É claro quer pelo título desse artigo já dá para ver que estarei
me reportando à “lucrativa” (politicamente) facada recebida pelo então
candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro, às vésperas da eleição de
2018, em Juiz de Fora/MG, que ao que tudo indica teria sido “decisiva” para a sua vitória nas urnas. Mas tudo numa abordagem talvez um pouco diferente.
Na índole mental brasileira, não sei até que ponto ligada ao tão repudiado “complexo de
vira-latas”, se eventualmente procedente,o chamado “coitadismo” teria papel de
destaque. Isso porque no Brasil o “coitadinho” tem tudo que é
direito, faz o que bem entende, e não está sujeito a cumprir as leis,nem às punições como todos
as outras pessoas. Ser “coitadinho” sempre é um bom “álibi” levado na
“manga-do-colete” para obter plena liberdade de cumprir,ou não,a lei. É
precisamente que nesse sentido que o “ coitadinho” se equipara aos políticos
com foro privilegiado, só havendo diferenças em relação às “instâncias” da apreciação dos seus eventuais delitos ou contravenções penais.
[Pergunta feita a Dilma e respondida com o cérebro - imagine as que ele decidir responder com a bunda.]
Tanto o “coitado” propriamente dito, o autêntico, o
verdadeiro, aquele que não teve forças, capacidade, ou oportunidade válida de
vencer na vida,quanto o falso coitado,ou seja,aquele que se faz de “coitadinho”
para “passar bem”,para “lucrar”,entrando, “com-bola-e- tudo” no coração dos
brasileiros, trata-se mais ou menos de um adepto da chamada “lei do gerson”,o “tal”que sempre
procede na expectativa última de levar alguma vantagem em tudo que faz, podendo até ser um
mal,porém que tem a aparência superficial de ser um bem,situação essa muito bem esmiuçada por Emmanuel Kant,na
“Crítica da Razão Prática”,onde o filósofo pondera sobre a riqueza do idioma
alemão,comparado com a “pobreza”das línguas derivadas do latim,a partir de
“bonum e malum”,o que acarretaria muita confusão conceitual.
[Imagine se Bolsonaro precisa de facada ou qualquer outro truque para vencer a coisa acima.]
Kant observa com
extrema eloquência que o idioma alemão possui uma bifurcação de sentidos ,tanto
para “bonum”,quanto para “malum”,o que evitaria muita confusão. ”Bonum”e
“malum”, bifurcam-se no alemão em dois conceitos inteiramente diversos:”bonum”,
em ”gute” e “wohl”,e “malum” ,em “bose” e” ubel”(ou “weh”). Por conseguinte,”gute” e “bose” seriam proposições
equivalentes ao “bem” e ao “mal” verdadeiros,julgados pela “razão”,ao passo que
“wohl” e “ubel”,ao contrário,seriam meras relações,respectivamente, com o
estado de “satisfação”,ou “desagrado” da pessoa ,sempre ligados à sensibilidade
e aos sentimentos de prazer e de dor que produzem,podendo ser falsos.
Segundo Kant,o bem e o mal verdadeiros seriam os únicos objetos da “razão prática”. O
mal “ubel” poderia significar o bem
“gute”. Kant exemplifica;”quem suporta um procedimento cirúrgico,experimenta
isso como mal “ubel”,mas ele próprio e todos serão unânimes em proclamar
que se trata de um bem “gute”,,,e se
alguém se diverte molestando os outros e ao fim de certo tempo lhe é ministrada
uma sova de pau,esse fato se constitui...para ele um mal “ubel”,mas todo mundo
o aplaude considerando-o um bem “gute”...”.
Na sabedoria popular de todas as gerações,toda essa
filosofia de Kant resume-se em “há males que vêm para o bem”,e o contrário,de que
“há bens que trazem o mal”. Não há,portanto,como escapar da conclusão que dentro do
raciocínio da “crítica da razão prática”,a facada dada pelo lunático Adélio
Bispo em Bolsonaro se enquadraria com perfeição dentro da hipótese do “mal” que
pagou altos “dividendos”,portanto, um “bem político” que,em troca do
derramamento de algum sangue, valeu a eleição presidencial no país que
detém a sétima colocação no PIB mundial,talvez
até alimentando um “ego” pelo poder.
Mas esse polêmico episódio da “facada”em Bolsonaro saiu completamente do normal de uma “facada”
em alguém. Uma facada “mata”, ou não mata, podendo normalmente gerar ferimentos
ou lesões corporais que não passam de dias ou meses para curar. Mas a facada em
Bolsonaro não matou nem curou nos prazos normais. Já dura mais de três anos. E
inexplicavelmente aparecem “recaídas” da facada sempre que haja algum dano na “imagem política”do Presidente, ou
um mero “reforço” à campanha (“antecipada”?) pela reeleição.
Seria tudo isso investimento político numa possível
índole “coitadista”do povo brasileiro,com vistas a uma pretendida
“reeleição” em outubro de 2022? Em política deve-se pensar e decidir através do
cérebro? Ou da “bunda”? Todavia,mesmo passando por cima de tudo o que aqui foi
ponderado,evidentemente o povo brasileiro não terá outra alternativa em relação
ao “beco-sem-saída” político em que está, para que evite a reinstalação da sua desgraça política,que não seja a de optar
pela candidatura de Jair Bolsonaro em um eventual segundo turno em que o “outro” competidor venha a ser o
ex-Presidente, ex-condenado,e ex-presidiário Lula da Silva.o maior de todos os corruptos
que já passaram pela política brasileira,também conhecido como “encantador de
burros”.
Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo
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