Bolsonaro tem mais de Duterte do que de Trump
Bolsonaro foi ao Bope e deu o seu grito de guerra, ele não é Trump, a alma de sua retórica está nas Filipinas
Bolsonaro não é Trump, a alma de sua retórica está nas Filipinas
Comparar Jair Bolsonaro a Donald Trump pode ser até chique, mas é o
mesmo que viver na Barra da Tijuca pensando que se está em Miami. A alma
da retórica do capitão está bem mais longe, nas Filipinas. Seu
presidente chama-se Rodrigo Duterte, prometeu reformas econômicas e
celebrizou-se pela política de combate à criminalidade, sobretudo ao
tráfico de drogas.
Visitando o quartel do
Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio,
Bolsonaro disse à tropa qu
e “podem ter certeza, chegando (à
Presidência), teremos um dos nossos lá em Brasília”. Em seguida, deu o
grito de guerra da corporação: “
Caveira!”
Comparado com Duterte, Bolsonaro é uma freira, pois o presidente
filipino vai além: “Hitler matou três milhões de judeus. Temos três
milhões de viciados, eu gostaria de matá-los.” Está cumprindo.
Em dois
anos de governo, morreram 4.500 pessoas, segundo as estatísticas
oficiais, e 12 mil, segundo organizações da sociedade civil.
[bandidos mortos ao reagirem à ação policial. Entre morrer um bandido ou um policial, quem escolhemos: o bandido.
Duterte trata com rigor tanto o traficante quanto o usuário, o viciado - é indiscutível que sem demanda - gerada pelo usuário - não haveria tráfico crescente na forma que existe nos dias atuais.
Defendemos penas pesadas para o usuário e mais rigorosas ainda para os traficantes, para estes deve ser aplicadas penas nunca inferiores a 20 anos, incluindo trabalhos forçados e até mesmo a prisão perpétua.
Para começo de conversa, tem que acabar com o absurdo de não se aceitar que um marginal passe mais de 30 anos consecutivos preso.]
Como Bolsonaro e Donald Trump, Duterte manipula sua incontinência
verbal. Põe na roda a mãe de quem lhe desagrada, do Papa ao presidente
Barack Obama. Quando uma missionária australiana foi morta e estuprada,
ele disse que lastimava o crime porque ela
“era tão bonita, foi um
desperdício”. Em alguns casos, desculpou-se.
Aos 75 anos, tem o cabelo curto e negro de tintura, gosta de andar de
motocicleta, teve um divórcio agreste, propala sua virilidade e as
virtudes da pílula azul. Ele diz que
“meu único pecado são os
assassinatos extrajudiciais”.
O nome desse jogo é “
Esquadrão da Morte”, coisa conhecida nas
Filipinas e no Brasil. O de cá brilhou durante o
governo de Juscelino
Kubitschek, glamourizado pela imprensa com o nome de
“Homens de Ouro”.
Chefiava a polícia do Rio de Janeiro o general Amaury Kruel. Anos
depois, seus colegas de tropa disseminavam histórias comprometedoras
sobre sua honorabilidade. Mais tarde, surgiu a Scuderie Le Cocq, cujo
símbolo era uma caveira. Seu presidente era o detetive Euclides
Nascimento. Em 1971, ele comandava também uma quadrilha de
contrabandistas à qual anexou-se o capitão Ailton Guimarães Jorge, com
subalternos que estiveram lotados no DOI do I Exército. Em São Paulo, a
estrela do “Esquadrão” era o delegado Sérgio Fleury, o matador de Carlos
Marighella. As patrulhas de Fleury, como as de Duterte, penduravam
cartazes em traficantes mortos. Faltava dizer que eram bandidos de
quadrilhas rivais .
[Fleury
teve a honra de abater o porco Marighella e o general Cerqueira teve a
honra de comandar o abate do porco traidor e desertor Lamarca.]
Se
“execuções extrajudiciais” fossem remédio
, o Brasil seria uma
Dinamarca. Em 1970, uma pesquisa realizada no Rio e em São Paulo mostrou
que 46% dos entrevistados estavam a favor do “Esquadrão”.
Há uns 20 anos, quando surgiram as primeiras milícias nas cidades
brasileiras, houve quem achasse que elas eram remédio contra o crime.
Passou o tempo, e os problemas agora são dois: o crime e as milícias. A
ideia do combate aos bandidos partindo da suposição de que “direitos
humanos” não devem ser confundidos com
“direitos dos manos” (palavras de
Jair Bolsonaro) pode estatizar algumas
“boas” milícias.
[as
palavras, na versão original, são do coronel Fraga, ex-candidato ao
governo do DF - e a concessão dos direitos humanos deve ser priorizada
aos HUMANOS DIREITOS.]
Em dezembro de 1993,
quando a polícia colombiana botou para quebrar
no combate aos bandidos e conseguiu matar o traficante Pablo Escobar,
símbolo do narcotráfico latino-americano, os louros da vitória foram
para o presidente César Gaviria. Conhecendo a questão da violência e do
tráfico, no ano passado ele escreveu um artigo intitulado
“O presidente
Duterte está repetindo meus erros”.
O filipino respondeu:
“Isso só seria possível se eu fosse um idiota, como você”.
A popularidade de Duterte está em 75%. Vive-se melhor na Colômbia.
[após o tráfico ter sofrido grandes revezes com redução no seu poderio.]