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sábado, 19 de fevereiro de 2022

Oposição suprema - Revista Oeste

Sombra da estátua da Justiça na frente do Supremo Tribunal Federal Foto: STF
Sombra da estátua da Justiça na frente do Supremo Tribunal Federal Foto: STF

Primeiro, pois não existem apenas hackers russos no mundo. Depois, pelo timing da fala, constrangendo um presidente em visita protocolar e tratado de forma reverente, ao contrário do que a nossa imprensa antecipou. Além disso, a desconfiança geral não é com hackers russos, mas, sim, com eventuais manipulações de dentro mesmo, do próprio TSE, num sistema opaco sem nenhuma transparência. É como se o ministro tentasse desviar o foco para o que realmente apresenta risco pela ótica do eleitor.

Por fim, o comentário esdrúxulo foi feito bem ao lado do ministro Barroso, o presidente do TSE, que garante a inviolabilidade do nosso 
sistema eleitoral, “um dos melhores do mundo”, mas adotado apenas por países como Butão ou Bangladesh. A incoerência salta aos olhos.
Se o sistema é tão seguro como diz Barroso, então qual o medo dos tais hackers?
A urna não está fora da internet?
Estamos sob ameaça mesmo assim?

Vamos lembrar quem é Fachin: alguém que já assinou manifesto em defesa do MST e fez campanha pela Dilma Rousseff

Fica também a dúvida: quem falou isso vai ser incluído no inquérito ilegal das fake news por questionar a segurança das eleições brasileiras?  
Afinal, tem bolsonarista sendo alvo dessa perseguição por falar algo bem parecido, não? 
O próprio presidente é alvo por ter “vazado” uma investigação “sigilosa”, que não era sigilosa, sobre um hacker que invadiu o sistema. 
Nesse caso, os ministros supremos acharam melhor atirar no mensageiro em vez de lidar com a mensagem. 
E agora Fachin traz a mesma mensagem?
 
É tudo tão maluco que causa espanto ver gente tentando ainda dar uma aura de seriedade ao nosso STF atual, cuja composição é medonha. Vamos lembrar quem é Fachin
- alguém que já assinou manifesto em defesa do MST, um movimento radical e criminoso ligado ao PT, e fez campanha pela Dilma Rousseff, a “presidenta” que destruiu de vez nossa economia. “Apoiamos Dilma para seguirmos juntos na construção de um país capaz de um crescimento econômico que signifique desenvolvimento para todos”, disse à época Fachin. Boa!
Barroso não fica atrás: considerou o terrorista comunista italiano Cesare Battisti alguém inocente, considera-se um ungido e iluminado que precisa “empurrar a história” na direção da “justiça racial e social”, e julgou João de Deus como alguém com poderes “transcendentes”. 
Barroso já atacou Bolsonaro como alguém com “limitações cognitivas” e “baixa civilidade”, e recentemente disse que o presidente é “desencontrado espiritualmente”. Talvez tenha faltado a Bolsonaro um toque “transcendente” de João de Deus em sua vida!

É tudo muito surreal. Não podemos tratar com normalidade o que observamos no Brasil. É algo que cidadão algum do mundo civilizado aceitaria. Nosso Supremo Tribunal Federal, o suposto guardião da Constituição, virou apenas um agregado de palestrantes e militantes “progressistas” que perseguem o governo eleito pela maioria dos eleitores. É um partido de oposição, tal como nossa velha imprensa. Esta, por sintonia com esse propósito nada republicano, prefere passar pano para o arbítrio supremo, o abuso escancarado de poder por parte dos ministros.

Nossa imprensa em geral virou uma piada de péssimo gosto

A viagem de Bolsonaro a Moscou não fez apenas Fachin revelar as contradições dos discursos vazios do TSE; 
a própria mídia enlouqueceu de vez e, em sua histeria patética, resolveu rebater “memes”, refutar piadas nas redes sociais! 
Bolsonaro não impediu a terceira guerra mundial, disseram as agências de “checagem de fatos”; 
 Putin não gravou vídeo agradecendo a nosso presidente pela paz, constatou O Globo
Só faltou explicar que a imagem de Bolsonaro em cima de uma onça ao lado de Putin em cima de um urso era montagem, e não real.
 
Antes da chegada de Bolsonaro, jornalistas como Vera Magalhães e Ancelmo Goes, que teve laços com a KGB no passado, especularam que nosso presidente ficaria afastado por metros de Putin, como aconteceu com Macron e o chanceler alemão. 
Bolsonaro ficou lado a lado do presidente russo, para desespero da turma. Em um veículo de comunicação, chegaram a alegar que o motivo da viagem era reforçar a “masculinidade tóxica” perante o público. Nossa imprensa em geral virou uma piada de péssimo gosto!

Tudo isso seria apenas motivo de gargalhadas se essa gente não tivesse poder e influência. No caso da imprensa, cada vez menos, pois o público percebe e a credibilidade despenca. Mas o papel da mídia é outro: é dar um verniz de seriedade e institucionalidade ao papelão supremo. E esses ministros, sim, possuem bastante poder. Poder até demais! E que, se utilizado de forma abusiva e arbitrária, pode colocar em risco nossa democracia. Aquela que essa patota diz lutar para salvar das ameaças autoritárias, ignorando que a maior de todas vem de dentro, dos mesmos que se vendem como seus protetores.

Ver o STF transformado num partido de oposição, que persegue bolsonaristas por um lado enquanto solta e torna elegível com manobras ridículas o ladrão do PT por outro, ilustra com perfeição como estamos distantes de nos tornarmos um país sério. São figuras liliputianas, anões morais que ocupam cargos demasiado importantes. Neste ano eleitoral, essa turminha parece disposta a tudo para impedir a reeleição de Bolsonaro. Hackers russos são a nossa última preocupação nesse momento…

Leia também “Os limites democráticos”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

UM “LIBERALOPATA” - Alex Pipkin, PhD

Essa semana fui chamado de “liberalopata”. Sinto-me muito honrado.

Sim, claro, eu acredito no livre mercado, na concorrência e na capacidade dos indivíduos e das empresas de produzirem e de inovarem. São os indivíduos e as empresas os verdadeiros heróis, criadores de riqueza.

Distintamente do que pensa esse amigo que me “elogiou”, os empresários, na sua grande maioria, não são os capitalistas malvados, sem coração, “comedores de criancinhas”. Não são os vilões das desigualdades sociais…

Quem pensa desta maneira, desconhece que são nos mercados que se estabelecem relacionamentos associativos e colaborativos, e mais importante, de forma voluntária, ou seja, livre associação sem coerção.  O Estado tem a função de garantir nossas liberdades, de definir os direitos de propriedade, e de administrar a gestão da saúde, da educação e da segurança, porém, não acredito que a operação seja exclusividade estatal.

Verdadeiramente, o grande problema quase sempre está no intervencionismo - e no grau - do pai, mãe, avó, governo. “Boas intenções” não bastam, os resultados são comprovadamente piores quando o Estado intervém na tentativa de corrigir àquilo que supostamente era um problema.

Ludwig von Mises dizia que quem pede maior intervenção estatal está, em última análise, pedindo mais compulsão e menos liberdade.  Certo que os burocratas estatais encherão a boca para dizer que o governo deve intervir em razão das externalidades (Perdoa, Deus, a grande maioria deles não sabe o que diz - o que significa).

Por que eu deveria acreditar na inteligência e na capacidade superior do Estado? Pelo contrário, as tentativas estatais de impedir o funcionamento do livre mercado, por meio da coerção estatal, produzem compadrio, criam distorções e reduzem a riqueza de todos. Ou tu achas que os homens da máquina sabem gerenciar e alocar melhor os recursos do que as pessoas e os empresários? Eu não.

Um “liberalopata”, evidentemente, é contrário à ótica de que o Estado tenha que intervir para promover à ordem e fornecer a caridade para as pessoas, partindo-se da lógica que as pessoas sempre necessitam de uma “babá”, e proteção contra os gananciosos homens - ah, e mulheres - do mercado.

É tão singelo, mas tão difícil de compreender: todo o recurso do Estado sai do bolso dos contribuintes; e quando o Estado dá 1 com uma mão, pode ter certeza que já retirou 3 com a outra mão.

Um “liberalopata”, enfim, é cético, já que não acredita no nobre bom-mocismo, que na vida real não serve e não funciona para resolver os reais problemas.

Transcrito do Blog Percival Puggina -   Alex Pipkin, PhD


quinta-feira, 21 de maio de 2020

As razões dos militares - William Waack

O Estado de S.Paulo

Eles suportam um governo que embarcou numa perigosa aventura 

Os militares que estão no governo aparentemente não comandam. Por motivo simples: uma coisa é a aptidão técnica e a formação intelectual para planejar e executar considerando meios e fins. Para isso os militares foram muito bem preparados em suas academias, que equivalem a escolas de business comparáveis às melhores lá de fora.

Outra coisa é o exercício da política, aprendizado que não está nos currículos dessas academias. Tem sido mais fácil para os militares no governo se apegar a seu padrão ético de “cumprir a missão”, “obedecer ao comando hierárquico” e “não abandonar o barco em dificuldades” do que enxergar que prestígio e respeito pacientemente recuperados pelas Forças Armadas após o regime que instauraram e conduziram por 21 anos estão naufragando pelo suporte que emprestam ao que hoje, sob Bolsonaro, deriva numa aventura rumo ao abismo.

O que os levou a pular para a carruagem do atual presidente, que estava longe de ser a primeira escolha deles, foi a noção de esgarçamento do tecido social e de desagregação institucional ilustrada por dois episódios significativos ainda no início da campanha eleitoral de 2018. O primeiro foi o fica ou sai de Lula da cadeia em Curitiba, devido a uma sequência de canetadas do Judiciário. Bagunça que por um triz não levou à desordem. O segundo foi a bagunça mesmo criada pela greve dos caminhoneiros.

[consertar o Brasil, desmontar o mecanismo é realmente uma missão perigosa, só que: "MISSÃO DADA,MISSÃO CUMPRIDA."        Questionar uma missão, ainda que pela primeira vez, é algo que tem que ser cuidadosamente analisado, em todas as suas implicações, caso contrário estará se abrindo as portas para quebra da HIERARQUIA e DISCIPLINA.]

A um candidato sem planos, além de frases de efeito, os militares levaram seriedade, confiabilidade e gente experiente em logística, gestão de recursos, planejamento, disciplina e hierarquia. Acharam que a onda disruptiva que destruiu a reputação de políticos, partidos, imprensa e várias instituições se traduziria num “momento” político capaz de fazer prosperar mesmo num Legislativo hostil a reformas, à transformação do Estado e por aí vai. Não estavam sozinhos nessa mescla de fé e esperança, combinadas a um pouco de cálculo.

Faltou o lado político, pelo qual Bolsonaro enveredou da pior forma possível. Preferiu renunciar ao exercício de seu maior poder, que é ditar a agenda. Preferiu concentrar-se no afago à suas parcelas de seguidores incondicionais, que estão diminuindo. Jogou fora várias oportunidades de se tornar uma voz pregando convergência, união, pacificação, concentração de esforços. Perdeu tempo e, com a pavorosa crise do coronavírus, perdeu também a moral.

Na mais recente grande crise do governo, a da saída de Sérgio Moro, os militares encontraram como conveniente justificativa para tolerar um governo no mínimo errático a postura do STF de limitar as prerrogativas do Executivo. Além de legislar, o Judiciário em alguns casos até governa, ou não deixa governar. Há um forte debate jurídico e acadêmico sobre o tema, mas militares e políticos, e não só os do Centrão, avaliam esse fato como usurpação de prerrogativas.

Portanto, sob essa ótica, é até “compreensível” o flerte nada discreto do presidente com a crise institucional que os militares não querem que aconteça. O problema político que eles não resolveram é traçar a linha entre o que é “suporte institucional” a um governo destrambelhado e o que é cumplicidade com o destrambelhamento. É o tipo de coisa, porém, que só fica bem clara depois.

Parece evidente neste momento que está além da formação técnica e doutrinária dos militares resolver um nó que é político na mais pura essência. O símbolo de tudo isso é um general, que não é médico, liberando [autorizando.] no Ministério da Saúde um documento contendo protocolo de tratamento que médicos que o antecederam não quiseram assinar – e se recusaram a fazê-lo por razões técnicas, e o general o fez por razões políticas do presidente da República.  São razões que passaram a ser, por conivência, conveniência ou inércia, as razões também dos homens que vestiram ou vestem fardas.

William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo