Cem dias de prisão: Após choro nos primeiros dias, Joesley cumpre rotina na carceragem da PF
'Está abatido, magro e sempre com um terço na mão', diz um interlocutor do empresário
Joesley
Batista, dono da JBS, durante sua chegada à Policia Federal, em Brasilia -
Ailton de Freitas / Agência O Globo
Entre
março e abril deste ano, o empresário Joesley Batista protagonizou duas
das mais espetaculares ações desde o início da Operação Lava-Jato. A
primeira: gravou desconcertantes conversas e, com elas, colocou contra parede o
presidente Michel Temer. Em seguida: triturou a imagem pública do senador Aécio
Neves (PSDB-MG). Obteve, com as informações que forneceu, um acordo de delação
premiada com direito à imunidade penal. Era tudo que ele queria e, inicialmente
para o Ministério Publico Federal (MPF), tudo que merecia.
Mas os
ventos mudaram radicalmente de direção. Joesley completa hoje 100 dias de
prisão numa cela da carceragem da Polícia Federal em São Paulo, com o acordo de
delação ameaçado de rescisão. E pelo silêncio dos tribunais e da
Procuradoria-Geral da República (PGR), não há qualquer indicativo de quando
deixará a prisão, e nem sinais de quando o STF decide se manterá ou não o
acordo de delação. A seu lado está o irmão Wesley Batista, com 97 dias de
cárcere.
— Foi o
preso que mais vi chorar. Chorava o tempo todo na custódia. Acho que ele não
acreditava que seria preso. Então, quando se viu na carceragem, bateu o
desespero — conta um policial que acompanhou o empresário nos primeiros
momentos da prisão dele numa cela da PF em Brasília.
Joesley,
Wesley e Ricardo Saud estão numa mesma ala, mas em celas individuais equipadas
com mesa, banco e beliche de concreto. O único item que se contrapõe à dureza
do ambiente são os colchões, fornecidos pelos familiares. Os três
seguem à risca as regras da prisão. Por volta das 8 horas recebem uma caneca de
café com um pão com manteiga. Das 8 às 10 horas e das 16 às 18 horas têm
direito a banho de sol. Segundo um policial, eles fazem exercícios físicos e
até jogam futebol com os demais detentos numa miniquadra no pátio da
carceragem. Quando estão na cela, passam a maior parte do tempo lendo. O contato
com parente acontece em uma ala coletiva. É nesta área que Joesley conversa com
a mulher, a jornalista Ticiana Villas Boas. Segundo um policial, ela visita o
marido todas as quintas-feiras. Na carceragem não há área reservada para
encontros íntimos. Um amigo do empresário diz que Joesley ainda não assimilou
totalmente o fato de estar preso.
Desde o
início, a concessão da imunidade penal aos donos da JBS provocou críticas.
Alguns achavam que era um benefício excessivo a autores confessos de crimes
graves. O barco da delação começou a virar mesmo na noite de 4 de setembro,
quando o então procurador-geral da República Rodrigo Janot veio a público para
denunciar a existência de uma gravação de uma conversa em que Joesley e o
parceiro de delação Ricardo Saud faziam insinuações “muito graves” sobre
integrantes da PGR, sobre ministros do STF e sobre o ex-ministro da Justiça
José Eduardo Cardozo.
Por conta
dos áudios, Joesley e Saud foram acusados de descumprir o acordo de colaboração
e acabaram presos em 10 de setembro, por ordem do ministro Edson Fachin,
relator do caso no STF. Três dias depois, Joesley foi alvo de uma nova ordem de
prisão, desta vez expedida pela Justiça Federal de São Paulo. A ordem era
extensiva também a Wesley. Os dois foram acusados de usar informações
privilegiadas do acordo de delação para ganhar dinheiro no mercado financeiro.
A reviravolta no caso teria levado Joesley à lona. Segundo
este policial, ainda abalado emocionalmente, Joesley contou que só pelo habeas
corpus pagaria R$ 5 milhões a um dos advogados. Seriam R$ 2,5 milhões à vista e
o restante quando saísse cadeia. Logo depois o empresário deixou a cela da PF
em Brasília, mas foi levado para a carceragem da instituição em São Paulo, onde
se encontra até hoje. — Ele
está abatido, magro e sempre com um terço na mão — afirma o interlocutor do
empresário.
O Globo
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