O versátil cereal mais plantado do planeta é um caso de sucesso no agronegócio nacional
Desde da década de 1920, o álcool já era testado como combustível automobilístico. O grande salto ocorreu na década de 1970, quando havia também uma crise internacional de petróleo. O Brasil criou o Programa Nacional do Álcool, ou Proálcool, em 14 de novembro de 1975, pelo Decreto n° 76.593, com o objetivo de estimular a produção do álcool, atender às necessidades do mercado interno e externo e a política de combustíveis automotivos. O Proálcool abrangeu a produção agrícola, as destilarias, os motores, a frota automobilística, as refinarias e a distribuição.
De 1975 a 2000, foram produzidos cerca de 5,6 milhões de veículos a álcool hidratado. O programa também introduziu uma fração de álcool anidro (entre 1,1% a 25%) na gasolina pura consumida por mais de 10 milhões de veículos. Nesse período, reduziu as emissões de gás carbônico por combustíveis fósseis na ordem de 110 milhões de toneladas de carbono e a importação de aproximadamente 550 milhões de barris de petróleo, e proporcionou uma economia de divisas da ordem de US$ 11,5 bilhões. Por ser menos poluente, a qualidade do ar de grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, melhorou muito graças ao uso do etanol nos veículos ou incorporado na gasolina. Agora, um novo desenvolvimento ocorre nos biocombustíveis brasileiros: a produção de etanol a partir do milho.
A produção de etanol a partir do milho traz diversas vantagens. Com 1 tonelada de milho é possível produzir mais de 400 litros de etanol. Na cana-de-açúcar, são cerca de 85 litros por tonelada.
A primeira usina para produzir etanol a partir de milho foi instalada em Mato Grosso em 2012. Dez anos depois, 17 usinas de etanol de milho estão em operação: dez em Mato Grosso, cinco em Goiás, uma no Paraná e outra em São Paulo. Desse total de unidades em operação, dez são flex (tanto processam cana-de-açúcar como milho para produzir etanol) e sete são full (processam apenas milho).
Com a cana, a usina tradicional produz ou etanol ou açúcar. Cerca de 140 quilos de açúcar ou 85 litros de etanol por tonelada de cana. Em geral, com exceção das destilarias, as usinas destinam aproximadamente metade de sua produção ao etanol e a outra ao açúcar, com variações em função de preços e mercados.
Com o expressivo aumento na disponibilidade desse insumo, a tendência é de queda no preço, como aconteceu nos Estados Unidos. O DDG estará cada vez mais presente nos cochos dos animais, como fonte proteica e energética em rações e concentrados.
Segundo estimativas da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), a produção de etanol de milho deverá superar 4 bilhões de litros nesta safra. Nos próximos dez anos, o país deverá ter mais nove unidades flex e 24 full. Com os projetos de construção de novas usinas de etanol é possível atingir 10 bilhões de litros por safra em 2030, um processamento da ordem de 22 milhões de toneladas de milho.
Para os agricultores localizados em regiões onde se instalaram as usinas de etanol de milho, estas são mais uma alternativa interessante de mercado. O milho, até então disputado internamente pelas indústrias agroalimentares, de ração animal e pelas traders, a fim de destiná-lo à exportação, passa agora a ser também procurado pelos produtores de etanol. O segmento do etanol de milho é muito organizado. E ampliou sua capacidade de armazenagem para garantir a continuidade na produção de etanol. Muitas usinas já compraram dos produtores a safra de milho ainda a ser plantada em 2023, para garantir a produção de etanol e de seus coprodutos.
Outro fator favorável à sustentabilidade do etanol de milho é sua incorporação ao Programa RenovaBio. Ele busca expandir a produção de biocombustíveis, fundamentada na previsibilidade e na sustentabilidade ambiental, econômica e social. É mais um incentivo à descarbonização da economia por meio do uso de biocombustíveis. O milho colabora na redução das emissões de gases de efeito estufa e o de segunda safra, dita safrinha, ainda ajuda a acumular carbono nos solos e a limitar a degradação das terras com sua cobertura vegetal no outono e no inverno.
O crescimento da produção do etanol de milho e dos coprodutos derivados é mais um caso de sucesso no agronegócio nacional. Isso produz novas oportunidades na economia, na geração e no crescimento da renda no campo e no crescimento mais sustentável em várias regiões do Brasil. Haverá cada vez mais etanol de milho no mercado. Seu carro será movido, também, por etanol de milho, além do da cana-de-açúcar. O milho, além de nos alimentar, agora nos move e dá o que falar.
[Tenham presente que se o descondenado fosse eleito uma das suas primeiras metas seria acabar com o agro negócio = transformar o Brasil em uma Cuba, com uma passagem pela Venezuela - o péssimo e que seria uma parada de adaptação para Cuba = o horror.]
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Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste
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