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sexta-feira, 24 de março de 2023

Lula e o PCC sonham juntos - Augusto Nunes

Revista Oeste

O presidente que enxergou uma “armação do Moro” no plano frustrado pela PF merece virar testemunha de defesa dos criminosos

Sérgio Moro e a ameaça do PCC | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Divulgação
Sérgio Moro e a ameaça do PCC | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Divulgação 
 
À vontade como um Dilma Rousseff cercada por Erenices e Kátias, o presidente Lula guilhotinava plurais na entrevista concedida a jornalistas domesticados quando a conversa enveredou pelos 580 dias na gaiola em Curitiba. Depois de reafirmar que todas as acusações foram feitas por delatores intimidados por integrantes da Operação Lava Jato, confessou que a temporada na prisão o transformara num pote até aqui de mágoa: “De vez em quando, ia um procurador, entrava lá num sábado, dia de semana, para perguntar se estava tudo bem”, disse Lula. “Entravam três ou quatro procuradores e perguntavam: ‘Está tudo bem?’. Ele dizia que não: só se sentiria em paz depois do acerto de contas que ainda não chegou. “Só vai estar tudo bem quando eu foder esse Moro. E eu estou aqui para me vingar dessa gente.”
 
“Quando Lula fala, o mundo se ilumina”, garantiu em 2004 Marilena Chauí. Fora a curandeira da seita que tem num gatuno semianalfabeto seu único deus, ninguém jamais viu a voz roufenha gerando mais energia do que mil Itaipus. 
Quando o palanque ambulante agarra um microfone, o que se vê são fenômenos bem diferentes.  
Plurais saem em desabalada carreira, a gramática se refugia na Embaixada de Portugal, a regência verbal se esconde em velhos dicionários, o raciocínio lógico providencia um copo de estricnina (sem gelo) e os pronomes se preparam para resistir a outra sessão de tortura. Neste 21 de março, uma terça-feira, o elogio do rancor reduziria a destroços a “impressionante intuição” celebrada pelo falecido Antonio Cândido. Quando dava aulas na USP, o respeitado intelectual não perdoava o mais inofensivo cacófato
Convertido em militante do PT, pariu a tese segundo a qual, em matéria de política e eleição, Lula não precisou estudar nada porque já nascera sabendo tudo.
 
A senha para a derrapagem do trapalhão fantasiado de doutor honoris causa foi uma frase do dono do site 247 (pode chamar de 171 que ele atende). “A prisão foi mais que um ataque ao senhor, foi um ataque ao Brasil”, caprichou na sabujice o entrevistador-chefe. 
Com a polidez que Lula atirou ao lixo antes mesmo de aprender a falar, Moro repreendeu a repulsiva cafajestagem, recomendou mais compostura ao grosseirão juramentado e fez o alerta: o que dissera o presidente poderia estimular ações violentas contra o ex-juiz e seus parentes.  
De novo, o consórcio da imprensa recorreu a artifícios gráficos e verbos menos chulos para abrandar o palavrório de bordel. Alguns redatores recorreram a reticências: o presidente só quis f… o senador paranaense. Em outros, pretendeu apenas “ferrar” o desafeto.  
Como o vídeo escapou de truques pudicos, a viagem à beira do penhasco, contemplada com sorrisos cúmplices pelos parças da imprensa, pode ser vista em toda a sua abjeta inteireza. Fora um tremendo tiro no pé.
 
Foi transformado em tiro na testa já na quarta-feira, 22 de março, quando o país foi a
presentado às assombrosas descobertas pela Operação Sequaz. Embora tivesse sido anunciada pelo próprio ministro da Justiça, é provável que Flávio Dino tenha esquecido de comunicar ao presidente a iminente ofensiva contra o Primeiro Comando da Capital. 
Mobilizando 120 homens da lei em quatro Estados e no Distrito Federal, que sobraçavam mandados de busca e apreensão expedidos pela juíza Gabriela Hardt, a Polícia Federal impôs uma dura derrota ao PCC. Além da prisão de nove figurões da organização que lidera o ranking sul-americano do narcotráfico, o Brasil que presta pôde celebrar o confisco de manuscritos, planilhas e documentos que detalham um plano que escancara a insolência assassina do PCC. 
 
Abortada a poucos dias do início da execução, o plano se dividia em três etapas. Na primeira, o chefão Marcola seria resgatado do presídio em Porto Velho. A segunda previa o sequestro e o assassinato do senador Sergio Moro, do promotor de Justiça Lincoln Gakyia e das famílias desses dois alvos prioritários. Outras autoridades estavam na mira dos matadores. A última etapa cobraria da Justiça a imediata concessão de privilégios que tornariam ainda mais agradável a vida na cadeia de que desfrutam meliantes de altíssima periculosidade.

Como os chiliques de Dilma, os surtos de Lula são de difícil tradução. Mas não é complicado identificar os efeitos colaterais de uma fala que teria o entusiasmado endosso de qualquer napoleão de hospício

Abalados pela linguagem de pátio de presídio usada na entrevista ao Brasil 247, grogues com a descoberta de que por pouco o PCC não materializou o sonho do ex-presidiário de volta ao poder, Altos Companheiros resolveram escapar da queda golpeando a verdade.
Flávio Dino proclamou-se indignado com “o mau-caratismo de gente que tenta politizar uma operação séria, tão séria que está aqui preservando e investigando uma ação contra a vida de um senador da oposição e de outros agentes públicos”. 
Gleisi Hoffmann creditou na conta de Lula a ofensiva policial concebida no governo Bolsonaro. Em seguida, acampada em redes sociais, a presidente do PT sacou do coldre o trabuco municiado com mentiras de grosso calibre e mandou chumbo: “Juiz parcial, que não se importou com o ódio alimentado pela Lava Jato, tem aula de civilidade e democracia do governo Lula”. Dino e Gleisi imaginavam ter encontrado a saída quando outro falatório do trapalhão incontrolável devolveu às cordas a turma toda.

Na quinta-feira, 23 de março, Lula foi interceptado no Rio por jornalistas interessados no que tinha a dizer sobre as revelações da Polícia Federal. A primeira resposta foi um riso debochado. A segunda desandou na ironia: “Eu não vou falar, porque eu acho que foi mais uma armação do Moro”. Pausa. “Mas eu quero ser cauteloso, quero descobrir o que aconteceu”, recuou alguns centímetros. Então, mandou às favas a sensatez, os escrúpulos e o juízo, ergueu o tom de voz e emitiu o parecer amalucado: “É visível que é mais uma armação do Moro”. Engatou uma terceira e desandou no chilique: “Eu vou pesquisar e vou saber por que da sentença. Até fiquei sabendo que a juíza não estava nem em atividade quando deu o parecer para ele, mas isso a gente vai esperar. Eu não vou ficar atacando ninguém sem ter provas. Eu acho que é mais uma armação e se for mais uma armação ele vai ficar mais desmascarado ainda, aí eu não sei o que ele vai fazer da vida se ele continuar mentindo do jeito que está mentindo”. À esquerda do declarante, o senador Renan Calheiros aprovou o elogio da demência com movimentos verticais do queixo.

Como os chiliques de Dilma, os surtos de Lula são de difícil tradução. Mas não é complicado identificar os efeitos colaterais de uma fala que teria o entusiasmado endosso de qualquer napoleão de hospício. Em poucas palavras, Lula afirmou, sugeriu ou insinuou que a Polícia Federal está sob o controle de Sergio Moro, tanto assim que concordou com uma armação; que, por se tratar de uma operação forjada, nove garotões do PCC foram injustamente engaiolados; que são falsas as provas coletadas pelos policiais federais; que Gleisi e Dino elogiaram a operação porque não sabem o que dizem; que Moro mente mais que ele: que o Brasil é governado por uma cabeça baldia. Tudo somado, o que esperam os advogados do PCC para incluir o presidente da República entre as testemunhas de defesa dos nove chefões arbitrariamente engaiolados pela Polícia Federal.

Para o ressentido incurável, o PCC não é a maior ameaça à segurança pública nacional. É um partido aliado que garante a vitória do PT em morros e presídios. 
E os envolvidos no asqueroso complô não são matadores patológicos. 
São gente boa, disposta a tudo para materializar o maior sonho do presidente que acorda e dorme pensando em vingar-se de Sergio Moro. 
O revide dos insultados reduziu o grande intuitivo a um amador quase octogenário. 
A juíza Gabriela Hardt quebrou o sigilo do caso e exibiu um balaio de provas. O senador mostrou que está aprendendo a bater no fígado: “O senhor não tem decência? O senhor não tem vergonha?”. Moro sabe que não.

Leia também “O mais obsceno faroeste à brasileira”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste

 

domingo, 21 de agosto de 2022

“Lula quer ridicularizar as igrejas”, diz Malafaia após fala do petista [Resposta ao Cachaceiro]

Líder evangélico e apoiador de Jair Bolsonaro, Silas Malafaia rebateu fala do ex-presidente em comício em São Paulo

Durante o primeiro comício em São Paulo, no Vale do Anhangabaú, na capital paulista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou pastores evangélicos dizendo que eles estão “fazendo da igreja palanque político ou empresa para ganhar dinheiro”.

Na ocasião, o líder petista também falou que não precisa de padre ou de pastor para “falar” com Deus.

“Quando quero conversar com Deus, não preciso de padres e de pastores. Eu posso me trancar no meu quarto e conversar com Deus quantas horas eu quiser, sem pedir favor a ninguém. É assim que a gente tem que fazer para não ser obrigado a escutar pessoas contando mentiras quando deveriam cuidar da fé e da espiritualidade, lendo a Bíblia decentemente e não inventando coisas”, disse Lula.

A fala de Lula desagradou o pastor Silas Malafaia, fiel apoiador de Bolsonaro que, em vídeo, publicou uma resposta ao candidato — a quem chama de ‘cachaceiro’ que não entende nada de fé cristã e nem de princípios bíblicos sobre autoridades espirituais.

Na publicação postada no Youtube e compartilhada também nas suas redes sociais, o pastor e presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo disse que ia ensinar Lula sobre fé afirmando que a cachaça está “destruindo os neurônios” do candidato.

Citando alguns trechos bíblicos, Malafaia tenta apontar equívoco teológico na fala de Lula sobre lideranças da fé e disse que o ex-presidente quer envergonhar os cristãos.  “Ele quer ridicularizar a igreja evangélica e católica. Fica aqui minha indignação: que Deus nos livre desse camarada que não tem condições morais, mentais e emocionais para dirigir nossa nação,”  encerra. 

Assista abaixo ao vídeo:[Resposta ao Cachaceiro]

 

Resposta ao cachaceiro que falou mal de padres de pastores

Política -  Revista VEJA


segunda-feira, 4 de julho de 2022

Bolsonaro tem planos de usar o 7 de Setembro como palanque

Mais uma vez, Bolsonaro utilizará a data — que, neste ano, festeja o bicentenário da Independência — para mobilizar a base

Em 2018, o então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro utilizava o 7 de Setembro como oportunidade para açular homens e mulheres contrários aos 14 anos de governos do PT. Na época, chegou a dizer que iria “mandar” os petistas para a “ponta da praia”, local onde os torturadores, durante a ditadura militar, jogavam os cadáveres dos inimigos do regime.

Cinco anos depois, tentando manter sua cadeira no Palácio do Planalto, Bolsonaro já tem planos de utilizar novamente o Dia da Independência como palanque à reeleição. “É também um apoio a um possível candidato que esteja disputando. E isso está mais do que claro. E é uma demonstração pública de que grande parte da população apoia um certo candidato, enquanto o outro lado do outro candidato não consegue juntar gente em lugar nenhum do Brasil”, disse o presidente, em entrevista.

Neste ano, porém, fatores únicos marcam a data: o feriado festejará os 200 anos da Independência do Brasil em relação à Coroa portuguesa, e ocorrerá a menos de um mês do primeiro turno de uma eleição presidencial marcada pela polarização. Além disso, também haverá o retorno dos desfiles militares, que foram suspensos por dois anos devido à pandemia, o que deverá atrair mais pessoas para os locais dos festejos.

Na mesma entrevista, Bolsonaro confirmou que haverá manifestações políticas. “O que está sendo organizado, por exemplo, é o 7 de Setembro. É onde a presença do povo estaria dando uma manifestação de que lado eles estão. Eles querem aproveitar a data para ter uma grande concentração, por exemplo, em São Paulo, nas capitais, e aqui em Brasília”, disse.

Apesar da declaração do presidente deixar claro que pretende fazer da data mais um dia de tumulto, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) afirma que Bolsonaro falou que “a população poderia fazer uma manifestação, e não que ele convidaria”. “A manifestação do 7 de Setembro ocorre todos os anos há uma década e, este, comemoramos o bicentenário da Independência. Portanto, é natural que tenhamos um evento com grande participação popular”, minimizou.

O vice-presidente da Câmara e aliado de Bolsonaro, Lincoln Portela (PL-MG), também ressalta que é “natural que as pessoas façam manifestações”. E enfatizou que serão atos pacíficos. “Nunca tivemos manifestações nossas de pessoas irem armadas, de terem confronto com a polícia, ou de grupos ideológicos se digladiando. Colocar o que colocamos na Avenida Paulista pacificamente, o que colocamos em Brasília pacificamente, não existe em lugar nenhum do mundo”, disse, referindo-se aos atos de 2021. [se percebe na matéria um certo viés a que o desfile militar de 7 de setembro não seja realizado. 
Temos a certeza que o DESFILE MILITAR DE 7 DE SETEMBRO, é IMEXÍVEL, por qualquer força humana.
BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo! ]

Política - Correio Braziliense 


sábado, 5 de junho de 2021

A CPI dos “coroné” - VOZES

Luís Ernesto Lacombe

Um jornalista de televisão não depende dos adjetivos. Ele tem as imagens, tem o áudio. Nesse veículo, raramente a adjetivação cabe. Quando escrevo textos para serem lidos, não falados, também não sou de ficar qualificando, classificando, caracterizando... Por isso, quando penso na CPI da Covid, ainda que muitos adjetivos desabonadores se apresentem apressadamente, eu me remeto a substantivos.

O que temos, afinal, nessa comissão, que pretende apenas emparedar o governo federal, sem disfarce algum? Bizarrice, deselegância, falta de educação, grosseria, arrogância, prepotência, ameaça, intimidação, coação, manipulação, falsidade, agressividade, tirania, boçalidade, violência, palhaçada, afronta, sem-vergonhice, despudor, indecência, covardia, estupidez, raiva, ódio, ataque, desrespeito, desonra, ignorância, hostilidade, brutalidade, bestialidade, ofensa, selvageria, truculência, abuso, indelicadeza, descortesia, ferocidade, rudeza, constrangimento, opressão, imposição, aspereza, desaforo, desfaçatez, insolência, massacre, boicote.

Para a turma que joga com os “coroné”, há todo o tempo para falar, sem interrupções. Já as palavras contrárias ao que o relatório da CPI quer impor como verdade serão interrompidas, cortadas, silenciadas, eliminadas   
Não é contra todos, claro, porque a CPI prima pelo desequilíbrio, pela parcialidade, pela injustiça. 
Para aqueles que trabalham pelas narrativas dos senadores que têm contra si uma coleção de processos, inquéritos e investigações, há outra lista de substantivos: cumplicidade, benevolência, proteção, elogio, bajulação, complacência, elegância, educação, respeito, delicadeza – os antônimos de tudo o que atiram sobre os que trazem informações e explicações indesejáveis.
Para a turma que joga com os “coroné”, há todo o tempo para falar, sem interrupções. Não tem essa de “sim” ou “não” como resposta. Simplesmente porque há um relatório pronto, todo mundo sabe, e cada palavra de apoio às narrativas será exaltada, enaltecida, estimulada
Já as palavras contrárias ao que o relatório da CPI quer impor como verdade serão interrompidas, cortadas, silenciadas, eliminadas.

Veja Também: Parem a ladainha
                        CPI da gororoba

Temos uma CPI tóxica, antidemocrática, que não persegue verdades, ou as persegue para silenciá-las, assassiná-las. O que incomoda é a voz mansa, o tom calmo e tranquilo, a argumentação, a capacidade de convencimento, a sensatez, o discernimento, a prudência, o verbo pautado na razão, no equilíbrio, na moral.

Então, tapem seus ouvidos, acreditem apenas nos senadores de oposição e naqueles que eles aprovam. É deles o palanque; são os objetivos políticos, partidários, eleitoreiros, comerciais e revanchistas deles que importam. Eles perguntam, eles escolhem a resposta. 
Querem enxergar hipóteses como fatos, querem eliminar qualquer chance de sermos um país sério. 
Trabalham nisso, com especial empenho, nas sessões da CPI no Senado, de terça a quinta. Exterminam a possibilidade de se estabelecer no nosso país, um dia, a cultura da verdade.
 
Luís Ernesto Lacombe, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

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quinta-feira, 20 de junho de 2019

Moro ganhou um palanque

Mesmo nas poucas ocasiões em que esteve mais acuado, ele se comportou com gentileza

Sergio Moro saiu praticamente ileso da audiência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado em que prestou contas dos vazamentos de diálogos seus com o procurador Deltan Dallagnol. Apesar de ter sido colocado nas cordas com socos e murros de alguns senadores da oposição, foi socorrido com afagos e tapinhas nas costas por outros que apoiam o governo ou apenas se opõem ao PT. O que se viu foi um embate político, e nele o ministro saiu ganhando. Mesmo que restem dúvidas sobre a correção das mensagens que trocou com Dallagnol, Moro saiu do Senado politicamente protegido.

O debate que se viu foi mais uma vez entre parlamentares do PT, ou próximos ao PT e ao escândalo da Petrobras, e os demais. Além daqueles ligados a partidos tradicionais de centro e centro direita, estiveram ao lado de Moro os senadores dos novos tempos. E esses abusaram da gentileza. O fato é que houve tempo e espaço para cada um atacar ou defender a Lava-Jato. Embora os que atacaram dissessem estar mirando na conduta do juiz, o que se viu foi um fogo sem trégua contra a operação que prendeu políticos e empresários, como Lula e Marcelo Odebrecht.

Talvez por isso, o embate tenha pendido a favor de Moro. O que se sabe, e o que não mudou e não mudará mesmo que se consiga comprovar a veracidade dos diálogos hackeados, é que os governos do PT foram corruptos. Não há qualquer dúvida de que o PT e partidos aliados assaltaram os cofres da Petrobras durante a gestão de Lula. Nenhuma dúvida também de que esses assaltos prosseguiram sob Dilma e só foram interrompidos pela operação Lava-Jato. Esse é um dado irrefutável. Por isso, foi difícil aos senadores encontrar caminho para mostrar que Moro agiu de maneira a prejudicar o PT ou afastá-lo do poder.


Não se conseguiu solidificar a acusação de que houve conluio entre Moro e os procuradores contra Lula ou o PT, mesmo que alguns senadores tivessem adotado um bom caminho e uma retórica poderosa. As respostas de Moro, ecoadas pelos seus aliados no plenário, encaminhavam a questão sempre para outro lado. E foi impossível impedi-lo. O ex-juiz chegou a indagar de um senador se ele estava sugerindo soltar todos os presos e devolver o dinheiro confiscado das contas dos corruptos, citando Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, que teve 2,7 milhões de dólares e 20,5 milhões de euros recuperados pela operação em um banco de Mônaco.

A sessão foi comedida, apesar de alguns momentos mais agressivos. Em um deles, Moro chegou a se negar a responder, dada a hostilidade da assertiva do senador Humberto Costa (PT-PE). Mesmo nas poucas ocasiões em que esteve mais acuado, Moro se comportou com gentileza. Frustraram-se os que esperavam respostas mais duras e contundentes do ex-juiz. Em nenhum momento ele colocou na mesma frase as palavras Lula e corrupção. Ou PT e corrupção. Pelo que me recordo, aliás, ele mencionou o Partido dos Trabalhadores apenas uma vez. E não desqualificou o partido nem mesmo quando um senador do PT tentou envolver a sua mulher no caso, perguntando se ela trabalhou para alguma empresa de petróleo.

Oito dos 54 senadores membros da CCJ, titulares ou suplentes, foram citados pela Lava-Jato. Mas nem esses conseguiram constranger o ex-juiz. Alguns foram até favoráveis ao ministro. Renan Calheiros (MDB-AL), que não é da CCJ mas participou da audiência, tampouco teve êxito ao tentar tirar Moro do seu ponto de equilíbrio. Renan, que responde a 11 inquéritos no Supremo Tribunal Federal, sendo que oito deles dizem respeito à operação LavaJato, extrapolou seu tempo, passou por cima da autoridade da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que presidia a sessão, mas não conseguiu encurralar Moro.

Moro insistiu em chamar a divulgação dos diálogos de “sensacionalista”, repetiu inúmeras vezes que as conversas que manteve com Dallagnol foram corretas e que não julgou com parcialidade. Não respondeu, ou se escusou de responder, quando perguntado se também suas ações na Lava-Jato não foram sensacionalistas. Moro saiu-se bem, nenhuma dúvida. A audiência serviu para ele como um palanque, de onde saiu maior do que entrou. Mas é cedo para dizer que “a montanha pariu um rato”, como sugeriu. Ainda vai se ouvir muito barulho em torno desta questão. A próxima etapa será na Câmara. [nada muda; nada há contra Moro nos diálogos publicados pelo IntercePT; nada garante que são autênticos e ainda que fossem, foram obtidos de forma criminosa.] 
Ascânio Seleme - O Globo

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

No Planalto como no palanque

Na posse ‘salva’ por Michelle, Bolsonaro continuou falando para seus eleitores com o viés ideológico que tanto critica 

[Fato: Bolsonaro é o presidente do Brasil, foi legalmente empossado e começou a governar ontem mesmo - contra fatos não há argumentos. 

Especialmente quando os fatos representam o melhor para o Brasil - caso presente.]


O destaque absoluto na posse de Jair Bolsonaro não foi o presidente, mas a mulher do presidente pelo ineditismo do discurso de Michelle, não apenas pelo muito bem sacado lance de se dirigir ao público na linguagem brasileira de sinais (Libras), mas principalmente pelo fato em si: nunca se tinha visto tal protagonismo de uma primeira-dama (título retrógrado para a personagem em questão) em pronunciamento no parlatório. Adequado aos tempos e muito útil para a imagem de um presidente tido, entre outros anacronismos, como machista.

Quanto ao chefe da nação que inicia agora seu mandato, os dois discursos, no Congresso e no Palácio do Planalto, podem ter sido empolgantes para seus eleitores, mas foram francamente decepcionantes para a sociedade em geral. O conteúdo das falas de Bolsonaro desmentiu a manifesta intenção de arrefecer os ânimos polarizados e governar para todos. [um governante sério, responsável e que preze sua palavra não pode modificar os discursos de campanha para agradar a alguns;
Bolsonaro PODE e DEVE manter e executar - no que possível - todo o prometido na campanha.
A ênfase apontada no parágrafo abaixo é o resultado do desejo de quase 60.000.000 de eleitores - número crescente (apesar de só em nova eleição os novos bolsonaristas poderem votar em Bolsonaro e corrigir os erros que cometeram no final de outubro passado.]
O novo presidente e seus conselheiros optaram por enfatizar questão ideológica, o que por si denota uma atitude eivada de ideologia. Disse que “ideologias nefastas” não podem dividir os brasileiros, o que é um evidente sinal de que considera “más” as ideias dos que discordam dele e não o apoiaram na eleição e que devem, portanto, ser eliminadas da pauta nacional. Jair Bolsonaro não se mostrou um governante disposto à inclusão. Ao contrário, mostrou-se intolerante e impositivo. Quem se propõe a “reforçar a democracia” se contradiz quando estabelece como ponto de partida o fim de toda e qualquer militância política.

O embate, o contraditório, o conflito no campo ideológico é essencial ao exercício democrático. Os pronunciamentos estavam deslocados no tempo e o espaço. Prometeu um país antagônico ao PT como se não tivesse havido outro governo nos últimos dois anos e foi além falando em libertar o Brasil do socialismo. Qual socialismo? E o que dizer da prometida extinção do politicamente correto, tendência mundial decorrente de comportamentos sociais, não de atos de governo?

Satisfez seus correligionários no Congresso, extasiou seus fãs na Esplanada dos Ministérios e Praça dos Três Poderes, mas ficou devendo ao país e àqueles que do exterior aguardavam no seu posicionamento como mandatário a especificação dos rumos, das políticas públicas e, sobretudo, do sentido, dos meios e dos modos mediante os quais governará o Brasil pelos próximos quatro anos.  [os insatisfeitos que estão no exterior, e não aceitam que nos próximos quatro anos, com as bençãos de DEUS,  o Brasil será governado por Bolsonaro, devem aproveitar a oportunidade e permanecer no exterior.

Bolsonaro foi eleito por brasileiros, empossado,  e para governar o Brasil = FATO.] Pode ser que se corrija, mas do primeiro dia o que se pode dizer é que Jair Bolsonaro ainda não entendeu o espírito do ofício moderador do poder e, por isso, saiu-se mal na largada.


Dora Kramer - Veja

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Tribunal como palanque



Lula transformou sua cela em comitê eleitoral, incluiu vários dirigentes petistas entre seus advogados e elegeu os juízes como seus adversários políticos


A incrível farsa protagonizada na quarta-feira pelo PT em nome de seu chefão Lula da Silva, registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como candidato do partido à Presidência a despeito do fato incontestável de que ele é inelegível, teve um único objetivo: transformar o Judiciário em palanque petista.

Seguindo a estratégia desenhada pelo ex-presidente em sua cela em Curitiba, onde cumpre pena por corrupção e lavagem de dinheiro, os petistas parecem acreditar que qualquer desfecho jurídico a respeito da candidatura de Lula lhes será benéfico. Na remotíssima hipótese de que a Justiça Eleitoral dê sinal verde à candidatura, Lula chegará como favorito à disputa; no entanto, se sua candidatura for impugnada, o que é bem mais provável, Lula e sua claque denunciarão a decisão como prova cabal de que o ex-presidente é um “perseguido político” – e é isso, e apenas isso, o que alimentará a campanha petista. [alimentar a campanha de um partido desmoralizado em que vai adiantar?
Lula e o PT já eram; finalmente chegaram ao estágio final = perda total.]
 
Transformar seu encalacrado líder em vítima de uma trama jurídico-midiática foi o que restou a um partido que, de bastião da ética na política, se tornou símbolo da corrupção nacional e que, de promessa de inovação e de modernidade administrativa, passou à História como a agremiação que deu ao País seu pior governo de todos os tempos, o de Dilma Rousseff, felizmente afastada antes que completasse sua “obra”.  O problema é que a estratégia petista está indo de vento em popa. Na campanha eleitoral, pouca gente parece se lembrar que a crise política, econômica e moral que o País atravessa foi produzida pelos governos de Lula e de Dilma. Formou-se um consenso tácito entre quase todos os principais concorrentes que o nome a ser evitado na campanha é o do atual presidente, Michel Temer, que hoje sintetiza, para a esmagadora maioria da opinião pública, o que há de pior na política – malgrado o fato de que herdou de Dilma um país em frangalhos e entregará ao sucessor uma administração razoavelmente saneada

Enquanto isso, a ex-presidente Dilma, a despeito de seu imenso passivo, aparece com bom desempenho na corrida ao Senado por Minas Gerais e o ex-presidente Lula, mesmo tendo sido o inventor desse desastre chamado Dilma, mesmo tendo sido o presidente sob cujo governo estouraram os maiores escândalos de corrupção da História nacional e mesmo sendo ele próprio um condenado por corrupção, surge como líder em todas as pesquisas de intenção de voto.  Os dois casos tripudiam da democracia e das instituições: Dilma só está concorrendo porque, a despeito de ter sofrido impeachment, manteve seus direitos políticos graças a uma incrível cabala de um ministro do Supremo Tribunal Federal com o presidente do Senado; e Lula, um presidiário com longa pena ainda a cumprir, faz troça do Judiciário e desafia os tribunais a mantê-lo preso e impedir que o povo seja “feliz de novo”. [o desafio foi aceito, ele vai permanecer preso e mais uma vez o povo, bem, o povo é apenas o povo - e aceitará o fato que não sabe votar (conforme sábio diagnóstico do rei Pelé.)
A felicidade do Brasil e dos brasileiros do BEM é que os vaticinios da grande imprensa erram ao atribuir a Lula poder e prestígio que só ainda está presente entre alguns militontos.
O POVO, mesmo não sabendo votar, já sabe que Lula e PT são um desastre.
Os milhões de desempregados sabem que estão em  situação desfavorável exatamente por ter votado em Lula e seu poste.]

O escárnio lulopetista atingiu seu estado da arte quando, ao registrar Lula como seu candidato, o PT anexou à documentação uma certidão de antecedentes na qual não consta sua pública e notória condenação. Ele seria, então, um “ficha limpa”. Os petistas não apenas sabem que essa manobra será desconsiderada pela Justiça Eleitoral, como é isso justamente o que eles querem, pois qualquer decisão judicial que lhes seja contrária servirá para reforçar sua denúncia de “perseguição política” contra Lula – o grande mote da campanha eleitoral do partido. “Estão querendo impedir que um dos maiores estadistas vivos do mundo concorra à Presidência”, tuitou Fernando Haddad, sempre no papel de poste, como prefeito e, agora, como provável candidato do PT à Presidência, dando o tom da fraude.

Com esse espírito, Lula transformou sua cela em comitê eleitoral, incluiu vários dirigentes petistas entre seus advogados e elegeu os juízes como seus adversários políticos. Para o ex-presidente, quanto mais tempo demorar a decisão judicial sobre sua candidatura, melhor, pois é nos tribunais que ele escolheu fazer sua campanha.  Diante desse desaforado repto lulopetista, o Judiciário deve simplesmente fazer prevalecer a lei e resguardar o interesse da coletividade, garantindo que a eleição presidencial ocorra sem o tumulto que só interessa aos que não têm o mínimo respeito pela democracia.