Míriam Leitão
Ministro carimba como 'urgentíssimo' pedido de acesso ao código-fonte das urnas, que está aberto há 10 meses
O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, decidiu que continuará assombrando o país. Ontem foi mais um dia dessa movimentação “de tropas” do general. Ele carimbou como urgentíssimo o pedido de acesso ao código-fonte que está aberto às instituições fiscalizadoras desde outubro do ano passado, e que já foi visto, por exemplo, pela CGU, o Ministério Público Federal, o Senado e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O PL, partido do presidente, ignorou que o acesso é aberto aos partidos e não apareceu lá.
O Ministério da Defesa quando manda um documento carimbado de urgentíssimo, e pelo tom que sempre usa nos seus comunicados, passa a impressão de que é algo fechado, que está havendo obstáculos impostos pelo TSE. A explicação do Ministério é que foi carimbado urgentíssimo pelo prazo curto até as eleições. Mas se achasse importante já teria feito a vistoria do código-fonte nesses quase dez meses que o acesso está aberto às entidades. Não é crível que o Ministério da Defesa não soubesse que estava aberto, nem que só tenha se interessado agora.
Houve uma das notas em que o general usou um tom totalmente inadequado como se fosse o comandante do TSE, a de 10 de junho, na qual o ministro escreveu “reitero que as sugestões propostas pelas Forças Armadas precisam ser debatidas”, como se desse ordens ao tribunal. Desde o começo as Forças Armadas mostraram que não entraram nessa conversa com boas intenções. Nessa mesma nota, há várias frases dúbias e que alimentam a desconfiança, como a de que “secreto é o voto e não a apuração”. Ora a apuração não é secreta.
Em determinado momento, diz que “não interessa concluir processo eleitoral sob a desconfiança dos eleitores”. Mesma expressão usada pelo presidente ( “sob desconfiança dos eleitores”) na fala aos embaixadores. A desconfiança tem sido alimentada pelo presidente e por comportamentos como esse do Ministério da Defesa. O que eles querem é intimidar o país, que não se deixará intimidar.
Míriam Leitão, jornalista - O Globo
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