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quarta-feira, 11 de julho de 2018

Lula, o grande eleitor



O Judiciário está derretendo e, na confusão, a cadeia de Curitiba tornou-se um lugar seguro para ‘Nosso Guia’ 



Olhando-se para o Judiciário a partir do balcão da lanchonete da rodoviária, as coisas estão assim: Marcelo Bretas prende, e Gilmar Mendes solta; Rogério Favreto solta, e Gebran Neto prende. Isso numa época em que juízes ganham um auxílio-moradia de R$ 4,3 mil mensais. A discussão do mimo chegou ao Supremo Tribunal, o ministro Luiz Fux matou no peito e reteve a decisão.


Faltam menos de três meses para a eleição presidencial, e a barafunda do Judiciário deu a Lula um impulso inesperado. Tudo indica que sua candidatura será impugnada, mas ele poderá ungir o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad ou o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, como ungiu Dilma Rousseff.  “Nosso Guia” (expressão criada pelo embaixador Celso Amorim) tem ao mesmo tempo um alto número de pessoas dispostas a votar nele, mas também é alto o nível de sua rejeição. O circo de domingo transformou a cadeia de Curitiba numa câmara de proteção para Lula. 


Enquanto ele estiver preso, os outros terão a liberdade de fazer besteiras, da greve dos caminhoneiros ao prende-solta dos magistrados. Guardadas as proporções e ressalvados os aspectos legais, a carceragem da Polícia Federal está para Lula assim como a solidão de São Borja esteve para Getúlio Vargas em 1950.  O ex-presidente firmou-se no papel de vítima, e esse é o que melhor desempenha. Ficam duas perguntas: qual a sua capacidade transferir simpatias? E o que poderá fazer para reduzir as antipatias?


Dado o desempenho do governo de Michel Temer, a transferência de simpatias será considerável. A redução da antipatia será tarefa mais complicada, sobretudo porque Lula, o PT, Fernando Haddad e Jaques Wagner nunca fizeram um milímetro de autocrítica diante das malfeitorias praticadas nos seus dez anos de poder.  Tudo bem, mas autocrítica não é uma mercadoria abundante no plantel dos candidatos. Bolsonaro marcha garbosamente com o DOI na mochila. Ciro Gomes apresenta-se como o novo a partir de práticas capazes de fazer corar os velhos coronéis nordestinos. Geraldo Alckmin tem sobre a cabeça a nuvem dos cartéis de empreiteiros cevados nas gestões tucanas de São Paulo. Henrique Meirelles é ex-presidente do conselho da J&F, dos irmãos Batista. Finalmente, Marina Silva honra a plateia com sua austeridade e sonoros silêncios. 

Nenhum desses candidatos traz consigo o risco do aparelhamento da máquina do Estado por quadros semelhantes aos do comissariado petista. Em troca, Ciro Gomes aproxima-se do DEM, Bolsonaro flerta com o PR de Valdemar Costa Neto e Meirelles está no PMDB, presidido pelo senador Romero Jucá. Salva-se Marina, sem os pés no aparelho tradicional.  Em 2002, Lula driblou seus adversários com a “Carta aos Brasileiros”. Foi uma guinada em relação ao que dissera em questões econômicas. Uma “Carta aos Brasileiros 2.0” tentará enxaguar a roupa suja petista, convertendo em neutralidade a antipatia pelo comissariado e somando-a à simpatia que Lula amealhou pelo que fez e pelo que lhe fazem. (Antonio Palocci, o autor da Carta 1.0, está na cadeia.)


Em 1950, como prometera, o ditador voltou ao poder como “líder de massas”. Em 2018, um ex-presidente preso por corrupção poderá vir a ser o grande eleitor num pleito em que o eleitorado coloca o combate às roubalheiras como uma das prioridades nacionais.



quarta-feira, 18 de abril de 2018

Visita de senadores a Lula foi tiro que saiu pela culatra

Carceragem da Polícia Federal em Curitiba ganha selo de qualidade 

Cadê a foto com Lula? A Justiça não permitiu. Os senadores limitaram-se a posar para uma foto diante da fachada da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Onze Senadores da Comissão de Direitos Humanos visitam o presidente Lula (Vagner Rosário/VEJA)
Cadê declarações sobre eventuais condições precárias a que Lula está submetido há mais de 10 dias? Não houve. Os senadores foram obrigados a reconhecer que ele está sendo bem tratado e em local adequado.

A princípio, esperava-se a ida a Curitiba de 15 a 17 senadores. Foram 11. Só um deles, Lindbergh Farias (PT-RJ), saiu dizendo que Lula é um preso político e não um político preso.

Blog do Noblat - VEJA

 

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Três acusados na Lava-Jato deixam a prisão para um Natal de luxo

Marcelo Odebrecht, Adriana Ancelmo e Lúcio Funaro vão cumprir pena em mansão no Morumbi, condomínio no Leblon e fazenda 

Pelo menos três presos na Operação Lava-Jato vão passar o Natal bem melhor acomodados do que a grande maioria da população brasileira. Nos últimos dois dias, a ex-primeira-dama do Rio de Janeiro Adriana Ancelmo, o empresário Marcelo Odebrecht e o doleiro Lúcio Funaro ganharam na Justiça o direito de sair da cadeia e ir direto para as suas casas de luxo, duas delas localizadas em bairros com o metro quadrado mais caro do Brasil: Leblon, no Rio de Janeiro, e o Morumbi, em São Paulo. Nos novos endereços, com direito a piscina e hidromassagem, eles serão monitorados e sujeitos a restrições.

Presenteada com pelo menos R$ 1 milhão em joias pelo marido, o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, preso por corrupção – e que ontem sofreu sua quarta condenação, totalizando 87 anos de cadeia –, Adriana Ancelmo deixou a prisão de Benfica, na Zona Norte do Rio, na manhã de ontem rumo ao apartamento luxuoso no Leblon, Zona Sul do Rio. Ela foi liberada por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, que concedeu a prisão domiciliar.
Adriana Ancelmo foi condenada a 18 anos e três meses de prisão e foi beneficiada outras vezes com a prisão domiciliar por ter filhos menores de idade. A mulher de Cabral vai para o endereço na esquina da Avenida Delfim Moreira com Rua Aristides Espínola, um dos condomínios mais disputados do Leblon, com vista para o mar. Em março deste ano, em uma das vezes que foi cumprir pena em casa, ela foi alvo de protestos pedindo direitos iguais para as detentas pobres. [a inconveniência de conceder os mesmos direitos para detentas mais pobres é que o risco das  crianças serem usadas para facilitar ações de tráfico de drogas é enorme.

O empresário Marcelo Odebrecht também deixou a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, na manhã de ontem e seguiu para um condomínio residencial de alto luxo no Morumbi, Zona Oeste de São Paulo. O local conta com forte esquema de segurança para as 40 casas de quem pode pagar pelo oásis, o que o manterá distante de curiosos e jornalistas. O condomínio tem áreas de lazer privativas para cada morador, com piscinas, adegas, churrasqueiras e até cinemas. As casas custam entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões. Segundo especulações do mercado imobiliário, a casa de Odebrecht tem 3 mil metros quadrados e custa entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões.

Odebrecht ficou dois anos e meio preso na carceragem da PF por envolvimento na Lava-Jato. Herdeiro de uma das maiores empresas do Brasil, ele foi preso em 2015 e condenado a 31 anos e seis meses em regime fechado pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa. A soltura faz parte de um acordo assinado por ele na delação premiada, pelo qual ele passaria o restante da pena em casa com tornozeleira eletrônica. O acessório vai custar ao condenado R$ 149 por mês.

Tênis 
Já o doleiro Lúcio Funaro teve a prisão domiciliar autorizada ontem pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10 ª Vara Federal. Considerado um dos homens-bomba da Lava-Jato, ele vai para uma fazenda em Vargem Grande do Sul, em São Paulo. Funaro estava preso desde junho de 2016 no Complexo da Papuda, em Brasília. Em agosto deste ano, fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público. Inicialmente, o juiz havia sugerido que Funaro cumprisse a prisão domiciliar em Brasília, mas a defesa propôs instalar câmeras por meio das quais a Justiça poderá monitorá-lo 24 horas. O sítio conta com uma ampla área verde, um heliponto e uma quadra de tênis.

Até que os equipamentos sejam instalados – a previsão é de que isso ocorra até 2 de janeiro – ele ficará em sua casa na capital paulista. Funaro tentou, sem sucesso, aprovar uma lista de visitantes que incluiria um amigo para jogar tênis. O lobista, que implicou figuras como o presidente Michel Temer e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, deve estar disponível para videoconferências sempre que solicitado.
Correio Braziliense 

 

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Açougueiro Joesley completa 100 dias de cadeia



Cem dias de prisão: Após choro nos primeiros dias, Joesley cumpre rotina na carceragem da PF

'Está abatido, magro e sempre com um terço na mão', diz um interlocutor do empresário


Joesley Batista, dono da JBS, durante sua chegada à Policia Federal, em Brasilia - Ailton de Freitas / Agência O Globo




Entre março e abril deste ano, o empresário Joesley Batista protagonizou duas das mais espetaculares ações desde o início da Operação Lava-Jato. A primeira: gravou desconcertantes conversas e, com elas, colocou contra parede o presidente Michel Temer. Em seguida: triturou a imagem pública do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Obteve, com as informações que forneceu, um acordo de delação premiada com direito à imunidade penal. Era tudo que ele queria e, inicialmente para o Ministério Publico Federal (MPF), tudo que merecia.

Mas os ventos mudaram radicalmente de direção. Joesley completa hoje 100 dias de prisão numa cela da carceragem da Polícia Federal em São Paulo, com o acordo de delação ameaçado de rescisão. E pelo silêncio dos tribunais e da Procuradoria-Geral da República (PGR), não há qualquer indicativo de quando deixará a prisão, e nem sinais de quando o STF decide se manterá ou não o acordo de delação. A seu lado está o irmão Wesley Batista, com 97 dias de cárcere.
— Foi o preso que mais vi chorar. Chorava o tempo todo na custódia. Acho que ele não acreditava que seria preso. Então, quando se viu na carceragem, bateu o desespero — conta um policial que acompanhou o empresário nos primeiros momentos da prisão dele numa cela da PF em Brasília.

Joesley, Wesley e Ricardo Saud estão numa mesma ala, mas em celas individuais equipadas com mesa, banco e beliche de concreto. O único item que se contrapõe à dureza do ambiente são os colchões, fornecidos pelos familiares.  Os três seguem à risca as regras da prisão. Por volta das 8 horas recebem uma caneca de café com um pão com manteiga. Das 8 às 10 horas e das 16 às 18 horas têm direito a banho de sol. Segundo um policial, eles fazem exercícios físicos e até jogam futebol com os demais detentos numa miniquadra no pátio da carceragem. Quando estão na cela, passam a maior parte do tempo lendo.  O contato com parente acontece em uma ala coletiva. É nesta área que Joesley conversa com a mulher, a jornalista Ticiana Villas Boas. Segundo um policial, ela visita o marido todas as quintas-feiras. Na carceragem não há área reservada para encontros íntimos. Um amigo do empresário diz que Joesley ainda não assimilou totalmente o fato de estar preso.
 



Desde o início, a concessão da imunidade penal aos donos da JBS provocou críticas. Alguns achavam que era um benefício excessivo a autores confessos de crimes graves. O barco da delação começou a virar mesmo na noite de 4 de setembro, quando o então procurador-geral da República Rodrigo Janot veio a público para denunciar a existência de uma gravação de uma conversa em que Joesley e o parceiro de delação Ricardo Saud faziam insinuações “muito graves” sobre integrantes da PGR, sobre ministros do STF e sobre o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.

Por conta dos áudios, Joesley e Saud foram acusados de descumprir o acordo de colaboração e acabaram presos em 10 de setembro, por ordem do ministro Edson Fachin, relator do caso no STF. Três dias depois, Joesley foi alvo de uma nova ordem de prisão, desta vez expedida pela Justiça Federal de São Paulo. A ordem era extensiva também a Wesley. Os dois foram acusados de usar informações privilegiadas do acordo de delação para ganhar dinheiro no mercado financeiro. A reviravolta no caso teria levado Joesley à lona.  Segundo este policial, ainda abalado emocionalmente, Joesley contou que só pelo habeas corpus pagaria R$ 5 milhões a um dos advogados. Seriam R$ 2,5 milhões à vista e o restante quando saísse cadeia. Logo depois o empresário deixou a cela da PF em Brasília, mas foi levado para a carceragem da instituição em São Paulo, onde se encontra até hoje.  — Ele está abatido, magro e sempre com um terço na mão — afirma o interlocutor do empresário.

O Globo