Análise Política
No início de maio do ano eleitoral de 2014, a então candidata à
reeleição Dilma Rousseff tinha cerca de um terço de ótimo + bom, e a
avaliação dela vinha piorando levemente. Bateu no piso em meados de
julho. Depois começou a melhorar, também por uma razão: incumbentes têm
na campanha eleitoral uma oportunidade especial de rebater as notícias
negativas. O que se mostra ainda mais valioso quando o ambiente de
imprensa é desfavorável.
Jair Bolsonaro vai chegando à largada da corrida com cerca de um terço
de aprovação (não confundir com o bom + ótimo). Bem, a análise deve
sempre fugir da tentação de tirar conclusões definitivas, ou quase, a
partir de números de diferentes levantamentos e que oscilam dentro das
margens de erro. Uma diferença importante entre os dois incumbentes,
fora das margens de erro: naquele julho, Dilma tinha metade do ruim +
péssimo que Bolsonaro tem hoje, por todos os levantamentos.
No caso de Dilma, diferente de Bolsonaro, uma maioria simples do eleitorado acomodava-se no regular.
Como a história registra, Dilma reelegeu-se, mesmo com índices de
popularidade na zona de risco. Contribuiu decisivamente uma campanha
duríssima para elevar a rejeição dos adversários. O resultado final veio
de uma chegada cabeça a cabeça. Três milhões e meio de votos sobre
Aécio Neves, num eleitorado de mais de 140 milhões de potenciais
votantes. E os reflexos daquela disputa de rejeições para a política
brasileira estão bem registrados, sentem-se até hoje.
Ora, se o incumbente pode reeleger-se mesmo com uma aprovação abaixo de
50%, a conclusão é inescapável, ao menos nos sistemas em que se exige a
maioria absoluta dos votos: o caminho para a vitória está em fazer os
concorrentes terem uma rejeição maior ainda que a própria. Pois, se um
pedaço dos que o rejeitam tampouco desejar o desafiante, ele pode
perfeitamente levar a taça ainda que enfrente a oposição da maioria.
O eleitor que está no ruim + péssimo não costuma migrar direto para o
bom + ótimo, em geral faz uma escala no regular. E pode muito bem ficar
por ali até o dia da urna, quando será tentado a escolher não quem
deseja mais, mas quem rejeita menos. Qual é o desafio de Jair Bolsonaro,
que mantém em grandes números seu apoio do primeiro turno de 2018?
Fazer quem votou nele no segundo turno e hoje está no ruim + péssimo
migrar para o regular e ter mais aversão à vitória de Lula que à
reeleição dele.
E qual o caminho de Lula, ou de alguma eventual surpresa, hoje improvável? Impedir isso. Pode parecer acaciano, mas é por aí.
Se Bolsonaro tiver sucesso em fazer migrar uma quantidade razoável de
eleitores do ruim + péssimo para o regular, teremos uma eleição cabeça a
cabeça em outubro. Como foi em 2014. É prudente preparar-se para esse
cenário.
(*) Esta análise complementa a da semana passada (Sem barreiras intransponíveis)
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
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