Alexandre Garcia
Fico imaginando quanta gente importante no seu ramo de atividade está precisando sair de sua bolha para conhecer os brasileiros
Num debate com empresários cearenses, o ministro Paulo Guedes admitiu
que enquanto vivia numa bolha, não conhecia o Brasil. A bolha,
certamente, era o seu mundo acadêmico e financeiro, mas não o da
diversidade do país. O presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães,
me revelou a mesma sensação. Disse que vivia o mundo da Av. Faria Lima
e, agora, está conhecendo o Brasil real. Sai toda semana para lugares
como pantanal, alagados, floresta de babaçu, lixão… E está maravilhado
com a descoberta do Brasil real.
Fico imaginando quanta gente importante no seu ramo de
atividade está precisando sair de sua bolha para conhecer os
brasileiros. Assim como Paulo Guedes, talvez, só conversasse com seus
semelhantes, quantos médicos só se relacionam com seus colegas na redoma
das clínicas; quantos jornalistas só convivem com os companheiros de
redação, inclusive nas happy hours; assim como políticos que se limitam a
ouvir as louvações de seus assessores. Às vezes, esse círculo é tão
fechado que se casam com colega de profissão.
É o risco do mais do mesmo, de não ter portas e
janelas abertas para o outro mundo, o do lado de fora da redoma. O risco
de não aprender o que esteja fora do círculo. Às vezes, encontro
empresários que vivem para sua grande empresa, como se ela fosse seu
próprio país, e esquecem que o país real pode dispensar suas empresas,
esquecendo que elas dependem da situação do país. Não sei se é uma forma
de egoísmo ou uma tentativa de proteção. Os fechados em seus círculos
se isolam do país e vão se alienando. Depois, podem ser surpreendidos e
não entendem por quê. Boa parte do mercado já percebeu isso e se blindou
contra narrativas. Os recordes de valorização das ações brasileiras são
prova de confiança na economia do Brasil real. Os dados de ontem do
IBGE confirmam essa confiança.
Há dias, o presidente da República esteve na região conhecida como
Cabeça do Cachorro. Um grupo de naturais da região expressou uma
reivindicação básica: conexão digital, wi-fi. Querem estar conectados ao
Brasil, aos demais brasileiros, querem acompanhar mais, querem ter a
liberdade de buscar informação — tanto que não pediram parabólica.
Querem liberdade para se informar fora da bolha. E dão exemplo aos que,
nas cidades, se fecham em suas bolhas.
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