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quarta-feira, 14 de agosto de 2019

A projeção de poder - Nas entrelinhas

Correio Braziliense

“Regras básicas da política externa são ignoradas por Bolsonaro, que não mede as consequências de suas atitudes e declarações


A política externa está associada à projeção de poder de um Estado ou governo com base nos seus interesses nacionais. Essa é a regra básica, que pauta as relações entre mais de 190 países. É uma política pública, definida por decisões e programas governamentais que devem ter correlação com sua política interna. O Itamaraty conquistou o respeito mundial, desde o Barão do Rio Branco, pela excelência de seus quadros e habilidade ao conduzir os interesses brasileiros em meio aos conflitos e negociações nos foros internacionais. Tudo isso, porém, de nada vale para o presidente Jair Bolsonaro.

Regras básicas da política externa são ignoradas por Bolsonaro, que não mede as consequências de suas atitudes e declarações. Por exemplo, seus comentários sobre as eleições argentinas serviram para alimentar a campanha do adversário de seu aliado Mauricio Macri, que disputará a reeleição à Presidência em 27 de outubro. [modestamente, temos insistido na necessidade do presidente Bolsonaro só se manifestar através de um porta-voz, não concedendo entrevistas improvisadas nem dando declarações - entrevistas só em situações especiais, com hora e local marcado e perguntas apresentadas por escrito e previamente;
Bolsonaro contratou um porta-voz - só que parece que não entendeu e continua falando tudo, sobre todos e em qualquer situação, deixando o porta-voz, (por sinal excelente) sem função.
Assim, fica dificil - o que se diz em uma campanha eleitoral deve ser, sempre que possível, honrado, mas, jamais ser repetido durante o governo.]
O candidato peronista Augusto Fernández, que venceu as prévias de domingo passado com grande vantagem, classificou Bolsonaro, ontem, de “racista, misógino e violento”, por dizer que o Brasil poderia ver uma onda de imigrantes fugirem da Argentina se políticos de esquerda vencerem as eleições presidenciais de outubro. [Bolsonaro falou algo que certamente acontecerá se a esquerda vencer na Argentina, mas, que jamais deve ser falado pelo presidente da República.]

O peronista tirou por menos: “Com o Brasil, teremos uma relação esplêndida. O Brasil sempre será nosso principal sócio. Bolsonaro é uma conjuntura na vida do Brasil, como Macri é uma conjuntura na vida da Argentina”, disse Fernández, em entrevista ao programa Corea del Centro, da emissora Net TV. Será? Bolsonaro passa a impressão de que não está realmente empenhado no acordo do Mercosul com a União Europeia, cuja assinatura caiu no seu colo, porque foi resultado de um grande esforço pessoal de Macri, apesar do empenho continuado dos diplomatas brasileiros, que negociaram os termos do acordo por décadas.

É óbvio que se a oposição ganhar as eleições na Argentina, toda estratégia de Bolsonaro para a América do Sul estará comprometida, pois o regime de Nicolás Maduro na Venezuela sairá do isolamento em que se encontra no continente, reforçando sua sobrevida, hoje decorrente dos apoios da Rússia, essencialmente militar, e da China, sobretudo econômico. Se considerarmos a crise política no Paraguai, que quase provocou o impeachment do presidente Mario Abdo Benitez, por causa de uma negociação secreta no âmbito do acordo firmado entre Brasil e o país vizinho, para definir novos termos pelo pagamento da energia produzida por Itaipu, a situação pode se complicar muito no Mercosul.

Bolsonaro esticou a corda com a União Europeia. Quando deixou de receber o chanceler francês, Jean Yves Lê Drian, para cortar o cabelo, ou desdenhou da ajuda financeira da Alemanha e da Noruega para o Fundo da Amazônia, Bolsonaro agiu de caso pensado: demonstrou a intenção de se distanciar de parceiros europeus que não comungam com seus valores e posições ideológicas  [não chega a ser prejudicial não ter recebido o chanceler francês, era visita meramente protocolar - chanceler sempre é recebido pelo ministro das Relações Exteriores.
A Noruega não é um modelo de respeito ao meio ambiente e a Alemanha também - ambos os países estão defendendo vantagens para os seus contribuintes (investidores.)]


É a contrapartida, por exemplo, da simpatia que tem pelos líderes de extrema direita Marine Le Pen, na França; Matteo Salviani, na Itália; e Nigel Farage, na Inglaterra. Todos têm um projeto de poder similar ao de Viktor Orban, na Hungria, parceiro de Bolsonaro na política internacional.


Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB


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