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domingo, 27 de novembro de 2022

Eleição à la carte - Guilherme Fiuza

Revista Oeste

"O nosso sistema eleitoral é perfeito. O do Butão também, assim como o de Bangladesh" 

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock  

— Candidato, o senhor quer aproveitar essa oportunidade que eu estou lhe dando generosamente e dizer a um Brasil de audiência que vai reconhecer a sua derrot… quero dizer, que vai reconhecer o resultado da eleição?

Vou reconhecer o resultado se a eleição for limpa.

— Candidato, está provado que as eleições são limpas.

— Como assim?

— Isso mesmo que o senhor ouviu: está provado que as eleições brasileiras são limpas.

— “São”?

— São.

— Mas as eleições nem aconteceram ainda, como você sabe que elas são limpas?

— Porque eu sei. Entendo disso. Fui eu mesmo que fiz a pauta do telejornal.

— Ah, tá. Mas e se der algum problema? Não existe sistema perfeito, né?

— Existe sim. O nosso sistema eleitoral é perfeito. O do Butão também, assim como o de Bangladesh.

— Você falando assim eu fico até aliviado.

Ilustração: Schmok

— Se eu fosse você não ficava.

— Por quê?

— Nada. Esquece. Coisa minha. Vamos continuar a sabatina.

— Pois não.

— Candidato, por que o senhor não aproveita essa oportunidade que eu estou lhe dando generosamente e admite para um Brasil de audiência que o outro candidato é muito melhor?

— Porque eu não acho.

— O senhor não se acha arrogante, agressivo e antidemocrático querendo derrotar um candidato que todo mundo acha melhor que o senhor?

— Todo mundo, quem?

— Ah, todo mundo: a MPB, o STF, os grandes bancos, nós… quer dizer… nós, não. Nós somos absolutamente isentos. Nossa missão é informar.

— Eu já notei.

— Que bom, candidato. Com o senhor espalhando desinformação, alguém tem que informar, correto?

— Que desinformação eu espalhei?

— Que as eleições não são limpas.

— Eu não disse isso. Disse que quero que as eleições sejam limpas. Você é que está dizendo que elas são limpas antes delas acontecerem.

— E são mesmo. Está provado.

— Provado por quem?

— Pelo Barroso, pelo Fachin e pelo Alexandre de Moraes. Ele até disse que teve que engolir a derrota do Corinthians pro Internacional mesmo tendo sido roubada, então todo mundo vai ter que engolir o resultado dessa eleição.

— Não entendi. Quer dizer que roubo não se discute?

— Não. Quer dizer que quem perde tem que calar a boca. Perdeu, mané.

— E o que isso tem a ver com eleição limpa?

— Cala a boca. Perdeu, mané.

— Como perdi, se a eleição ainda não aconteceu?

— Olha as pesquisas.

— A eleição vai ser tão limpa quanto as pesquisas?

— Com certeza. Tudo impecável, irretocável, inexpugnável, inexorável, implacável, inatacável, inquebrantável, insolúvel, inquestionável…

— O que é isso que você tá lendo aí?

— O dicionário. Na letra i tem um monte de palavra bonita. Sempre que quero botar mais ênfase e falar balançando a cabeça pro meu topete se mexer abro o dicionário na letra i.

— Interessante.

— Também é com i, mas não acho uma palavra tão forte, por isso não usei.

— Certo. Acabou a sabatina?

— Não. O senhor ainda não reconheceu que as eleições serão limpas.

— É porque as eleições ainda não…

— Candidato! Pare de desinformar. Pare de atentar contra a democracia. Pare de atacar a imprensa. Pare de atacar o judiciário. Diga logo que as eleições são limpas e não amola.

— Como podem ser consideradas limpas se não são auditáveis?

Fake news! Candidato, você e o seu gabinete do ódio inventaram essa história de voto auditável para tentar roubar a eleição.

— Roubar? É justamente o contrário…

— Cala a boca! O senhor já falou demais aqui. Nem sei por que estou te dando tanto espaço. Até me arrependi da minha generosidade.

— Tá bom. Vou embora. Mas se depois da eleição algum técnico encontrar problemas nas urnas que não são auditáveis posso voltar aqui pra comentar?

— Isso é impossível, candidato. As eleições são limpas. Pare de tentar dar o golpe.

— Transparência é golpe?

— Quando mostra o que não deve, é.

— Ah, agora que entendi a lógica.

— Você é um pouco lento.

— Sem dúvida.

— Tão lento que fica querendo disputar uma eleição que já perdeu ahaha. Desculpe, me empolguei.

— Sem problemas. Transparência é tudo.

Leia também “Mensagem aos manés”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

O gol contra de Moraes - Revista Oeste

Augusto Nunes

Ministro corintiano não vê diferenças entre uma questão judicial e um jogo de futebol 

Rosa Weber, Alexandre de Moraes e Rodrigo Pacheco, em entrevista coletiva sobre as eleições | Foto:  Antonio Augusto/Secom/TSE

Rosa Weber, Alexandre de Moraes e Rodrigo Pacheco, em entrevista coletiva sobre as eleições | Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE  

“Eu sou corintiano, como todos sabem”, começou o mais curto, surpreendente e destrambelhado pronunciamento de Alexandre de Moraes desde que descobriu os superpoderes concedidos a titulares do Timão da Toga. Sem esclarecer a abrangência do pronome indefinido plural — todos os parentes, todos os amigos, todos os demais torcedores ou todos os brasileiros? —, o governador-geral das eleições partiu para a evocação do trauma, sofrido quando tinha 8 anos de idade, que explica a origem do seu estilo tiro-porrada-e-bomba: “Até hoje eu contesto a vitória do Internacional contra o Corinthians em 1976, aquela bola que bateu na trave e bateu fora e foi dado o gol”.

Feito o misterioso preâmbulo, chutou de bico no pau de escanteio: “Só que eu fico com a minha contestação pra mim mesmo. É assim que o Tribunal Superior Eleitoral vai tratar quem contestar as eleições”.  
Enfim se soube que um gol que Moraes tenta digerir há quase 50 anos poluiu a cabeça baldia com certezas tão esquisitas quanto um baile a rigor no meio do Deserto do Saara.

Para o presidente do TSE, por exemplo, não há diferenças entre uma questão judicial no Brasil do século 21 e um jogo de futebol de antigamente. Mais: o despacho injusto de quaisquer excelências do alto comando do Judiciário é tão definitivo e inapelável quanto decisões desastradas dos juízes que suavam nos gramados trajados de preto e calçando chuteiras.

Alguma alma piedosa precisa contar à sumidade em matéria eleitoral que foi para reduzir ao mínimo o volume de erros que os dirigentes do mundo do futebol decidiram socorrer os árbitros com a criação do Video Assistant Referee, o VAR. 
 Caso tivesse ocorrido neste outubro, o gol que segue atormentando o ministro decerto seria anulado pela revisão das imagens. Mas Moraes prefere um TSE sem VAR ou qualquer outro instrumento de correção. A usina de decisões monocráticas, frequentemente sem pé nem cabeça, não admite contestações protagonizadas por quem se considera prejudicado. E vive perdendo a paciência com quem constata que os doutores a serviço da Justiça Eleitoral são tão imparciais como mãe de candidata a miss na noite do desfile final.
 
“Seremos implacáveis com divulgadores de fake news”, recita Moraes desde a festa de posse em que foi aplaudido de pé por meia dúzia de reputações ilibadas e uma imensidão de prontuários.  
Mas só quem vota em Jair Bolsonaro comete esse pecado capital, informa a enxurrada de punições impostas a quem publica notícias que possam prejudicar o ex-presidente Lula. 
Até os bebês de colo sabem que o chefe do Mensalão e do Petrolão passou meses engaiolado em Curitiba. 
Mas o TSE proíbe que o qualifiquem de ex-presidiário. 
Até napoleões de hospício compreendem que as mortes ocorridas durante a pandemia foram causadas por um vírus chinês em todos os países do mundo. 
Menos no Brasil, concorda o tribunal. Aqui só se morreu de Bolsonaro, singularidade que libera adversários do candidato à reeleição para acusá-lo de “genocida”.

Ninguém errou tanto quanto os pajés do Datafolha e do Ipec. Nenhum voltou a agir com a rapidez do velho Ibope com novo codinome

Como comprova J.R. Guzzo na análise do tema de capa desta edição de Oeste, a Gazeta do Povo foi censurada por registrar que Lula é um velho amigo de Daniel Ortega o ditador nicaraguense que, depois de prender um a um todos os que ousaram inscrever-se como candidato numa eleição de araque, agora deu de prender padres, freiras e bispos católicos. 
Não pode, resolveu o juiz Paulo de Tarso Sanseverino, outro impetuoso artilheiro do TSE. 
O companheiro Ortega e o companheiro Lula só se conhecem de vista. Quem acha o contrário quer induzir o eleitorado a acreditar que, se Lula conseguir regressar ao palco dos crimes incontáveis, vai declarar guerra ao Vaticano, estatizar igrejas e transformar púlpito em palanque. Às favas a liberdade de imprensa, os fatos, a sensatez, a verdade e a Constituição.
O batalhão de advogados, chefiado pelo inevitável Cristiano Zanin, consegue 11 decisões favoráveis a cada dez pedidos de remoção de notícias incômodas. 
E vence 101 a cada 100 ações destinadas a vetar o conteúdo ou interditar peças de propaganda eleitoral concebidas pela equipe de Bolsonaro. Alguém aí se surpreendeu? 
Zanin obrigou Gilmar Mendes a consumir barris de água para não desandar na choradeira exigida pelo desempenho de um advogado disposto a tudo para libertar o cliente bandido. 
Tão comovido quanto o decano do Supremo, Lula vai infiltrar Zanin no Pretório Excelso se alcançar um terceiro mandato.  
Para adular um possível colega, Moraes delegou ao ministro Benedito Gonçalves, aquele que Lula contempla publicamente com tapinhas no rosto, a missão de irritar Bolsonaro com o atrevimento dos antigos juízes de futebol.

Gonçalves proibiu a primeira-dama Michelle Bolsonaro de aparecer com destaque no horário eleitoral, proibiu o marido de gravar lives na residência oficial do casal, proibiu o presidente da República de documentar com imagens a presença no funeral de Elizabeth II em Londres, proibiu a reprodução de trechos do discurso na sessão de abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque. Haja insolência. E haja esperteza, berra a impunidade dos mais ativos parteiros de mentiras deste ano eleitoral: os donos das lojinhas de porcentagens disfarçadas de “institutos de pesquisa”.

Lula vai liquidar a disputa no primeiro turno, mentiram em 1º de outubro apresentadores de telejornais e redatores de primeiras páginas, todos amparados em pesquisas divulgadas por sete das nove empresas em ação no Brasil. 
No dia seguinte, a apuração dos votos escancarou em 21 das 27 unidades da federação diferenças de proporções siderais entre os prognósticos dos videntes de galinheiro e a verdade das urnas
 Além de atropelados pela ascensão de Bolsonaro, os fabricantes de índices foram espancados pela desmoralizante inversão de posições nas disputas por governos estaduais e vagas no Senado. Ninguém errou tanto quanto os pajés do Datafolha e do Ipec. Nenhum voltou a agir com a rapidez do velho Ibope com novo codinome.

Neste 5 de outubro, os vigaristas da estatística reapareceram com mesma fantasia. Segundo o Ipec, Lula está na frente, Bolsonaro corre arfante quilômetros atrás. O TSE não vê nada de mais. O favorito se fecha em casa, o azarão mobiliza multidões. Os doutores em eleição fecham os olhos ao que acontece na margem esquerda do rio. Só vigiam o outro lado. Mas não percebem que o povo se move à direita. Tampouco sabem que o povo pune.

Leia também “Abraço de afogado”  

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste

 

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

O ladrão e o jabuti - Gazeta do Povo

VOZES - Guilherme Fiuza 


Novo modelo de urna eletrônica.| Foto: Abdias Pinheiro/divulgação TSE

Dez motivos para você confiar cegamente na lisura das eleições:

1 - O juiz do jogo disse que as regras atuais eram suficientes contra ilegalidades. Chegou a ameaçar os que pusessem em dúvida a segurança do sistema (negacionismo, desinformação, ódio à democracia etc). Aí termina o primeiro tempo e surge uma montanha de infrações documentadas em vídeo. Que bom que você estava de olhos fechados e não teve que ver essas cenas desagradáveis.

2 - Outra coisa boa da sua confiança cega é que você não precisa ficar tentando enxergar o que não pode ser visto. Por exemplo: como aferir o impacto no resultado eleitoral desses múltiplos casos em que o eleitor chegou à seção e já tinham votado no lugar dele? 
Não dá para aferir, porque a votação não pode ser auditada.

3 - Por que a eleição não pode ser auditada? Porque o Barroso não quis. O Fachin também não. O Alexandre idem. O William Bonner não podia nem ouvir falar nisso. O pessoal da MPB também não. Precisa de mais algum motivo? Eu, hein?

4 - A vantagem de a eleição não poder ser auditada é que não dá polêmica. Polêmica gera desavença, que gera conflito, que gera ódio, que pode gerar violência política. Por isso o melhor mesmo é o resultado ser o que o xerife disser que é e ponto final.

5 - Alexandre de Moraes passou décadas inconformado com um jogo do Corinthians – e só agora desabafou sobre isso. Foi um momento importante da Justiça brasileira: ele disse que assim como não pôde contestar a derrota do seu time do coração, ninguém vai poder contestar o resultado da eleição. Tá certo, tem que se vingar mesmo.

6 - O presidente do TSE disse que é corintiano “como todos sabem”. E você aí reclamando de falta de transparência.

7 - Como todos sabem, não existe ladrão biônico.

8 - Como todos também sabem, se o jabuti apareceu no alto da árvore alguém o colocou lá.

9 - Como todos sabem, só um jabuti biônico poderia chegar ao alto de uma árvore por seus próprios meios.

10 - Como todos sabem, um jabuti seria incapaz de roubar alguém. C
omo todos também sabem, um ladrão seria capaz de roubar tudo, menos uma eleição. A não ser que roubassem para ele, mas aí ele não teria nada com isso. Nem você. [por tal razão é que o candidato petista sempre tem dito, desde os tempos do mensalão, nada saber, nada ter a ver.] Fecha os olhos e confia.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 12 de maio de 2022

Lula versão 89 - Revista Oeste

Silvio Navarro - Cristyan Costa

Ex-presidente recorre a repertório político atrasado, assusta aliados e causa incêndio dentro do próprio PT

Existe um grande mistério na campanha presidencial deste ano: quem são e onde estão os cerca de 40% dos eleitores de Lula, segundo as pesquisas? Disposto a provar que sua popularidade não é uma invenção do consórcio da imprensa, o petista decidiu comparecer ao mais tradicional evento da esquerda a céu aberto: a festa do 1º de Maio, Dia do Trabalhador, em São Paulo. Foi um desastre.

O PT montou um palco enorme na Praça Charles Miller, onde funciona o estacionamento do Estádio do Pacaembu. As centrais sindicais espalharam balões de gás e levaram brindes. Os principais líderes da esquerda, como Guilherme Boulos (Psol) e Fernando Haddad (PT), circularam com desenvoltura. Até José Dirceu, que há anos não era visto nas ruas, apareceu com uma camiseta do Corinthians e uma faixa na testa: “Sou Lula”.

No palco, artistas se apresentaram num típico “showmício” da década de 1990, com pedidos de votos — hoje são proibidos por lei. O vereador Eduardo Suplicy (PT) resolveu relembrar os tempos em que cantava Blowing in the Wind, canção de Bob Dylan, na tribuna do Senado.

Entre uma música e outra, o locutor do festival anunciava: “O presidente vem aí!”, respondido com o coro de “Fora Bolsonaro!”. A programação da festa atrasou três horas até que Lula desse as caras. O motivo: faltava um elemento fundamental naquela tarde. Apesar de todo o esforço, o público não apareceu.

Para piorar a situação, o show mais esperado do dia, da cantora Daniela Mercury, causou ainda mais estrago. Cabo eleitoral de Lula, ela fez um discurso explícito pedindo votos. E emendou dizendo que nunca havia recebido dinheiro público para suas apresentações. Na última terça-feira, 3, a edição do Diário Oficial do município informou que a participação de Daniela custou R$ 100 mil ao bolso dos paulistanos. O dinheiro saiu do caixa da prefeitura, que mal consegue cuidar da zeladoria de uma metrópole em frangalhos.

De acordo com a Resolução 23.674/2021, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pedidos de voto ou atos que caracterizem campanha só podem ocorrer a partir de 16 de agosto. “Se houve pedido expresso de voto por parte de Daniela Mercury, trata-se de propaganda eleitoral antecipada”, afirma o advogado Alberto Rollo, especialista em Direito Eleitoral. “Quem pratica essa ilegalidade está sujeito a multa de R$ 5 mil a R$ 25 mil.”

A Lei Eleitoral proíbe campanha em eventos patrocinados por dinheiro público. A prefeitura paulistana já tinha uma resposta na manga para se livrar de punição: os recursos teriam sido destinados à festa das centrais sindicais e não seria possível prever que alguém pediria votos a Lula. Não pegou nada bem. Nesta quinta-feira, 5, contudo, a Controladoria-Geral de São Paulo suspendeu o pagamento até a “apuração dos fatos e eventuais responsabilidades funcionais e empresariais”.

Incontinência verbal
Lula subiu ao palco ao lado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Fez um discurso de 15 minutos, que pode ser considerado breve para os seus padrões. A fala começou com um pedido de desculpas. No dia anterior, ele dissera que “Bolsonaro não gosta de gente, mas de polícia”. A declaração caiu como uma bomba nas redes sociais. Mas não foi a única desde que voltou a se arriscar em público.

A incontinência verbal tem sido criticada com frequência por aliados — em alguns casos, abertamente. Foi o que aconteceu na quarta-feira 4, durante a celebração da aliança com o Solidariedade. O líder do partido, Paulinho da Força, que é sindicalista, pediu que Lula parasse de defender a revogação da reforma trabalhista. “Temos perdido tempo com algumas coisas: uma vaia ali, a Internacional Socialista ali, uma reforma trabalhista”, disse Paulinho. A referência à Internacional Socialista é simbólica. O hino esquerdista, que nem a mais antiga vitrola comunista reconhece, foi entoado em evento do PSB neste mês.

“Até brinquei com o Marcelo Ramos (vice-presidente da Câmara). Esquece essa história de reforma trabalhista. Ganha a eleição que resolvemos isso dentro da Câmara em dois meses”, afirmou Paulinho. “Isso é besteira, essa história de revogar só joga água contra o nosso moinho.”

O próprio Lula já se queixou da ausência de alguns nomes em aparições recentes. Um exemplo foi Marina Silva, que não foi ao ato da Rede em apoio à candidatura do petista. Outros parlamentares novatos que se destacaram na mídia também têm evitado o contato direto. Tanto que foram convocados para cuidar da agenda e do programa de governo figuras jurássicas da sigla, como Luiz Dulci, Paulo Okamoto e Aloizio Mercadante.

O tesoureiro será o deputado sergipano Márcio Macedo, que assumiu as finanças do PT quando João Vaccari Neto foi preso. Lula, contudo, queria a volta do seu homem de confiança no posto, José De Fillipi Júnior, mas ele não topou largar a prefeitura de Diadema.

A falta que um marqueteiro faz
No final de semana passado, a desastrosa menção de Lula aos policiais foi tema de conversas em grupos de WhatsApp que reúnem marqueteiros de campanhas petistas e jornalistas. Os principais incomodados são os profissionais que vão trabalhar na campanha de Fernando Haddad para o governo de São Paulo.

Essa ala defende a ideia de que o repertório deveria ser parecido com o que o conduziu duas vezes ao Palácio do Planalto — sem o rancor adotado desde o pronunciamento na saída da carceragem em Curitiba, em 2019. Esses aliados argumentam que a resistência do eleitorado paulista ao PT está crescendo, segundo pesquisas. Outro detalhe: o petista vai enfrentar dois adversários de perfil moderado, o ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas e o atual governador, Rodrigo Garcia. O tucano, aliás, tenta a todo custo se distanciar de João Doria.

A briga interna na comunicação do PT opõe dois nomes: o responsável pela área no partido, Jilmar Tatto, e o ex-ministro Franklin Martins, chamado para ajudar na campanha. Tatto conseguiu demitir recentemente a empresa do marqueteiro Augusto Fonseca, que estava produzindo as primeiras peças de TV. Fonseca é amigo de Franklin, defensor da linha mais agressiva.

O favorito para assumir o posto é Sidônio Pereira, que fez a campanha de Haddad em 2018. Ele é ligado ao senador baiano Jaques Wagner e tem a preferência de Gleisi. Seria uma tentativa de suavizar o tom. Há, contudo, um último e decisivo fator nessa equação: Lula recusa qualquer comando. Ele não ouve ninguém.

Jogo dos 7 erros
A sequência de barbeiragens nos discursos é grande. O petista já defendeu o direito ao aborto, assunto que causa curto-circuito no eleitorado evangélico e católico. E disse que a classe média “ostenta demais”.

Para agradar a Guilherme Boulos e à militância do Psol nas universidades, disse recentemente que pretende trabalhar para criar uma moeda única na América Latina. A fala empoeirada ainda conseguiu misturar, em pouco mais de 30 segundos, a ideia de recuperar os Brics (grupo de países de mercados emergentes), o fechamento dos clubes de tiro e o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Sobre a guerra no Leste Europeu, aliás, afirmou há pouco tempo que a resolveria bebendo cerveja numa mesa de bar. “Até acabar (sic) as garrafas, sairia o acordo de paz”, disse Lula, segundo vídeo reproduzido pela embaixatriz ucraniana, Fabiana Tronenko, no Instagram.

Ainda não se sabe o efeito real das falas de Lula na campanha deste ano. Oficialmente, ela nem começou. Tampouco as oscilações nas pesquisas podem ser levadas muito a sério por nenhum dos candidatos. Mas é fato que o petista tem se inspirado cada vez mais nas três vezes em que perdeu as eleições.

Leia também “Fala mais, Lula!”

sábado, 12 de fevereiro de 2022

VENDA DE ÁLCOOL E A VIOLÊNCIA DENTRO DOS ESTÁDIOS - Dra. Débora Balzan

Após dezesseis anos de atuação em Promotoria de Justiça de Execução Penal em Porto Alegre, onde testemunhei toda a sorte de benevolência com criminosos por parte da legislação leniente e ativismos mais diversos, no início de janeiro deste ano assumi como promotora de justiça titular com atuação no juizado do torcedor e grandes eventos de Porto Alegre. Já desde outubro de 2021, vinha atuando como substituta em jogos de futebol com público presente. Sem precisar, mas no primeiro ou segundo deles, na partida entre o Internacional e o Corinthians, no Beira-Rio, já enfrentei o que penso ser o calcanhar de Aquiles: a violência associal que pode estar presente nas torcidas organizadas. Inexperiente na matéria, mas não na área criminal, os envolvidos não me foram estranhos ao que eu estava acostumada. Sem saber sequer o “modelo” jurídico de um pedido de suspensão de torcida organizada, mas com muita atenção aos fatos, imediatamente fiz pedido em audiência dentro do estádio, de suspensão cautelar de duas torcidas envolvidas, que foi acolhido pelo juiz. Tudo ocorreu há alguma distância do estádio, quando as torcidas passavam próximo ao shopping Praia de Belas.

Fiz essa narrativa porque agora instada por alguma demanda que chegou à imprensa do Ministério Público para que eu me manifeste sobre a liberação de bebidas alcoólicas dentro dos estádios quando das partidas de futebol.

O óbvio precisa ser dito: não sou médica ou legisladora, sou promotora de justiça com 26 anos de atuação em promotorias criminais do estado e em Porto Alegre, ou seja, com forte atenção  na busca de punição efetiva já que estamos num país onde há um desprezo pelos fatos concretos e onde há enorme discrepância entre crime e castigo. Não há proporcionalidade no tratamento vítima e criminoso, sem contar a mentira do encarceramento em massa (a propósito, a quem quer saber da verdade sobre o tema a leitura obrigatória é: O Mito do Encarceramento em Massa, do Promotor de Justiça, Dr. Bruno Carpes).

Nesse enfoque, no que concerne à venda de bebidas alcoólicas dentro dos estádios, ao que parece, o que se pretende é a segurança do torcedor. Pois bem, fique muito claro, de forma alguma desconheço os efeitos deletérios que o álcool pode causar.

Também existem discussões envolvendo constitucionalidade e o próprio Estatuto do Torcedor. Nesse ponto, parece que a proibição do estatuto é geral, pois não é explícito ao referir bebidas “alcoólicas”.

Sem abordar temas cientificamente já demonstrados como o alcoolismo tampouco as questões jurídicas envolvendo a liberação ou não, muito menos com relação ao preço praticado, a minha opinião será sobre o ponto segurança, a de que dentro dos estádios de futebol, o ambiente na imensa maioria das vezes é seguro, por conta do aparato de segurança e organização. Não sou contra a liberação da venda do álcool dentro dos estádios
Parece-me que o torcedor comum, que vai com amigos, esposa, filhos, não será quem colocará em risco os demais por ter acesso ao álcool. 
O pai de família e trabalhador quer apenas algumas poucas horas de diversão não se podendo presumir que vá se transformar ou puni-lo em nome de uma causa embora real, abstrata, pois não existem dados que comprovem que fatos graves deixaram de acontecer por conta da proibição, muito embora ocorrências de vulto menor e que eventualmente fazem parte do contexto podem decorrer. O meu exemplo do Colorado e Corinthians mostra isso.  Penso estar potencialmente o perigo à segurança da maioria dos torcedores, pacata e famílias, em quem tem rivalidade clubística e com maior chance fazem parte de organizadas, e quem já vai para o evento com ânimo de confusão e pode embriagar-se até o portão de entrada, sendo a bebida apenas um potencializador ao seu intuito, e o fará sendo liberada ou não a venda dentro do estádio.  

O tema é polêmico a própria Brigada Militar já se manifestou contra a venda, colegas que me antecederam, o juiz, mas eu não sou contra. Pode ser algo que eu não tenha alcançado, mas não vi em lugar nenhum estudo sobre essa relação direta. O estudo que se tem é o abstrato e geral, sobre os freios inibitórios, por exemplo; no entanto, não há estudo ou dados sobre a relação concreta e  direta da venda de álcool dentro dos estádios e o aumento da violência. O álcool é vendido fora, de fácil alcance a qualquer encrenqueiro. Ainda, consumir álcool, estar embriagado e provocar violência são três situações diferentes. De qualquer modo, não vou levantar nenhuma causa seja de que lado for porque não é o meu trabalho, e já tenho o suficiente. Mas registro meu posicionamento.

Muito pertinente ao tema e aos problemas que mais assolam os eventos de esportes coletivos e que causam paixão desmedida é a obra do Promotor de Justiça, Dr. Diego Pessi, Hooliganismo no Brasil – Violência e Disputa, um Estudo Criminológico, do qual transcrevo pequeno trecho da Apresentação, pelo também Promotor de Justiça, Dr. Leonardo Giardin de Souza, página 21:

“...Dentro desse contexto de escalada, a sanha dos mais ousados e violentos contagia os de personalidade fraca, e a crescente de belicosidade e agressividade torna o futebol em si mesmo mero pretexto para disputas de outra ordem e, paralelamente, vasto campo para o exercício do controle comportamental por parte do poder público compelido a tomar providências, controle que atinge todo contingente de torcedores em nome da tentativa muitas vezes vã de conter a minoria violenta (...) toda a sorte de controle  - alguns eficazes, muitos imprestáveis para os objetivos propostos  - são idealizados e postos em prática...”(grifei).

Esse artigo não faz apologia ao uso do álcool. Está patente isso, mas sempre é bom alertar os mais distraídos. 

 Site Percival Puggina - Dra. Débora Balzan

 

 

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Ato esvaziado - Se nem [ele, o maior ladrão] embarca nas manifestações da esquerda, que dirá o povo - J. R. Guzzo

Gazeta do Povo 

Ex-presidente Lula não foi ao ato programado pela esquerda na Avenida paulista  

[o medo de ser vaiado, até apedrejado, o levou a procurar a segurança de se esconder debaixo da cama.
Alegou, covardemente, temor de ser contaminado pela covid-19]

A esquerda brasileira em geral, e o PT em particular, têm uma dificuldade congênita para aprender com a realidade, mesmo a realidade recente. Em sua própria visão, eles estão sempre certos; nunca cometem um erro, de nenhum tipo ou tamanho, e tudo o que fazem é um sucesso. Olham e leem a mídia, e acreditam em tudo o que está dito lá — o que sai impresso, ou vai ao ar, é sempre a favor deles e da sua lista de desejos. Têm certeza, então, de que a vida é linda.

Até hoje continuam achando que Lula fez muito bem em inventar Dilma como presidente, e que ela fez um grande governo; só caiu porque era tão boa, e tão genial, que “a direita” teve de dar “um golpe” para enxotá-la do Palácio do Planalto
Foi, ao exato contrário, um processo legalíssimo de impeachment, causado do começo ao fim por um governo monstruosamente ruim. Mas o PT nunca permite que os fatos interfiram com as suas doutrinas, e até hoje estão convencidos de que nunca houve nada de errado com Dilma. Aí fica difícil.
 
O miserável fracasso das últimas manifestações de rua do partido e dos seus servidores da esquerda é mais uma prova de quanto, exatamente, é difícil. Em vez de anotarem que a manifestação deu errado, tentarem saber por que, e trabalharem para melhorar o desempenho na próxima, ficam dizendo a si mesmos, junto com os jornalistas-amigos, que tudo deu muito certo. Deu errado, pela simples observação física das ruas e pela aritmética, mas e daí? 
Os donos do PT e os seus militantes querem ver outra coisa. E é essa coisa que fica valendo, no seu mundo mental e nos relatos feitos para o público.

A manifestação na Avenida Paulista, que funciona hoje como o termômetro para medir sucesso e fracasso em matéria de povo na rua no Brasil, reuniu, segundo os cálculos da PM do governador João Doria, 8 mil pessoas — uma calamidade terminal, quando se compara com as mais de 200 mil que, no mesmo lugar, foram manifestar seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro no último dia 7 de setembro.

Os militantes se concentraram na frente do carro de som de luxo, alugado por mais de R$ 100 mil para servir de palanque e pousada para as celebridades — e foi isso.  
Nos quarteirões vizinhos, apenas algumas ilhas isoladas de gente; 
nas ruas paralelas, não foi preciso nem fechar o trânsito.
 
É óbvio que a maioria da população não está ouvindo o chamado do PT para ir às ruas; 
quem consegue fazer isso, hoje, é Bolsonaro. Chato, não é? 
Não só chato, porque nega todas as grandes teorias hoje à venda sobre “popularidade política” no Brasil. Além disso, é uma demonstração concreta de que o discurso usado pela esquerda para o público está errado.
 
Talvez nada tenha comprovado essa realidade de maneira tão clara quanto o cartaz vermelho exibido por um grupo de manifestantes; dizia-se ali que o sindicato dos professores de São Paulo apoiava Lula, etc, etc
É duro acreditar, mas o fato é que o PT e a esquerda estão achando que manter as escolas públicas fechadas por mais de um ano é uma causa popular, digna de ser louvada entre as grandes “pautas” da manifestação; acham que isso rende voto e deixa o povo encantado.

A esquerda brasileira está se mostrando incapaz de entender que as suas grandes causas “populares” não são populares, não junto à realidade atual da população brasileira; estão falando em latim para ela, com a ajuda do “centro liberal–limpinho–equilibrado” — e colhendo nas ruas, diretamente, o resultado dos seus erros.

O primeiro a perceber isso parece ter sido o próprio Lula — ele não foi, simplesmente não foi, à manifestação da Paulista. Deveria ser o personagem principal, o ídolo a ser adorado pela multidão: nem se deu ao trabalho de aparecer. Se isso não é uma prova objetiva do fracasso dessa manifestação — que deveria lotar a praça e competir pau a pau com o ato pró-Bolsonaro — o que, então, poderia ser?

É verdade que Lula não tem coragem de botar o pé na rua há anos; sabe muito bem (ou desconfia) que é odiado por milhões de brasileiros. Se não fosse assim, por que se esconderia desse jeito?  
Não consegue ir a um jogo de futebol do Corinthians, e não quer se arriscar a nada; 
obviamente, dá sinais de que não acredita numa única sílaba das pesquisas do Ibope e do Datafolha onde se garante que sua popularidade nunca foi mais alta.
 
Mas com toda a repugnância que tem para se misturar ao povo, Lula poderia, sem nenhum risco para sua saúde, ir à manifestação; 
chegaria de helicóptero e ficaria o tempo todo protegido por um exército de seguranças, tudo pago pelos milhões de reais que o PT coloca à sua disposição. Não quis ir nem assim. É o melhor atestado de óbito para a “estratégia de massas populares” do PT. Se nem Lula aparece, imagine-se as massas.
 
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Finalista, Flamengo atinge a maior sequência invicta da história da Libertadores

Rubro-negro também superou o Corinthians (2012-2013) e é dono da maior invencibilidade brasileira na história do torneio

Após vencer novamente o Barcelona, nesta quarta-feira, em Guayaquil, o Flamengo fez história: chegou a 17 jogos de invencibilidade (11 vitórias e cinco empates) e atingiu a maior invencibilidade um clube na história da Libertadores. O rubro-negro está empatado com o Sporting Cristal, do Peru (1962-1969), que também atingiu este feito.

Recorde:Renato Gaúcho se isola como técnico com mais vitórias na história da Libertadores

De quebra, o Flamengo superou o Corinthians e está isolado como o clube com a maior invencibilidade entre brasileiros na história do torneio. O recorde do alvinegro paulista é de 16 jogos, conquistados entre 2012 e 2013. 

Maiores invencibilidades:

  • 17 jogos: Flamengo (2020-2021)
  • 17 jogos: Sporting Cristal-PER (1962-1969)
  • 16 jogos: Corinthians (2012-2013)
  • 15 jogos: América de Cali (1980-1983)
  • 14 jogos: River Plate (1977-1978 e 2018-2019)
  • 14 jogos: Newell's Old Boys-ARG (1992)
  • 14 jogos: Cruzeiro (1998-2004)

Antes da atual sequência, o recorde do Flamengo na Libertadores tinha sido de 13 jogos (nove vitórias e quatro empates), alcançado entre as edições da Libertadores de 1984 (quatro jogos) e 1991 (nove jogos).

O Globo

 

sábado, 21 de agosto de 2021

Os marcianos estão entre nós - Revista Oeste

Guilherme Fiuza

Estamos num tempo estranho em que não se busca solução de conflitos. Se investe no conflito. Duvida? Então dá uma olhada

A invasão dos marcianos narrada por Orson Welles mais de 80 anos atrás levou ao pânico parte da população norte-americana. O ator iniciou a transmissão de rádio informando que iria interpretar uma peça de teatro. Não adiantou. Parte das pessoas não ouviu o alerta porque ligou o rádio depois. Outra parte ouviu, mas acreditou assim mesmo que a Terra estava sendo tomada pelas criaturas esverdeadas do planeta vizinho. A vontade de acreditar é uma das forças mais brutas da natureza.

Hoje a humanidade está querendo acreditar numa escalada inexorável de conflito. Não só os conflitos de sempre — entre partidos, religiões, supostas ideologias, etc. A nova onda é todo mundo se engalfinhando por alguma coisa com todo mundo. Colegas, vizinhos, casais, amigos, irmãos. Meu reino por um mal-entendido.

O panorama pandemônico ajuda, mas está longe de explicar tudo. Olha em volta que você vai ver. Já há pelo menos um problemão atravessando tudo e fazendo um estrago dos grandes, mas não basta. É preciso discutir até a morte se um atleta olímpico pode desistir. Se a desistência nesse caso é respeito aos limites humanos ou concessão à fraqueza. E lá vêm as hordas com gosto de sangue na boca dispostas ao duelo sem fim. O que seria uma questão legítima já nasce com os códigos da dicotomia burra. Escolhe um lado, enche as mãos de pedras e cai dentro.

Estamos num tempo estranho em que não se busca solução de conflitos. Se investe no conflito. Duvida? Então dá uma olhada.

O importante é ter meia dúzia na plateia do Coliseu imaginário

Sabe aquele cara que falava de Proust, Baudelaire e só dava um refresco para explicar o que Vivaldi quis dizer com a inusitada dobra de compasso? Pois é. Ele hoje está por aí comentando a última do Renan Calheiros — e caprichando no veneno da flecha destinada à tribo inimiga. Não importa que seja uma flecha digital de mentirinha e que nem esteja muito claro quem é o inimigo. O importante é ter meia dúzia na plateia do Coliseu imaginário e ao menos uma alma penada passando recibo. Ele já terá colhido seu crachá de guerreiro.

Quem é maior: o Flamengo ou o Corinthians? Esquece. Mesmo no terreno dos duelos mais bobos e divertidos, onde até as cores da camisa poderiam ser evocadas cega e apaixonadamente como prova incontestável de virtude, a coisa desandou. Agora o negócio é dizer que teve um torcedor do adversário que ofendeu uma minoria, o que será rebatido com uma acusação contra o jogador do rival que não teve empatia na rede social. Mas o futebol não era bom justamente porque você podia brigar com alguém para provar que as cores do seu time são melhores que as do outro, e ponto final?

Era, mas isso acabou. A graça agora é plantar conflito de forma que você possa chegar a uma problematização ética — a ponto de alegar que o seu caráter é superior ao do seu oponente, cujas falhas você apontará implacavelmente.

Ou visto de outra forma: a discussão ética foi rebaixada a uma briga de torcida.

Aí de repente você vê num canto qualquer uma nota dizendo que o grupo Boca Livre se separou por causa da vacina. Você não tem culpa se isso te der a sensação de que estão rompendo até o que já estava rompido. Parece que um integrante achava que a picada era a salvação e outro achava que era a perdição. Aí acabou o amor. Impressionante. Com toda certeza essas bocas já foram mais livres.

O negócio é sair no tapa. Mas não se esqueça: é preciso um pretexto filosófico. 
Nada de mandar o marido dormir na sala porque está roncando alto. Expulse-o da cama chocada com o fato de que alguém possa dormir tão profundamente sabendo que as baleias estão ameaçadas de extinção.  
E se ele disser que não sabia, ameace-o com o divórcio
Você não pode viver ao lado de um alienado. 
E se ele te perguntar por que você vive há anos ao lado de um alienado, responda que é porque você é tolerante e inclusiva, mas tudo tem limite.
 
Rompa com o seu irmão porque ele se diz de esquerda. 
Rompa com a sua irmã porque ela se diz de direita. 
Vocês vivem do mesmo jeito, no mesmo lugar, sob as mesmas regras, têm até gostos parecidos, amigos em comum, conviveram até outro dia em harmonia e nenhum de vocês dois jamais disse que queria se mandar para um lugar mais afeito à sua suposta filosofia política. 
Mas agora vocês se descobriram cão e gato. Só falta escolherem deuses diferentes para adorar detestar um ao outro.

Não há mais dúvidas. Os marcianos estão entre nós. É crer para ver.

Leia também Puxando o tapete da democracia”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 12 de julho de 2021

STF, lava jato e lula candidato - Percival Puggina

Guardo um sabor amargo dos episódios. Como tantos brasileiros, festejei a intensa e fértil atuação da Operação Lava Jato. O Brasil, enfim, combatia a corrupção e dava um basta à impunidade dos crimes de colarinho branco, tão bem representados pelas organizações criminosas, pelos bordéis políticos e comerciais naqueles tempos de euforia. Para bem da verdade, diga-se: o modelo operacional do banditismo político e empresarial, simples e antigo, apenas havia ganhado novos operadores e ampliado sua musculatura financeira. A liberdade não é causa de prosperidade? Para o crime, isso é ainda mais válido.

A famosa operação, contudo, tinha dois gumes. Poucos partidos ficaram fora das longas filas que se formaram diante dos confessionários de Curitiba. Qual o motivo daquelas sessões de compunção e arrependimento? O Brasil estava sendo higienizado por uma janela aberta no STF, que, em fevereiro de 2016, permitiu a prisão após condenação em segunda instância. O réu podia recorrer da sentença, mas na cadeia, e tudo ia muito bem até que em 7 de abril de 2018 o ex-presidente Lula chegou de mala na mão à carceragem da PF da capital paranaense.

A partir daí teve início uma série de movimentos dentro do Supremo. O tema da prisão após condenação em 2º instância tornou-se uma espécie de mosca, daquelas chatas, atravessando as sessões da Corte. Aparecia em horas inesperadas, cruzando a agenda. “Esta corte ainda  se debruçará sobre essas condenações”, exclamava certo ministro, indignado com a pressão psicológica e a coerção que a possibilidade de prisão exercia sobre criminosos...  Não é de cortar o coração? Entre cochichos e sorrisos cúmplices, era visível que se formava maioria para reverter a incômoda decisão. A benevolência, dizem os santos, tem esse efeito contagiante.

Em 7 de novembro de 2019, alguns ministros mudaram seus votos anteriores e o STF abriu as portas para que verdadeira multidão de condenados pelos mais variados crimes voltasse às ruas. Entre eles, o primum inter pares, o padrinho da indicação de diversos deles, o estadista de Garanhuns. A Lava Jato estertorou. Para criminosos endinheirados voltou a viger a regra da prisão no day after do Juízo Final.

A estratégia e seu cronograma incluíam outros passos. Lula saíra da prisão, sim, mas quando ensaiou percorrer o Brasil, viajou como um espectro imperceptível, sem charme nem público. Estava condenado, não podia ser candidato e não servia sequer para conselheiro do Corinthians. Para um Supremo que já voltara atrás de decisão sobre prisão em segunda instância era fácil reverter outra e estabelecer que não estava em Curitiba o juízo natural do réu Lula. Mande-se tudo para Brasília. A seguir, na mesma toada, a Corte declara a suspeição de Sérgio Moro. [nossa tranquilidade quanto ao final da carreira política do criminoso de Garanhuns permanece;  - apesar de todo o poder que a conjuntura atual, ainda que temporária, concede ao Supremo, a vontade do eleitor permanece soberana = mesmo que a implantação do voto impresso não ocorra, de imediato = vontade esta esta que condenou Lula a não ser mais nada politicamente, exceto junto aos petistas adeptos dos fracassados.]

Pronto. Lula estava apto a concorrer à presidência, tão inocente quanto esteve, um dia, na pia batismal. [considerar a pia batismal como exemplo perfeito de inocência é ato maravilhoso, adequado e perfeito; exceto no caso do indigitado petista, que é ateu = não batizado.
Ainda que fosse batizado, os pactos sucessivos que fez com satã, o tornaram sujeito a excomunhões automáticas.]   Mas, e as provas? As malditas provas estavam vivas. Eis que um ministro declara a contaminação e abre portas para a nulidade também das provas. Doravante, será preciso recolher provas novíssimas de antigas velhacarias? [e apresentar as provas novas na vara certa; já que desta vez, segundo as más línguas, a Lava Jato fez o petista sentar na vara errada.]

E não falta quem diga ser assim que se faz justiça.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sexta-feira, 4 de junho de 2021

O ‘mau exemplo’ da Copa América - O Estado de S. Paulo

 J.R. Guzzo

Doria arrependeu-se de ter feito um acerto e optou pelo erro ao vetar campeonato entre seleções enquanto permite torneios como o Campeonato Brasileiro

De duas uma: ou a decisão inicial do governador João Doria de aceitar a disputa de jogos da Copa América em São Paulo estava certa ou estava errada. Não há, realmente, uma terceira possibilidade. Se estava certa, não há motivo para proibir os jogos agora – e fazer exatamente o contrário do que ele havia decidido. Se estava errada, por que o governador não pensou no que estava dizendo antes de mudar, cinco minutos depois, o que tinha acabado de resolver?

Errar é humano, claro, e voltar atrás nos erros é uma excelente virtude. Mas no caso da Copa América em São Paulo o governador conseguiu o oposto: arrependeu-se de ter feito um acerto e optou pelo erro. Conseguiu o mais difícil, que era separar com sucesso o joio do trigo – mas, imediatamente em seguida, jogou fora o trigo para ficar com o joio. Doria, num primeiro momento, fez a única coisa que deveria ter feito: não tem nenhum sentido, disse ele, proibir os jogos da Copa América em São Paulo, com estádios fechados, enquanto se permite com a maior tranquilidade do mundo que sejam disputados os jogos do Campeonato Brasileiro. Parabéns.

Mas, no Brasil de hoje, as “autoridades locais” não gostam de acertar – e quanto por acaso acertam, voltam para trás, correndo, e caem de novo na sua vidinha de sempre. Resumo da ópera, neste caso: enquanto Brasil e Argentina, por exemplo, jogam em Goiânia, ou qualquer outro lugar onde o exercício da lógica continua legal, Corinthians e Chapecoense jogam em São Paulo. Pelo que deu para entender da decisão final de Doria, o primeiro jogo é um “mau exemplo”. Já o segundo ninguém saberia dizer o que é.

O governador, mais uma vez, deixou o Estado de São Paulo ser governado não por quem foi eleito para executar essa tarefa ele mesmo – mas pelo comitê de “cientistas” que administra a covid. Cedeu, na verdade, à confederação nacional pela proibição de tudo, por tempo indeterminado, e de preferência até o Dia do Juízo Final. Ela é reforçada, no caso, pelo coletivo dos comentaristas de futebol, que há mais de um ano está recebendo remuneração sem sair de casa e, ao mesmo tempo, não quer que haja jogos – ainda que o público não possa entrar nos estádios. (Com público, então, acham que o futebol seria genocídio direto na veia.)

A covid, com o tempo e a vacinação em massa, dá sinais de que pode estar cedendo. É de se esperar, em troca, um esforço permanente para resistir à melhoria e manter tudo igual nos comissariados que mandam no país sem terem recebido um único voto, nas CPIs da vida e no mundo do “home office”.

J.R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


quinta-feira, 25 de junho de 2020

A trincheira do farol - Leandro Karnal

O Estado de S.Paulo

O vendedor dos cruzamentos é um termômetro rápido que daria inveja a muitos especialistas

As grandes corporações possuem departamentos de marketing, gestores de estratégia, pensadores sofisticados que acompanham as mais recentes Ted Talks sobre tendências estudadas em Harvard e Yale. Por vezes, imagino, deveriam abrir mais o vidro do carro parado em um sinal na esquina das grandes cidades do Brasil. Nonsense? O vendedor dos cruzamentos é um termômetro rápido que causaria inveja a muitos especialistas. Ele mede com precisão o “humor” do mercado e do consumidor. O tempo nublou? Nuvens pesadas anunciam tormenta? Capas de plástico e guarda-chuvas surgem nas mãos laboriosas do ambulante. Choveu e os mosquitos se multiplicaram? Raquetes elétricas serpenteiam entre os espelhos retrovisores. Joga o Corinthians? Preto e branco se espalham entre bandeiras, camisetas e bolas customizadas. O homem talvez tenha time em casa, o vendedor da rua tem público e mercado: pode estar de verde no dia seguinte.

O dia termina e os carros voltam da sua jornada. O ágil mercador identifica veículos dirigidos por homens. Chega e oferece um buquê de rosas pronto e bonito. Sugere levar algo para a esposa. O empresário pensa na boa ideia e, por amor ou culpa, compra em rápida negociação. O tempo é curto. Não é a barganha elaborada e ritualística de um tapete no Grande Bazar de Istambul. A leitura do rosto e da intenção do comprador deve ser mais ágil do que o diligente turco com o kilim nas mãos. Tudo deve ser resolvido no prazo máximo de um minuto. Terminado o tempo, o sinal abre e o cliente foge.

Horários de fome do meio da tarde? “Larica” espalhando sua influência na metrópole? Surgem frutas em bandejas e até casquinhas crocantes acompanhadas de um sorriso. Cajus enfileirados causam impacto visual. O notável é que as comidas são oferecidas pelo mesmo ambulante que, uma hora antes, empunhava mapas. Sim, vendem-se peças cartográficas nas esquinas! Enrolados ou abertos, apelam a pessoas mais velhas que os usaram na escola. Talvez aquele senhor septuagenário compre para dar ao neto. Também provável que o adolescente presenteado agradeça com educação e pense que tem um aplicativo mais prático no seu celular para aprender Geografia.

Quando é seguro, deixo o vidro aberto nas esquinas. Escuto e aprendo. Sou chamado de “doutor”, “campeão”, “grande”, “bacana” e recebo um sorriso embebido em treino de palco urbano. Vender é esbanjar simpatia. Frases de impacto, gestos marcados e eficazes: tudo ajuda naquela luta instantânea. Um autônomo de farol poderia dar cursos muito instrutivos para uma pós-graduação em técnicas de venda.  Há espaço para a criatividade empreendedora. As pessoas comuns vendem garrafas plásticas de água. O empreendedor original se veste de garçom. Por quê? A camisa branca, a calça preta, a gravata-borboleta e a pochete com dinheiro trocado (ok, ninguém é perfeito) agregam rápida identificação com uma personagem confiável. Quem faz propaganda na televisão ou foto publicitária sabe que o consumidor necessita identificar uma enfermeira ou professora em segundos rápidos. O estereótipo é eficaz. O público precisa conhecer em um olhar quem é e o que vende. A personagem vende muito mais.

Todo trabalho honesto é digno. Eu substituí meu azedume de outrora pela tentativa de ver e aprender. Ali andam, rápidos, seres humanos lutando para sobreviver, como eu. Apenas algumas coisas me irritam muito: crianças usadas para esse fim. Sabendo que somos mais simpáticos ao vendedor mirim, constato, em pleno horário escolar, os pequenos passando entre os carros. Em geral, mais adiante, gordos progenitores descansam sob uma sombra. Nunca compro de menores e ainda reafirmo forte: “Você deveria estar na escola”. Uma única vez parei o carro e fui vociferar contra um senhor (pai?) que colocava três meninas vendendo. É perigoso fazer o que eu fiz, mas o fato me tira do cercadinho da razão.

Há mais ambiguidades no comércio que estou tratando além da exploração do mundo infantil. Há produtos sem nota fiscal, contrabando frequente, controle de qualidade inexistente, condições sanitárias claudicantes com a comida oferecida, falta de licenças ou alvarás e uma concorrência com aquele comerciante que, na sua loja, paga impostos altos para ter o direito que o da rua obteve gratuitamente. A concorrência é real e marcada pela desigualdade. A informalidade é um imperativo que deve crescer ainda mais na crise atual. Aprendi algo novo conversando com vendedores. Nem sempre, ao lado do seu carro, está um autônomo que vende seus produtos. Por vezes, há um chefe por detrás dele. Alguém que tem capital para comprar mais, organizar, trazer o vendedor e constituir um novo tipo de empresário. Assim, sem nenhum amparo trabalhista, surgem formas de ocupação que geram recursos para alguém bem distante daquele sorridente ser humano ali presente.

Por fim, com suas genialidades e ambiguidades, temos algo a aprender observando mais e conversando mais. Independentemente de tudo, um ser humano merece sempre nossa simpatia por estar ali, de pé, lutando. Para mim ou para você, muitas vezes, chama-se importunação. Para ele, sempre, intitula-se sobrevivência. Compro pouco, mas tento ver que existe alguém. Ser invisível é um castigo enorme para quem tem pressa em comer. O farol é a trincheira de uma guerra difícil e sorridente. É preciso ter esperança e um pouco de empatia em momentos bicudos como o atual.

Leandro Karnal, colunista - O Estado de S. Paulo