Cristiano Romero
Juro real em julho caiu para 1,81% ao ano, o 2º menor do real
[efeito Bolsonaro é o responsável pela queda de juros;
para permanecer assim, caindo até mesmo um pouco mais, precisa reduzir despesas (as reformas, se concretizadas, garantem apreciável redução dos gastos) e aumentar receitas = crescimento econômico (com reforma ou sem reforma, só contribui para o INSS quem está empregado).
Se Bolsonaro ouvir Marcos Cintra, o resultado será a CPMF com outro nome, os mesmos defeitos - especialmente o famigerado efeito cascata - e uma agravante: alíquota maior.
A economia trava e tudo volta aos tempos do Perda Total. Com a CPMF Bolsonaro encerra sua carreira política em 2011.
Mantendo a política total (SEM CPMF) e falando sempre através do porta-voz, nota oficial e entrevistas marcadas - poucas e serem com perguntas por escrito, Bolsonara se reelege em 2022.]
O Brasil convive neste momento com a menor taxa de juros desde o
lançamento do real, em 1º de julho de 1994. O juro real, isto é, a taxa
descontada da inflação projetada para os próximos 12 meses, é o segundo
menor da série. No país "viciado" em juro alto, ver juro real cadente ao
longo do tempo e de forma consistente é muito positivo.o). Em 2003, quando a economia brasileira enfrentou grave crise, o
juro real médio foi de 13,20% ao ano. No ano passado, caiu para 3,06% e,
neste ano, até o dia 9 deste mês, estava em 2,36% ao ano. Em julho,
ficou abaixo de 2% - 1,81% ao ano.
Infelizmente, não se pode falar ainda em conquista porque o país está
longe, muito longe, de resolver o problema de financiamento do Estado
brasileiro. O custo do dinheiro reflete, principalmente, a situação
fiscal de uma economia. No regime de metas para inflação adotado pelo
país em meados de 1999, a taxa de juros é o principal instrumento de
combate à inflação, mas a âncora do modelo são as contas públicas. Se as finanças públicas são permanentemente deficitárias, a tendência é
que os juros sejam altos. Na situação oposta, o juro é cadente. Sua
influência sobre outro preço importantíssimo da economia - a taxa de
câmbio ou, grosso modo, a cotação do dólar - é direta. Se o juro é alto,
o real tende a valorizar-se porque investidores trazem seus dólares
para tirar proveito do custo do dinheiro aqui. Se o juro é baixo, os
fluxos de capitais de curto prazo diminuem e a pressão sobre o dólar é
menor.
Estamos falando da taxa básica de juros, a tal da Selic, o juro de
curtíssimo prazo, usado pelo Banco Central como meta para estabelecer o
custo do dinheiro e, assim, conduzir a política monetária. A Selic
funciona como referência para o mercado e também para o Tesouro
Nacional. É calibrada mais ou menos a cada 45 dias pelo BC e, em última
instância, decorre do prêmio que os investidores cobram para financiar o
Estado brasileiro. Desde 2014, o setor público consolidado (União, estados e municípios)
gera déficits primários, o que significa dizer que o dinheiro arrecadado
com os impostos não tem sido suficiente para pagar as despesas dos
governos federal e estaduais e das prefeituras. O conceito se chama
primário porque não inclui o serviço da dívida (em português e não no
economês, o gasto com juros). Portanto, o rombo total das contas
públicas, o resultado nominal, é maior porque juro é despesa.
O governo brasileiro só consegue honrar despesas como aposentadorias do
INSS, Bolsa Família e salários do funcionalismo porque o Tesouro
Nacional pode tomar dinheiro emprestado no mercado, por meio de emissão
de títulos públicos. Quanto mais o Tesouro se endivida, maior é a dúvida
comprador do título quanto à sua capacidade do governo de honrá-la no
futuro, logo, maior também é o prêmio (os juros) que o investidor exige
para adquirir o papel novamente. A dívida pública bruta da União tem crescido de forma exponencial -
quase 30 pontos percentuais de PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos
cinco anos! [governo do presidente BOLSONARO, está no oitavo mês - Temer tentou consertar, conseguiu muito pouco já que o Janot sabotou; assim, a herança maldita foi deixada pelo PT.] A dívida líquida é menor porque desconta da bruta as
reservas cambiais, mas, desde que o governo Dilma desmoralizou a
contabilidade oficial por meio de ardis como a troca de ativos entre
estatais para gerar dividendos de natureza contábil, apenas o número
"bruto' das contas, sem desconto, é aceito.
Por causa dos déficits primários recorrentes, o Brasil possui a maior
dívida pública dos países de sua categoria - equivalente a 78,7% do PIB,
quase o dobro da média das economias em desenvolvimento. O valor mais baixo da taxa real de juros ainda é o 1,39% ao ano,
registrada no dia 6 de dezembro de 2012. Mas aquele valor era irreal.
Não refletia os fundamentos da economia - a inflação se aproximava do
limite do regime de metas e, pior, as expectativas estavam completamente
fora de controle, razão suficiente para impedir a queda dos juros. O BC
forçou a queda porque a presidente da República o obrigou a fazer isso,
mas a farsa durou poucos meses.
Neste momento, os fundamentos não justificam o juro mais baixo da série
do Plano Real, mas as expectativas, sim. E só é assim porque a atual
equipe econômica tem credibilidade. O mercado aceita juros baixos neste
momento - e isso beneficia a bolsa de valores e a taxa de câmbio -
porque há um acordo tácito com Brasília: "vocês aprovam as reformas que
vão equilibrar as contas públicas e nós lhes damos juro baixo, câmbio
com baixa volatilidade e bolsa em alta".
Uma das principais lições da terrível crise econômica que assola o país
há longos seis anos parece não ter sido totalmente assimilada - sem
credibilidade, políticas expansionistas não dão certo, isto é, não
entregam o prometido, que é a aceleração do crescimento do PIB. Memória: depois de crescer insustentáveis 7,5% em 2010, graças a uma
hiperdose de estímulos fiscais, a economia brasileira faria um ajuste em
2011 para evitar que a inflação, que fechou 2010 acelerando o passo,
superasse a meta da ocasião (o teto do regime era 6,5%); o novo governo
até fingiu, nos primeiros seis meses, que faria a necessária correção de
rumo, mas, em agosto daquele ano, promovera o que estava planejado há
alguns anos - redução dos juros na marra, adoção de medidas para
administrar a taxa de câmbio à revelia do mercado e uso da margem fiscal
acumulada nos anos anteriores para estimular a atividade a qualquer
preço.
Cristiano Romero - Valor Econômico
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