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sábado, 8 de janeiro de 2022

A calculadora de Ronaldo Fenômeno - O Globo

Gustavo Poli

Ex-jogador mal assumiu o Cruzeiro e já promoveu uma limpa fenomenal. Rifou o executivo, o treinador e o goleiro-ídolo

O presidente do Cruzeiro Sergio Santos Rodrigues posa ao lado de Ronaldo durante anúncio da aquisição do time pelo ex-jogador Foto: - / Divulgação/Cruzeiro
O presidente do Cruzeiro Sergio Santos Rodrigues posa ao lado de Ronaldo durante anúncio da aquisição do time pelo ex-jogador Foto: - Divulgação/Cruzeiro

Nosso distinto 2022 do réveillon com ômicron começa com a ascensão de três letrinhas. Chegou a era das SAFs — as sociedades anônimas do futebol, que apresentam o torcedor ao irrefreável caminhão da realidade. Sai romantismo, entra pragmatismo. Sai saco sem fundo, entra calculadora. Ronaldo mal assumiu o Cruzeiro e já promoveu uma limpa fenomenal. Rifou o executivo, o treinador e o goleiro-ídolo. A lua-de-mel durou menos de 20 dias. Assim que Fábio foi ejetado (ou decidiu se ejetar, a depender da versão) torcedores produziram um coro ofensivo. 

[Ronaldo, o FENÔMENO - apesar de algumas escorregadas que deu fora do futebol -  age corretamente no limpa geral que procede no ex-glorioso Cruzeiro =   o que não rende se exclui;  tem que ser respeitado o principio de que  instituição beneficente  e clube de futebol são diferentes = clube de futebol tem que ganhar títulos e dinheiro. 
Clubes beneficentes ao que sabemos são o Rotary, o Lions e similares - ainda existem? 
O MENGÃO hoje é - segundo palavras do seu novo técnico, o português Paulo Sousa, referendadas por milhões de torcedores e pelos fatos - o MAIOR do mundo exatamente  quando se organizou financeiramente.
Com as decisões adotadas Ronaldo honra o adjetivo FENÔMENO, termo que há alguns anos foi desvalorizado quando o descondenado petista, o maior de todos os ladrões, disse que um dos seus filhos era um fenômeno nos negócios.]
 
O Cruzeiro vai para seu terceiro ano na Série B, afundado numa crise histórica gerada por incompetência, demagogia e ladroagem. 
O Fenômeno topou o desafio de enfrentar um buraco de R$ 1 bilhão com pouca perspectiva de receita. 
Nesse cenário tomou a compreensível decisão de cortar custos. Aos 41 anos, Fábio poderia ajudar o clube dentro de campo? É bem possível. Mas a nova gestão considerou melhor empregar R$ 4,5 milhões (R$ 350 mil/mês x 13) em outras funções.

O torcedor não curtiu? Claro. Torcida odeia ver ídolo partir. E adora receber reforço de nome. Quem não lembra da festa que os botafoguenses fizeram pela chegada de Honda? Dez meses depois, o balão japonês saiu pela porta dos fundos e o clube foi rebaixado. A história está cheia de campeões de pré-temporada que quebraram a cara. Decisões impopulares fazem parte de qualquer manual de gestão.

A pergunta que o torcedor deve fazer é simples: qual o objetivo de Ronaldo? Alguém acredita que o sujeito vai investir R$ 400 milhões só pra sorrir em foto da taça? O craque tem um nome a zelar — e uma idolatria a preservar. Mas seu objetivo não é meramente esportivo. Quem investe em qualquer negócio espera retorno. No esporte não é diferente. Esse retorno pode ter várias naturezas. Pode ser financeiro, pode ser construir imagem ou marca, pode ser brincar de cartola.

O bilionário Roman Abramovich comprou o Chelsea em 2003 e produziu uma era vitoriosa. Com que objetivo? Status, política? O time saiu do meio da tabela para o topo da Europa. O dinheiro saudita fez o mesmo com o Manchester City. O PSG virou potência com dinheiro do Qatar. Esses times se tornaram plataformas globais de propaganda — pessoal, política ou corporativa (ver Red Bull).

O nobre John Textor não está comprando o Botafogo por causa da estrela solitária e do passado glorioso. Ele está comprando porque enxerga futuro — seja num portfólio global de clubes que facilite intercâmbio e comércio de talento, seja com retorno direto ou até numa eventual revenda. Isso não quer dizer que ele não vá transformar o clube para melhor. Seu capital resolve de imediato o mais grave problema do presente (fluxo de caixa) e permite que a torcida sonhe.

E que alternativa o Botafogo tem? Continuar a vender jantar para pagar almoço? O modelo amador produziu um poço sem fundo com alçapão. Nesse cenário, o investidor é a corda de resgate. Mas será necessário escalar o poço — e isso demora. A nova lei das SAFs e a instituição do Regime Centralizado de Execuções (RCE) criaram as condições para que investidores apostem no futebol tupiniquim e até resgatem gigantes. Mas esse jogo mal começou.

Esporte - O Globo


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