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quarta-feira, 30 de março de 2022

Já dá para dizer “Perdeu, Putin” ou proposta russa é apenas manobra? - Mundialista

A iniciativa de “reduzir drasticamente” as tropas em torno de Kiev equivaleria a um reconhecimento de enorme derrota 

Cuidado, avisou Boris Johnson, Putin ainda pode “virar a faca”. Não existe uma pessoa na face da Terra, inclusive entre as que continuam a admirar Vladimir Putin, que discorde do primeiro-ministro britânico.

É por isso que a declaração do vice-ministro da Defesa, Alexander Formin, foi vasculhada sob todos os ângulos possíveis. Relembrado-a, com toda sua linguagem enrolada: “Devido ao fato de que as negociações sobre um acordo sobre a neutralidade e o status não-nuclear da Ucrânia e garantias de segurança (para a Ucrânia) estão avançando para uma fase prática, e levando em consideração os princípios discutidos durante a reunião de hoje, o Ministério da Defesa da Federação Russa tomou a decisão de reduzir drasticamente as operações de combate nas áreas de Kiev e Chernihiv a fim de incentivar a confiança mútua e criar as condições necessárias para novas negociações e a assinatura do acordo acima mencionado”.

Note-se que os termos “desmilitarização” e “desnazificação”, as absurdas
condições originais, não aparecem. E que o “status não-nuclear” da Ucrânia nunca foi colocado em dúvida, fora do campo das especulações mais fora de propósito. Também vale lembrar que as negociações na Turquia, num prédio da era otomana às margens do Bósforo, transcorreram num clima de filme de suspense face à acusação de que dois integrantes da delegação ucraniana e o oligarca russo Roman Abramovich haviam sofrido uma tentativa de envenenamento no começo do mês.

Abramovich, segundo a denúncia do site Belliingcat, chegou a perder a visão por algumas horas e sofreu descamação na pele do rosto e das mãos. Foi internado numa clínica em Istambul, uma das poucas metrópoles internacionais que ainda pode frequentar por estar na lista de sanções da maioria dos países do Primeiro Mundo.

Fontes da inteligência americana negaram o suposto uso de agentes químicos contra o bilionário, mas o Bellingcat tem um histórico de investigações rigorosas, inclusive sobre os infames envenenamentos com Novichok do ex-agente russo Sergei Skripal e do oposicionista preso Alexei Navalny.

E a participação de Abramovich nas negociações entre Ucrânia e Rússia nunca tinha sido informada com tantos detalhes. O bilionário ontem apareceu abertamente nas negociações em Istambul. O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, confirmou a participação do embargado dono do Chelsea, também em termos enviesados: “Ele não é  membro oficial da delegação, mas está presente em Istambul do nosso lado. Para promover contatos entre as duas partes é preciso ter a aprovação das duas partes e, no caso de Abramovich, esta aprovação foi feita pelas duas partes”.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, interveio junto ao governo americano para tirar Abramovich da lista de sancionados pelo Departamento do Tesouro, argumentando justamente que ele estava mediando negociações.

Por que os russos tentariam envenenar um negociador do lado deles? Segundo Christo Grozev, do Bellingcat, site que foi fundado por um jornalista britânico – e talvez com um certo incentivo da inteligência britânica -, pode ter sido um “aviso” da linha dura do regime russo. Grozev acha que foi usada uma dosagem baixa de cloropicrina ou do próprio  Novichok.

Outra ameaça foi feita pelo próprio Putin. Segundo o Times de Londres, Abramovich viajou no seu jato particular de Istambul para Moscou na quarta-feira passada, levando uma proposta de paz escrita a mão por Zelensky. “Diga a ele que vou esmagá-lo”, avisou Putin.

É por motivos assim que a redução “drástica” de forças russas em torno de Kiev, algo que só pode ser interpretado, pelo valor de face, como um recuo histórico, deve ser vista com muito cuidado. Os fiascos protagonizados pelos invasores russos correram o mundo, mas a Rússia hoje ocupa mas da metade das regiões fronteiriças da Ucrânia, do Mar de Azov à Belarus. [no relato da mídia progressista esquerdista a Rússia está perdendo a guerra, nos fatos ela ganha territórios na Ucrânia. Tem caroço nesse angu; frear o avanço, estacionar tropas e fustigar o inimigo com fogo de artilharia e misseis, abate o moral do inimigo, destrói as defesas e infraestrutura do inimigo e facilita futuro avanço.]

Putin pode dizer “missão cumprida” e apresentar um meio fiasco como uma vitória inteira? Vamos ficar sabendo nos próximos dias.

Se Kiev for salva e Abramovich tiver alguma participação, merecerá até ter o Chelsea de volta.

Vilma Gryzinski, colunista - VEJA - Blog Mundialista

 

sábado, 8 de janeiro de 2022

A calculadora de Ronaldo Fenômeno - O Globo

Gustavo Poli

Ex-jogador mal assumiu o Cruzeiro e já promoveu uma limpa fenomenal. Rifou o executivo, o treinador e o goleiro-ídolo

O presidente do Cruzeiro Sergio Santos Rodrigues posa ao lado de Ronaldo durante anúncio da aquisição do time pelo ex-jogador Foto: - / Divulgação/Cruzeiro
O presidente do Cruzeiro Sergio Santos Rodrigues posa ao lado de Ronaldo durante anúncio da aquisição do time pelo ex-jogador Foto: - Divulgação/Cruzeiro

Nosso distinto 2022 do réveillon com ômicron começa com a ascensão de três letrinhas. Chegou a era das SAFs — as sociedades anônimas do futebol, que apresentam o torcedor ao irrefreável caminhão da realidade. Sai romantismo, entra pragmatismo. Sai saco sem fundo, entra calculadora. Ronaldo mal assumiu o Cruzeiro e já promoveu uma limpa fenomenal. Rifou o executivo, o treinador e o goleiro-ídolo. A lua-de-mel durou menos de 20 dias. Assim que Fábio foi ejetado (ou decidiu se ejetar, a depender da versão) torcedores produziram um coro ofensivo. 

[Ronaldo, o FENÔMENO - apesar de algumas escorregadas que deu fora do futebol -  age corretamente no limpa geral que procede no ex-glorioso Cruzeiro =   o que não rende se exclui;  tem que ser respeitado o principio de que  instituição beneficente  e clube de futebol são diferentes = clube de futebol tem que ganhar títulos e dinheiro. 
Clubes beneficentes ao que sabemos são o Rotary, o Lions e similares - ainda existem? 
O MENGÃO hoje é - segundo palavras do seu novo técnico, o português Paulo Sousa, referendadas por milhões de torcedores e pelos fatos - o MAIOR do mundo exatamente  quando se organizou financeiramente.
Com as decisões adotadas Ronaldo honra o adjetivo FENÔMENO, termo que há alguns anos foi desvalorizado quando o descondenado petista, o maior de todos os ladrões, disse que um dos seus filhos era um fenômeno nos negócios.]
 
O Cruzeiro vai para seu terceiro ano na Série B, afundado numa crise histórica gerada por incompetência, demagogia e ladroagem. 
O Fenômeno topou o desafio de enfrentar um buraco de R$ 1 bilhão com pouca perspectiva de receita. 
Nesse cenário tomou a compreensível decisão de cortar custos. Aos 41 anos, Fábio poderia ajudar o clube dentro de campo? É bem possível. Mas a nova gestão considerou melhor empregar R$ 4,5 milhões (R$ 350 mil/mês x 13) em outras funções.

O torcedor não curtiu? Claro. Torcida odeia ver ídolo partir. E adora receber reforço de nome. Quem não lembra da festa que os botafoguenses fizeram pela chegada de Honda? Dez meses depois, o balão japonês saiu pela porta dos fundos e o clube foi rebaixado. A história está cheia de campeões de pré-temporada que quebraram a cara. Decisões impopulares fazem parte de qualquer manual de gestão.

A pergunta que o torcedor deve fazer é simples: qual o objetivo de Ronaldo? Alguém acredita que o sujeito vai investir R$ 400 milhões só pra sorrir em foto da taça? O craque tem um nome a zelar — e uma idolatria a preservar. Mas seu objetivo não é meramente esportivo. Quem investe em qualquer negócio espera retorno. No esporte não é diferente. Esse retorno pode ter várias naturezas. Pode ser financeiro, pode ser construir imagem ou marca, pode ser brincar de cartola.

O bilionário Roman Abramovich comprou o Chelsea em 2003 e produziu uma era vitoriosa. Com que objetivo? Status, política? O time saiu do meio da tabela para o topo da Europa. O dinheiro saudita fez o mesmo com o Manchester City. O PSG virou potência com dinheiro do Qatar. Esses times se tornaram plataformas globais de propaganda — pessoal, política ou corporativa (ver Red Bull).

O nobre John Textor não está comprando o Botafogo por causa da estrela solitária e do passado glorioso. Ele está comprando porque enxerga futuro — seja num portfólio global de clubes que facilite intercâmbio e comércio de talento, seja com retorno direto ou até numa eventual revenda. Isso não quer dizer que ele não vá transformar o clube para melhor. Seu capital resolve de imediato o mais grave problema do presente (fluxo de caixa) e permite que a torcida sonhe.

E que alternativa o Botafogo tem? Continuar a vender jantar para pagar almoço? O modelo amador produziu um poço sem fundo com alçapão. Nesse cenário, o investidor é a corda de resgate. Mas será necessário escalar o poço — e isso demora. A nova lei das SAFs e a instituição do Regime Centralizado de Execuções (RCE) criaram as condições para que investidores apostem no futebol tupiniquim e até resgatem gigantes. Mas esse jogo mal começou.

Esporte - O Globo


domingo, 22 de fevereiro de 2015

Suleymane S., adotou um comportamento de confronto com uma torcida enlouquecida

Da marcha triunfal à rotina

Na França a associação de ‘ralé’ com ‘futebol’ tem causado um desconforto específico, mais autóctone

“Nenhum dos que estavam ali me defendeu. Mas, pensando bem, fazer o quê?” A pergunta que fica no ar foi feita por Suleymane S., protagonista da cena de racismo explícito ocorrida esta semana no metrô de Paris.

Ela durou pouco mais de dois minutos. Suleymane S., um franco-mauritano de 33 anos nascido em Paris, terminara o trabalho e aguardava na estação Richelieu-Drouot o metrô que o levaria de volta para casa. O trem chegou bastante lotado. Antes mesmo da abertura das portas, podia-se ouvir a cantoria de torcedores do time de futebol inglês Chelsea. Estavam a caminho do Parc des Princes para assistir às oitavas de final da Liga dos Campeões contra o Paris Saint-Germain.

Quando as portas do trem se abriram, só Suleymane andou em direção à muralha de hooligans para entrar no vagão. Os demais passageiros da plataforma preferiram aguardar. Foi ejetado pela linha de frente do bando aos empurrões e gritos de “Somos racistas, somos racistas, é isso aí”. Sem se alterar, tentou novamente cavar um espaço para entrar no vagão, mas justamente sua compostura calma parece ter exaltado ainda mais os ingleses. Foi expelido de volta à plataforma. Mesmo quem assiste ao vídeo no conforto de casa em outro país, outro continente, pode sentir o peso da humilhação pública daquele homem. Nenhuma das pessoas da plataforma fez qualquer movimento. Dos vagões adjacentes houve curiosidade, mas não reação.
 [RAW] Racist Chelsea Fans Prevent Black Man Boarding Paris Metro Train | VIDEO 

Sequer um impulso equivocado de solidariedade, como o apertar do botão de emergência.
É a vida que segue, um fait-divers desagradável. Não passaria disso não fosse o instinto do videojornalista Paul Nolan, que sacou o celular, filmou o essencial e o vídeo se tornou viral.
É provável que boa parte dos que presenciaram a cena estava entre os quatro milhões de participantes da marcha contra a intolerância e a liberdade de expressão do dia 11 de janeiro, em Paris. A comunhão nacional do “Nous sommes tous Charlie” ocorrera em repúdio a um duplo atentado terrorista que fizera 17 vítimas, enquanto no episódio desta semana não morreu ninguém, sequer ferimentos físicos houve. Mas 4.000.000 x 0?
[a comparação é desprovida de sentido:  o repúdio ao atentado terrorista contra o Charlie Hebdo é perfeitamente compreensível, já que a matança teve como motivo um comportamento jornalístico, de deboche  - portanto, inadequado - em relação ao islamismo.
Já a conduta dos torcedores do Chelsea, além de não representar crime na França, pode ser atribuída a um comportamento típico de torcedores fanáticos - inadequado,  mas que existe. Tanto que torcedores do Corinthians assassinaram, e permanecem impunes, uma criança boliviana em Orubo, Bolívia.
Convenhamos que  Suleymane S., adotou uma conduta de confronto com os torcedores ingleses - foi o único na plataforma a ter um comportamento belicoso contra os torcedores. Os demais passageiros preferiram esperar um outro trem - o que deixa evidente o caráter não racial da conduta dos ingleses.]


Poucos dias após a triunfal marcha de janeiro, o presidente François Hollande chegou a ser ovacionado de pé na Assembleia Nacional. Na ocasião, todos os deputados entoaram espontaneamente a “Marselhesa”, algo que não ocorria desde a assinatura do armistício que encerrou a Primeira Guerra Mundial em 1918. Desta vez, nenhum político francês de expressão se manifestou, nem era esperado que o fizesse. O episódio, além de corriqueiro, ficaria relegado à seção de Esportes na mídia.

De fato, ele foi considerado gravíssimo pelas instâncias mais altas do futebol mundial, engrossará a lista de crimes de xenofobia e violência racial no esporte e levará à nova revisão do rol de medidas coercitivas a hooligans. Ainda bem, pois a violência em campo, nas arquibancadas, no entorno dos estádios ou alhures só tem aumentado. Em Paris o caso Suleymane gerou a abertura de um inquérito por crime de “violência racial voluntária em um meio de transporte coletivo”, com a investigação a cargo do Serviço Transversal de Aglomeração em Eventos (STADE), uma unidade especial da polícia metropolitana. Os suspeitos já teriam sido identificados, todos convenientemente estrangeiros, hooligans e ralé.

Na França a associação de “ralé” com “futebol” tem causado um desconforto específico, mais autóctone, desde a publicação do livro “Racaille Football Club” , do jornalista Daniel Riolo. Nele, o autor disseca o DNA da seleção francesa que, em 2012, eliminada da Eurocopa, amargara o seu terceiro fracasso consecutivo em campeonatos de grande porte. 

O fracasso da equipe dos Bleus, formada à época por uma maioria de jogadores negros ou de origem árabe, vindos da periferia, levou o atual presidente da União dos Clubes Profissionais de Futebol da França, Jean-Pierre Louvel, a admitir: “Chega de hipocrisia. Todos os clubes adotam algum tipo de cota. Negá-lo seria absurdo”.

O dirigente reconhecia o que fora revelado pelo jornal eletrônico “Médiapart em 2011". Naquele ano, uma reunião da cúpula da Federação Francesa de Futebol discutira a adoção de cotas raciais nos centros de formação do país, com o objetivo de limitar o número de jogadores franceses negros ou de origem árabe. Para Laurent Blanc, à época presidente da federação e hoje técnico do PSG “se você tem 60% ou 80% de jogadores de origem africana, isso não é um mal em si... mas a vida social desse clube deixa de ser o que era”.

Um dos argumentos para justificar o projeto de cotas era a morfologia dos jogadores:  devido ao excesso de negros, considerados “mais altos, mais potentes e mais musculosos”, seria necessário abrir espaço para jogadores brancos, mais técnicos, de estatura mais baixa e mais ágeis.  Blanc acabou tendo de pedir desculpas e o projeto de cotas não se oficializou, mas, como admite o presidente da União dos Clubes, ele existe e negá-lo seria absurdo.

Souleymane S., o agredido no metrô, não é jogador de futebol. É contador numa firma e, por não falar inglês, não entendeu o que lhe gritavam os hooligans do vagão. “Só entendi que me repudiavam por causa da minha cor”. Em entrevista ao jornal “Le Parisien”, que o localizou no dia seguinte, contou não ter ficado tão surpreendido com o que lhe acontecera “pois vivo o racismo. Apenas nunca tinha me acontecido no metrô”.

Depois de agredido, aguardou o trem seguinte e foi para casa. Não contou nada à mulher nem aos três filhos. “Dizer o quê? Que o pai deles tinha sido ofendido por ser negro? Isso não leva a nada”, concluiu. Suleymane S. lembrava de uma pessoa que se aproximou dele na plataforma para dizer que ele fora corajoso. Mas lembra sobretudo que ninguém mais se mexeu. É a vida que segue, sem marcha republicana.

Por: Dorrit Harazim é jornalista - O Globo