Mariliz Pereira Jorge
O presidente distorce as questões sobre a pedofilia pela própria ignorância ou em clara oposição ao que diz a ciência
Jair Bolsonaro sabe que o melhor remédio para uma crise de popularidade é
mamadeira de piroca. Nada como requentar uma mentira que envolve sexo e
servir ao eleitorado, como fez nesta terça (14) ao afirmar que a
esquerda quer “descriminalizar a pedofilia, transformando-a em uma mera
doença ou opção sexual”. O resultado foi imediato. Seguidores sedentos por um biscoito para
alimentar sua fome contra inimigos políticos responderam com engajamento
muito maior do que o presidente tem em suas redes sociais quando faz de
conta que governa. Nem os tuítes em que mente sobre o uso da cloroquina
rendem tanto. [o aborto e a pedofilia estão entre as prioridades das prioridades dos males, que devem ser combatidos, sem trégua, no Brasil.
Não pode ser aceito que assassinar seres humanos inocentes e indefesos e/ou usar crianças para satisfazer imundícies, taras, de natureza sexual, sejo algo que possa ser considerado doença ou opção sexual.
Não podemos aceitar que aberrações, coisas repugnantes e hediondas desta natureza sejam consideradas menos do que crimes hediondos e alvos de repressão implacável.]
A postagem é resposta às cobranças da enfraquecida ala ideológica do
governo que tem sinalizado a perda de apoio no ambiente virtual,
considerado estratégico por eles, e agravada pelo comportamento
domesticado do presidente. Para distrair a seita, Bolsonaro requentou um assunto de 2018, quando
acusou Fernando Haddad (PT) de defender a “descriminalização da
pedofilia”, um dos absurdos do combo de delírios bolsonarista, que ainda
tinha “kit gay”. O presidente, não sabemos, distorce as questões sobre a pedofilia pela
própria ignorância ou em clara oposição ao que diz a ciência. O fato é
que seu discurso desce como uma cerveja gelada pela goela da massa de
analfabetos funcionais que o apoia.
Segundo a OMS, pedofilia é um transtorno mental. Não é crime previsto no
Código Penal, mas o comportamento do pedófilo pode ser criminalizado
com base no Estatuto da Criança e do Adolescente. Portanto, estupro de vulnerável, produção de vídeo ou fotos de sexo ou
nudez que envolvam menores são crimes. Bolsonaro quer fazer crer que, ao
se apontar a distinção entre as duas coisas, exista a intenção de
“normalizar” a prática da pedofilia. E seus seguidores aplaudem. Bem, o
que esperar de quem acredita em mamadeira de piroca?
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