J. R. Guzzo
Nunca o mundo precisou tanto do Brasil para comer — o agronegócio do país alimenta 1 bilhão de pessoas, ou cinco vezes a população nacional. É ruim isso? A esquerda diz que é.
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Os
intelectuais de esquerda, mais os jornalistas, os economistas das
grandes e pequenas universidades, os bispos, o papa Francisco, a
ministra Marina, os advogados democráticos que acreditam na natureza
divina de Lula, os apresentadores da Rede Globo e os robôs da causa do
“clima” têm uma história impecável de apoio a muitas das ideias mais
estúpidas que já ocorreram ao ser humano — ou a todas, provavelmente.
Uma das mais notáveis e mais na moda, nessa gente e nas classes
culturais dos Estados Unidos e dos países ricos em geral, é a descoberta
de que o agronegócio brasileiro é o culpado pela “fome no Brasil”.
É
também uma ameaça para o mundo inteiro.
Os 225 milhões de bois e vacas
que o Brasil tem hoje cometem o crime de provocar o “efeito estufa” e o
“aquecimento global”.
A soja e o milho “degradam a vegetação natural do
cerrado”.
Os frangos, nas granjas de alta tecnologia do Brasil, vivem em
condições inaceitáveis de estresse.
A perfuração do solo em busca de
água está entortando o eixo de inclinação da Terra — quer dizer, o
sujeito fura um poço artesiano em Jundiaí e o planeta sai do lugar.
O
presidente Emmanuel Macron diz que os “incêndios na Amazônia” estão
tirando o “nosso ar”.
A lista não para — nessa toada, os agricultores e
os pecuaristas brasileiros vão ser levados amanhã ou depois ao Tribunal
Internacional de Haia para responder por crimes contra a humanidade.
Capa da Revista Oeste, edição 99. Vista aérea de uma plantação de café no Brasil | Foto: Alf Ribeiro/Shutterstock
O governo Lula, é claro, se declara automaticamente solidário a todas
as acusações contra o Brasil — quanto mais cretina a acusação, aliás,
mais solidário fica. Tudo bem: a esquerda brasileira tem um instinto
infalível para ficar do lado errado de todas as questões possíveis — do
seu apoio às ditaduras à guerra contra a liberdade de expressão na
internet.
É natural que fique contra a produção rural do seu próprio
país, que, para piorar as coisas, é uma prova objetiva de que o
capitalismo transformou o Brasil de um anão agrícola num dos dois ou
três maiores produtores de alimentos do mundo, ao lado dos Estados
Unidos e da China.
Curiosa, mesmo, é a noção de que o agro brasileiro
causa fome — cada vez mais em voga nos salões da Quinta Avenida, nas
conversas de intervalo da Ópera de Paris ou nos decretos da Universidade
de Oxford, que nos instruem sobre o que é, ou não é, científico.
O
petista-padrão, é claro, concorda.
Não entende direito o que estão
dizendo, mas fica a favor.
O problema é a lenda que vai sendo criada no
mundo considerado culto, civilizado, racional etc. em relação à maior
conquista da economia brasileira nos últimos 500 anos.
Essa lenda é
frontalmente oposta à lógica, aos fatos e à razão.
Mas é aceita com a
mesma segurança com que se admite a existência dos números primos ou da
Lei da Gravidade de Newton.
Como é possível, no funcionamento normal dos circuitos cerebrais, dizer
que uma atividade que produz alimento está causando a fome?
(...)
Até 1970, discutia-se a sério a “escassez de alimentos no Brasil” — a
falta de comida era apontada como uma ameaça clara e presente, que iria,
entre outras desgraças, “paralisar a indústria”.
O Brasil importava
alimentos. Um pouco antes, na década de 1950, só havia máquinas
agrícolas em 2% das propriedades rurais do país.
Em 1975, após 500 anos
de atividade, a área rural brasileira produziu uma safra de 40 milhões
de toneladas de grãos. E hoje?
Este ano, apenas cinco décadas depois,
vai colher oito vezes mais.
O agronegócio brasileiro, em menos de 50
anos, conseguiu criar a primeira agricultura tropical bem-sucedida da
história — a única, na verdade, com esse volume de produção, de renda e
de avanço tecnológico.
O Brasil, ao lado da China e da Índia, é um dos
maiores sucessos da “Revolução Verde” que mudou a existência humana em
nossos dias e tornou possível um mundo com 8 bilhões de habitantes.
O
agro brasileiro está permitindo que a população mundial, hoje, coma mais
carne que em qualquer outra época — e que gente que nunca comeu um bife
na vida tenha conseguido comer.
Vai produzir, em 2023, mais de 10
milhões de toneladas de carne, e abater mais de 40 milhões de bois — o
que tornou o Brasil o maior exportador de carne do mundo, e o segundo
maior produtor, logo abaixo dos Estados Unidos.
É, como dito acima, o
maior exportador mundial de frango; foram cerca de 5 milhões de
toneladas no ano passado, para 150 países.
A mesma indústria produziu
quase 50 bilhões de ovos no ano passado — isso mesmo, 4 bilhões de
dúzias.
O Brasil está em primeiro lugar, igualmente, nas exportações
mundiais de soja, de milho, de açúcar, de suco de laranja e de café.
Tudo isso, naturalmente, teve um efeito decisivo na redução da miséria
no país — caiu a 1,9% da população em 2020, segundo números do Banco
Mundial, ou cerca de 4 milhões de pessoas.
É o índice mais baixo desde
que começaram a fazer essas contas.
Como poderia haver “33 milhões de
pessoas passando fome” no Brasil, como diz Lula, ou “130 milhões”, como
diz sua ministra da natureza, se só há 4 milhões de miseráveis? Não
interessa.
Os devotos da religião oficial querem passear com boné do MST
— ou dizer em Londres que o agronegócio provoca “a fome” no Brasil,
além de ser “bolsonarista” e coisa ainda pior.
.....
Ninguém, na discurseira do governo Lula, parece ter notado um fato
essencial: o agronegócio brasileiro, hoje, vale mais que toda a produção
de petróleo da Arábia Saudita.
O Brasil, no ano passado, exportou US$
160 bilhões; as exportações de petróleo da Arábia ficaram em US$ 150
bilhões.
O agro ajuda a pagar todas as importações do Brasil — e, além
disso, contribuiu decisivamente, no ano passado, para o saldo de US$ 60
bilhões obtido pela balança comercial. É dinheiro que se soma às
reservas em moeda forte, nos impede de ser um país-mendigo de chapéu na
mão diante dos credores e paga as viagens de Lula e Janja em seu
programa de volta ao mundo.
Dá para imaginar algum país sério que ache
bom acabar com a sua produção de petróleo? Não dá. A esperança é que, na
hora de agir como adulto, o Brasil deixe de lado a pregação suicida dos
seus extremistas.
É bom observar, a respeito, que Lula sempre fala
muito mais do que faz — no caso do agro, fica mostrando as abóboras do
MST, mas na vida real seu governo acaba de aprovar o financiamento da
safra, e o volume de dinheiro liberado é maior que o de 2022.
É o que
está valendo no momento. Vamos ver, agora, se os cérebros do PT começam a
exigir o extermínio das lavouras de soja e do rebanho de gado do Brasil
— ou se, como de costume, continuam fazendo o que sempre fazem.
Leia também “A diplomacia das ideias mortas”
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