Destruição
Eleições: Bolsonaro diz que ninguém quer atacar urnas
A Chacina do Jacarezinho deixou 28 mortos e caminha a passos largos para a impunidade. Já foram arquivados dez inquéritos relacionados a 24 vítimas; duas delas, segundo o próprio Ministério Público (MP-RJ), não tinham antecedentes criminais e foram alvejadas por acaso durante os confrontos. Dois casos foram denunciados à Justiça: num deles, dois policiais da Coordenadoria de Operações Especiais (Core) são réus pela morte de Omar Pereira da Silva; noutro, dois chefes do tráfico respondem pelo homicídio do policial André Frias. Na maioria dos casos, não foi possível cravar nem que houve execuções, como acusam moradores, nem disparos em legítima defesa, como alegam policiais.
O memorial aos mortos do Jacarezinho foi destruído cinco dias após a inauguração e menos de quatro meses depois do lançamento, pelo governador Cláudio Castro (PL), do programa Cidade Integrada, releitura das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). A nova política começou pela comunidade da Zona Norte e pela Muzema, favela da Zona Oeste dominada pela milícia, com promessa de atenção às demandas locais por serviços públicos, assistência social, formação profissional, trabalho e renda. Mas a ação da última quarta-feira sugere que a relação do governo fluminense com territórios populares segue pautada por truculência e falta de diálogo.
Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), Castro é candidato à reeleição. Assumiu o Palácio Guanabara há pouco mais de um ano, após o impeachment de Wilson Witzel, o ex-juiz federal eleito governador sob a promessa de “atirar na cabecinha” de criminosos. [eleito pelo povo, o que não deixa de ser uma manifestação da concordância da maioria do eleitorado pela promessa do então candidato.] Na gestão de Castro, organizações de direitos humanos têm denunciado alta incidência de confrontos armados e letalidade policial. O Instituto Fogo Cruzado contabilizou, de 1º de janeiro a 11 de maio deste ano, 1.254 tiroteios na Região Metropolitana do Rio, 407 dos quais durante intervenções policiais. As operações deixaram 188 mortos e 253 feridos. Onze de 16 chacinas (ocorrências com três ou mais óbitos) no Grande Rio se deram durante ações das forças de segurança; elas somaram 47 dos 63 mortos. Quarenta e oito agentes da lei foram baleados, 21 morreram. São as estatísticas de um modelo de segurança pública que só produz luto. Nas famílias das favelas, nos lares dos policiais.
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