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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

As divisões até na hora de somar

Bolsonaro atribuiu o ato do criminoso que atentou contra a sua vida aos “inimigos da pátria”, insinuando serem seus adversários políticos

[nada contra  que grande parte da imprensa seja contra Bolsonaro;

só que estão diante do inevitável, de um fato consumado: ontem foi a posse de Bolsonaro no cargo de presidente da República, é fato e acabou.

Ou aceitam ou mudem - de país ou de profissão. Optando por não mudar que procurem evitar críticas destrutivas, de deboche, estilo 'quanto pior, melhor'.

Críticas podem e devem ser apresentadas, mas, que construam, que inibam bobagens de opositores desesperados, muitos, agora desempregados.

É notório que a limpeza realizada por Temer - ao remover grande parte da escória petista que estava pendurada no serviço público, nos cargos em comissão - não foi completa.

Agora sim, será completa, total e irrestrita. Alcançará esquerdistas, petistas, lulopetistas,  socialistas e outras categorias assemelhadas.

Agora sim, será 

Sem lulopetistas = limpeza completa.]

O presidente Jair Bolsonaro poderia ter só somado ontem, mas preferiu dividir. Era momento de festa cívica, o da posse de um presidente eleito, resultado da oitava eleição consecutiva desde a redemocratização. Mas ele escolheu restringir em vez de ampliar. Isso ficou claro até no momento mais tocante, quando, no Parlatório, a primeira dama Michelle falou aos deficientes auditivos usando a linguagem de libras para incluí-los na cerimônia. Logo depois, Bolsonaro afirmou que iria acabar com o politicamente correto. O gesto que sua mulher acabara de fazer era politicamente correto. E lindo.
Nos seus discursos, Bolsonaro deu sinais em sentidos opostos. Convocou o Congresso para ajudá-lo a reconstruir o país e resgatar a esperança. Num improviso, brincou que estava “casando” com o Congresso. Falou em dar mais poderes aos estados e municípios. Disse que reafirmava seu compromisso de construir uma sociedade sem discriminação e sem divisão. Ele afirmou que queria a ajuda do Congresso para libertar a pátria da “irresponsabilidade econômica”. Precisou ser lembrado pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira, de que ele não começava do zero, que vários avanços econômicos foram conseguidos na gestão do ex-presidente Temer.
Sua insistência no que chama de “ideologia de gênero”, ou “viés ideológico”, é a repetição do que disse na campanha, mas é contraditório. Esse é um governo com viés e ideologia. Foi eleito entoando discurso de direita. Governará com estas ideias. Isso é natural. O que ofende os fatos é dizer que agora o país estará “livre das amarras ideológicas”. Está trocando amarras, pelo visto. 
[deve ser considerada que há amarras negativas e amarras positivas, que somam e Bolsonaro está livrando o país das amarras negativas, entre elas a do maldito 'politicamente correto', da maldita 'ideologia de gênero', das 'cotas', da 'destruição das Famílias' e tudo o mais que não presta e que a esquerda, com destaque para a corja lulopetista, tentava fazer de ruim contra nossa Pátria.] 
 
No ponto mais perigoso do seu discurso no Congresso, Bolsonaro coletivizou o ato do criminoso que atentou contra a sua vida ao dizer: “quando os inimigos da Pátria, da ordem e da liberdade tentaram pôr fim à minha vida, milhões de brasileiros foram às ruas”. [os autores do atentado contra Bolsonaro são inimigos da Pátria, visto que ao atentarem contra a vida do presidente Bolsonaro, tentavam continuar assaltando os cofres públicos, implantando ideologias espúrias.

É pacífico que se eles foram capazes de matar o ex-prefeito Celso Daniel e o Toninho do PT, continuam capazes de tentar eliminar Bolsonaro.

Sabemos que o desempregado Adelio foi um mero instrumento de uma operação maior e que só não foi exitosa pela proteção de DEUS concedeu ao presidente Jair Bolsonaro.] 
 
Nessa narrativa ele joga o epíteto de “inimigos da pátria” aos seus adversários políticos e os mistura com o autor do atentado. Cria uma ambiguidade perigosa. Disse que foi eleito a partir da reação da sociedade a esses “inimigos”. O Brasil conhece o risco das narrativas que distorcem os fatos. Conhece também o perigo dos líderes que se apropriam da bandeira nacional como sendo expressão de uma ideologia, em vez de ser o manto que nos une. Na economia, o presidente Bolsonaro alinhou uma série de bons objetivos. O país pode de fato entrar num círculo virtuoso, como ele disse, se houver aumento da confiança depois de reformas e medidas que elevem a eficiência da economia. “Realizaremos reformas estruturantes, que serão essenciais para a saúde financeira e sustentabilidade das contas públicas”.

Bolsonaro diz que, na economia, seu governo trará a confiança “no cumprimento de que o governo não gastará mais do que arrecada”. É importante que ele reafirme esse compromisso, mas será preciso união em torno de medidas impopulares para que a promessa do ministro da economia, Paulo Guedes, de zerar o déficit público em um ano, vire realidade. Essas “reformas estruturantes” realmente acontecerão caso o presidente Bolsonaro tenha muito mais convicção do que tem demonstrado. Em geral, suas falas sobre economia são hesitantes. Um ponto destoante foi o do tratamento à imprensa nacional e estrangeira credenciada para cobrir a posse. Os cuidados com a segurança do presidente eram necessários, sem dúvida. [o que destoa é jornalista chinês se sentir tolhido para trabalhar pelo esquema de segurança protegendo a posse.
Aquele profissional deve conhecer bem e no dia a dia o que é o esquema de segurança chinês - fosse lá, ele não teria tempo disponível nem para apresentar a crítica. Mas isso foi usado como pretexto para cercear o trabalho da imprensa. Eu estive na cobertura de posses em Brasília, desde a do presidente João Figueiredo. Jamais me deparei com os absurdos que aconteceram ontem, como o de exigir que jornalistas chegassem sete horas antes do evento para ficar confinados em cercados. O confisco das maçãs foi só um toque a mais de nonsense no meio de uma coleção de abusos.
O presidente Bolsonaro disse que uma de suas prioridades é “proteger e revigorar a democracia brasileira”. Isso é animador, principalmente vindo de quem, no passado, elogiou regimes de força. A democracia pressupõe uma imprensa livre e atuante. [excelente; cabe acrescentar que evite realizar reportagens baseada em indícios.] Que os excessos de ontem não sejam o prenúncio de uma relação autoritária, mas apenas um erro a ser corrigido.

Miriam Leitão - O Globo
 

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