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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

No Planalto como no palanque

Na posse ‘salva’ por Michelle, Bolsonaro continuou falando para seus eleitores com o viés ideológico que tanto critica 

[Fato: Bolsonaro é o presidente do Brasil, foi legalmente empossado e começou a governar ontem mesmo - contra fatos não há argumentos. 

Especialmente quando os fatos representam o melhor para o Brasil - caso presente.]


O destaque absoluto na posse de Jair Bolsonaro não foi o presidente, mas a mulher do presidente pelo ineditismo do discurso de Michelle, não apenas pelo muito bem sacado lance de se dirigir ao público na linguagem brasileira de sinais (Libras), mas principalmente pelo fato em si: nunca se tinha visto tal protagonismo de uma primeira-dama (título retrógrado para a personagem em questão) em pronunciamento no parlatório. Adequado aos tempos e muito útil para a imagem de um presidente tido, entre outros anacronismos, como machista.

Quanto ao chefe da nação que inicia agora seu mandato, os dois discursos, no Congresso e no Palácio do Planalto, podem ter sido empolgantes para seus eleitores, mas foram francamente decepcionantes para a sociedade em geral. O conteúdo das falas de Bolsonaro desmentiu a manifesta intenção de arrefecer os ânimos polarizados e governar para todos. [um governante sério, responsável e que preze sua palavra não pode modificar os discursos de campanha para agradar a alguns;
Bolsonaro PODE e DEVE manter e executar - no que possível - todo o prometido na campanha.
A ênfase apontada no parágrafo abaixo é o resultado do desejo de quase 60.000.000 de eleitores - número crescente (apesar de só em nova eleição os novos bolsonaristas poderem votar em Bolsonaro e corrigir os erros que cometeram no final de outubro passado.]
O novo presidente e seus conselheiros optaram por enfatizar questão ideológica, o que por si denota uma atitude eivada de ideologia. Disse que “ideologias nefastas” não podem dividir os brasileiros, o que é um evidente sinal de que considera “más” as ideias dos que discordam dele e não o apoiaram na eleição e que devem, portanto, ser eliminadas da pauta nacional. Jair Bolsonaro não se mostrou um governante disposto à inclusão. Ao contrário, mostrou-se intolerante e impositivo. Quem se propõe a “reforçar a democracia” se contradiz quando estabelece como ponto de partida o fim de toda e qualquer militância política.

O embate, o contraditório, o conflito no campo ideológico é essencial ao exercício democrático. Os pronunciamentos estavam deslocados no tempo e o espaço. Prometeu um país antagônico ao PT como se não tivesse havido outro governo nos últimos dois anos e foi além falando em libertar o Brasil do socialismo. Qual socialismo? E o que dizer da prometida extinção do politicamente correto, tendência mundial decorrente de comportamentos sociais, não de atos de governo?

Satisfez seus correligionários no Congresso, extasiou seus fãs na Esplanada dos Ministérios e Praça dos Três Poderes, mas ficou devendo ao país e àqueles que do exterior aguardavam no seu posicionamento como mandatário a especificação dos rumos, das políticas públicas e, sobretudo, do sentido, dos meios e dos modos mediante os quais governará o Brasil pelos próximos quatro anos.  [os insatisfeitos que estão no exterior, e não aceitam que nos próximos quatro anos, com as bençãos de DEUS,  o Brasil será governado por Bolsonaro, devem aproveitar a oportunidade e permanecer no exterior.

Bolsonaro foi eleito por brasileiros, empossado,  e para governar o Brasil = FATO.] Pode ser que se corrija, mas do primeiro dia o que se pode dizer é que Jair Bolsonaro ainda não entendeu o espírito do ofício moderador do poder e, por isso, saiu-se mal na largada.


Dora Kramer - Veja

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