aparecer. Mas tiveram um desempenho de sub-Daciolo.
Embora frequente a cena eleitoral sem nenhuma chance de virar
presidente da República, Cabo Daciolo revelou-se um candidato imbatível
ao posto de piada.
Nas suas considerações finais, Daciolo vestiu-se de profeta: ''Estou
profetizando à nação brasileira que vou ser o próximo presidente da
República, para honra e glória do Senhor Jesus, em primeiro turno, com
51% dos votos. (…) Deus está controle.'' O Todo-Poderoso, como se sabe,
existe. Por isso, é improvável que o Apocalipse ocorra em 7 de outubro.
Mas o Cabo fala em Deus com tal convicção que muita gente fica tentada a
acreditar que Ele talvez não mereça existir.
Deve doer em Ciro,
Alckmin, Marina e nos outros presidenciáveis a ideia de que fazem o
papel de figurantes numa peça confusa em que os personagens principais
são um admirador da ditadura militar e um poste fabricado na cadeia. Mas
é improvável que a plateia tenha enxergado no debate qualquer coisa que
se pareça com um fato novo capaz de modificar o enredo da polarização.
Os candidatos e seus argumentos rodam como parafusos espanados.
Blog do Josias de Souza
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