Fernando Haddad, ele mesmo denunciado na Lava Jato, não quis ficar só: o tesoureiro de campanha que escolheu, Francisco Macena, também é réu
Os presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) (Paulo Whitaker/Nacho Doce/Reuters)
Bolsonaro
é auto-suficiente. Quem tem a seu lado o general Mourão não precisa de
inimigos. Fernando Haddad é não-suficiente: em boa parte do país há apreensão
de material de campanha petista que, sem dar nomes, manda votar no 13 — e põe,
ao lado, o retrato de Lula. A vida é dura: Bolsonaro, tão fã de militares, tem
de mandar um general ficar quietinho. E Haddad? Estudar tanto, por tantos anos,
para virar genérico de presidiário?
Os
problemas de ambos, porém, não se limitam aos aliados. Chegam agora a seus
eleitores, em reportagens de capa nas grandes revistas semanais. Haddad, mostra
a IstoÉ, tem a campanha comandada de dentro da cela de Lula, preso
em Curitiba. E Bolsonaro: é capa da Veja, com base no processo em
que se separou de Ana Cristina Siqueira Valle. Ela o acusou de ocultar da
Justiça Eleitoral, em 2006, três casas, um apartamento, uma sala comercial e
cinco lotes. E de ter rendimentos superiores ao triplo do salário de deputado somado
aos proventos de militar da reserva. Quem pagava o extra? [a suposta acusadora já declarou em diversas entrevistas que mentiu ao fazer as acusações, atribuindo tal conduta ao fato de durante um processo de separação ser comum a troca do que ela chama de cotoveladas.
Assim, não tem como prosperar as acusações apresentadas por Ana Cristina, que inclusive tece elogios ao capitão.] Ela não esclarece.
Ainda o acusa de ter furtado, do cofre dela no Banco do Brasil, R$ 600 mil,
mais US$ 30 mil, mais jóias. E de tê-la ameaçado de tal maneira que ela foi
morar na Noruega. Verdades
ou mentiras? O fato é que o processo estava arquivado e Veja teve
que desarquivá-lo. Ana Cristina hoje apoia Bolsonaro, mora no Brasil, diz que
exagerou na ação e adotou o nome eleitoral de Cristina Bolsonaro.
Com quem andas
Haddad,
ele mesmo denunciado na Operação Lava Jato, não quis ficar só: o tesoureiro de
campanha que escolheu, Francisco Macena, também é réu. Acusação: receber R$ 2,
6 milhões de pixuleco da empreiteira UTC para pagar dívidas de campanha. Mônica
Moura, mulher do marqueteiro João Santana, reforça as denúncias de uso
intensivo do caixa 2. Três tesoureiros do PT foram condenados e há outros dois
citados por delatores.
Do zero ao infinito
Mas o
grande problema atual da chapa do PT não é a corrupção. É a capa da
revista IstoÉ desta semana: mostra como o ex-presidente Lula,
cumprindo pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, de dentro da prisão
comanda a campanha de Haddad; “De lá”, diz a revista, “o petista articula a
cooptação de caciques regionais e até entregas de dinheiro por meio de
jatinhos”. Um caso, com nomes citados: “Ao descobrir que um dos motores
da candidatura de Ciro no Maranhão era o deputado Weverton Rocha (PDT-MA),
candidato ao Senado, Lula, por meio de Gilberto Carvalho, enviou uma importante
mensagem a Valdemar Costa Neto (ex-presidente nacional do PTB, preso em
regime semi-aberto): ‘Faça chegar dinheiro à campanha de Weverton Rocha’.
O deputado, conforme informações colhidas por Lula da prisão, precisava de R$ 6
milhões para deslanchar sua campanha. (…) Valdemar deflagrou a operação para o
envio do dinheiro ao Maranhão”. A verba foi enviada num avião Cirrus, a serviço
da empreiteira CLC, diz IstoÉ. O avião caiu em Boa Viagem,
Pernambuco, mas sem vítimas nem danos à carga. O dinheiro, completa a revista,
foi entregue ao candidato, que então cortou o apoio a Ciro e o deu a Haddad.
A revista
publica textos de bilhetes, diz quem são os portadores que vão à prisão ver o
Chefe e lá recebem as mensagens de comando aos políticos da aliança. Na
campanha, pelo que está publicado em IstoÉ, só resta um papel a
Haddad: fingir que ele não é ele, mas Lula. Não lhe deve ser difícil.
Ruim até para Alckmin
Este é um
fim de semana de más notícias para os candidatos — até para os que estão com as
intenções de voto lá em baixo. Alckmin, por exemplo, que imaginava estar
deslanchando a essa altura da campanha, pelo domínio do tempo de TV, ainda
encontrou espaço para levar mais uma pancada — e em Goiás, onde os tucanos
estão no poder há longo anos, onde o candidato do partido ao Senado, Marconi
Perillo, é também um dos coordenadores da campanha tucana à Presidência. Na
manhã de sexta-feira, a Polícia Federal desfechou a Operação Cash Delivery, que
investiga pagamentos irregulares a agentes públicos. Um dos alvos da Cash
Delivery é Marconi Perillo, citado em delações de executivos da Odebrecht. A
defesa do governador (e candidato ao Senado) afirmou que a operação foi
desfechada agora para prejudicar a campanha. De acordo com as delações, Perillo
teria obtido duas doações da Odebrecht, uma de R$ 2 milhões, em 2010, outra de
R$ 10 milhões, em 2014. Se não se eleger, Perillo perde o foro privilegiado.
A facada e a leitura
Depois do
atentado a Bolsonaro, a leitura de artigos sobre ele triplicou: é o que indica
a pesquisa da Taboola, plataforma internacional de descoberta de conteúdo,
líder mundial no setor. A leitura on-line passou de 7,6 milhões para
20,71 milhões em um mês. As datas de maior crescimento foram a do atentado, dia
7, e a da segunda cirurgia de emergência, dia 13.
Publicado
na Coluna
de Carlos Brickmann
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