Ou... a disputa entre Lula e o atual presidente na qual a primeira-dama será a fiel da balança
Se, de um lado, Lula disse que Bolsonaro está “possuído pelo demônio”, do outro o presidente usou sua principal “arma” para ganhar a simpatia dos evangélicos: a primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Até o dia 2 de outubro, o rosto de Michelle será visto com frequência. A imagem dela é muito positiva para a campanha, mas traz consigo um apelo religioso que tenta, a todo custo, humanizar a imagem de Bolsonaro. E aí que está o problema. A encenação dos dois tem um objetivo claro e nenhum deles faz questão de esconder isso. Bolsonaro discursa para os mais pobres. Michelle discursa para os evangélicos e para as mulheres.
A foto de Michelle beijando o rosto do marido é uma clara sinalização às mulheres, parcela do eleitorado que ainda mostra muita resistência em relação ao atual presidente. Segundo a nova rodada Genial/Quaest divulgada nesta quarta, 17, Lula vence Bolsonaro por 46% a 30% no eleitorado feminino. Embora ainda esteja perdendo, os números do presidente vêm melhorando ao longo dos meses: em março de 2022, ele tinha apenas 22% das intenções de voto entre as mulheres. Cresceu oito pontos em cerca de cinco meses.
Uma das estratégias da campanha do presidente é exatamente a presença de Michelle para melhorar a imagem dura e machista que o acompanha.
Em seu discurso em Juiz de Fora, Michelle usou e abusou dos termos religiosos. Ela usou o nome de Deus em vão, mas as palavras foram colocadas de forma proposital. Sempre falando de um “inimigo” que estaria rondando o país, Michelle falou que o marido viveu um milagre ao sobreviver à facada durante sua campanha em 2018. “Deus fez um milagre na vida do meu marido porque aqueles que pregam o amor e a pacificação atentaram contra a vida dele. Mas Deus é maior, e a justiça do senhor será feita. Que Deus dê sabedoria e discernimento ao nosso povo brasileiro para que não entregue a nossa nação aos nossos inimigos”, disse Michelle.
Michelle aceitou o papel que lhe deram. Foi para o “vale-tudo” em busca da reeleição do marido e não hesita em usar o nome de Deus e a fé dos eleitores para alcançar o objetivo final. Embora esteja apenas respondendo aos inúmeros ataques que sofreu dos bolsonaristas, Lula precisa tomar cuidado para não cair no mesmo erro de apelar para o abuso dos termos religiosos em busca de votos. [quando todos sabem que o descondenado é ateu.]
Matheus Leitão - Coluna em VEJA
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