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quinta-feira, 2 de março de 2023

Literatura infantil“A Fantástica Fábrica de Chocolate” é submetido a censura por recomendação de “leitores sensíveis” - Gazeta do Povo

Ideias

A Fantástica Fábrica de Censura - Censura a Roald Dahl

Puffin Books, editora original do famoso livro infantil, alterou o conteúdo das obras do escritor já falecido por orientação de “leitores sensíveis”.| Foto: Reprodução/Martins Fontes

Roald Dahl, britânico autor de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, falecido aos 74 anos em 1990, está tendo seu texto submetido pela editora à interferência póstuma por causa de críticas de “leitores sensíveis” profissionais — que querem alterações que muitos chamariam de politicamente corretas. 
A Puffin Books, selo editorial da gigante Penguin para títulos infantis, fundado em 1940, publicou uma nota discreta em sua página de copyright declarando que seus livros “foram escritos há muitos anos, portanto, nós fazemos revisão regular da linguagem para assegurar que continuem a ser desfrutados por todos hoje”. 
O autor já vendeu mais de 250 milhões de cópias de suas obras no mundo.

Seis outros livros do autor foram afetados pela edição “sensível” além de “A Fantástica Fábrica”, livro publicado originalmente em 1964, com primeira adaptação em filme de 1971 e edições diferentes em português — a reportagem usou a tradução de 2016, da Martins Fontes. O jornal britânico The Telegraph encontrou a nota e publicou uma investigação preliminar das mudanças na última segunda-feira (20). “A linguagem relacionada ao peso, saúde mental, violência, gênero e raça foi cortada e reescrita”, resumiu o jornal. Uma das mais importantes foi no livro “Matilda”(1988): uma menção a outro autor infantil britânico, Rudyard Kipling, uma clara homenagem de Dahl, foi cortada e substituída pela respeitada autora Jane Austen, em nome da diversidade de gênero.

Entre outras mudanças, Augusto Glupe, menino gordo que cai em um rio de chocolate da fábrica porque “só ouvia a voz do seu enorme estômago” e se debruçara na grama “lambendo o chocolate como se fosse um cachorro”, não pode mais ser chamado de “gordo como um balão inflado, tinha o corpo cheio de dobras de banha e seu rosto era uma bola de massa com dois olhinhos espremidos”, como diz a edição original. Agora, em vez de gordo, Augusto é apenas “enorme”. Outra personagem, Violeta Chataclete, que os umpa-lumpas, funcionários da fábrica, chamam em canção de “irritante, feia e nojenta” por mascar chiclete o tempo todo, na nova edição não é chamada de “feia” mais.

O livro “As Bruxas” (1983), que virou filme com Anjelica Huston em 1990 e com Anne Hathaway em 2020, também sofreu alterações. “Grande rebanho de damas” virou “grande grupo de damas”. “Você deve estar louca, mulher!” virou “Você deve ter perdido a cabeça!”. Na edição de 2001, o narrador explica que “Uma bruxa é sempre uma mulher. Não quero falar mal das mulheres. A maioria delas é amável. Mas fato é que todas as bruxas são mulheres. Não existe bruxo homem”. Toda a ressalva a favor das mulheres foi cortada e substituída por “Uma bruxa é sempre mulher. Não existe bruxo homem”.

Quando um menino é transformado em rato pelas bruxas, mais uma vez cortaram o adjetivo “gordo” — e também uma fala dizendo que ele precisa de dieta. Uma descrição da aparência grotesca das bruxas foi completamente eliminada: “Simplesmente não consigo contar o quão horrendas elas eram, de alguma forma a visão era ainda mais grotesca porque por baixo daquelas carecas cheias de feridas os corpos estavam vestidos com roupas da moda e bonitas. Era monstruoso. Era anormal”. O jornal britânico encontrou 59 dessas mudanças na obra.

Em “Matilda”, a censura não gostou que um personagem ficava branco de susto, e trocou por pálido. Também cortou a comparação do rosto de uma mulher ao de um cavalo. Em “James e o Pêssego Gigante” (1961), os “homens das nuvens” tornaram-se “pessoas das nuvens”, a cabeça da Senhorita Aranha não é mais descrita como “preta” a pele de uma minhoca não é mais “de uma linda cor de rosa”, mas “lindamente lisa”. Ao todo, são centenas de mudanças na obra completa.

Os “leitores sensíveis” são de uma organização chamada Inclusive Minds (“mentes inclusivas”), que se descreve como “um coletivo para pessoas que são apaixonadas pela inclusão, diversidade, igualdade e acessibilidade na literatura infantil e estão comprometidas com mudar a cara dos livros infantis”.

Não é a primeira vez que o politicamente correto, especialmente motivado por novas crenças dos movimentos identitários, interfere na publicação de livros.

Como alertou a Gazeta do Povo, trata-se de uma nova onda de censura e já há alvos equivalentes brasileiros, como a obra de Monteiro Lobato.
 

Reações
O escritor Salman Rushdie, ativista da liberdade de expressão que recentemente perdeu a visão de um olho após ser atacado a facadas por um fundamentalista islâmico, condenou a interferência editorial da Puffin: “Roald Dahl não era um anjo, mas isso é uma censura absurda”, tuitou o autor. “A Puffin Books e os administradores do legado de Dahl deveriam ter vergonha”.

(...)

Roald Dahl também foi piloto da aeronáutica britânica durante a Segunda Guerra Mundial. Suas histórias, lembrou o Telegraph, são marcadas por um humor negro apropriado para crianças e reviravoltas surpreendentes, com doses de Schadenfreude (o prazer em ver alguém se dar mal) contra personagens por seu mau comportamento dar em maus resultados.

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Gazeta do Povo - Ideias


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Buscar entendimento? Sobre o quê? Com quem? - Percival Puggina

Em todos os pronunciamentos dos candidatos à presidência da Câmara dos Deputados, ouvi falar em “busca do entendimento”. Enquanto ouvia, lembrei-me de Churchill: “Quanto mais longe você conseguir olhar para trás, mais longe enxergará para frente”. E se o estudo da História para muito me tem servido, há bom lugar nesse conhecimento para a convicção de que com certos adversários não há conciliação possível. Novamente, nas palavras de Churchill: “Um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último dos devorados”. Foi ele, pessoalmente, liderando seu povo, que livrou a humanidade do nazifascismo.

O que estou afirmando não é grito de guerra, mas fé inexorável na democracia, na livre escolha dos povos, na autonomia das nações, na liberdade e nos princípios e valores que a vida me mostrou terem validade comprovada. Quero, portanto, que, no regime democrático, esses valores sejam prevalentes, não sejam derrotados por adversários que transitam pelas páginas da história como os cavalos de Átila.

O discurso do entendimento serve como luva às mãos dos derrotados de 2018. Entre nós, seria o retorno ao ambiente político que vigeu durante mais de duas décadas no Brasil sem encontrar resistência. É fazer de conta que nada aconteceu. Para usar a expressão hoje na moda, é “passar pano”, mas em lixo nuclear!  Qual a vantagem de fazê-lo para “conciliar” com quem, fora do poder, faz oposição contando caixinhas de chiclete e latinhas de leite condensado? Valha-me Deus!  
 
Não pode haver entendimento entre tão diferentes visões de mundo, de pessoa humana, de liberdade, de sociedade, de valores, de princípios, de Estado, de funções de poder. Pergunto: não passaram ao controle dos ministérios da verdade (profetizados por George Orwell) e criados pelas Big Techs, as redes sociais que democratizavam a comunicação? 
Não notamos qualquer semelhança entre as orientações da Netflix e da Globo?  
Estamos satisfeitos com o que está sendo produzido, aqui, pelo sistema de ensino em geral e pelas nossas universidades em particular? Mil vezes não.

Portanto, a disputa política é disputa necessária, indispensável. Não por acaso, ocorre em todas as democracias do Ocidente. Recentemente foi assim nos Estados Unidos. Com diferentes qualidades de conteúdo, vem sendo assim em países como Itália, Espanha, Áustria, Portugal, Polônia, Hungria, República Tcheca, Finlândia, Letônia, Eslováquia, Bulgária. E Suécia, e Alemanha, e Chile. É uma percepção das democracias ocidentais.

Quem vê suas liberdades ameaçadas, suas opiniões censuradas no que já foi um espaço de liberdade, sua cultura sendo deliberadamente destruída, não cede poder para um entendimento impossível. No Brasil, isso representa o retorno ao período anterior a 2014, quando perdíamos por W.O.. Sequer comparecíamos à disputa.

Por fim, veja o que está acontecendo com a evasão para novas redes sociais que se anunciam como espaços de liberdade. Também isso é sinal dessa divisão que tem longa data e validade, cujo reflexo, em regime democrático, conduz à vitória eleitoral de um ou de outro lado. Pode ser que um dia, olhando para trás, aprendendo com o passado, vendo o mal feito e o bem conquistado, possamos, como Churchill, enxergar para frente. E formarmos consensos razoáveis. Divisão, contudo, sobre algo, ou em relação a alguém, sempre haverá.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.