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quarta-feira, 27 de julho de 2022

Como foi a reunião dos banqueiros em defesa do Estado Democrático de Direito - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr.

Os banqueiros começaram a chegar ao local do encontro, no centro de Osasco City, às 18h. Cada qual chegou em seu Rolls Royce elétrico, provocando um rápido apagão na "Davos brasileira" e um pequeno congestionamento diante do edifício ao estilo neoclássico de periferia. Menos o Waltinho, claro, que preferiu vir montado em sua bicicleta de ecoplatina custom made by Paco Rabanne. Apesar de secreta, a reunião foi registrada pelas lentes hábeis e ferozes do João, que pretende lançar um documentário chamado “Nós, o Povo” no próximo Festival de Veneza.
 


Skyline de Osasco, a “Davos brasileira”.| Foto: Reprodução/ Twitter
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Na ampla sala toda revestida em madeira nobre (“de reflorestamento! de reflorestamento!”, grita um assessor de imprensa aqui nos meus ouvidos), os banqueiros se reuniram em torno do Escritor de Periferia, contratado especialmente a ocasião. Munidos de charutos e taças de papel (ideia da Neca!) abastecidas com os melhores Romanée Conti, Rothschild e Château Margaux disponíveis, eles deram início à discussão sobre o teor do manifesto. Enquanto isso, Waltinho ensinava pacientemente o Escritor de Periferia a usar a Montblanc.

Quem pediu a palavra foi um membro do clã Setubal. João deu um close no rosto do homem que, ao se imaginar na tela grande de um cinema art déco no meio de Veneza, abriu seu melhor sorriso popularesco, aquele que oferece juros de apenas 50% ao ano. “É importante nos posicionarmos pela democracia”, disse ele. Todos riram. Inclusive o Waltinho e a Neca. Sem entender a piada, o Escritor de Periferia perguntou se "democracia" era com “c” ou com “ss”.

O texto avançava com os melhores lugares-comuns e slogans possíveis, cortesia do team de storytelling da Y&R, agência da qual o Escritor de Periferia ainda sonha virar estagiário um dia. “Já sei! Já sei!”, gritou um Villela. “Escreve aí que ‘vivemos em um país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública'”, sugeriu. Todos riram. Desta vez, até o Escritor de Periferia.

Alguém propôs que o grupo se posicionasse firmemente contra a possibilidade de um golpe. “Mas até que não seria tão ruim para os negócios”, provocou um Salles não-artista. “Nunca é”, respondeu rápido um Setubal, todo feliz com a velocidade e perspicácia do seu raciocínio. Depois de algum debate sobre a pronúncia correta de “treze” em francês, os banqueiros deram ordem para que o Escritor de Periferia escrevesse que “ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições”.

Waltinho, quem diria!,
protestou, dizendo que o correto é “em vez de”. Acusado de elitismo gramatical, porém, ele se deu por vencido. João andava de um lado para o outro, a claquete ecoando insanamente pelo set de filmagens. Foi quando o holograma da Olívia, assistente virtual da XP, até então quieta num canto, decidiu sugerir um trecho do manifesto. “Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática”, disse a inteligência artificial com sua voz e raciocínio robóticos.

Todes aplaudiram. Menos a Neca, que estava de mau humor. “Faltam pontos de exclamação no texto!”, reclamou ela, não pela primeira vez. Os demais banqueiros, num gesto de extremo machismo, reviraram os olhos tudo devidamente captado pelo olhar sincerão do João. Que usou sua voz mais doce para dizer: “Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona...”. As reticências ficaram pairando no ar, dramáticas. Os banqueiros se levantaram, ergueram as taças de papel e, emocionados, bradaram de forma uníssona: “Estado Democrático de Direito Sempre!”.

Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 24 de outubro de 2020

O racismo persistente - Míriam Leitão

O Globo

Quando o assunto é racismo, o Brasil sempre volta à quadra um. É preciso recomeçar de conceitos que já deveriam estar absorvidos. No debate das cotas, parecia ter havido avanço no entendimento desse problema complexo e fundador do país. Se o Brasil não vencer a discriminação que pesa sobre pretos e pardos, se não houver política de inclusão, se as empresas não abrirem suas portas, é o país que fracassará. Jamais foi um problema de um grupo de brasileiros, é de toda a nação brasileira. [incluir quando não há espaço - devido o pouco número de vagas - obriga a excluir outros, restando apenas, até mesmo por uma questão de Justiça e igualdade (determinada pela Constituição Federal) privilegiar o mérito como forma de inclusão.

Um mero ato político não pode extinguir a mais importante e justa de todas formas de seleção: a meritocracia.]

O debate do fim dos anos 90 e começo dos anos 2000 sobre a inclusão de estudantes pretos e pobres foi intenso e terminou com a confirmação pelo STF de que cotas raciais nas universidades federais eram constitucionais. Eu, neste espaço, defendi a adoção das cotas. Houve uma avalanche de argumentos contrários. Seria a derrota da meritocracia, seria melhor investir na educação básica, iria “criar” o racismo reverso, geraria conflitos entre os estudantes, iria nivelar por baixo a qualidade acadêmica. Nada disso.

É evidente que é preciso melhorar a educação brasileira, ninguém defende o contrário. As cotas permitiram ao país dar um passo numa longa caminhada para encontrar a si mesmo. Somos um país profundamente preto, do ponto de vista cultural e étnico. O racismo fere a natureza do país. Que julgamento de mérito pode ser feito entre um jovem de classe média que frequentou bons colégios, pré-vestibulares e cursos de inglês, e um jovem da periferia que fez seu caminho para a escola se desviando das balas? Serão julgados pela mesma régua? O jovem pobre e negro que sobreviveu para chegar na porta da universidade tem resiliência, hoje uma das habilidades mais valiosas na visão dos educadores. A convivência de diferentes entre si fez bem a todos. As universidades puderam dar aos alunos uma ampliação da visão das várias realidades do país e entregar ao mercado de trabalho jovens qualificados e com experiências diversas.

Na impactante entrevista que concedeu a Ronaldo Lemos, no evento Cidadão Global, do “Valor” e Santander, a atriz Viola Davis explicou o drama que leva tantos a morrer sem que possam realizar suas possibilidades. “Se não há oportunidade, você é invisível. Vou dizer de novo, se não há oportunidade, ou acesso a oportunidades, você é invisível. Não importa o quanto você trabalha, o quanto você é talentoso, você é invisível se não houver um veículo para literalmente demonstrar o seu talento, sua inteligência e o seu potencial.” [utilizar cotas raciais para dar oportunidades é o mais injusto e o maior fomentador da desigualdade - sendo inarredável a consequência que o desprezo do mérito, apresenta  o risco de na continuidade do processo seletivo se chegar a um ponto em que o conhecimento - que tem no mérito a melhor forma de ser adquirido e provado - se torna insubstituível. Como ficamos? Continuar a desprezar o mérito é impossível.]  

(........)

Quando o Magazine Luiza tomou a decisão de abrir uma seleção exclusiva para negros provocou uma reação em que as velhas teses reapareceram. E o debate foi retomado como se não tivesse acontecido há quase duas décadas. [determinar 100% das vagas para negros, ou para amarelos, ou para indígenas, é tão racista, tão criminoso, quanto determinar 100% das vagas para brancos.]

O Brasil muda muito devagar. A banqueira Cristina Junqueira, do Nubank, repetiu os argumentos de sempre. “Não consigo contratar executivos negros.” E ofendeu como sempre. “Não pode nivelar por baixo.” Depois ela pediu desculpas. Tomara que reflita sobre esse episódio. Em outra frase infeliz que revela preconceito classista, o banqueiro Guilherme Benchimol, da XP, disse em maio que o Brasil estava bem. “O pico da doença já passou quando a gente analisa a classe média, a classe média alta. O desafio é que o Brasil é um país com muita comunidade, muita favela, o que acaba dificultando o processo todo.” Cristina e Guilherme são o que há de novo no mundo do capital. E ainda não entenderam o Brasil.

Míriam Leitão - O Globo - Alvaro Gribel, São Paulo

segunda-feira, 17 de junho de 2019

“É uma brasa, Moro!” e outras notas de Carlos Brickmann

Até o presente momento, Moro parece ter vencido politicamente a guerra que o Intercept iniciou [vencerá também na seara jurídica - as acusações da militância que posa de jornalismo, são ilegais na forma como foram obtidas e não possuem sustentação.]



Juridicamente, pode ser que haja irregularidades nas comunicações entre o ministro Sérgio Moro e procurador-chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol. A OAB abriu fogo contra ambos e juristas respeitados os criticam. [A Constituição sustenta Moro e o procurador-chefe da Lava Jato;
quanto à popularidade ao POVÃO interessa que ladrões tipo Lula sejam desmascarados, presos e mofem na cadeia. ] Em termos de comunicação, manda a boa técnica que se publique parte da denúncia e se aguarde a reação. Só então se publica a denúncia completa. Esses fatores podem mudar a situação, mas, até o presente momento, Sérgio Moro parece ter vencido politicamente a guerra que o Intercept iniciou.

Alguns fatos demonstram que Moro, se o atingiram, foi só de raspão.
1 – No Maracanã, dizia Nelson Rodrigues, vaia-se até minuto de silêncio. Lula, no auge da popularidade, foi vaiado no estádio de São Januário. Moro foi ao estádio em Brasília, vestiu a camisa do Flamengo e foi aplaudido.
2 – Numa das mensagens atribuídas a Moro, há a frase “In Fux we trust” (em Fux confiamos). Na sexta de manhã, o ministro Fux tomou um avião em Brasília e foi aplaudido por passageiros. Houve gritos de “In Fux we trust”.
3 – Pesquisa da XP (elaborada para orientar investidores) mostra Moro como o mais popular integrante do Governo. Sua nota oscilou de 6,5 para 6,2, ainda bem acima do segundo, o próprio presidente Bolsonaro.
Quem votou em Bolsonaro por não aceitar nada do que está aí deve estar feliz com as transgressões atribuídas a Moro – justo ele, com cara de bom moço. E foi depois de ver as pesquisas que Bolsonaro lhe deu apoio total.

(...)

Brasil é Brasil
Mas nunca levem uma análise (nem as deste colunista) demasiado a sério. No Brasil, dizia Pedro Malan, até o passado é imprevisível. Imagine o futuro.

Guerra é guerra
A próxima batalha entre o Intercept e Moro pode ser deflagrada ainda hoje, com a publicação de novas mensagens. Mas a seguinte é a da Polícia Federal contra quem forneceu informações ao Intercept. O que se diz é que nada será feito que viole a liberdade de imprensa: quem publicou tinha o direito de fazê-lo. O que se investiga, dizem, é quem obteve ilegalmente as mensagens, e como. Suspeita-se até de um esquema internacional, com o objetivo de desmoralizar as decisões da Justiça e conseguir libertar Lula. De acordo com o jornalista Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br), pode haver operações de busca e apreensão nos endereços dos responsáveis pelo Intercept. Fala-se em respeitar a liberdade de imprensa, mas sabe-se lá.

(...)

quarta-feira, 17 de maio de 2017

A lição da XP sacudiu a banca

O Itaú pode ter feito no século XXI o que muitos quatrocentões não fizeram no XX e quebraram

A compra pelo banco Itaú de metade da corretora XP Investimentos por R$ 5,7 bilhões é uma grande notícia, mesmo para quem não tem um tostão aplicado no mercado de capitais. A notícia é boa porque sinaliza vitalidade, um atributo raro nas grandes empresas brasileiras. Em 1943, quando os grandes bancos de Pindorama eram geridos por quatrocentões de muitos sobrenomes, Amador Aguiar, um bancário caladão, abriu a primeira agência do Bradesco na cidade de Marília. Nesse tempo, achava-se que entrar em banco era coisa de rico, e o gerente ficava trancado numa sala. No Bradesco, a mesa do gerente ficava no salão de atendimento, e os funcionários ensinavam os clientes a preencher cheques. Passados oito anos, em 1951, o banco de Amador Aguiar era o maior do país. Aos poucos, a banca tradicional se desmilinguiu.

Em 15 anos a XP Investimentos tornou-se a maior corretora independente do país, com 300 mil clientes e R$ 69 bilhões em aplicações financeiras. Seu sucesso, bem como o de algumas casas do gênero, veio da agressividade, do uso da internet e da capacidade de prestar serviços que os grandes bancos não oferecem. No século passado, havia gente que tinha medo de banco; no XXI, tem-se medo das taxas que cobram. A XP oferece aplicações sem cobrança de taxas.

Nada do que a XP fez estava fora do alcance dos grandes bancos. A diferença esteve nas estruturas que têm dificuldade para absorver o novo. Essa praga está muito bem contada no livro “The Innovator’s Dilemma”, de Clayton Christensen. A Sears foi o novo, perdeu o passo do novo varejo e arruinou-se. Às vezes, as grandes empresas sabem que o novo bate à porta, tentam adaptar-se mas afogam-se.

A sabedoria convencional ensinava que a expansão da XP obrigava os grandes bancos a resmungar ou padecer de uma difícil concorrência. O Itaú teve uma ideia e comprou metade do concorrente, deixando-o livre para administrar-se como bem entender. Com isso, virou sócio de um bom negócio e ainda por cima valorizou a custódia da XP.  Nem sempre o capitalismo depende da “destruição criadora” para se renovar. Na compra de metade da XP, nada se destruiu, mas tudo se transformou. No fundo, o principal destruidor de grandes empresas é a soberba sob a qual se escondem a preguiça e a inépcia. Um exemplo dessa moléstia (e do remédio) pode ser achado no mercado nacional de planos de saúde.

Meia dúzia de grandes operadoras atuava num mercado de 50 milhões de pessoas.
Cuidando mais das conexões políticas do que dos custos hospitalares, hoje elas atravessam uma crise na qual perderam 2,8 milhões de clientes em dois anos. No meio dessa ruína está a soberba de maus gestores que tentam resolver seus problemas em Brasília.

Em 1997, o deputado Aires da Cunha, dono da operadora Blue Life, dizia que “se tirássemos todos os idosos do meu plano, minha rentabilidade aumentaria muito”. Hoje uma das operadoras mais prósperas do mercado, a Prevent Senior, trabalha em São Paulo, atendendo idosos em planos individuais, com mensalidades baratas. Ela foi fundada no mesmo ano em que Aires da Cunha se queixava dos velhos. (O cliente da Prevent deve usar seu plantel de médicos e é atendido pela rede própria de sete hospitais Sancta Maggiore e 40 unidades de apoio.) Para quem queria trabalhar, o que parecia um problema era uma mina de ouro.


 Fonte: Elio Gaspari - O Globo