Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Amador Aguiar. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Amador Aguiar. Mostrar todas as postagens

domingo, 12 de dezembro de 2021

A briga inútil do capitão com o almirante da Anvisa - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Agência tem razões para se orgulhar de sua conduta durante a pandemia. Barra Torres preservou a credibilidade da instituição, e evitou bate-bocas e provocações

Bolsonaro pintou-se para uma nova guerra: “Estamos trabalhando agora com a Anvisa, que quer fechar o espaço aéreo. De novo, porra? De novo vai começar esse negócio?”

A Anvisa nunca sugeriu que se fechasse o espaço aéreo mas, diante do surgimento de uma nova variante do vírus, o presidente anteviu uma nova batalha. Ele não gosta da vacinação, preferia cloroquina e prefere viver no mundo da negação, supondo que com isso defende a economia. Há um ano, Bolsonaro dizia que a vacina CoronaVac não seria comprada. Comprou-a. Condenava o isolamento social e teve que aceitá-lo.

De fato, pode ser que comece tudo de novo, porque o governador João Doria anunciou que instituirá o passaporte de imunização em São Paulo. Ele comprou a vacina chinesa e em janeiro começou a aplicá-la. [o 'joãozinho', segundo Bolsonaro o 'calcinha apertada' faz qualquer coisa para chamar atenção e o método mais eficiente para ter êxito é ser contra Bolsonaro.]

Arrumou um ministro da Saúde capaz de dizer que prefere perder a vida à liberdade, como se esse dilema estivesse na mesa. Depois de ter fritado dois ministros que tomaram o partido da ciência e de ter amparado um general desastroso, o capitão sente-se confortável com o médico Marcelo Queiroga. É seu estilo, mas não precisava chamar a Agência de Vigilância Sanitária para a briga. Primeiro, porque a Anvisa é um órgão independente. Além disso, porque está atirando em um quadro de sua tropa, o médico e almirante Antonio Barra Torres, cujo pecado seria ter traçado uma linha no chão, além da qual não pisaria.
O Brasil está chegando perto da marca de 300 milhões de doses aplicadas, com cerca de 65% da população imunizada. Apesar disso, Bolsonaro prefere procurar uma nova briga.

Barra Torres pode ser visto como um exemplo do oficial que atendeu ao chamado do capitão. Militar e cavaleiro da Ordem de Malta, foi colocado na direção da Anvisa e em março de 2020, quando os mortos pela Covid eram cinco, acompanhou Bolsonaro numa manifestação que desafiava a pandemia e o Supremo Tribunal Federal. Ele não se entendia com o ministro Luiz Henrique Mandetta e tinha tudo para virar um daqueles aloprados que o general Pazuello levaria logo depois para o Ministério da Saúde.

Recusou-se a patrocinar as virtudes da cloroquina e disse coisas desagradáveis, tais como: “Estamos trabalhando no mundo real, que é o mundo científico”, ou “Vamos deixar de bobagem e vamos vacinar”.

Quando foi pressionado, o almirante deu um recado críptico: “Meu limite está muito longe ainda. Tenho 32 anos de treinamento militar”. Como tem mandato e dirige uma agência independente, não cabia na frigideira em que foi jogado o general Santos Cruz. O almirante preservou a credibilidade da Anvisa, evitou bate-bocas e provocações. Não se colocou como um ativo contraponto à disseminação de superstições.

(...)

Destruição criadora
A financeira digital Nubank tornou-se o banco privado mais valioso da América Latina, superando as grandes casas brasileiras. Seu valor de mercado chegou a US$ 47,6 bilhões. Conseguiu isso em apenas oito anos de operações.
Oito anos parecem ser um tempo mágico para a destruição criadora do capitalismo no mercado financeiro de Pindorama. Fundado em 1943, o Bradesco tornou-se o maior banco privado do país em 1951. Como?

Amador Aguiar, seu patriarca, percebeu que os grão-senhores da banca não gostavam de gente com poucos sobrenomes e sapatos sujos. Diante disso, decidiu que as mesas dos gerentes ficariam na entrada das agências e os funcionários deveriam ajudar os clientes a preencher cheques. Em algumas cidades do Paraná, as agências do Bradesco chegavam antes da luz elétrica.

O Nubank e seus similares fazem coisa parecida no mundo digital de hoje, correndo atrás de uma fatia de consumidores deixada de lado pela grande banca. Facilitam os contatos com a clientela e abrem mão de taxas lucrativas, porém antipáticas.

Destruição destruidora
A gigantesca United Health, dona da operadora brasileira Amil, livrou-se de sua carteira de planos de saúde individuais, com 370 mil clientes. Pagou R$ 3 bilhões a uma financeira para que ela ficasse com os contratos e suas obrigações.
Para a empresa, foi um bom negócio, porque a operação dava prejuízo. Só o tempo dirá o que acontecerá com os clientes.

Na melhor das hipóteses, fica tudo igual.
Na pior, os clientes vendidos, quando desatendidos, deverão recorrer à Justiça.

No século XIX, a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro pôs um anúncio nos jornais pedindo aos donos de pessoas escravizadas que parassem de depositar negros doentes em seus cemitérios.

A Covid de Trump
Mark Meadows, chefe de gabinete de Donald Trump, revelou que o presidente-machão que desafiava o coronavírus foi ao debate com Joe Biden em outubro do ano passado tendo testado positivo para a Covid. Dias depois, levaram-no para o hospital com a taxa de oxigenação do sangue em 86%, indicando perigo para um homem de sua idade.

Melhorou a marca do tempo que se passa para que se conheça o estado de saúde de um presidente americano. 
A patranha segundo a qual estava tudo bem levou pouco mais de um ano para prevalecer.
Em 1963, depois de levar um tiro na cabeça, o presidente John Kennedy chegou morto ao hospital, mas esse detalhe levou tempo para ser aceito.

Em 1981, o presidente Ronald Reagan tomou um tiro no peito e sua turma espalhou que ele entrou no hospital fazendo piadas. Era mentira. Com um pulmão perfurado, tiraram-no do bico do urubu.

domingo, 1 de abril de 2018

A casa londrina Maggs está numa sinuca



O caso do roubo das gravuras da Biblioteca Nacional

Em 2004, Laéssio Rodrigues Oliveira, finório gatuno de obras raras, roubou da Biblioteca Nacional oito gravuras de Recife, pintadas em 1852 pelo alemão Emil Bauch. Ele sustenta que as vendeu ao colecionador paulista Ruy Souza e Silva. Laéssio está na cadeia e Souza e Silva, ex-marido de Neca Setubal, filha do criador do banco Itaú, nega que tenha comprado as peças, acusando o ladrão de tentar chantageá-lo. O maior golpe de Laéssio foi a rapina da mapoteca do Itamaraty, descoberta em 2003. Nesse episódio, ele deixou sua marca de conhecedor. No butim estava um mapa de 1631, peça única, de difícil comercialização. Ele a empacotou num canudo e mandou-a por Sedex para a casa do embaixador que dirigia o museu do ministério. O endereço do remetente era o do Cemitério São João Batista.

O caso das gravuras já tinha os ingredientes de uma boa história policial quando a ela foi acrescentada por Souza e Silva a informação de que comprou as peças na tradicional casa londrina Maggs, fundada em 1853, famosa por ter vendido o pênis de Napoleão.
O Itaú Cultural forneceu à “Folha de S. Paulo” dois recibos. Um mostra que, no dia 9 de novembro de 2014, Souza e Silva comprou na Maggs um “álbum de gravuras do Brasil” por 11 mil libras, equivalentes a R$ 58 mil. Outro informa que, 69 dias depois, ele vendeu as obras ao Itaú Cultural por R$ 654 mil.

Diante da denúncia de Laéssio, o Itaú Cultural prontamente entregou as gravuras à Biblioteca Nacional, e lá elas foram examinadas por um perito judicial. Um rasgo existente numa delas e vestígios de uma caligrafia existente no verso das peças conferem com imagens arquivadas na biblioteca.  Do jeito que estão as coisas, a Maggs teria vendido a Souza e Silva gravuras roubadas por Laéssio. O recibo da casa londrina fala em “álbum”. Um antiquário de sua linhagem mantém inventários e poderá especificar melhor o que vendeu, dizendo também como a mercadoria oferecida ao colecionador paulista chegou ao seu acervo.

O MINISTRO BARROSO FLECHOU TEMER
Michel Temer está convencido de que se não tivesse sido bombardeado pelo grampo de Joesley Batista, teria aprovado a reforma da Previdência e o destino de seu governo seria outro. O problema é que foi ele quem abriu a porta do Jaburu para o empresário.
Temer parece ser uma reencarnação do sujeito que estava em Hiroshima, tomou um trem e foi para Nagasaki, sobrevivendo a duas bombas atômicas. [será que Barroso tem capacidade de sobrevivência à verdade: provas incontestáveis demonstram que Barroso recebeu dinheiro público para ministrar uma palestra = chamada na documentação de hora/aula - o que a Constituição Federal proíbe?] Com o escândalo de suas relações perigosas e da MP dos Portos na vitrine, seu governo continua, mas acabou. 

MATÉRIA COMPLETA, clique aqui


quarta-feira, 17 de maio de 2017

A lição da XP sacudiu a banca

O Itaú pode ter feito no século XXI o que muitos quatrocentões não fizeram no XX e quebraram

A compra pelo banco Itaú de metade da corretora XP Investimentos por R$ 5,7 bilhões é uma grande notícia, mesmo para quem não tem um tostão aplicado no mercado de capitais. A notícia é boa porque sinaliza vitalidade, um atributo raro nas grandes empresas brasileiras. Em 1943, quando os grandes bancos de Pindorama eram geridos por quatrocentões de muitos sobrenomes, Amador Aguiar, um bancário caladão, abriu a primeira agência do Bradesco na cidade de Marília. Nesse tempo, achava-se que entrar em banco era coisa de rico, e o gerente ficava trancado numa sala. No Bradesco, a mesa do gerente ficava no salão de atendimento, e os funcionários ensinavam os clientes a preencher cheques. Passados oito anos, em 1951, o banco de Amador Aguiar era o maior do país. Aos poucos, a banca tradicional se desmilinguiu.

Em 15 anos a XP Investimentos tornou-se a maior corretora independente do país, com 300 mil clientes e R$ 69 bilhões em aplicações financeiras. Seu sucesso, bem como o de algumas casas do gênero, veio da agressividade, do uso da internet e da capacidade de prestar serviços que os grandes bancos não oferecem. No século passado, havia gente que tinha medo de banco; no XXI, tem-se medo das taxas que cobram. A XP oferece aplicações sem cobrança de taxas.

Nada do que a XP fez estava fora do alcance dos grandes bancos. A diferença esteve nas estruturas que têm dificuldade para absorver o novo. Essa praga está muito bem contada no livro “The Innovator’s Dilemma”, de Clayton Christensen. A Sears foi o novo, perdeu o passo do novo varejo e arruinou-se. Às vezes, as grandes empresas sabem que o novo bate à porta, tentam adaptar-se mas afogam-se.

A sabedoria convencional ensinava que a expansão da XP obrigava os grandes bancos a resmungar ou padecer de uma difícil concorrência. O Itaú teve uma ideia e comprou metade do concorrente, deixando-o livre para administrar-se como bem entender. Com isso, virou sócio de um bom negócio e ainda por cima valorizou a custódia da XP.  Nem sempre o capitalismo depende da “destruição criadora” para se renovar. Na compra de metade da XP, nada se destruiu, mas tudo se transformou. No fundo, o principal destruidor de grandes empresas é a soberba sob a qual se escondem a preguiça e a inépcia. Um exemplo dessa moléstia (e do remédio) pode ser achado no mercado nacional de planos de saúde.

Meia dúzia de grandes operadoras atuava num mercado de 50 milhões de pessoas.
Cuidando mais das conexões políticas do que dos custos hospitalares, hoje elas atravessam uma crise na qual perderam 2,8 milhões de clientes em dois anos. No meio dessa ruína está a soberba de maus gestores que tentam resolver seus problemas em Brasília.

Em 1997, o deputado Aires da Cunha, dono da operadora Blue Life, dizia que “se tirássemos todos os idosos do meu plano, minha rentabilidade aumentaria muito”. Hoje uma das operadoras mais prósperas do mercado, a Prevent Senior, trabalha em São Paulo, atendendo idosos em planos individuais, com mensalidades baratas. Ela foi fundada no mesmo ano em que Aires da Cunha se queixava dos velhos. (O cliente da Prevent deve usar seu plantel de médicos e é atendido pela rede própria de sete hospitais Sancta Maggiore e 40 unidades de apoio.) Para quem queria trabalhar, o que parecia um problema era uma mina de ouro.


 Fonte: Elio Gaspari - O Globo



quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O banqueiro que virou um dos homens mais ricos do país


André Esteves: um banqueiro controvertido que virou um dos homens mais ricos do Brasil


A trajetória do financista no mercado é recheada de manobras suspeitas e tacadas agressivas 

 


O banqueiro André Esteves, preso pela Polícia Federal nesta quarta-feira (25), em São Paulo, sob a acusação de querer prejudicar as investigações da operação Lava Jato, é uma das figuras mais bem sucedidas da arena financeira do país nos anos 2000 e também uma das mais controversas.

Nascido e criado na Tijuca, bairro de classe média no Rio de Janeiro, Esteves, de 46 anos, ergueu um império com ramificações nos principais centros financeiros internacionais, como Nova York, Londres e Hong Kong. Num setor dominado por gigantes globais, ele fez do BTG Pactual o maior banco de investimento da América Latina e se tornou um dos homens mais ricos do Brasil, com uma fortuna estimada hoje em cerca de US$ 2 bilhões (R$ 7,6 bilhões). “Sou muito bom para ganhar dinheiro, mas não para gastar”, afirmou a ÉPOCA numa entrevista exclusiva realizada em 2012, logo depois de concluir uma bem sucedida operação de lançamento de ações do BTG na Bolsa de Valores de São Paulo.


Apesar do sucesso que alcançou, Esteves afirma que costuma levar uma vida reservada, mais voltada para o trabalho e para a família, com quem costuma passar suas (poucas) horas de folga. Ele diz trabalhar de dez a 12 horas por dia. Em geral, tira apenas duas semanas de férias por ano. Uma no Carnaval e outra no meio do ano. Seu jato particular, um Dassault Falcon 7X, avaliado em US$ 50 milhões, é uma ferramenta de trabalho, que Esteves usa para se deslocar com agilidade e privacidade pelo país e pelo exterior. Normalmente, faz apenas uma ou duas viagens com o jato por ano com a família.

Bem relacionado e influente, Esteves conversa com os principais empresários do país como se estivesse falando com a turma do colégio. Numa das entrevistas que concedeu a ÉPOCA, pediu licença para atender um telefonema do banqueiro Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, fundador do extinto banco Garantia, vendido ao Credit Suisse em 1998, e hoje principal acionista do grupo AB InBev, maior fabricante de cervejas do mundo, que controla a Ambev no país. Ao final de um almoço com a reportagem da revista, Esteves acelerou sua saída para atender pessoalmente o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabucco Cappi.


Por sua desenvoltura na mesa de operações, Esteves já foi chamado de “o George Soros brasileiro”, embora se considere mais um “homem de negócios” que um “financista”. Ao contrário dos banqueiros Amador Aguiar (1904-1991), fundador do Bradesco, Olavo Setubal (1923-2008), do Itaú, e Walther Moreira Salles (1912-2001), do Unibanco, Esteves não construiu seu banco com base em agências na rua, concentrado no crédito ou na prestação de serviços financeiros. Ele se inspirou em banqueiros como John Pierpont Morgan, fundador do J.P. Morgan, o banco que ajudou a financiar o crescimento americano nos séculos XIX e XX, e em Jorge Paulo Lemann. Ambos se dedicavam às operações de mercado de capitais, voltadas para as grandes e médias empresas que precisam de recursos para crescer. Ou para a gestão de recursos de clientes.

Ao longo de sua carreira meteórica no mundo das finanças, Esteves deixou claro que não costuma medir esforços para conseguir o que quer. Em 1999, quando comandava a área de renda fixa do antigo Pactual, que deu origem ao BTG Pactual, ele liderou um levante com mais três sócios para expelir da sociedade seu principal acionista, Luiz Cesar Fernandes, e se tornou o comandante do banco. “Sempre tive consciência de que ele venderia a mãe para ter o poder”, afirmou Fernandes a ÉPOCA certa vez. “O André é ambicioso e tem uma liderança muito forte.”

No auge da crise global, em 2008, quando Esteves trabalhava na base londrina do banco suíço UBS, para quem havia vendido o Pactual dois anos antes, ele não se fez de rogado. Aproveitando a fragilidade do UBS, uma das instituições mais atingidas pela hecatombe financeira global, chegou a fazer uma proposta para comprá-lo na bacia das almas.

Chegou a procurar Jorge Paulo Lemann para apoiá-lo na iniciativa, mas o comando do UBS não gostou de seus movimentos e ele acabou deixando o banco. Esteves voltou, então, ao Brasil e fundou o BTG, uma empresa de investimentos. Pouco tempo depois, recomprou com alguns sócios o velho Pactual do próprio UBS, que precisava fazer caixa, e  formou, então o BTG Pactual, unindo as duas operações.

Não é de hoje que seus negócios com o governo despertam a atenção. Em fevereiro, ÉPOCA publicou em primeira mão, com base na delação premiada do doleiro Alberto Youssef na Lava Jato, que Esteves usou de sua influência para que a BR Distribuidora, principal subsidiária da Petrobras, “embandeirasse” a rede de postos de combustíveis da DVBR, da qual o BTG é sócio, e realizasse os elevados investimentos necessários ao à empreitada.


A boa relação cultivada por Esteves com os ex-ministros da Fazenda, Guido Mantega, e Antonio Palocci, desde quando eles estavam no governo, também foi alvo de muito ti-ti-ti no mercado financeiro. Ele é acusado de ter recebido informações privilegiadas para usá-las em benefício próprio e do banco. No final dos anos 1990, quando era apenas um operador de mercado, Esteves já era acusado por seus adversários de ganhar milhões com o uso de informações privilegiadas relacionadas ao comportamento dos juros e às ações do Banco Central.

Em 2012, dias antes do lançamento de ações do BTG Pactual na Bolsa de Valores de São Paulo, a Consob, o xerife do mercado de ações italiano, multou o banco em 350 mil euros pelo uso de informação privilegiada em negócios com ações da Creminini, empresa que negociava uma parceria com o frigorífico JBS. O BTG foi suspenso por seis meses como administrador de empresas na Itália e ainda teve um valor equivalente ao lucro que teria sido obtido com a operação bloqueado pela Consob.

Em 2007, teve de fazer um acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil para encerrar um processo envolvendo irregularidades na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), hoje parte da BM&F Bovespa. Acusado de ter feito operações para transferir lucros do Pactual para uma empresa estrangeira chamada Romanche Investment Corporation, ele teve de se comprometer a pagar uma multa de R$ 8,1 milhões, com Aldo Santos Laureano Junior, também executivo do banco.

Agora, com o com sua prisão pela força-tarefa da Lava Jato, Esteves sofre seu maior revés, cuja extensão só poderá ser medida precisamente com o tempo. Desde já, o seu BTG Pactual acusou o golpe, com uma queda de 21% nas cotações dos papéis do banco na Bolsa de São Paulo nesta quarta-feira.

Fonte: Revista Época

 

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

De Amador.Aguiar@com para J.Levy@gov - Amador Agiar enquadra Joaquim Levy

Estimado ministro,
O senhor foi o primeiro funcionário do Bradesco a se tornar ministro da Fazenda. Para o banco que fundei, isso é uma honra e ao mesmo tempo um risco. Não trabalhamos juntos. O senhor formou-se na Universidade de Chicago. Eu, em lugar nenhum. Resolvi escrever-lhe por causa do contratempo que a Receita Federal, sob sua jurisdição, criou para os clientes com o cadastro dos empregados domésticos. Veja que eu uso a palavra clientes, pois os cidadãos pagam impostos para receber serviços. Chamando-os de contribuintes falsificamos a essência da relação. Contribuinte é quem deixa dinheiro numa caixa de igreja. No banco, o senhor sabe, cobramos taxas em troca de serviços. O cliente é obrigado a pagá-las, e nós somos obrigados a servi-lo. 

Em 1943, quando fundei o Bradesco, o brasileiro achava que entrar em banco era coisa de rico. Passei a receber contas de luz, abri agências em cidades que não tinham energia elétrica. A mesa do gerente devia ficar perto da porta de entrada. Nossos funcionários ensinavam a clientela a preencher cheques. Um dos nossos bancários foi escolhido para dirigir uma agência e, com a mulher, passou o fim de semana limpando os balcões e o chão. Ele viria a se tornar presidente do banco. Em apenas oito anos, o Bradesco tornou-se o maior do país. 

No domingo passado, ficou claro que o sistema do cadastro não funcionava. Eu sei o que é isso porque o Bradesco foi o primeiro banco brasileiro a usar computador. O senhor e o secretário da Receita não disseram uma palavra. Pareciam aqueles paulistas quatrocentões que competiam comigo. Passaram-se o domingo e a segunda-feira. Nada. Na terça-feira, a Receita avisou que não prorrogaria o prazo para a regularização do cadastro: “Não trabalhamos com essa hipótese”. O senhor foi a dois eventos e continuou calado. 

Só na tarde de quarta-feira, a 72 horas do limite dado aos clientes para se cadastrarem sem multa, o senhor e a Receita fizeram o que deveriam ter feito na segunda. Não ouviram os clientes, mas ouviram a patroa e estenderam o prazo. O senhor sabe como eu reagiria se durante quatro dias uma agência do Bradesco estivesse com uma máquina quebrada, uma enorme fila de clientes na sua porta, e o gerente nada tivesse a dizer. 

Se a confusão do cadastro da criadagem tivesse acontecido no Bradesco, eu teria dispensado seus valiosos serviços.

Atenciosamente
Amador Aguiar

Por: Elio Gaspari - O Globo