Além da Economia e da Justiça, Bolsonaro acerta na Agricultura e na Infraestrutura
Apesar do foco na Economia, com Paulo Guedes, e na Justiça, com Sérgio
Moro, a formação de pelo menos duas outras áreas merecem aplauso no
futuro governo Jair Bolsonaro: a Agricultura e a Infraestrutura. Além de
serem grandes geradoras de empregos, o que é urgente, ambas são
fundamentais para o desenvolvimento, a recuperação da nossa combalida
economia. Na Agricultura, a agrônoma Tereza Cristina é dessas que não faz
estardalhaço, não se mete em confusão, trabalha muito e ganhou respeito e
interlocução na Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e na Frente
Parlamentar do Agronegócio. Não chegou ao Ministério da Agricultura por
outra coisa senão mérito. Na Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, capitão reformado do
Exército, como Bolsonaro, tem três troféus: passou num concurso para a
única vaga de consultor legislativo da Câmara, foi o primeiro de turma
no Instituto Militar de Engenharia (IME) e tem a maior média de notas de
engenharia civil na história da instituição. Tereza Cristina anuncia três prioridades. Primeiro, reformular e ampliar
o seguro para os produtores rurais e, com isso, poder ampliar o
crédito, hoje limitado e restrito ao Banco do Brasil. E está obstinada
com a ideia, como Bolsonaro, de flexibilizar regras, desburocratizar,
acelerar concessões de alvarás.
Nos agrotóxicos, é pragmática: a questão não é usar ou não, é calibrar o
uso com segurança e eficácia. “Ninguém planta nada sem defensivos
agrícolas, isso não existe. O que precisamos é racionalizar o uso e
preservar as garantias.” Esse debate é uma guerra, mas ela prefere
diplomacia, está costurando apoios, explicando, convencendo.Outra questão-chave para o agronegócio, um dos mais poderosos do mundo e
essencial para manter o Brasil flutuando na recessão de 2014, 2015 e
2016, é a infraestrutura. Sem estradas, pontes, ferrovias e portos, não
tem como escoar a produção. No mínimo, com segurança e competitividade. E
aí entra o ministro Tarcísio Freitas.
Ele já assume com o PPI a pleno vapor no governo Temer, com R$ 239
bilhões à mão. Assim, Bolsonaro fará dois golaços já na largada, com a
concessão, em março, de mais doze aeroportos, inclusive Congonhas (SP) e
Santos Dumont (RJ), e a licitação da concessão da Ferrovia Norte-Sul. A
expectativa é a conexão ferroviária de Mato Grosso à Norte-Sul, unindo
os portos de Itaqui, ao norte, e de Santos, ao sul. “Sem um real do
orçamento”, diz ele, um privatista convicto. Suas prioridades:
1) transferência de ativos à iniciativa privada
(privatização, concessão...);
2) tirar os esqueletos do armário, como
passivos de concessões que falharam, caso de Viracopos (SP);
3) decidir o
que fazer com as obras públicas paradas (uma das tragédias brasileiras)
e garantir eficácia nas futuras.
Suas palavras de ordem: planejamento,
racionalidade, previsibilidade e credibilidade, tudo o que os
brasileiros precisam e os investidores internacionais exigem. O momento é
favorável ao Brasil, com México adernando à esquerda, Argentina em
crise, ambiente político duvidoso em alguns e falta de escala nos
demais. Onde investir? No Brasil, claro.
Assim caminha o futuro governo, com grandes nomes e expectativas na
economia de Guedes, no combate à corrupção com Moro, mais segurança na
agricultura e audácia na infraestrutura. Agora, é cuidar para que a
política não atrapalhe. Na reforma da Previdência, é aprovar ou aprovar. Além disso,
Bolsonaro precisa ter consciência de que seus filhos estão
excessivamente sob os holofotes e isso nunca dá certo. Com um
funcionário atrás do outro assombrando a família no submundo da Alerj e
pairando sobre o próprio pai em Brasília, ninguém vai falar de
agricultura e infraestrutura, só de fantasmas.
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo