Revista Oeste
Barroso agora sabe que vaidade também morre de vaia
Ministro do STF Luís Roberto Barroso participa da abertura do 59º Congresso da UNE | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Grávido de animação com a ideia de estrelar a abertura do Congresso da União
Nacional dos Estudantes, o convidado de honra programou para 12 de julho de
2023 um histórico regresso ao mundo que frequentou nos tempos de aluno de
Direito.
Para evitar que aquilo que chamou de reencontro com as origens se
confundisse com qualquer visita de jurista sessentão a algum universitário no
fim dos anos 1970, Luís Roberto Barroso decidiu reduzir a distância que separa
o retrato do artista quando jovem do pendurado na parede do Supremo Tribunal
Federal.
Convém ressalvar que um gênio da raça não cabe em apenas duas versões.
Houve o
aluno condenado ao êxito.
Houve o advogado com vasta clientela pronto para
pagar honorários calculados em dólares por minuto.
E há agora o ministro do
Supremo Tribunal Federal que tudo sabe e tudo vê.
Mas também tivemos o
professor insuperável. Temos o palestrante que discorre sobre qualquer tema com
a segurança de quem sabe quem somos, de onde viemos e para onde vamos.
E logo
teremos um presidente do Supremo de matar de inveja qualquer colosso da Corte
Suprema ianque.
Por incrível que pareça, todos são Luís Roberto Barroso.
Seja qual for o ano de fabricação, todo Barroso exibe marcas de nascença
irremovíveis: não tem nenhuma dúvida sobre nada, ama ouvir a própria voz,
admira o que enxerga no espelho, aguarda aplausos ao fim de cada frase e odeia
a mais suave objeção.
É pecado irremissível contestar a verdade revelada por um
especialista em tudo.
Tudo somado, é compreensível que quem conhece um Barroso
se tenha surpreendido com os retoques visuais a que submeteu voluntariamente o
modelo-2023 para fazer bonito no Congresso da UNE.
O ministro manteve fechado o armário das togas, esqueceu nos cabides os ternos
com variações do azul-lago-norte e do cinza-brasília, pendurou no ombro um
paletó sem ter conferido a cor, dobrou as mangas da camisa social azul-claro,
afrouxou o nó da gravata vermelha, encarregou a cinta preta que aprisionava a
calça missa-das-dez de reprimir a silhueta redesenhada por restaurantes de fina
linhagem e foi à luta.
Continuou visível o poço de vaidade tão vasto e profundo
que poderia servir de aquário para uma baleia.
As sobrancelhas pareciam
desenhar com especial apuro o duplo “V” invertido. Mas ninguém adivinhou que
era o “V” de “vingança”.
(...)
O ministro da Justiça, Flávio Dino (ao centro),
posa ao lado de foliões no Carnaval de São Luís (MA, 18/2/2023) | Foto:
Reprodução/Instagram
Homiziado no Partido Socialista Brasileiro, conseguiu o emprego que lhe permite
sonhar sem perigo com a ditadura do proletariado.
Faz sentido: é esse o único
regime que emagrece governados com a falta da comida que engorda os
governantes.
Ao lado de anfitriões desse calibre, o convidado se aproximou da
plateia proibida para manés como quem corre para o abraço.
Foi então que
Barroso ouviu a vaia.
Deveria ter esquecido o encontro com as origens,
encostado no ouvido o celular desligado e voltado para casa. Descobriu tarde
demais que também vaidades supremas ficam em frangalhos com poucos minutos de
vaias.
O fiasco de Barroso já foi detalhado por Oeste. Descontentes com posições
defendidas pelo ministro, representantes de cursos ligados à enfermagem
ocuparam um pequeno espaço para puni-lo com inscrições em cartazes e faixas,
berreiros hostis e uma vaia de tamanho médio.
O ministro achou que encerraria o
assunto com duas vogais tolerantes e três consoantes conciliatórias. Não
funcionou. Hora de concentrar os ataques no Inimigo Comum. Errou de novo.
A
ofensiva contra o “bolsonarismo” só serviu para comunicar ao Brasil que o
próximo presidente do Supremo tem tudo para piorar o que está ruim.
(...)
Faz tempo que a paisagem política brasileira virou um deserto de oradores que
mereçam cinco minutos de atenção. Os netos de quem ouvia Carlos Lacerda e
Getúlio Vargas que se contentem com vozes à procura de uma ideia e exterminadores
do plural. Por que haveria de ser diferente na selva do Judiciário? No século
passado, magistrados de primeira instância queriam ser Sobral Pinto ou Nelson
Hungria quando crescessem. Muitos agora acham que o silêncio na pequena comarca
é mais instrutivo, útil e sensato que o berreiro das excelências togadas.
(...)
O país agora sabe que basta a pose de senador romano para fazer bonito
na TV Justiça e alcançar o trono do Supremo.
A derrota da vaidade pode apressar
o fim da marcha da insensatez.
No momento, os verbos nomear, demitir, prender e
soltar são conjugados arbitrariamente por meia dúzia de juízes de comício.
São
os quatro verbos do poder, e todo o poder emana do povo.
Quem é incapaz de
lidar com grupelhos insatisfeitos não pode fazer o que lhe der na telha com 200
milhões de brasileiros.
Democracias adultas dispensam tutores.
Leia também “A metamorfose de Lira”
Colunista Augusto Nunes - Revista Oeste
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