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quinta-feira, 12 de maio de 2022

Lula versão 89 - Revista Oeste

Silvio Navarro - Cristyan Costa

Ex-presidente recorre a repertório político atrasado, assusta aliados e causa incêndio dentro do próprio PT

Existe um grande mistério na campanha presidencial deste ano: quem são e onde estão os cerca de 40% dos eleitores de Lula, segundo as pesquisas? Disposto a provar que sua popularidade não é uma invenção do consórcio da imprensa, o petista decidiu comparecer ao mais tradicional evento da esquerda a céu aberto: a festa do 1º de Maio, Dia do Trabalhador, em São Paulo. Foi um desastre.

O PT montou um palco enorme na Praça Charles Miller, onde funciona o estacionamento do Estádio do Pacaembu. As centrais sindicais espalharam balões de gás e levaram brindes. Os principais líderes da esquerda, como Guilherme Boulos (Psol) e Fernando Haddad (PT), circularam com desenvoltura. Até José Dirceu, que há anos não era visto nas ruas, apareceu com uma camiseta do Corinthians e uma faixa na testa: “Sou Lula”.

No palco, artistas se apresentaram num típico “showmício” da década de 1990, com pedidos de votos — hoje são proibidos por lei. O vereador Eduardo Suplicy (PT) resolveu relembrar os tempos em que cantava Blowing in the Wind, canção de Bob Dylan, na tribuna do Senado.

Entre uma música e outra, o locutor do festival anunciava: “O presidente vem aí!”, respondido com o coro de “Fora Bolsonaro!”. A programação da festa atrasou três horas até que Lula desse as caras. O motivo: faltava um elemento fundamental naquela tarde. Apesar de todo o esforço, o público não apareceu.

Para piorar a situação, o show mais esperado do dia, da cantora Daniela Mercury, causou ainda mais estrago. Cabo eleitoral de Lula, ela fez um discurso explícito pedindo votos. E emendou dizendo que nunca havia recebido dinheiro público para suas apresentações. Na última terça-feira, 3, a edição do Diário Oficial do município informou que a participação de Daniela custou R$ 100 mil ao bolso dos paulistanos. O dinheiro saiu do caixa da prefeitura, que mal consegue cuidar da zeladoria de uma metrópole em frangalhos.

De acordo com a Resolução 23.674/2021, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pedidos de voto ou atos que caracterizem campanha só podem ocorrer a partir de 16 de agosto. “Se houve pedido expresso de voto por parte de Daniela Mercury, trata-se de propaganda eleitoral antecipada”, afirma o advogado Alberto Rollo, especialista em Direito Eleitoral. “Quem pratica essa ilegalidade está sujeito a multa de R$ 5 mil a R$ 25 mil.”

A Lei Eleitoral proíbe campanha em eventos patrocinados por dinheiro público. A prefeitura paulistana já tinha uma resposta na manga para se livrar de punição: os recursos teriam sido destinados à festa das centrais sindicais e não seria possível prever que alguém pediria votos a Lula. Não pegou nada bem. Nesta quinta-feira, 5, contudo, a Controladoria-Geral de São Paulo suspendeu o pagamento até a “apuração dos fatos e eventuais responsabilidades funcionais e empresariais”.

Incontinência verbal
Lula subiu ao palco ao lado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Fez um discurso de 15 minutos, que pode ser considerado breve para os seus padrões. A fala começou com um pedido de desculpas. No dia anterior, ele dissera que “Bolsonaro não gosta de gente, mas de polícia”. A declaração caiu como uma bomba nas redes sociais. Mas não foi a única desde que voltou a se arriscar em público.

A incontinência verbal tem sido criticada com frequência por aliados — em alguns casos, abertamente. Foi o que aconteceu na quarta-feira 4, durante a celebração da aliança com o Solidariedade. O líder do partido, Paulinho da Força, que é sindicalista, pediu que Lula parasse de defender a revogação da reforma trabalhista. “Temos perdido tempo com algumas coisas: uma vaia ali, a Internacional Socialista ali, uma reforma trabalhista”, disse Paulinho. A referência à Internacional Socialista é simbólica. O hino esquerdista, que nem a mais antiga vitrola comunista reconhece, foi entoado em evento do PSB neste mês.

“Até brinquei com o Marcelo Ramos (vice-presidente da Câmara). Esquece essa história de reforma trabalhista. Ganha a eleição que resolvemos isso dentro da Câmara em dois meses”, afirmou Paulinho. “Isso é besteira, essa história de revogar só joga água contra o nosso moinho.”

O próprio Lula já se queixou da ausência de alguns nomes em aparições recentes. Um exemplo foi Marina Silva, que não foi ao ato da Rede em apoio à candidatura do petista. Outros parlamentares novatos que se destacaram na mídia também têm evitado o contato direto. Tanto que foram convocados para cuidar da agenda e do programa de governo figuras jurássicas da sigla, como Luiz Dulci, Paulo Okamoto e Aloizio Mercadante.

O tesoureiro será o deputado sergipano Márcio Macedo, que assumiu as finanças do PT quando João Vaccari Neto foi preso. Lula, contudo, queria a volta do seu homem de confiança no posto, José De Fillipi Júnior, mas ele não topou largar a prefeitura de Diadema.

A falta que um marqueteiro faz
No final de semana passado, a desastrosa menção de Lula aos policiais foi tema de conversas em grupos de WhatsApp que reúnem marqueteiros de campanhas petistas e jornalistas. Os principais incomodados são os profissionais que vão trabalhar na campanha de Fernando Haddad para o governo de São Paulo.

Essa ala defende a ideia de que o repertório deveria ser parecido com o que o conduziu duas vezes ao Palácio do Planalto — sem o rancor adotado desde o pronunciamento na saída da carceragem em Curitiba, em 2019. Esses aliados argumentam que a resistência do eleitorado paulista ao PT está crescendo, segundo pesquisas. Outro detalhe: o petista vai enfrentar dois adversários de perfil moderado, o ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas e o atual governador, Rodrigo Garcia. O tucano, aliás, tenta a todo custo se distanciar de João Doria.

A briga interna na comunicação do PT opõe dois nomes: o responsável pela área no partido, Jilmar Tatto, e o ex-ministro Franklin Martins, chamado para ajudar na campanha. Tatto conseguiu demitir recentemente a empresa do marqueteiro Augusto Fonseca, que estava produzindo as primeiras peças de TV. Fonseca é amigo de Franklin, defensor da linha mais agressiva.

O favorito para assumir o posto é Sidônio Pereira, que fez a campanha de Haddad em 2018. Ele é ligado ao senador baiano Jaques Wagner e tem a preferência de Gleisi. Seria uma tentativa de suavizar o tom. Há, contudo, um último e decisivo fator nessa equação: Lula recusa qualquer comando. Ele não ouve ninguém.

Jogo dos 7 erros
A sequência de barbeiragens nos discursos é grande. O petista já defendeu o direito ao aborto, assunto que causa curto-circuito no eleitorado evangélico e católico. E disse que a classe média “ostenta demais”.

Para agradar a Guilherme Boulos e à militância do Psol nas universidades, disse recentemente que pretende trabalhar para criar uma moeda única na América Latina. A fala empoeirada ainda conseguiu misturar, em pouco mais de 30 segundos, a ideia de recuperar os Brics (grupo de países de mercados emergentes), o fechamento dos clubes de tiro e o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Sobre a guerra no Leste Europeu, aliás, afirmou há pouco tempo que a resolveria bebendo cerveja numa mesa de bar. “Até acabar (sic) as garrafas, sairia o acordo de paz”, disse Lula, segundo vídeo reproduzido pela embaixatriz ucraniana, Fabiana Tronenko, no Instagram.

Ainda não se sabe o efeito real das falas de Lula na campanha deste ano. Oficialmente, ela nem começou. Tampouco as oscilações nas pesquisas podem ser levadas muito a sério por nenhum dos candidatos. Mas é fato que o petista tem se inspirado cada vez mais nas três vezes em que perdeu as eleições.

Leia também “Fala mais, Lula!”

segunda-feira, 10 de maio de 2021

O Brasil que a imprensa não vê - Revista Oeste

Silvio Navarro

A mídia tradicional ignora os brasileiros nacionalistas que estão descontentes com o STF, condenam o discurso pró-lockdown e querem voltar ao trabalho 

Ao longo de décadas pelo mundo, o feriado de 1º de Maio, batizado de Dia do Trabalhador, originário de um movimento nos Estados Unidos pela redução da jornada diária de trabalho — eight-hour day with no cut in pay (diária de oito horas sem redução no pagamento) —, foi apropriado pela esquerda como uma data para promover manifestações nas ruas. 

No Brasil, durante os anos do PT no poder, os atos se transformaram em verdadeiras festas que custavam milhões de reais, com shows populares e distribuição de prêmios. Os atos da Força Sindical e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre outras centrais, ficaram famosos pelos comícios de políticos como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, o Psol que nascia e os demais satélites. Em 2009, por exemplo, ano pré-eleitoral para Dilma Rousseff, a tradicional Praça Campo de Bagatelle, na zona norte da capital paulista, foi palco do sorteio de 20 carros para a plateia, intercalados com uma geladeira ou tevê de 42 polegadas. Do outro lado da cidade, na zona sul, a CUT oferecia tratamentos de limpeza de pele, massagens e cortes de cabelo.

O ano agora é 2021 e algo mudou nas esquinas do país. À míngua desde o fim do chamado imposto sindical, sem dinheiro público para bancar eventos de grande porte nem poder de barganha nas máquinas governamentais tanto a federal quanto a dos principais Estados —, as centrais sindicais não reúnem mais ninguém. Do outro lado, no último fim de semana, mesmo com as restrições impostas por governadores e prefeitos, uma multidão resgatou as camisas verde-amarelas das gavetas para protestar contra as medidas arbitrárias de lockdowns e seus sinônimos, respaldadas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). As passeatas, especialmente as maiores concentrações na Avenida Paulista (São Paulo), em Copacabana (Rio de Janeiro) e na Esplanada dos Ministérios (Brasília), apoiaram o presidente Jair Bolsonaro, crítico do confinamento e das portas fechadas no comércio.

“Historicamente, essa data pertencia à esquerda. De repente, por fortes motivos, o povo toma as ruas pedindo o direito de trabalhar, e tudo isso é muito simbólico. O STF desautorizou o presidente a agir na pandemia e, nas manifestações, o povo disse em massa: ‘Eu autorizo'”, afirma a deputada Carla Zambelli (PSL), ligada ao movimento Nas Ruas, que promoveu atos no último sábado, dia 1º.

O presidente ainda citou cenas ocorridas em diferentes cidades de pessoas que terminaram algemadas e detidas por se recusarem a deixar áreas públicas ao ar livre, como praças e  praias. “Estamos assistindo a cenas de pessoas serem presas em praça pública, mulheres sendo algemadas e ninguém fala nada, a nossa imprensa. Cadê os meios de comunicação e não colaborar para denunciar isso? […] Por que a imprensa trabalha 24 horas por dia? Fica em casa também.”

Para além do poder da caneta para assinar ou não um decreto desse tipo e as implicações políticas e jurídicas que isso causaria, num ponto o presidente tem inequívoca razão: obstinada em manter sua cruzada contra o Palácio do Planalto, a imprensa tradicional não só tenta camuflar as arbitrariedades e a truculência empregada em nome da pandemia, como fingiu que não viu as passeatas de 1º de Maio — os raros editoriais ou articulistas que as citaram falaram em “manifestações a favor do vírus”, “fascistas” em defesa do “genocida” e de um golpe militar.

A pecha de “gado bolsonarista”, aliás, é a favorita dos haters na internet e nas colunas da própria imprensa. Nesta semana, o cantor sertanejo Eduardo Costa comentou em entrevista à rádio Jovem Pan: “O que chateia, inclusive por jornalistas que têm lado, é achar que nós sertanejos somos burros porque estamos no interior do Brasil, não estudamos, então eles olham para a gente e [sic] ‘nos tiram’ de babacas e sem cultura”.

Também nesta semana, Bolsonaro apontou o alcance de suas contas nas redes sociais como contraponto à artilharia do mainstream. “A população precisa ter informações de verdade na ponta da linha, saber o que acontece por intermédio das mídias sociais, que têm um papel excepcional no Brasil e, inclusive, na minha eleição. O meu marqueteiro não ganhou milhões de dólares fora do Brasil. O meu marqueteiro é um simples vereador, Carlos Bolsonaro, lá do Rio de Janeiro. É o Tercio Arnaud [assessor especial da Presidência], aqui que trabalha comigo, é o Matheus [José Matheus Sales Gomes, também assessor].”

Terceira via
Em meio ao silêncio diante das manifestações democráticas que voltaram às ruas — há ainda a possibilidade de atos de caminhoneiros e do setor agrícola a favor do presidente neste mês e circulam na redes sociais diversos vídeos de convocações —, a mídia tenta desde janeiro de 2019 dar musculatura a uma candidatura capaz de impedir a reeleição de Bolsonaro. [presidente Bolsonaro, somos seus apoiadores, mas antes de tudo somos BRASIL e não entendemos conveniente que manifestações,inclusive envolvendo pessoas sem compromisso com o Brasil (ninguém esqueceu os danos causados ao Brasil e aos brasileiros, especialmente aos menos favorecidos, pelos caminhoneiros em sua última greve, lock-out, paralisação ou como chamem.]
O presidente da República tem o DEVER de se manter longe de manifestações ou atos do gênero - na época oportuna, a dos comícios, sendo o presidente Bolsonaro candidato à reeleição, tem o direito de participar, mas sem se misturar  aos candidatos de araque, os escalados para perder. A LITURGIA do cargo antes de tudo, capitão.
Sua condição de neutro, tendo em conta ser o responsável primeiro, se necessário,  pela execução de atos de manutenção da ORDEM PÚBLICA precisa ser preservada.]
A lista de nomes já percorreu todos os caminhos da esquerda ao centro, com malabarismos que testaram até apresentadores de televisão, humoristas e youtubers.[os testadores esqueceram que o objetivo é eventuais candidaturas ao cargo de Presidente da República Federativa do Brasil e não a  artistas de circo mambembe.
Esqueceram que só o capitão tem as condições necessárias de reverter, inclusive no voto,  os efeitos da suprema tentativa de reviver,politicmaente, o petista.]

O fato é que nem o PSDB nem o Novo, por exemplo, conseguiram produzir um candidato que avançasse sobre o eleitorado conservador de Bolsonaro nem herdasse o que seria o espólio lulista até que o STF mudasse as regras do jogo e recolocasse o próprio petista no páreo. Foi assim com os governadores João Doria (SP), Eduardo Leite (RS), o senador Tasso Jereissati (chamado de “Joe Biden brasileiro” por um importante jornal paulista) e João Amoêdo (Novo). Somado a isso, o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro submergiu na cena política — o que inclui um duro revés no mesmo Supremo —, arrumou um emprego rentável e dá sinais de que esse tende a ser mesmo seu caminho.

“Não acredito em terceira via. É uma posição política semelhante ao centrismo, que tenta conciliar duas visões antagônicas: direita e esquerda; uma estratégia criada dentro de movimentos progressistas. Esse divórcio entre o que a imprensa apresenta e a realidade das ruas, os cidadãos experimentam desde o início da pandemia”, avalia Roberto Motta, ex-conselheiro do Banco Mundial e fundador do Novo — hoje crítico dos rumos que a legenda tomou.

Motta cita, por exemplo, a abordagem dada pelos mesmos veículos de comunicação sobre protestos promovidos pelo grupo radical Black Lives Matter em Washington. Em suma, o duplo padrão: atos do Black Lives Matter não causaram disseminação da covid; já os atos pró-Bolsonaro devem provocar alta de casos da doença.

A jogada mais recente de setores da imprensa foi tentar apresentar Ciro Gomes, do PDT, agora turbinado pelo marqueteiro do Petrolão, João Santana, com uma nova roupagem — alguém de centro-esquerda com envergadura para furar o duelo entre Lula e Bolsonaro. Na prática, trata-se de uma jogada que beira o desespero pela escassez de alternativas contra o correr do calendário. Caso ela não se viabilize, é enorme a probabilidade de que Lula será mesmo o destino final para a mídia tradicional — e alguns jornalistas já vislumbraram isso e anteciparam a guinada num revisionismo histórico para os crimes cometidos pelo petista. Tudo indica que 2022 poderá ser mais uma corrida polarizada entre o candidato das ruas e o das manchetes. 

Silvio Navarro, editorial - Revista Oeste

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Falar ou calar, companheira Dilma?

Para qualquer lugar que se olhe, os números justificam a cisão entre PT e trabalhadores 

O 1º de Maio, Dia do Trabalho, deveria ser uma data de gala para o Partido dos Trabalhadores. O PT está no Poder há mais de 12 anos, legitimamente eleito em quatro consultas consecutivas à população. Lula duas vezes. Dilma, mais duas. Por que então a presidente decide não fazer o pronunciamento tradicional em cadeia de rádio e televisão para 200 milhões de brasileiros? Por que não agradecer o voto de confiança dado a ela há apenas alguns meses – que já parecem uma eternidade?

Medo de um panelaço pior que o do Dia da Mulher. Panelas novas, panelas importadas, panelas velhas, panelas arranhadas. Medo do barulho infernal que pode emergir de residências caras, apartamentos modestos ou barracos. Medo da reação dos trabalhadores, não importa quanto ganhem. Medo da desilusão dos que perderam o emprego. A taxa de 6,2% de desocupação é a mais alta desde maio de 2011. O total de desempregados aumentou 23,1% em relação a março de 2014. As contas públicas registraram o pior trimestre em 17 anos.

O governo nega medo de panelaço ou de vaia. Dilma prefere gravar e divulgar alguns vídeos com mensagens nas redes sociais, segundo o ministro da Comunicação, Edinho Silva. O PT não gostou dessa desculpa tecnológica. Dirigentes petistas acham “um absurdo” e criticam a “covardia” de Dilma. Lula também pressiona a companheira. Há duas semanas, ele apelou em reunião com sindicalistas: “Dilma, se tem gente para te defender para sair dessa enrascada, é esse pessoal aqui”.

Qual enrascada? Para qualquer lugar que se olhe, os números justificam a cisão entre o PT e os trabalhadores. Tivemos o pior desempenho da história da caderneta de poupança, com os saques superando os depósitos em R$ 23 bilhões. O salário acaba antes do mês. Brasileiros raspam suas economias. É a maior carestia em 12 anos. A inflação e a desaceleração econômica aumentam as demissões e diminuem o poder de negociação salarial. A renda média do trabalhador foi reduzida em 2,8% em março – a maior queda em um mês desde janeiro de 2003, segundo o IBGE.

Em 2003, em seu primeiro Dia do Trabalho como presidente, Lula fez um discurso na Igreja da Matriz, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Foi uma fala de improviso, coisa inimaginável para Dilma. “E eu tenho, na minha cabeça, cada discurso que fiz na minha vida, eu tenho na minha cabeça cada compromisso que eu assumi em praça pública, eu tenho na minha cabeça programas de governo e eu tenho na minha cabeça que, se falhar, quem falhou foi um pedaço da história deste país e, possivelmente, iremos passar muitos anos para que a gente possa reconstruir a esperança que brotou no nosso país.” 

Premonição?
Lula dizia querer ser lembrado pela qualidade de vida de homens e mulheres. “E sobretudo pela qualidade da educação e da saúde que a gente quer implantar neste país.” Para tanto, o governo precisa “ter a habilidade de envolver a sociedade brasileira para se tornar cúmplice do governo”. “Podem ficar certos que todo 1o de Maio, às 9 horas da manhã, o presidente da República estará aqui para prestar contas do que estamos fazendo neste país”, afirmou Lula em 2003, pedindo que “Deus abençoe todos nós”.
 
Doze anos depois, onde está a qualidade na educação e na saúde? Doze anos depois, por que Dilma evita falar em público ou na televisão? Não quer prestar contas? A sociedade foi, sim, cúmplice do governo e acreditou no PT, como queria Lula. O PT teve a bênção de Deus, mas se deixou corromper pelo diabo.

A sociedade só não se sente cúmplice da corrupção e da incompetência que roubaram bilhões dos trabalhadores e de suas famílias. Agora, o ajuste fiscal, necessário como um antibiótico com efeitos colaterais negativos, tira bilhões do seguro-desemprego, da pensão por doença e morte e do abono salarial. O corte de R$ 18 bilhões em benefícios sociais foi reduzido para R$ 7,7 bilhões por resistência do Congresso. Onde está o corte necessário e moralizador nos surreais 38 ministérios? É ou não “corte na carne”?

Neste Dia do Trabalho, Lula e a CUT querem que Dilma condene a terceirização aprovada na Câmara. Na segunda-feira passada, Lula disse que, no 1º de Maio, “tranquilamente, a companheira Dilma vai vetar (a terceirização das atividades-fim das empresas)”. Se falar, a presidente dirá que não é a favor nem contra, muito pelo contrário. Dirá que apoia a terceirização para aumentar chances de trabalho e produtividade. Dirá que rejeita mexer nas conquistas trabalhistas. Dirá, como o presidente do Senado, Renan Calheiros – quem diria –, que não dá para liberar geral a terceirização, num momento em que o Estado aumenta impostos e juros. [Dilma realmente disse ser contra a terceirização - pelo menos lí em algumas manchetes... perder tempo vendo Dilma na internet é algo que não consigo.......................mas, pelo que se conclui nem ela estava convencida do que dizia.]

Neste feriadão, o povo não quer mesmo ouvir Dilma. Não foi apenas o trabalho que se tornou precário. Foi a presidente.

 Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época

 

 

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Dilma - a mulher do ex-coração valente, agora coração covarde - tem medo de falar no rádio e televisão no 1º de maio

Medo de falar no rádio e na televisão arranha a imagem da mulher de coração valente 

Dilma fala quando deveria calar e cala quando deveria falar. Não tem jeito mesmo. É uma trapalhona.

Qual foi o gênio que a aconselhou a falar em cadeia nacional de rádio e televisão no Dia Internacional da Mulher, celebrado no domingo oito de março último?  Na ocasião, Dilma pediu paciência aos brasileiros. E disse que são “temporais” os problemas que o país enfrenta.

Seu discurso foi recepcionado com um panelaço em várias capitais. Na época, o governo tinha pesquisas que mostravam o espetacular grau de rejeição de Dilma. Qual foi agora o gênio que aconselhou Dilma a não falar em cadeia nacional de rádio e televisão no próximo 1 º de Maio, Dia do Trabalhador?

O governo dispõe de pesquisas que atestam que a impopularidade de Dilma parou de crescer. Em algumas pesquisas, ela até recupera uns pontinhos.  Mas não é disso que se trata aqui – falar ou não falar conforme as pesquisas. O Dia da Mulher está longe de ser tão importante como é o Dia do Trabalho. De carregar o simbolismo político que este carrega.

O panelaço do Dia Mulher teve mais a ver com o que Dilma disse, valendo-se de um discurso velho e sem nenhuma imaginação, do que com ela mesma.  O momento está cheio de assuntos que poderiam marcar um discurso de Dilma capaz de soar bem aos ouvidos dos trabalhadores. Ao desistir de ser ouvida por eles, Dilma demonstrou medo, fraqueza, covardia. Tudo o que pode manchar sua imagem de mulher corajosa.

Fonte: Blog do Noblat