A maior parte do vocabulário sinalizado pelos Justiceiros Sociais Woke como derivado de racismo não tem nada com isso. Palavras têm origens rastreáveis e rastreadas. Considerar expressões como inveja branca, lista negra, peste negra e ovelha negra derivadas de alguma relação com raça é a Etimologia Freestyle. Estudar etimologia, a origem das palavras, dá trabalho. Na modalidade freestyle, inventa-se uma correlação para poder xingar os outros de racistas. Além de ser mais relax e não dar stress de tanto estudar, gera likes e dá prestígio aos antirracistas de internet.[1]
Madeleine Lacsko, Gazeta do Povo
Olhando para o figurativamente, pois são 15:48h, só vejo escuridão. Por vezes precisamos explicar que usamos figuras de linguagem ou nos colocarão numa lista negra de pessoas que teriam cometido algum absurdo. A escuridão tem sido a base de várias dessas expressões tão injustiçadas em tempos em que a Literatura não existe nas universidades e nem no ENEM...
Pego sobre meu criado mudo umas anotações feitas meio nas coxas – como jamais fizeram qualquer telha que seja – enquanto tomo um copo d’água, porém feito de vidro, penso no que escrever para não correr perigo de vida: decido pelo caminho seguro e resolvo falar sobre o sentido exato das palavras, o denotativo. Largo, então a crônica, e passo a fazer uma espécie de glossário, mas sem seguir ordem alfabética, diante de muito analfabetismo funcional, escolhendo palavras e expressões em que tenho observado mais dúvidas, ultimamente...
Quaisquer. Plural de qualquer. Única palavra em português com plural no meio da palavra, Pronome que se refere a algo não especificado e sem que haja exceção.
Exemplo de uso: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.” (Constituição. Art. 53)
salvo em caso de: Expressão usada para fazer exceção ao que está sendo dito, para dizer quando o que está sendo dito não se aplica.
Exemplo de uso: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.” (Constituição. Art. 5º, XI). Quando não há exceção, se aplica em qualquer caso ou tempo, por exemplo: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. (Constituição, 5º , VI)
Senão em: Mais uma expressão usada para fazer exceção ao que está sendo dito, para dizer quando o que está sendo dito não se aplica, equivalente a salvo em caso de (ou seu plural).
Exemplo de uso: “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;.” (Constituição. Art. 5º, LXI).
Ou: Conjunção alternativa que denota que basta que ocorra uma entre duas ou várias situações ou hipóteses. Difere por exemplo da conjunção “e” que é aditiva e exigiria que mais de uma coisa ocorresse para que se aplicasse o que está sendo dito.
Exemplo de uso: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.” (Constituição. Art. 5º, XI). Obs. Usamos o mesmo exemplo por sua clareza e importância)
Concepção: Fecundação. Fusão do espermatozoide com o óvulo.
Exemplo de uso: “Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente..” (Pacto de San José da Costa Rica - considerado supralegal pelo STF- Art. 4º, 1). “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. (Código Civil, Art. 2º ).
Inviolável: Aquilo que não pode ser desrespeitado, que tem que ser observado por quem quer que seja, que nenhuma pessoa física ou jurídica tem o direito de violar.
Exemplo de uso: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”(Constituição, Art. 5º, VI)
Independentemente: Advérbio. Expressa a relação de independência entre duas ou mais coisas, pessoas, instituições, etc.
Exemplo de uso: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” (Constituição, Art. 5º, IX)
Creio que por hoje basta, não elencarei quaisquer outras palavras, até pra não correr o risco de que provocar a ira dos que desconhecem semântica e interpretação ou: dos que querem distorcê-las, afinal, independentemente do que pensemos, nossas liberdades não são tão invioláveis assim, salvo em caso de defender a ideologia...
A Etimologia Freestyle é uma das principais ferramentas do Justiceiro Social do Parque de Areia Antialérgica para fingir que é intelectual ou antirracista. Ao inventar significados que não existem para uma expressão ou palavra, é possível dar impressão de que combate racismo. Melhor ainda, se a Etimologia Freestyle for usada chamar outra pessoa de racista, teremos um herói. Vários sonsos surgirão para "educar" a pessoa injustamente acusada e fazê-la "acordar" para o racismo estrutural. É o autoritarismo do bem.
Madeleine Lacsko. (Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/madeleine-lacsko/etimologia-freestyle-tres-expressoes-racistas-que-nao-tem-nada-a-ver-com-isso/ )
P.S. Agora o livro 2020 D.C. Esquerdistas Culposos e outras assombrações tem uma trilha sonora com canções e músicas de filmes citados.
Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux
Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana
Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas
(Oração de São Bento cuja proteção eu suplico) [vale a pena lembrar que dia 11 de junho é Dia dedicado a São Bento.]
*O autor é mestre em Direito, membro do Movimento Contra a Impunidade (MCI) e do Ministério Público Pró Sociedade (MP Pró Sociedade), autor de “2020 D.C., Esquerdistas Culposos e Outras Assombrações” e de “Hierarquia e Disciplina são Garantias Constitucionais”.
** Publicado originalmente no excelente Portal Tribuna Diária - Adriano Marreiros
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