Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Napoleão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Napoleão. Mostrar todas as postagens

domingo, 4 de agosto de 2019

Ele é assim mesmo, mas é estratégia

Há uma estratégia para lá de bem-sucedida no estilo inflamado e provocador do presidente Jair Bolsonaro

Folha de S. Paulo - Globo

Sou assim mesmo. Não tem estratégia’, disse o presidente Jair Bolsonaro à repórter Jussara Soares. Meia verdade, ele é assim mesmo, mas há uma estratégia para lá de bem-sucedida no seu estilo inflamado e provocador. Em 2005 ele era um deputado periférico, havia defendido o fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso e foi entrevistado por Jô Soares (o vídeo está na rede). A conversa durou 21 minutos. Lá pelo final (minuto 19:00), Jô tocou na ideia de se passar FH pelas armas e Bolsonaro respondeu, rindo: “Se eu não peço o fuzilamento de Fernando Henrique Cardoso, você jamais estaria me entrevistando aqui agora”.
Bingo. Se Bolsonaro não tivesse falado do desaparecimento de Fernando Santa Cruz, talvez houvesse mais gente falando dos 12 milhões de desempregados. [não haveria,  há uma orquestração no sentido de só apontar defeitos e erros do presidente Bolsonaro; tivesse o número de desempregados subido para 14.000.000 seria um escarcéu, objeto de manchetes, editoriais, comícios, etc; mas, felizmente e graças a DEUS caiu para 12.000.000,- queda ainda pequena mas com tendência de acelerar -  virou notícia de canto de página.] Essa é a parte do comportamento do atual presidente que pode ser chamada de estratégica. A outra é a sua maneira de ser, e nela há dois componentes. Numa estão suas opiniões, que, como as de todo mundo, podem mudar. Noutra estão os seus próprios fatos, que são só dele.
Quando Jô classificou a ideia da execução de FH como “barbaridade” , Bolsonaro explicou: “Barbaridade é privatizar a Vale do Rio Doce, como ele fez, é privatizar as telecomunicações, é entregar as nossas reservas petrolíferas para o capital externo.”
Mudou de opinião, tudo bem. Bolsonaro, contudo, tem seus próprios fatos, que não fazem parte do mundo real. Ele não sabe como militantes da APML mataram Fernando Santa Cruz, porque isso não aconteceu. Na mesma entrevista com Jô, Bolsonaro relembrou um crime cometido por terroristas que acompanhavam Carlos Lamarca.
No mundo do fatos, em maio de 1970, Lamarca e um grupo de militantes da Vanguarda Popular Revolucionária que treinavam técnicas de guerrilha no Vale do Ribeira foram descobertos e enfrentaram um pelotão da Polícia Militar comandada pelo tenente Alberto Mendes Júnior. A tropa se rendeu, e o tenente ofereceu-se para ficar como prisioneiro, em troca da libertação dos sargentos, cabos e soldados. Dias depois, no meio da mata, os cinco captores que conduziam o tenente viram que ele seria um estorvo, capaz de denunciar sua localização. Decidiram matá-lo, e um deles (Yoshitame Fujimore) abateu-o, golpeando-o na cabeça com a coronha de um fuzil. (Meses depois, um dos captores de Alberto Mendes foi preso, localizou a sua cova e foi libertado em 1979, pela anistia. Em 1967, na Bolívia, o Che Guevara capturou 30 militares, não matou ninguém.) [Che Guevara um dos mais cruéis terroristas, extremamente covarde e sanguinário, não conseguiu suplantar o covarde Lamarca, que também foi desertor e traidor. 
A execução do tenente Mendes - herói e patrono da Polícia Militar - foi a coronhadas por covardia dos porcos terroristas que o executaram, que evitaram os tiros devido o barulho atrair atenção.
O presidente Bolsonaro descrevem em detalhes a execução do tenente Mendes, devido que parte dos seus assassinos foram capturados e deram detalhes.
Quando a execução do terrorista Fernando Santa Cruz, atribuída aos próprios companheiros - procedimento normal dos terroristas - não houve registro, sendo impossível descrever detalhes.]
A cena do assassinato do tenente não bastou ao deputado Bolsonaro. Com seus próprios fatos, ele disse a Jô que “Lamarca torturou-o barbaramente, fez com que ele engolisse os próprios órgãos genitais e o assassinou a coronhadas”. (Minuto 9:00)
Bolsonaro tirou os detalhes escatológicos do acervo de barbaridades do Exército japonês durante a Segunda Guerra e ainda assim exagerou ao nível da inverossimilhança, pois nenhum homem consegue engolir seus órgãos genitais. Ao fim das contas, em 2005, como hoje, era estratégia, mas “sou assim mesmo”.

(...)
 
Diplomacia do Caveirão
Em 1996 o Paraguai estava às vésperas de um golpe. O presidente Juan Carlos Wasmosy veio secretamente a Brasília e costurou um entendimento com Fernando Henrique. Com o apoio brasileiro garantido, demitiu o comandante do Exército, general Lino Oviedo.         

A operação foi conduzida por uns poucos diplomatas do velho Itamaraty e só foi conhecida anos depois.Há poucos meses, em surdina, a diplomacia do atual governo assinou um acordo com o governo do Paraguai para redefinir tarifas da hidrelétrica de Itaipu. Os çábios acharam que um acerto de tarifas poderia passar despercebido. Resultado: caíram o chanceler paraguaio e uma penca de burocratas. O próprio presidente Mario Abdo Benítez ficou com o mandato a perigo, revogou o acerto e o Brasil meteu-se numa encrenca.

Há mais de meio século o Brasil negocia Itaipu com luvas de pelica, evitando atropelar o Paraguai. Em apenas seis meses o estilo “Caveirão” da diplomacia de Bolsonaro transformou a hidrelétrica num contencioso nacionalista.
(...)
Poder dos índios
Bolsonaro deve calibrar melhor suas falas, sobretudo se acredita na capacidade de seu filho de atrair mineradoras americanas para a Amazônia.

Um empresário que tem grandes negócios internacionais da região informa:

“Se aparecer um índio na nossa assembleia de acionistas mostrando fotografias e dizendo que o projeto lhes é hostil, bye bye.”

Elio Gaspari, jornalista - Globo/Folha de S. Paulo

quarta-feira, 17 de julho de 2019

O racista e as mentirosas: todos só estão pensando naquilo - Veja

Blog Mundialista - Veja

Trump solta as feras, mas fazer carinha de santas ofendidas como Ilhan Omar e colegas de 'Esquadrão' não elimina o fato de que têm culpa no cartório


Não interrompa o inimigo quando ele estiver cometendo um erro. Donald Trump não é de ouvir conselhos sábios, nem que sejam de Napoleão. Aliás, todo mundo sabe que não é nenhum Napoleão.  Mas certamente segue a estratégia da audácia, mesmo que pareça autodestrutiva. As duas correntes do Partido Democrata, a velha guarda e a nova, estavam se canibalizando em praça pública. Alexandria Ocasio-Cortez, a rainha das redes sociais, atrás apenas do próprio Trump no uso sagaz do Twitter, reagiu com mordidas virtuais às críticas da veterana Nancy Pelosi, a poderosa presidente da Câmara dos Representantes.

Cinquenta anos as separam: Nancy tem 79 anos e Alexandria, 29. Nancy sabe tudo dos bastidores do poder. Contra um bocado de resistências internas,, conseguiu voltar ao terceiro cargo mais importante do país articulando como profissional requintada e implacável, depois que o Partido Democrata recuperou a maioria na Câmara. Com tanta bagagem, perdeu a posição de representante da “esquerda de São Francisco” para a jovem guarda. Em termos americanos, Alexandria e sua turma, as quatro deputadas que formam o “Esquadrão” estão à esquerda de Pol Pot.

Duas delas, Ilham Omar, emigrante da Somália, e Rachida Tllaibi, de uma família de palestinos de Gaza, reúnem uma combinação sinistra: esquerdismo e islamismo.
A quarta é Ayanna Presley, da ala militância negra, esquerdista mais tradicional.
Qualquer crítica, por mais indireta que seja, como fez Nancy Pelosi ao comentar que quem ganha voto na Câmara não é o Twitter, e todas se fazem de ofendidas. Mulheres fortes e modernas, treinadas para fazer política, ótimas de comunicação, revertem para a posição de vítimas. Tudo, tudo, choramigam, é porque são “mulheres de cor”.
Esta expressão antiga (usada como em “person of colour”, não “coloured”, pelo amor dos céus) foi ressuscitada como um guarda-chuva sob o qual se abrigam indianos espetacularmente bem sucedidos, sul-coreanos que enfrentam discriminação reversa nas universidades para não ganharem todas as vagas e assim vai.

‘Corruptos, ineptos’
Tão rápidas em ocupar o papel de vítima quando é conveniente, imaginem o escândalo que as deputadas do “Esquadrão” fizeram quando Trump teve um surto de tuítes perigosos e discriminatórios.  Como tudo, hoje, é racismo, eles foram enquadrados nessa categoria. O mais correto seria discriminação por origem nacional, mas ninguém vai ter sutileza numa hora dessas. O primeiro: “É tão interessante ver as deputadas democratas ‘progressistas’ que originalmente vieram de países cujos governos são um desastre total e completo, os piores, mais corruptos e ineptos de qualquer lugar do mundo (isso se tiverem um governo com alguma funcionalidade), agora estrondosamente…
“… e perversamente dizer ao povo dos Estados Unidos, a maior e mais poderosa nação da terra, como nosso governo deve ser tocado. Por que não voltam e ajudam a consertar os lugares completamente falidos e infestados pelo crime dos quais elas vieram. Depois, voltam para cá e nos mostram…”
“… como fazer. Estes lugares precisam muito da ajuda de vocês, não dá para ser suficientemente rápido para ir embora. Tenho certeza que Nancy Pelosi ficaria muito feliz em arranjar rapidamente a viagem grátis.”

Um resumo dos significados problemáticos: Trump insinua que elas não são americanas de verdade e , em seus termos, prega o slogan “Estados Unidos, amem-nos ou deixem-os”.  Tudo errado, claro. Como o Brasil, os Estados Unidos são um país de imigração, com a nacionalidade definida pelo nascimento em solo pátrio, via paternal ou naturalização (outros países são diferentes).  A ideia de que a bandeira estrelada unifica a formidável variedade étnica é um princípio fundamental, muito importante inclusive nas Forças Armadas, a porta de entrada para a cidadania e melhores oportunidades para muitos não nacionais.

Trump foi chicoteado e condenado numa moção da Câmara. Nancy Pelosi surtou e fez a amiguinha para as quatro inimiguinhas do “Esquadrão”. Pela milionésima vez, pediram o impeachment dele.  Quem continua a achar que Trump é bobo, maluco, supremacista branco etc etc, não vai mudar de opinião. Só para dar uma ideia de oposição que ele encontra: em dez dias, desde o primeiro tuíte, no domingo retrasado, dia 7, a palavra “racista” foi usada 1 100 vezes nos dois canais a cabo onde o antitrumpismo virou militância oficial, a CNN e o MSNBC.

Trump é tão imprevisível e anárquico que algumas cabeças frias viram por trás da saraivada de tuítes uma estratégia calculada: obrigar o Partido Democrata a cerrar fileiras com as deputadas do “Esquadrão”, apoiando indiretamente plataformas que a maioria dos americanos detesta.  Desse ponto de vista, não falta o que detestar nas quatro deputadas. AOC, a mais popular delas, com seu nome de DJ, defende o socialismo, recusa-se a criticar o pavoroso regime venezuelano e tem um “plano” para arruinar a economia americana em questão de décadas, com maluquices pseudoecológicas.  Com a beleza delicada dos povos nilóticos, Ilham Omar é um espanto. Fugiu com a família quando a Somália vivia situações surreais: um golpe marxista-leninista seguido do assassinato de dois autoproclamados presidentes, a instauração de um Supremo Conselho Revolucionário, uma guerra de agressão contra a Etiópia, guerra civil e fragmentação entre facções armadas.

Foi para tentar conter o desastre humanitário e o alto risco político que os Estados Unidos na época do governo de Bush pai, com mandato da ONU, mandaram tropas para o país. Uma ideia infeliz. Proteger a distribuição equânime de comida significava enfrentar os “senhores da guerra”, os chefes de milícias locais. Acabou no episódio retratado no espetacular filme Black Hawk Down, a parte mais conhecida da Batalha de Mogadishu (dois helicópteros derrubados, 18 mortos, 73 feridos do lado dos americanos; um número vagamente calculados em mil somalianos mortos, dos quais uns 200 civis).

Muitos americanos que ainda se lembram do episódio ficam loucos quando Ilham Omar diz que os problemas de terrorismo são causados pelas intervenções no Oriente Médio e adjacências.
Al Qaeda e ISIS? Ah, não vai “dignificar” esses assuntos. Caindo na risada, ela lembrou uma “aula de terrorismo” que tinha na faculdade e o professor “levantava os ombros cada vez que falava Al Qaeda”. Mais risadas.
Onze de setembro? “Umas pessoas fizeram umas coisas e todos nós começamos a perder acesso às nossas liberdades públicas.”

‘Jeito estranho’
Uma mentira escandalosa: ninguém perdeu nada e episódios isolados de agressão a muçulmanos foram punidos como determina a lei; Bush filho visitou uma mesquita logo depois dos atentados que mataram 3 000 pessoas.
Além disso, Ilham Omar disse que o CAIR, o Conselho de Relações Americano-Islâmicas, existente desde 1994, foi fundado depois dos atentados de 2001 por causa dessa “perseguição”.
Outras provas da discriminação? Tem gente que olha “de jeito estranho” para ela. Ilham usa roupas modernas, mas cobrindo o corpo, e turbantes muito chiques.
Também usa as técnicas do CAIR – derivadas da Irmandade Muçulmana – de manipular habilmente os preceitos da democracia para promover a ideologia islâmica.
E o antissemitismo. Nem usa os disfarces habituais de alegar críticas legítimas a Israel ou ao sionismo. Ao entrar numa discussão justamente sobre as teorias persecutórias que embalam o antissemitismo, tuitou: Its, all about the Benjamins, baby”.

É o trecho de uma música de Puff Daddy, usando uma designação popular para dinheiro, através da nota de cem dólares, ilustrada por Benjamin Franklin.  Estaria insinuando que instituições criadas por judeus americanos compram influência no Congresso? “Aipac!”, respondeu. Uma referência a um dos lobbies mais conhecidos.
Mentir ou nem sequer entender os fundamentos do país que acolheu sua família (incluindo um irmão sobre o qual existe a desconfiança de que virou seu “marido” para facilitar o asilo), é o que Ilham Omar faz o tempo todo.

“Deixamos a Somália e viemos para e os Estados Unidos acreditando que aqui encontraríamos igualdade econômica”, já disse ela.
Além de mentiroso, errado. O contrato social americano oferece meritocracia e livre competição, pelo menos mais livre do que em qualquer outro país do mundo, como as formas mais eficazes de espalhar prosperidade pelo maior número possível de pessoas. It’s all about Thomas Jefferson, baby..  E tem uma dele também, sobre a qual Trump poderia meditar: “Discriminação é a doença da ignorância, das mentes mórbidas. A educação e a livre discussão são os antídotos.”
Se foi uma manobra para comprometer o Partido Democrata, com todas as partes já envolvidas na eleição presidencial de novembro do ano que vem, Trump pode ter sido esperto. Mas esperteza não é tudo.
Amanhã, na falta de mais tuítes, o assunto acaba.


Blog Mundialista - Vilma Gryzinski - Veja

domingo, 9 de junho de 2019

Quem acha vive se perdendo

O presidente Jair Bolsonaro está dando mais importância ao próprio achismo do que ao planejamento estratégico com base em estudos e pesquisas científicas”


O trocadilho de Noel Rosa em Feitio de Oração — “Quem acha vive se perdendo/ Por isso agora eu vou me defendendo/ Da dor tão cruel desta saudade/ Que por infelicidade/ Meu pobre peito invade” —, como diria o colega Heraldo Pereira, ajuda a encaixar os fatos da conjuntura. O samba não se aprende no colégio, explica a canção antológica: “O samba na realidade não vem do morro/ Nem lá da cidade/ E quem suportar uma paixão/ Sentirá que o samba então/ Nasce do coração”. Entretanto, governar não é só paixão. Também se aprende no colégio.

O Brasil tem excelentes escolas de administração pública e uma alta burocracia muito bem qualificada, a quem cabe zelar pela legitimidade e consistência técnica das decisões. O achismo na gestão pública é uma perdição, ainda mais num país de dimensões continentais como o Brasil. A escritora norte-americana Bárbara Tuchman (1912-1989) escreveu um livro que trata do achismo e mostra a cegueira dos governantes em momentos decisivos da história: “Os seres humanos, especialmente as autoridades, costumam ser acometidos de um estranho paradoxo: tomar atitudes totalmente contrárias aos interesses da coletividade e, em última análise, a si mesmos, ainda que elas possam parecer o contrário”. Chamou o fenômeno de “a marcha da insensatez”, expressão que intitula seu livro.

A história está cheia de exemplos de decisões desastradas de governantes. A soberba dos papas da Renascença levou a Igreja Católica ao grande cisma protestante. O rei inglês Jorge III, ao tomar medidas extremamente impopulares em suas colônias americanas, impeliu-as a declarar a independência e a fundar os Estados Unidos. A ocupação de Moscou fez Napoleão perder a guerra na Rússia. As coletivizações forçadas de Stálin provocaram uma escassez crônica de alimentos na antiga União Soviética. O Grande Salto Pra Frente de Mao Zedong matou de fome milhões de chineses. A intervenção norte-americana no Vietnã levou os Estados Unidos ao seu maior desastre militar. Aqui no Brasil, recentemente, a “nova matriz econômica” da ex-presidente Dilma Rousseff jogou o Brasil na sua maior recessão e provocou seu impeachment.

O presidente Jair Bolsonaro está dando mais importância ao próprio achismo do que ao planejamento estratégico com base em estudos e pesquisas científicas, realizados para elaborar políticas públicas mais eficientes. As mudanças nas leis de trânsito, por exemplo, são eloquentes quanto a isso. A confrontação da legislação com seus resultados, em termos históricos e estatísticos, mostra que a política estava na direção correta ao desestimular o uso do automóvel e retirar das ruas os motoristas infratores contumazes. Não apenas devido aos indicadores de mortes violentas, mas também por causa do impacto físico e econômico dos acidentes de trânsito no sistema de saúde pública.

Erros estratégicos
O mesmo raciocínio vale para a questão da liberação de venda, posse e porte de armas. O fato de o banditismo ter aumentado devido ao tráfico de drogas não justifica uma política que, em última instância, vai armar os mais violentos. O indivíduo que deseja ter uma arma em casa para se proteger numa situação específica é uma coisa: moradores de zonas rurais, por exemplo; outra, bem diferente, é o sujeito ter uma arma e portá-la nas ruas, simplesmente porque gosta de atirar e pretende fazê-lo se tiver motivação e oportunidade. A maioria dos especialistas em segurança pública é a favor do desarmamento da população. A política correta é desarmar os bandidos (como o nosso Exército fez no Haiti, por exemplo), não é armar quem gostaria de fazer justiça pelas próprias mãos. Além disso, a quebra do monopólio do uso da violência pelo Estado é um risco para a democracia, porque possibilita o surgimento de uma militância política armada, como no fascismo.


Há inúmeros exemplos de achismos desastrosos na condução de áreas específicas do atual governo. É o caso do meio ambiente, onde o desmantelamento da política de proteção ambiental já produziu índices alarmantes de desmatamento na Amazônia, além de reações internacionais à compra de produtos agrícolas brasileiros, por causa da liberação quase que indiscriminada da venda de agrotóxicos. A maior vítima do achismo, porém, é o Censo de 2020, cujo questionário foi enxugado pela nova orientação dada ao IBGE. A alteração da série histórica com relação a diversos indicadores de qualidade de vida da população é uma maneira de varrer para debaixo do tapete nossas desigualdades e iniquidades sociais e pode levar a erros estratégicos graves, com consequências colossais. Cinco dirigentes do corpo técnico do órgão já pediram demissão por causa disso.

As opiniões de pé de ouvido da “bancada da bala”, dos ruralistas e dos caminhoneiros têm mais peso no Palácio do Planalto do que décadas de estudos e pesquisas de cientistas e órgãos especializados, mesmo de estudos de estado-maior das Forças Armadas sobre temas estratégicos para a coesão nacional e o desenvolvimento do país. A última pérola do achismo é o “Peso Real”, a nova moeda que o presidente Bolsonaro anunciou que pretende criar em parceria com o presidente argentino Maurício Macri, que os técnicos do Banco Central (BC), de gozação, já estão chamado de “Sul Real”.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB


 

quarta-feira, 27 de março de 2019

Eduardo Bolsonaro e Rodrigo Maia engrossaram placar a favor da pauta-bomba

A derrota sofrida pelo governo no plenário da Câmara na noite desta terça-feira foi acachapante. Nada menos que 98,5% dos deputados presentes votaram a favor da emenda constitucional que livrou da tesoura do ministro Paulo Guedes (Economia) os investimentos enfiados no Orçamento da União pelas bancadas estaduais. A íntegra da lista de votação revela que gente graúda ajudou a compor a maioria favorável à pauta-bomba. Votaram a favor, por exemplo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o líder do governo, Major Vitor Hugo; e até Eduardo Bolsonaro, o filho 'Zero Três' do presidente da República.

[comentário: Além das pautas-bombas que herdou de Temer, Bolsonaro tem que administrar a oposição, comandada por Rodrigo Maia  que ontem decidiu assumir o que já fazia as escondidas e que  todos já sabiam: é contra Bolsonaro.

Rodrigo Maia fez contra o presidente Bolsonaro o mesmo jogo sujo que Eunicio Maia, na época presidente do Senado, fez contra o ex-presidente Michel Temer.]


A emenda foi aprovada em dois turnos. Na segunda e decisiva rodada, estavam presentes no plenário 460 dos 513 deputados. Desse total, 453 votaram a favor da emenda que elevou para 97% o índice de engessamento da peça orçamentária que o governo executa anualmente. Apenas meia dúzia de deputados (1,3% dos presentes) votaram contra a proposta. Três são do PSL, partido de Bolsonaro: a líder governista Joice Hasselmann (SP), Bia Kicis (DF) e Luiz Philippe de Orleans e Bragança (SP). Dois integram o Partido Novo: Paulo Ganime (RJ) e Tiago Mitraud (MG). Um é filiado ao PSDB: Pedro Cunha Lima (PB). Registrou-se, de resto, uma abstenção: Bruna Furlan (PSDB-SP).

Como presidente da sessão, Rodrigo Maia poderia desfrutar da prerrogativa regimental de não votar. Mas o chefe da Câmara, depois de ser alvejado por caneladas virtuais do vereador carioca Carlos Bolsonaro e de bater-boca com o pai dele durante todo o último final de semana, fez questão de gravar o "sim" no painel eletrônico. Deve-se o voto favorável de Eduardo Bolsonaro a uma trapaça da sorte. A emenda radioativa é de 2015. Foi concebida para explodir no colo da então presidente Dilma Rousseff. Eduardo e seu pai Jair, à época integrantes do baixo clero do Legislativo, não hesitaram em rubricar a emenda. Se renegasse a peça agora, o 'Zero Três' reconheceria que foi irresponsável há quatro anos. Apanhado na emboscada preparada pelos líderes que seu pai chama de representantes da "velha política", Eduardo Bolsonaro viu-se compelido a dizer meia dúzia de palavras no microfone. Dirigindo-se a Rodrigo Maia, ele declarou: "Só queria deixar aqui a nossa posição favorável à PEC, parabenizar Vossa Excelência pela presidência [da sessão]. Realmente é uma pauta que, quando Jair Bolsonaro era deputado federal, ele e eu fomos favoráveis."

Foi uma derrota do governo?, perguntou-se a Rodrigo Maia após o encerramento da sessão. E ele, cirúrgico: "Foi uma vitória. O PSL [partido do presidente] votou a favor. O deputado Eduardo fez um discurso dizendo que ele e o presidente Bolsonaro assinaram essa PEC." Bolsonaro sofreu na Câmara um tipo inusual de vexame. Coisa que, quando ocorre, o presidente da República é obrigado a examinar os destroços materializados na íntegra da lista de votação com o mesmo olhar que Napoleão lançou sobre os campos de Waterloo depois da batalha.

 Blog do Josias de Souza


[comentário 2: tentam fazer com Bolsonaro o que fizeram com Collor que tentar enfrentar a 'velha política' e governar sem ela;
com Collor foi fácil - conseguiram acusá-lo de improbidade administrativa (apesar de posteriormente  ter sido absolvido  no Supremo) e com isso o 'impeachment' ocorreu;
com Bolsonaro será dificil, nada há contra ele que sustente uma acusação de crime de responsabilidade.]


Eduardo Bolsonaro e Rodrigo Maia engrossaram placar a favor da pauta-bomba ... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2019/03/27/eduardo-bolsonaro-e-rodrigo-maia-engrossaram-placar-a-favor-da-pauta-bomba/?cmpid=copiaecola... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2019/03/27/eduardo-bolsonaro-e-rodrigo-maia-engrossaram-placar-a-favor-da-pauta-bomba/?cmpid=copiaecola... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2019/03/27/eduardo-bolsonaro-e-rodrigo-maia-engrossaram-placar-a-favor-da-pauta-bomba/?cmpid=copiaecola... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2019/03/27/eduardo-bolsonaro-e-rodrigo-maia-engrossara... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2019/03/27/eduardo-bolsonaro-e-rodrigo-maia-engrossaram-placar-a-favor-da-pauta-bomba/?cmpid=copiaecola

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Preso, Lula dá falsa sensação de liberdade ao PT e lábia do ‘preso político’ saiu do prazo de validade



Preso, Lula dá falsa sensação de liberdade ao PT

Recolhido à cela especial de Curitiba, Lula enviou uma carta ao PT. Foi lida nesta segunda-feira, numa reunião do diretório nacional da legenda. No texto, o preso oferece aos companheiros uma falsa sensação de liberdade. Gostaria que vocês “ficassem totalmente à vontade para tomar qualquer decisão, porque 2018 é muito importante para o PT, para a esquerda, para a democracia. E para mim, eu quero a minha liberdade”, leu a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT.

Na mesma carta, Lula escreveu que ficou “feliz” com a mais recente pesquisa do Datafolha, que lhe atribui até 31% das intenções de voto na sucessão presidencial —uma disputa da qual não poderá participar, pois, além de preso, tornou-se um ficha-suja. Mas o diretório petista, submetido ao desprendimento de fancaria, renovou o apoio à candidatura do grande líder.

Lula não fez pose apenas para dentro. Sua carta acena também para fora do partido. Fala das “insinuações” que lhe chegaram aos ouvidos. Sem esclarecer a origem, anotou que o falatório dá conta de que, se Lula não for candidato, se fugir dos holofotes e se parar de criticar sua condenação,  ficará mais fácil obter a liberdade no Supremo “Querida Gleisi, a Suprema Corte não tem que me absolver porque eu sou candidato, porque vou ficar bonzinho. Ela tem que votar porque sou inocente e também para recuperar o seu papel constitucional”, leu a presidente do PT. Nesse ponto, a carta de Lula difunde desinformação.

No caso do tríplex do Guarujá, a fase da discussão sobre fatos e provas esgotou-se no TRF-4, o tribunal de segunda instância. As Cortes de Brasília não discutirão senão questões de Direito. Por ora, o que Lula reivindica no Supremo não é sua conversão de culpado em inocente, mas a reversão da regra que permitiu a prisão após condenação no segundo grau. Algo que lhe permitiria recorrer em liberdade para tentar cavar, por exemplo, uma redução na pena de 12 anos e 1 mês de cadeia.  Lula não parece interessado em abrir mão de nada —nem da candidatura cenográfica nem da embromação. Preso há duas semanas, sua única nobreza é ser esplêndido em cinzas, espetacularizando seu martírio com notável esplendor. Esforça-se para transformar em pompa o que não passa de decomposição de sua biografia.


 Lábia do ‘preso político’ saiu do prazo de validade

O PT divulgou neste domingo uma mensagem que Lula gravou em 7 de abril, antes de deixar o bunker sindical de São Bernardo para se render à Polícia Federal. A peça exibe um personagem sem nexo. Em duas semanas, a lábia do preso político” saiu do prazo de validade. Admitindo-se que o PT ainda queira participar da sucessão presidencial, a exibição do vídeo inspira uma indagação: o que é que o partido pretende oferecer?

Na gravação, Lula repetiu que poderia ter dado no pé. Mas ''não quis fugir porque quem é inocente não corre.” Subiu no caixote: “Não tenho medo das denúncias contra mim porque sou inocente e não sei se meus acusadores são inocentes”. Lula não está em cana por conta de “denúncias”. Foi passado na tranca porque se tornou o primeiro ex-presidente da República condenado por corrupção. É um corrupto de segunda instância. Além da confirmação da sentença no TRF-4, há o aval do STJ e a concordância do STF.

Quanto à ''inocência'' de Lula, esse é um estado comum a todos os presidiários, como explicou o companheiro José Dirceu na semana passada, numa elucidativa entrevista à repórter Mônica Bergamo. Prestes a retornar ao xadrez, Dirceu declarou que, atrás das grades, ''todo mundo é inocente''. Didático, acrescentou: ''O cara matou a avó, fritou o gato dela, comeu. Mas ele começa a conversar com você e a reclamar que é inocente.” Quem se animaria a contestar um especialista?''


O Lula da gravação repetiu: “Eu tenho muita honra e quero me defender. Por isso eu estou muito tranquilo.” Sua honra está encarcerada há 15 dias. Nesse período, o TRF-4 indeferiu o “embargo do embargo”. Restam recursos ao STJ e ao STF. Nessas Cortes, não há espaço para rediscussão de fatos e provas. Discutem-se questões de Direito —o tamanho da pena, por exemplo.

Indefeso, Lula aciona  os advogados e os devotos para guerrear contra a regra que autorizou a prisão de condenados em segunda instância. Contudo, a coerência da ministra Rosa Weber reduziu a margem de manobra dos apologistas do recuo. Enquanto reza por uma reviravolta na jurisprudência do Supremo, o preso rumina a perspectiva de novas condenações.  No vídeo, Lula disse que aceitou cumprir o mandado de prisão para verificar o que queriam o juiz Sergio Moro e procurador Deltan Dallagnol. Estava ansioso para “saber se eles estão dispostos a discutir comigo e debater publicamente os processos, porque quero provar que eles estão mentindo a meu respeito.”

Quer dizer: o Lula da fita comportava-se como um Napoleão que cruzaria as fronteiras de Curitiba por vontade própria, como se estivesse chegando a Moscou. Decorridos 15 dias, o preso se parece mais com o general Bonaparte, que retornou humilhado para Paris. Os russos curitibanos continuam no seu encalço. Preparam duas novas sentenças. E Lula, com o prazo de validade já bem vencido, não parece dispor de munição para “provar que eles estão mentindo.” Repita-se a pergunta do primeiro parágrafo: O que é que o PT pretende oferecer? Manter um candidato ficha-suja no jogo e registrar sua candidatura natimorta no Tribunal Superior Eleitoral em 15 de agosto pode representar muita coisa —uma prova de lealdade ou um gesto de desespero, por exemplo—, mas não é uma solução.



Blog do Josias de Souza