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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O Grilo Falante de Lula



Nem Pinóquio teve uma ajuda tão generosa. Mas Pinóquio não tinha um BNDES, só um Gepeto
O palestrante Luiz Inácio da Silva é um sujeito de sorte. Antes de se consagrar com suas palestras internacionais, ele passou pela Presidência da República, onde não ganhava tão bem. Mas tinha bons amigos, especialmente na empreiteira Odebrecht, que lhe sopravam o que dizer nas reuniões com outros chefes de Estado. Os recados eram passados ao futuro palestrante, então presidente, sob o título “ajuda memória” – ou seja, os empreiteiros estavam ajudando o presidente a se lembrar de coisas úteis, uma espécie de transplante de consciência. A Odebrecht era o Grilo Falante de Lula.

Nem Pinóquio teve uma ajuda-memória tão generosa. A de Lula se transformou em negócios de bilhões de reais – mas é bem verdade que Pinóquio não tinha um BNDES, só um Gepeto. É uma desvantagem considerável, especialmente porque Gepeto não fazia operações secretas, ao que se saiba. “O PR fez o lobby”, escreveu o então ministro da Indústria e do Comércio aos amigos da Odebrecht, respondendo à cobrança da empreiteira sobre a defesa de seus interesses pelo PR Lula junto ao PR da Namíbia. Essa e outras ajudas-­memórias valiosas, reveladas pelo jornal O Globo, não tiveram nada de mais. Segundo todos os envolvidos, isso é normal.

A normalidade é tanta que a parceria foi profissionalizada. Quando Luiz Inácio terminou seu estágio como PR, foi contratado pela Odebrecht como palestrante. Nada mais justo. Com a quantidade de ajuda-­memória que ele recebera da empresa durante oito anos, haveria de ter muita coisa para contar pelo mundo. Foi uma história bonita. Lula soltinho, sem a agenda operária de PR, viajando pelos países nas asas do lobista da Odebrecht, fazendo brotar obras monumentais por aí e mandando Dilma e o BNDES bancá-las, enquanto botava para dentro cachês astronômicos como palestrante contratado da empresa ganhadora das obras. Normal.

A parceria também funcionou no Brasil, claro, com belos projetos como o estádio do Corinthians – que uniu seu time do coração com a sua empreiteira idem. Num drible desconcertante dos titãs, o Morumbi foi desclassificado para a Copa de 2014 e brotou em seu lugar o Itaquerão, por R$ 1 bilhão. Como não dava para Gepeto fazer a mágica, o Pinóquio PR chamou o bom e velho BNDES para operar mais esse milagre. Após alguns anos fazendo os bilhões escorrerem dos cofres públicos para parcerias interessantes como essas – incluindo as obras completas da Petrobras –, o palestrante e seu partido levaram o Brasil à breca. Ainda hoje, em meio à mais terrível crise das últimas décadas, que derrubou o aval para investimento no Brasil e fará dele um país mais pobre, a opinião pública se pergunta: como foi que isso aconteceu?

Graças a essa pergunta abilolada, o esquema parasitário que tomou de assalto o Estado brasileiro ainda permanece, incrivelmente, sediado no Palácio do Planalto. O tráfico de influência como meio de privatização de recursos públicos – através de parcerias, consultorias, convênios, mensalões e pixulecos mais ou menos desavergonhados – foi institucionalizado, de cabo a rabo, no governo petista. Lula, o palestrante, é investigado pelo Ministério Público por tráfico de influência internacional. O Brasil se surpreende porque quer: esse é o modus operandi de todos os companheiros que já caíram em desgraçaVaccari, Delúbio, Erenice, Palocci, Dirceu, Valério, Youssef, Duque, Vargas, João Paulo, Rosemary... Faltou alguém? Ou melhor: sobrou alguém?

Marcelo Odebrecht recomendou que Lula ressaltasse o papel de “pacificador e líder regional” do presidente de Angola. E assim foi feito. Deu para entender? O dono da empresa e cliente do governo era quase um adido cultural do presidente. Se o Brasil não consegue ver promiscuidade (ou seria obscenidade?) nesse enredo, melhor botar o Sergio Moro em cana e liberar o pixuleco.

Acaba de ser arquivado o inquérito contra Lula no mensalão. No auge do escândalo com a Odebrecht e demais envolvidas no petrolão, o PT bate seu próprio recorde de cinismo advogando a proibição das doações eleitorais de empresas. Pixuleco nunca mais. Ajuda-memória ao gigante: ou abre os olhos agora ou não verá as pegadas companheiras sendo mais uma vez apagadas. Aí os inocentes profissionais estarão prontos para o próximo golpe. 

Fonte: Guilherme Fiuza – Revista Época


quarta-feira, 6 de maio de 2015

Dono do Posto da Torre, em Brasília, é condenado na Lava Jato a quatro anos e nove meses de prisão



O juiz Sérgio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato na Justiça Federal do Paraná, condenou o doleiro Alberto Youssef a cinco anos de prisão pela lavagem de R$ 1,16 milhão do esquema do mensalão. Na nova sentença contra o doleiro, já condenado em outra ação da Lava Jato, o magistrado determinou ainda o confisco de R$ 1,16 milhão que Youssef aceitou devolver aos cofres públicos em seu acordo de delação.  Ainda foram condenados por terem atuado junto com Youssef na lavagem do dinheiro o também doleiro Carlos Habib Chater (quatro anos e nove meses de prisão), dono do Posto da Torre, em Brasília, onde possui uma lavanderia que inspirou o nome da operação Lava Jato; o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, que atuava como procurador de Youssef e decidiu confessar seus crimes à Justiça, tendo sua pena reduzida à prestação de serviços comunitários; e Ediel Viana da Silva, que trabalhava no Posto da Torre e que também confessou seus crimes e foi condenado à prestação de serviços comunitários.

Nesta ação, a Procuradoria da República atribui a Youssef e aos outros acusados a lavagem de pelo menos R$ 1,16 milhão de um total de R$ 4,1 milhões repassados pelo empresário Marcos Valério, operador do mensalão, ao então deputado federal José Janene (PR), líder do PP na Câmara na época do escândalo que abalou o governo Lula – Janene morreu em 2010.

Segundo os procuradores, o esquema consistiu basicamente na utilização de valores provenientes “de atividade criminosa de José Janene” no valor de RS 1,16 milhão, aplicados na empresa CSA, utilizada por Janene, e posteriormente por Youssef, para a lavagem de dinheiro.  Esse dinheiro da CSA, conforme a denúncia, “foi investido na empresa Dunel Indústria, sediada em Londrina (PR), utilizada para ocultar e dissimular a origem ilícita de recursos”.

A investigação mostra que os valores foram usados para “pagamento da aquisição de máquinas, equipamentos, serviços de terceiros, bem assim a pagar as despesas ordinárias da empresa Dunel Indústria, dentre os quais salários e pró-labore”.  “Aos denunciados é imputada, entre outras condutas ilícitas, a prática de crime de lavagem de dinheiro pela movimentação, dissimulação e conversão em ativos lícitos de recursos originários, dentre outras fontes, do denominado esquema “mensalão”, objeto da Ação Penal 470/DF, na qual José Janene constou como denunciado das atividades ilícitas de Alberto Youssef”, assinalam os procuradores.

Sérgio Moro, contudo, absolveu Youssef, Carlos Alberto Pereira da Costa, Carlos Habib Chater e Ediel Viana da Silva do crime de formação de quadrilha, por entender que os doleiros lideravam grupos diferentes que foram desbaratados pela Lava Jato. Youssef e Carlos Costa também foram absolvidos dos crimes de apropriação indébita e estelionato, pois o próprio Ministério Público Federal entendeu que não havia prova contra eles destes crimes.

Fonte: Agência Estado

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Collor recebeu R$ 3 mi em propina da BR Distribuidora, diz doleiro



Youssef detalhou operação em depoimento à força-tarefa da Lava Jato, segundo jornal. Negócio foi intermediado por ex-ministro do agora senador
O doleiro Alberto Youssef afirmou em depoimento prestado no âmbito de seu acordo de delação premiada que o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) recebeu 3 milhões de reais em propina como resultado de uma operação da BR Distribuidora, informa reportagem desta terça-feira do jornal Folha de S. Paulo.
O negócio da subsidiária da Petrobras foi fechado em 2012 – e intermediado pelo ex-ministro de Collor Pedro Paulo Leoni Ramos, empresário que já havia aparecido na investigação da Operação Lava Jato como sócio oculto de Youssef no laboratório Labogen. PP, como Leoni Ramos é conhecido, é dono da GPI Investimentos e Participações e amigo de longa data do senador. No governo Collor, ocupou a Secretaria de Assuntos Estratégicos. A GPI é citada no relatório da Polícia Federal sobre a Lava Jato. Segundo o jornal, o doleiro afirmou aos investigadores que o empresário atuou como operador do esquema, e intermediou o suborno.

O contrato em questão foi fechado com uma rede de postos de combustível de São Paulo e previa a troca de bandeira da rede, para que o grupo se tornasse um revendedor da BR Distribuidora. O negócio totalizou 300 milhões de reais e a propina negociada foi o equivalente a 1% do contrato, segundo o doleiro.  De acordo com o jornal, Youssef afirmou que o dinheiro foi arrecadado nos postos em espécie, dividido em três parcelas de 1 milhão de reais. A propina era, então, repassada a Leoni Ramos, que a entregava a Collor.

O doleiro não informou como o dinheiro chegou ao senador ou deu nomes dos diretores da BR Distribuidora envolvidos na negociata. Mas afirmou que todos sabiam que Leoni Ramos era um intermediário de Collor. O depoimento de Youssef foi prestado entre outubro e novembro do ano passado. Em fevereiro deste ano, o delator do petrolão prestou novos esclarecimentos, desta vez à Procuradoria-Geral da República, a quem cabe pedir investigação sobre políticos com foro privilegiado.

Não é a primeira vez que Collor é citado na Lava Jato. Em agosto de 2014 o Supremo Tribunal Federal decidiu investigar a relação do senador com Youssef. Agentes da Polícia Federal encontraram no escritório do doleiro, durante ação de busca e apreensão da Lava Jato, oito comprovantes de depósitos bancários em nome de Collor. Os depósitos, feitos no intervalo de três dias, em maio de 2013, somam 50.000 reais.

Em entrevista a VEJA, a contadora de Youssef Meire Poza afirma que os depósitos foram feitos a pedido de Pedro Paulo Leoni Ramos.

Fonte: Blog do Ricardo Setti

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Dilma vai criar galinhas




Faz hoje um mês que Dilma admitiu pela primeira vez a possibilidade de haver desvios na Petrobras; antes, ela acusava mera conspiração dos que queriam privatizar a empresa.
Vejam o que está em curso! Ou: Dilma vai criar galinhas, como o último imperador romano?
O tempo passa, e as coisas só pioram na Petrobras e no Brasil. A presidente Dilma se comporta como o último imperador romano, que, no fim da linha, preferia cuidar de galinhas. Ocorre que esta senhora, que encerra melancolicamente o seu mandato, terá mais quatro anos — caso cumpra o calendário e não seja atropelada pela lei. A entrevista concedida nesta segunda por Graça Foster, presidente da estatal, evidencia que o governo perdeu o pé da situação. Raramente se viu soma tão robusta de sandices. Para piorar, as denúncias chegam à atual diretoria da empresa: segundo Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, José Carlos Cosenza, atual diretor de Abastecimento e substituto do próprio Costa, também recebeu propina. Ele nega. E tudo pode sempre piorar: surgiram sinais de que o esquema criminoso pode ter atuado também na Eletrobras, cujas ações despencaram nesta segunda.

Obviamente, não vou eu aqui afirmar a culpa de Cosenza. Denúncias precisam ser provadas para que possam ter consequência penal. Ocorre que esse caso tem mais do que a esfera puramente criminal. Será que a Petrobras aguenta ter um alto membro da atual diretoria sob suspeita? Não é o mais recomendável para uma empresa que não consegue divulgar números de seu balanço trimestral e que já enfrenta sinais de que terá dificuldades para se financiar no mercado externo em razão da falta de credibilidade.

Cosenza estava ontem no evento-entrevista que Graça organizou, compondo a mesa da diretoria da Petrobras. Que a roubalheira comeu solta na empresa — seja ou não para financiar partidos —, isso já está comprovado. Um único gerente, Pedro Barusco, fez acordo de delação premiada e aceitou devolver US$ 97 milhões — o correspondente a R$ 252 milhões. Seu chefe, no entanto, Renato Duque, homem de José Dirceu na empresa e ex-diretor da cota do PT, afirma não saber de nada e se nega a colaborar com as investigações. Assim, se formos nos fiar nas palavras de Duque, devemos acreditar que seu subordinado conseguiu a proeza de amealhar R$ 252 milhões fazendo falcatruas às escondidas do chefe.

O processo será longo. Estamos só no começo. Pensem, por exemplo, que o caso vai mesmo esquentar quando aparecerem os nomes dos políticos, que estão se acumulando lá no STF. Aí é que vocês verão a barafunda. Desde o começo da crise, tenho chamado atenção para o óbvio: por que a prática seria diferente nas demais estatais se os atores são os mesmos, se a política é a mesma, se os critérios são os mesmos? Surgiu o primeiro elemento que pode indicar que os criminosos atuaram também na Eletrobras — e sabe-se lá onde mais. A presidente brinca com o perigo.

Para começo de conversa, deveria intervir já — e não mais tarde — na Petrobras. Está na cara que Graça Foster perdeu a condição de presidir a empresa. Cosenza tem de ser afastado não porque esteja comprovada a sua culpa, mas porque a estatal não pode conviver com desconfiança. Evidenciada a sua inocência, que volte.

Um mês
Vejam vocês: hoje, 18 de novembro, faz exatamente um mês que Dilma admitiu pela primeira vez a possibilidade de haver desvios na Petrobras. E ainda o fez daquele modo rebarbativo. Disse então: “Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não; houve, viu?”. Até o dia anterior, ela atribuía as críticas aos desmandos na empresa à pressão dos que quereriam privatizá-la.

Dilma terá dias bem difíceis pela frente. O show de horrores está só no começo. Imaginem quando começarem a sair do armário os esqueletos das contas secretas no exterior, onde foi depositada parte da propina. Uma única conta de Barusco da Suíça teve bloqueados US$ 20 milhões. Na delação premiada, Youssef se prontificou a ajudar a PF a chegar inclusive a contas que pertenceriam ao PT. Se elas existem ou existiram, a cobra vai piar.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo – Revista Veja