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domingo, 8 de maio de 2022

Nunca se comeu tanto milho - Revista Oeste

Evaristo de Miranda

A nova safra também ajudará no barateamento das rações e talvez traga quedas nos preços das carnes 

Foto: Shutterstock

Quem toma uma cervejinha com torresmo, frango a passarinho, iscas de peixe ou fatias de salame consome milho. Ele é a base das rações de vacas leiteiras, suínos, aves e da piscicultura. E entra na fabricação de cervejas e uísques. Originário das Américas, o milho ajudou muitos países a superarem o risco da fome nos últimos séculos. Agora, com uma segunda safra recorde, ajudará o Brasil a reduzir os preços de alimentos e os índices de inflação. E trará divisas, dada a forte demanda externa pelo produto.

Em 1751, na França, a Encyclopédie, o “dicionário racional das ciências, artes e profissões”, referindo-se ao milho informava: “O trigo da Turquia é sempre um socorro diante da fome”. Em 1776, na Inglaterra, Adam Smith considerou milho e batata como “os dois mais importantes aportes que a agricultura da Europa, e talvez a própria Europa, recebeu da expansão de seu comércio e sua navegação”. Na Itália, no começo do século 19, Filippo Re, agrônomo conhecido, atestava: “Após a introdução desse grão (a Itália) não provou mais do terrível flagelo de uma verdadeira fome”. Haja polenta!

O milho é considerado patrimônio biológico, agrícola, cultural e econômico do México. Com razão. A domesticação do milho (Zea mays) começou há mais de 10.000 anos no México. Os mais antigos registros de cultivo do milho datam de 7.300 anos, em ilhas próximas ao litoral mexicano. Restos arqueológicos de milho da caverna Guila Naquitz (Oaxaca) datam de 6.250 anos. Há pelo menos 2.500 anos, o cultivo se espalhou pelas Américas. Foi o alimento básico das civilizações olmecas, maias, astecas e incas, reverenciado na arte e na religião, como são o trigo na Europa e o arroz na Ásia.

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A palavra portuguesa milho deriva do latim milium, designação do milho-miúdo ou milheto (Pennisetum glaucum), conhecido no Mediterrâneo. O termo milium é oriundo do numeral mil e evoca a grande quantidade de grãos nas espigas de milheto. No milho são bem menos grãos. Em português, a palavra nomeia diversas gramíneas: milho-alpiste (Phalaris canariensis), milho-da-guiné (sorgo), milho-da-itália (Setaria itálica) e milho-zaburro (vários tipos de sorgo). No século 18, o próprio milho era conhecido como milho grande, milho graúdo, milhão, milho grosso e milho de maçaroca. De maíz, em português, só derivou o termo maisena. E os nomes tupis-guaranis, como avati, não prosperaram.

Portugal e Espanha difundiram o cultivo do milho na Península Ibérica e de lá para França, Itália, sudeste da Europa e norte da África. Os portugueses levaram o milho ao restante do continente africano e ao Oriente. Pelos lusitanos, o milho chegou à China, depois à Indonésia e, bem mais tarde, ao Japão. Os ingleses introduziram o milho na Austrália (1788). Hoje, ele é cultivado em todo o mundo, em área superior à do trigo e à do arroz.

Com diversos usos, o milho tem grande contribuição no cenário econômico, da alimentação animal à indústria de alta tecnologia. Mais de 70% dos grãos são destinados a rações, sobretudo para suínos, aves, gado leiteiro e até piscicultura. O milho é versátil e serve à produção de etanol combustível, gerando coprodutos proteicos para alimentação animal de grande digestibilidade (DDG e WDG), além de ter muitos usos na indústria. Este ano, o Brasil produzirá 4,5 bilhões de litros de etanol de milho, 31% a mais do que em 2021 e 7% acima da estimativa anterior da União Nacional de Etanol de Milho (Unem).

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A safra total de milho (verão + outono) está estimada em 115,6 milhões de toneladas, 32,7% superior à do ciclo anterior, segundo a Conab. Apesar da queda de 20,4% da primeira safra no Sul, por ausência de chuvas. O cenário de ampla oferta afastou compradores. Resultado: negócios lentos e um mercado de milho momentaneamente retraído com reflexos negativos até na Argentina e no Paraguai, um dos países onde mais cresce a produção de grãos. E os agricultores brasileiros por lá têm muito a ver com essa dinâmica.

Nas festas juninas não faltarão milho cozido e assado, nem canjica, curau, pamonha ou pipoca. A nova safra de milho ajudará no barateamento das rações e talvez traga quedas nos preços de frangos, suínos, embutidos, leite e outros produtos. Quem sabe até da cerveja.

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Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste


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