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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Buscar entendimento? Sobre o quê? Com quem? - Percival Puggina

Em todos os pronunciamentos dos candidatos à presidência da Câmara dos Deputados, ouvi falar em “busca do entendimento”. Enquanto ouvia, lembrei-me de Churchill: “Quanto mais longe você conseguir olhar para trás, mais longe enxergará para frente”. E se o estudo da História para muito me tem servido, há bom lugar nesse conhecimento para a convicção de que com certos adversários não há conciliação possível. Novamente, nas palavras de Churchill: “Um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último dos devorados”. Foi ele, pessoalmente, liderando seu povo, que livrou a humanidade do nazifascismo.

O que estou afirmando não é grito de guerra, mas fé inexorável na democracia, na livre escolha dos povos, na autonomia das nações, na liberdade e nos princípios e valores que a vida me mostrou terem validade comprovada. Quero, portanto, que, no regime democrático, esses valores sejam prevalentes, não sejam derrotados por adversários que transitam pelas páginas da história como os cavalos de Átila.

O discurso do entendimento serve como luva às mãos dos derrotados de 2018. Entre nós, seria o retorno ao ambiente político que vigeu durante mais de duas décadas no Brasil sem encontrar resistência. É fazer de conta que nada aconteceu. Para usar a expressão hoje na moda, é “passar pano”, mas em lixo nuclear!  Qual a vantagem de fazê-lo para “conciliar” com quem, fora do poder, faz oposição contando caixinhas de chiclete e latinhas de leite condensado? Valha-me Deus!  
 
Não pode haver entendimento entre tão diferentes visões de mundo, de pessoa humana, de liberdade, de sociedade, de valores, de princípios, de Estado, de funções de poder. Pergunto: não passaram ao controle dos ministérios da verdade (profetizados por George Orwell) e criados pelas Big Techs, as redes sociais que democratizavam a comunicação? 
Não notamos qualquer semelhança entre as orientações da Netflix e da Globo?  
Estamos satisfeitos com o que está sendo produzido, aqui, pelo sistema de ensino em geral e pelas nossas universidades em particular? Mil vezes não.

Portanto, a disputa política é disputa necessária, indispensável. Não por acaso, ocorre em todas as democracias do Ocidente. Recentemente foi assim nos Estados Unidos. Com diferentes qualidades de conteúdo, vem sendo assim em países como Itália, Espanha, Áustria, Portugal, Polônia, Hungria, República Tcheca, Finlândia, Letônia, Eslováquia, Bulgária. E Suécia, e Alemanha, e Chile. É uma percepção das democracias ocidentais.

Quem vê suas liberdades ameaçadas, suas opiniões censuradas no que já foi um espaço de liberdade, sua cultura sendo deliberadamente destruída, não cede poder para um entendimento impossível. No Brasil, isso representa o retorno ao período anterior a 2014, quando perdíamos por W.O.. Sequer comparecíamos à disputa.

Por fim, veja o que está acontecendo com a evasão para novas redes sociais que se anunciam como espaços de liberdade. Também isso é sinal dessa divisão que tem longa data e validade, cujo reflexo, em regime democrático, conduz à vitória eleitoral de um ou de outro lado. Pode ser que um dia, olhando para trás, aprendendo com o passado, vendo o mal feito e o bem conquistado, possamos, como Churchill, enxergar para frente. E formarmos consensos razoáveis. Divisão, contudo, sobre algo, ou em relação a alguém, sempre haverá.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Para historiador, comparação de Bolsonaro a nazifascismo é indevida - Valor Econômico

Fernando Taquari - De São Paulo

Historiador diz que forças progressistas têm dificuldade de entender fenômeno bolsonarista

O autoritarismo representa a melhor definição para o governo Bolsonaro e as comparações com o fascismo e o nazismo, do ponto de vista teórico, correspondem, por ora, a um exagero. Essa é a opinião do historiador Antonio Pedro Tota, da PUC-SP. As associações entre o bolsonarismo e o nazismo voltaram à tona após a demissão de Roberto Alvim da Secretaria de Cultura, na esteira de um vídeo com declarações reproduzidas de um discurso de Joseph Paul Goebbels, ministro da Propaganda nazista.

Em sua avaliação, o termo fascista tem sido utilizado sem a devida compreensão
A gestão de Bolsonaro, segundo o professor, deve ser classificada como reacionária e de extrema direita. 
Autor de diversos livros, como “O Imperialismo Sedutor” e “O Amigo Americano”, Tota diz que falta ao presidente uma estrutura partidária organizada para simbolizar uma ameaça a ponto de ser comparado ao nazismo. Ele aponta que os evangélicos, em sua maioria apoiadores do governo, podem oferecer essa estrutura partidária ao bolsonarismo, mas refuta comparações entre a atuação das igrejas e o Partido Nacional Socialista Alemão.

Tota lembra que a SA - uma milícia militar nazista - tinham uma atuação social que oferecia aos desamparados uma sensação de pertencimento, mas o paralelo termina aí: “Não quero comparar evangélicos aos nazistas. Há grandes diferenças”, afirma. Ele pontua que “os evangélicos querem aumentar cada vez mais sua bancada e a influência no Congresso”. “Não sei se conseguem fazer um partido, mas podem aderir ao Aliança pelo Brasil, em construção pelos aliados do presidente”, acrescenta. Apesar das distinções, Tota enxerga pontos em comum entre o bolsonarismo e os regimes de Adolf Hitler e Benito Mussolini. Para ele, Bolsonaro atua politicamente mais com a emoção e contra a razão, que é a marca do fascismo e, sobretudo do nazismo. O professor pondera, porém, que o presidente pode inaugurar, envolto em um viés autoritário, um novo tipo de governismo, acuando cada vez mais outros Poderes.

Em meio às aulas, o professor tem se dedicado a escrever mais um livro: “1945, o Ano sem fim”. A ideia, afirma Tota, que se especializou em história contemporânea, com ênfase no processo de americanização da América Latina, é mostrar que continuamos hoje presos ao que aconteceu naquele ano, quando o então presidente Getúlio Vargas foi deposto pelos militares e encerrou o chamado Estado Novo, que identifica como um período autoritário. Em sua pesquisa, o historiador de 77 anos encontrou um documento no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), no Rio, com uma carta do educador e intelectual Anísio Teixeira, de abril de 1945, em que ele diz que as forças progressistas do país, com o fim do Estado Novo, perderam a oportunidade de se unir e que cada vez que se chegou perto desta união houve um boicote. Ele faz um paralelo com a situação atual.

Veja a seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: A demissão de Alvim da Secretaria de Cultura determina um limite do que é inaceitável?
Antonio Pedro Tota: No fim, pesou a pressão da comunidade judaica. A atriz Regina Duarte, que deve substituir Alvim, não apoia essa política. A maior parte das pessoas que votaram em Bolsonaro não faz a menor ideia de quem seja Goebbels e desconhece o que era o nazismo. Eles falam em comunismo, embora não tenham também ideia do que é, por conta da retórica de Bolsonaro. Ser anticomunista hoje é moleza. Você está chutando cachorro morto.

Valor: Como o senhor viu a reprodução de um discurso nazista? [foi reproduzida uma ínfima parte do discurso - os opositores ao governo Bolsonaro e que transformaram uma poucas linhas em quase um livro - sem transcrever, já que seriam desmascarados a uma simples comparação.]
Tota: Alvim não reproduziu o discurso de qualquer nazista. Ele escolheu Goebbels, o grande ideólogo da perspectiva de como organizar um partido pela propaganda. No filme “Triunfo da Vontade”, de Leni Riefenstahl, que retrata o 6º Congresso do Partido Nazista, há uma passagem do discurso de Goebbels em que ele fala que era muito melhor você conquistar o coração de um povo pelas palavras do que usar uma arma. Naquele momento, eles estavam no poder há um ano e oito meses e já tinham conquistado o coração do povo alemão. Ainda falta muito para nos aproximarmos do nazismo, o que não deixa de ser perigoso. Mas não sei se o governo Bolsonaro está conquistando o coração dos brasileiros. Conquistou o de uma parcela.

Valor: O vídeo de Alvim e outros gestos do governo Bolsonaro legitimam a tese daqueles que falam em uma gestão fascista ou nazista?
Tota: Usa-se hoje com muita facilidade a palavra fascismo. É evidente que o Alvim tem essa tendência autoritária, ele pode ser rotulado de fascista, mas, até onde sei, não tem a teoria fascista escorando-o. A questão importante aqui é que Goebbels tinha um grande partido por trás do nazismo. O bolsonarismo não tem. Isso, talvez, seja um perigo, já que esse autoritarismo pode se disseminar sem uma organização. A organização do Partido Nazista era impecável e deu uma identidade para aquele montante de desempregados existente na Alemanha entre 1929 e 1933. Muitos se filiaram porque a SA dava sopa, uniforme, dinheiro, cigarro e, principalmente, a camaradagem e a sensação de pertencimento. As igrejas evangélicas, no caso brasileiro, cumprem esse papel. As pessoas conseguem até deixar as drogas quando são acolhidas. Não quero comparar evangélicos aos nazistas. Há grandes diferenças.

Valor: O senhor quer dizer que os evangélicos podem ajudar o bolsonarismo a criar um grande partido?
Tota: Eles podem oferecer ao bolsonarismo uma identidade partidária. Repare que eles querem aumentar cada vez mais sua bancada e a influência no Congresso. Não sei se conseguem fazer um partido próprio, mas podem aderir ao Aliança pelo Brasil, em construção pelos aliados do presidente da República.

Valor: Seria anacrônico, portanto, falar em fascismo ou nazismo no Brasil de hoje? O governo Bolsonaro representaria um outro tipo de autoritarismo?
Tota: O autoritarismo cabe melhor ao nosso caso atual. Já cometemos o erro de chamar o governo de Getúlio Vargas, entre 1937 e 1945, de nazista e totalitário. Não era nazista e tampouco totalitário. Era autoritário. O partido dele era fardado, o Exército que o sustentava. Numa conversa informal você até pode falar que o governo Bolsonaro é fascista. Mas pensar teoricamente como um governo fascista é um exagero. Diria até que é uma forma apressada e preguiçosa de classificar os eleitores do Bolsonaro.

Valor: Qual seria a melhor definição para este governo?
Tota: É um governo de extrema direita e reacionário. Não é um governo conservador. Muitos governos conservadores têm uma formação intelectual mais acurada. Basta lembrar de Winston Churchill. O curioso é que as forças progressistas estavam cegas e não faziam ou não fazem essa distinção. Por isso que o antipetismo se organizou via redes sociais. Foi nessa brecha que apareceu o Bolsonaro. As forças progressistas não conseguiram ainda entender isso.

Valor: O senhor acredita que o bolsonarismo veio para ficar?
Tota: É uma impressão. Bolsonaro vai testar cada vez mais as instituições. Mas não acho que sejam tão habilidosos politicamente. Como Alvim, este governo acredita mais nessa coisa emocional do que racional. O bolsonarismo é disperso e espontâneo, embora a administração nazista da Alemanha também tenha sido meio anárquica. Funcionava na fórmula erro e acerto, .....


Em Política, Valor Econômico,  leia MATÉRIA COMPLETA


quarta-feira, 19 de junho de 2019

A coisa ficou russa para o Crime Institucionalizado

Mamãe era comunista... Só que tinha uma bronca terrível da falecida União Soviética... A Maria da Conceição chamava o regime russo de “Ditadura Assassina que cuidava de um Monstro Estatal”... Ela me ensinou isto quando tinha 13 anos de idade... Perdi minha mãe aos 14, e não tive outro jeito na vida a não ser estudar muito – principalmente História... Dediquei muita leitura ao Nazifascismo, ao Comunismo e ao nosso Estado Novo. Em resumo, tomei aversão de autoritarismo e totalitarismo, sob controle estatal centralizadíssimo, quase imperial.

Bruzundanga parece a réplica mais que imperfeita e tropical da extinta (?) União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Vivemos em um País Capimunista. Somos hoje a resultante de uma mistura doida do modelo gerado a partir do Estado Novo da Era Vargas – que tentou organizar, pela via autoritária, uma República que não conseguiu ser implantada, de verdade, pelo golpe militar que derrubou o Império em 15 de novembro de 1889 – com a influência de idéias e práticas socializantes da mais estúpida “estadodependência”. Toda esta mistura sob a polarização extremista mais idiota do universo...

Além dessa radicalização, a novidade trágica do momento presente é o emprego cínico da ideologia para “justificar” privilégios estatais e a roubalheira institucionalizada. Outra boa nova é que os segmentos esclarecidos da sociedade já percebem como funciona tal mecanismo. Os prejudicados demandam um ataque direto a quem usa a política como meio criminoso. Melhor que tudo isso são as novas ideias e práticas que vão surgir a partir dos embates radicalóides. Extremos jurássicos fazem o papel de Imbecis da História, com tendência de autodestruição até a extinção.

Por isso, a gente só pode rir até renascer com a notícia de que a ex-Presidenta Dilma Rousseff, e a Presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, fizeram uma visita “secreta” à Rússia, entre os dias 4 e 5 de junho. As kamaradas tupiniquins se reuniram com dirigentes do velho Partido Comunista Russo. O curioso é que o fato aconteceu cinco dias antes do IntercePT Glenn Greenwald veicular seus ataques criminosos, vazando conversas espionadas sobre o Telegram de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e demais integrantes da Força Tarefa da Lava Jato. A aventura russa é noticiada em http://duma.gov.ru/en/news/45218/         

Ainda bem que o #PavãoMisterioso revelou que tudo foi captado pelo hacker russo Evgeniy Mikhailovich Bogachev, também conhecido como Slavic. O cara, um dos mais procurados do mundo, agiria, movido a muita grana em criptomoedas, em favor do serviço secreto russo. Slavic teria recebido 84 BTC (Bitcoins) que foram convertidos para US$ 308 mil e enviados para um banco no Panamá, convertido para Ethereum e de lá para contas na Rússia e China. Os russos devem ser muito otários em acreditar que Dilma e Gleisi tenham competência e condições de retomar o projeto de implantação do socialismo/comunista no Brasil. Será que as bruxas da petelândia conseguiram enganar os comunas velhacos da extinta União Soviética? É ruim... Ainda mais que o comunismo criminoso nunca esteve tão em baixa e tão bem combatido pela Lava Jato e afins.

A Polícia Federal do Brasil vai pegar pesado contra o esquema IntercePT e facção criminosa esquerdista vai se desmoralizar ainda mais... O que se espera é que os segmentos conservadores não insistam na tática errática de combater os idiotas com as próprias armas deles, apenas ampliando o clima de radicalização no Brasil, sem apontar e colocar em prática soluções alternativas ao Capimunismo Rentista, Criminoso e “Estadodependente”.

Felizmente, a coisa está russa para o Crime Institucionalizado no Brasil. A Política precisa ser saneada, pois não pode ficar, por muito mais tempo, como uma “questão de polícia”. O que vem por aí, na guerra de todos contra todos, será maravilhoso para o presente-do-futuro no Brasil. Militantes meliantes, vocês vão se ferrar...

Resumindo: Quem tentou sabotar a Lava Jato parece que conseguiu fortalecer o combate ao Crime Institucionalizado. Parabéns, Kamaradas!!!  Aliás, o comunismo internacional vai mesmo à falência completa... Imagina  depender da competência da Dilma e da Gleisi para avançar... Lênin já rolou 13 vezes no túmulo, de tanta vergonha... 
 
 

Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net

Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

 

 

sábado, 30 de março de 2019

Em cerimônia de 30 minutos, comando do Exército ‘relembra momento cívico-militar’ de 64

[Em cerimônia com duração de 30 minutos,  militares comemoraram na sexta, dia 29, o Movimento Revolucionário de 31 de março de 1964]

Cerimônia no pátio do Comando Militar do Planalto contou com 350 oficiais; no Palácio da Alvorada, Bolsonaro participou de cerimônia

 

 Atendendo à determinação do presidente Jair Bolsonaro, o Exército realizou nesta sexta-feira cerimônia para “rememorar” os 55 anos do golpe militar de 31 de março de 1964. O ato realizado no pátio do Comando Militar do Planalto começou às 8 horas e durou exatos 30 minutos. O golpe , nas palavras do mestre de cerimônias do evento, virou um “momento cívico-militar”. O aniversário do 31 de março foi “relembrado”, segundo as palavras usadas no evento.

O comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, e outras autoridades da Força participaram do ato, que contou com cerca de 350 militares, das mais diferentes unidades do Comando Militar do Planalto. Estavam representados o Batalhão da Guarda Presidencial, os Dragões da Independência, o Grupo de Artilharia de Campanha e o Batalhão de Polícia do Exército, entre outros.

Também na manhã desta sexta-feira, antes de cumprir agenda oficial, o presidente Jair Bolsonaro participou de uma cerimônia de hasteamento da bandeira no Palácio da Alvorada. O ato não consta na agenda do presidente.  No Comando Militar do Planalto, depois de receber Pujol para “relembrar o 55º aniversário do movimento cívico-militar de 31 de março de 1964”, os militares cantaram o hino nacional. Em seguida, foi feita a leitura, por uma mulher, da chamada ordem do dia, o texto escrito pelo ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, para relembrar o golpe de 64. O ministro não participou da cerimônia.

As tropas, então, entoaram a canção do Comando Militar do Planalto e desfilaram no pátio da unidade, acompanhados sempre de uma banda. A cerimônia foi encerrada ao fim do desfile.  O ato foi realizado mesmo com as recomendações do Ministério Público Federal (MPF) para que o golpe de 1964 não fosse comemorado. [comentário 1:o MPF precisa se conter dentro dos limites que a Constituição impõe; e 'comandar' as Forças Armadas é uma honra que está fora dos limites - até mesmo Nos maiores devaneios dos membros do MPF;

expedir recomendações para as Forças Armadas é algo completamente sem noção, ofensivo mesmo, visto que partiu de pessoas que tem a OBRIGAÇÃO DE CONHECER E RESPEITAR a CONSTITUIÇÃO FEDERAL.]

Pujol e os comandantes das outras Forças, Aeronáutica e Marinha, foram oficiados para que deixassem de comemorar ou homenagear o golpe.  
O mesmo ocorreu com os líderes de comandos e quartéis país afora.
Depois da recomendação, Pujol alterou o termo escrito em sua agenda pública: saiu “solenidade comemorativa” e entrou “solenidade alusiva” a 64.

O texto do ministro da Defesa está publicado no site do ministério desde as 17 horas de quarta-feira. É assinado pelo ministro e pelos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica. No documento, destinado aos comandantes de quartéis, a cúpula das Forças Armadas fala em “transição para uma democracia” no fim da ditadura, contrariando o tom adotado pelo próprio presidente em relação ao período de regime militar, entre 1964 e 1985.
“Em 1979, um pacto de pacificação foi configurado na Lei da Anistia e viabilizou a transição para uma democracia que se estabeleceu definitiva e enriquecida com os aprendizados daqueles tempos difíceis”, cita a chamada ordem do dia prevista para esta sexta-feira, quando se completam 55 anos do golpe militar. “As lições aprendidas com a História foram transformadas em ensinamentos para as novas gerações. Como todo processo histórico, o período que se seguiu experimentou avanços”, prossegue o texto.

Tom de “revanchismo”
Generais que receberam o texto assinado pelo ministro da Defesa e pelos comandantes das três Forças afirmam que o documento é marcado pela “sobriedade”, por ter uma perspectiva “histórica” e por inexistir um tom de “revanchismo”.
“As Forças Armadas participam da história da nossa gente, sempre alinhadas com as suas legítimas aspirações. O 31 de Março de 1964 foi um episódio simbólico dessa identificação, dando ensejo ao cumprimento da Constituição Federal de 1946, quando o Congresso Nacional, em 2 de abril, declarou a vacância do cargo de presidente da República e realizou, no dia 11, a eleição indireta do presidente Castello Branco, que tomou posse no dia 15”, afirmam ministro e comandantes das Forças no primeiro parágrafo do texto, sem citar a movimentação de militares para derrubar o presidente João Goulart, que precedeu os atos do Congresso. “Enxergar o Brasil daquela época em perspectiva histórica nos oferece a oportunidade de constatar a verdade e, principalmente, de exercitar o maior ativo humano – a capacidade de aprender.”

O texto faz um apanhado da “formação da nacionalidade” brasileira e cita a existência de “avanço de ideologias totalitárias” no mundo, no contexto das Guerras Mundiais. “Como faces de uma mesma moeda, tanto o comunismo quanto o nazifascismo passaram a constituir as principais ameaças à liberdade e à democracia. Contra esses radicalismos, o povo brasileiro teve que defender a democracia com seus cidadãos fardados”, afirma a ordem do dia a ser lida na cerimônia pelo golpe de 64.
“A polarização provocada pela Guerra Fria, entre as democracias e o bloco comunista, afetou todas as regiões do globo, provocando conflitos de natureza revolucionária no continente americano, a partir da década de 1950”, prossegue o documento. “O 31 de março de 1964 estava inserido no ambiente da Guerra Fria, que se refletia pelo mundo e penetrava no País. As famílias no Brasil estavam alarmadas e colocaram-se em marcha. Diante de um cenário de graves convulsões, foi interrompida a escalada em direção ao totalitarismo. As Forças Armadas, atendendo ao clamor da ampla maioria da população e da imprensa brasileira, assumiram o papel de estabilização daquele processo.”

Depois de ocorrer uma “transição para uma democracia”, a partir da Lei de Anistia, as Forças Armadas passaram a “acompanhar” as mudanças em curso, segundo o texto do ministro e dos comandantes. “Em estrita observância ao regramento democrático, vêm mantendo o foco na sua missão constitucional e subordinadas ao poder constitucional, com o propósito de manter a paz e a estabilidade, para que as pessoas possam construir suas vidas.”
Exército, Marinha e Aeronáutica reconhecem, 55 anos depois, o papel de quem agiu “conforme os anseios da Nação Brasileira”, afirma o texto. “Mais que isso, reafirmam o compromisso com a liberdade e a democracia, pelas quais têm lutado ao longo da História”, conclui.

‘Gravidade constitucional’
A determinação de Bolsonaro para que as Forças Armadas comemorem o golpe, o que depois o presidente chamou de “relembrar” , foi duramente criticada por MPF, Defensoria Pública da União e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Numa nota pública , a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), vinculada à Procuradoria-Geral da República (PGR), afirma que a defesa de crimes constitucionais e internacionais como um golpe militar – pode se caracterizar um ato de improbidade administrativa. [comentário 2: agora é cada Comandante aguardar que algum subcomitê de boteco da ONU, decrete a prisão deles - lembrando, por oportuno, que a DECISÃO JUDICIAL em nenhum momento foi descumprida.]


Os procuradores federais dos Direitos do Cidadão afirmam “confiar” que as Forças Armadas e “demais autoridades militares e civis” deixarão de celebrar o golpe militar de 1964 e cumprirão seus “papéis constitucionais” na defesa do Estado Democrático de Direito. “Seria incompatível com a celebração de um golpe de Estado e de um regime marcado por gravíssimas violações aos direitos humanos.”

Se a recomendação de Bolsonaro para que se comemore o golpe tem sentido de “festejar”, trata-se de um ato de “enorme gravidade constitucional”, conforme a PFDC. “O golpe de Estado de 1964, sem nenhuma possibilidade de dúvida ou de revisionismo histórico, foi um rompimento violento e antidemocrático da ordem constitucional. Se repetida nos tempos atuais, a conduta das forças militares e civis que promoveram o golpe seria caracterizada como crime inafiançável e imprescritível de atentado contra a ordem constitucional e o Estado Democrático previsto na Constituição.”

O colegiado vinculado à PGR lembra que a Comissão Nacional da Verdade foi instituída por lei e seu relatório final, concluído no fim de 2014, é a versão oficial do Estado sobre o que aconteceu nos 21 anos de ditadura militar. “Nenhuma autoridade pública, sem fundamentos sólidos e transparentes, pode investir contra as conclusões da comissão, dado o seu caráter oficial”, diz a nota da PFDC. [comentário 3: os integrantes da tal Comissão da INverdade deveriam estar todos presos, afinal falsificar documentos oficiais é crime e o fato de ser documento oficial é agravante.] 
 
Agentes da ditadura mataram ou fizeram desaparecer 434 opositores do regime e 8 mil indígenas, como cita a PFDC. Entre 30 mil e 50 mil pessoas foram presas ilicitamente e torturadas, afirma o colegiado. “Esses crimes bárbaros (execução sumária, desaparecimento forçado de pessoas, extermínio de povos indígenas, torturas e violações sexuais) foram perpetrados de modo sistemático e como meio de perseguição social. Não foram excessos ou abusos cometidos por alguns insubordinados, mas sim uma política de governo, decidida nos mais altos escalões militares, inclusive com a participação dos presidentes da República.”

O Globo
 

quarta-feira, 6 de março de 2019

O general diz que sua função no governo é assegurar a estabilidade, cutuca o filósofo Olavo de Carvalho e confessa que não liga para as redes sociais

SAIU DE CENA o general que em 2015 chamou a eventual queda da então presidente Dilma Rousseff "descarte da incompetência, má gestão e corrupção". E que, dois anos depois, acusou governo de Michel Temer- de ser "um balcão de negócios". Em seu lugar, entrou em cena o político de terno bem cortado, autor de declarações que colidem com o que diz e pensa seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro.


A Venezuela pega fogo? 
"É problema dos venezuelanos, não vamos nos meter", disse ele. Jean Wyl]is renunciou ao mandato de deputado pelo PSOL por se sentir ameaçado? "Lamento, pois numa democracia lodo mundo tem o direito de defender suas ideias", decretou Antonio Hamilton Mourão, de 65 anos, torcedor do Flamengo e jogador de vôlei, está à vontade no cargo de vice-presidente, e com a corda toda. A seguir, sua entrevista.


O senhor acaba de participar na Colômbia de uma reunião sobra a Venezuela. A crise venezuelana tem jeito?

Tem. E passa pela saída de Maduro e sua turma mais próxima. Em seguida, por meio de eleições livres, justas e sob supervisão internacional, os venezuelanos escolherão seu novo presidente. A não ser assim, a crise ainda se arrastará por muito tempo.

O senhor achou desleal e vazamento dos áudios trocados por Gustavo Bebianno  e o presidente?

Conversas íntimas são intimas. Se Bebianno queria provar que se comunicara como presidente, poderia ter escolhido outro diálogo qualquer para divulgar. Aquele sobre a Amazônia, por exemplo, em que o presidente cancela urna viagem à região. E não uma conversa em que o presidente se refere a uma rede de televisão (a Rede Globo).

O presidente não teria sido desleal antes, ao chamar seu ministro de mentiroso em público?

No momento da troca de mensagens, o presidente se recuperava de urna cirurgia. Estava sob o efeito de antibióticos fortes. Não era momento para discussões.


Até quando os filhos do presidente se meterão em assuntos do governo?

A família do presidente é muito unida por tudo o que enfrentou. Com ele em forma, cada filho entenderá o tamanho da cadeira que tem.


É certo que uma pessoa vá despachar com o presidente e encontre ali um de seus filhos?

Se o assunto a ser despachado for sigiloso, acredito que o presidente não permitirá a presença do filho.


A atuação dos filhos preocupa a ala militar do governo?

A grande preocupação que temos é que o governo realize aquilo a que se propôs. Que não se perca num emaranhado de questões menores. Que se concentre no que de fato é relevante.


O senhor já conversou com o presidente sobre a questão dos filhos?

Não. Desde que sofreu o atentado, o presidente tinha uma situação de saúde difícil, com risco de vida, e a família se aproximou muito dele. Era a defesa do patriarca. Agora, ao ver que o pai está bem, cada um dos filhos cuidará de suas atividades. Se a partir de agora ocorresse algo distinto, aí seria o caso de eu conversar com ele.


Esgotou-se a crise provocada pelo episódio que envolveu Bebianno e o presidente?

Sem dúvida. Acho que há um espírito crítico muito aguçado sobre o nosso governo, principalmente em tomo da figura do presidente. Desde o primeiro dia é urna cobrança para que tudo seja resolvido logo, como se tivéssemos urna varinha de condão. Estão aí o projeto da nova Previdência, o do combate ao crime e ã corrupção. Acho natural a pressão sabre o governo, mas o episódio Bebianno acabou.

"Agora, ao ver que o pai está bem, cada um dos filhos cuidará de suas atividades. Se a partir de agora ocorresse algo distinto, aí sena o caso cie eu conversar com ele"


A cobrança não acontece com todos os governos?

Acompanho o trabalho dos analistas. Mas o que disseram sobre a eleição do presidente do Senado? Que se Renan Calheiros fosse eleito seria ruim para o governo. Ele perdeu. O que passaram a dizer? Que a derrota dele seria ruim para o governo. Nossos analistas ainda estão querendo entender o que se passa. Por exemplo: a história de ala militar do governo. Não tem, não tem grupo militar.


Não tem?

Existem militares que foram selecionados pelo presidente. Eu me coloco fora disso. Fui eleito junto com ele. Nada tenho a ver com o pacote grupo militar. O general Augusto Heleno também não, porque ocupa cargo destinado à militar. Você sempre poderá dizer que o general Fernando Azevedo e Silva, da Defesa, ocupa um cargo que na maioria das vezes pertenceu a um civil, Mas ali ele não é um estranho no ninho. Parece até que os militares se reúnem todo dia e perguntam: "E ai, o que vamos fazer agora?". Não existe isso.


O presidente consulta os militares antes de tomar uma decisão?

Não, não. A imprensa está criando uma tutela que não existe.


Nos três últimos governos do período militar havia, em cada um deles, sete ministros militares em cargos tradicionalmente destinados a civis. Agora, são oito.

O presidente é oriundo do meio militar. A relação com seus auxiliares mais próximos é de confiança. Tenho confiança em fulano, vou botar o fulano. O que acontecia antes? Você pegava o ministério A e o entregava ao partido B. E seguia o baile. Era assim que funcionávamos.


°General Eduardo Villas Boas disse que é preciso separar o Exército do governo.

Concordo com ele. O Exército continua a cumprir sua missão constitucional.


Para quem está de fora é difícil achar que governo e Exército seguem separados.

Tem de ser visto assim, cada um do seu lado.


Se o governo der errado, o fracasso poderá respingar nas Forças Armadas?

Risco há, mas as Forças Armadas sempre serão unia instituição permanente. Devido a erros recentes, criou-se a mentalidade de que a correção de rumos só se daria por meio de um grupo militar. Ela ocorrerá, sim, pela ação dos brasileiros de bem.


O senhor recebe com frequência pessoas das quais o presidente prefere manter distância. Qual é a Ideia?

O presidente, assim como eu, tem urna visão clara: fomos eleitos para governar para o pais todo. Hoje eu me vejo como uma pessoa que pode receber muita gente, estabelecei ido assim um diálogo. O presidente é mais ocupado, tem de tornar decisões o tempo todo.


Isso cria ruído entre o senhor e o presidente?

Não. Eu recebo as pessoas, sias demandas, e as que considero justas encaminho aos ministérios competentes, ou então vou conversar com o presidente a respeito.
 

Por que o presidente se mantém afastado de mídia ou de parte dela?

Parte da mídia nunca foi condescendente com o presidente. Tratou-o até com certo sarcasmo, como uma figura folclórica. Ele não é isso. Sempre foi um homem de ideias, quer você concorde ou não com elas. Ele ainda está magoado. Só o tempo poderá resolver.


O senhor não tem mágoa?

Nunca sofri as críticas que ele sofreu. Às vezes falam, basta olhar as redes sociais. Mas não dou bola para isso.


Trump e Bolsonaro dão, não?

Esse ainda é um caminho que está sendo descoberto. As redes sociais viraram o que era o sonho da esquerda: a democracia direta.


Até que a esquerda perdeu a hegemonia nas redes.

Na verdade, ela não tinha hegemonia nas redes. Tinha na grande imprensa, por questões que não seria o caso de discutirmos aqui. As redes sociais permitem que todos escrevam. Não sou fã delas. Estou no Twitter, porque é aquela história: se você não pode com ele, una-se a ele. Tenho um assessor que se encarrega de postar. Mas tudo o que sai ali é sob minha supervisão. Às vezes, respondo a comentários.


O senhor exclui comentários incômodos?

Não, deixo lá. Não estou preocupado com essas coisas.


Nem com os comentários do filósofo Olavo de Carvalho?

Olavo nunca se sentou para conversar comigo. Nunca li livro dele, mas li artigos em jornais. Em determinado momento no Brasil, ele era o único cara que tinha um pensamento de direita.


O senhor gostava do que lia?

De algumas coisas, sim. Outra, eu achava que ele estava muito além do jardim...

Olavo de Carvalho emplacou dois ministros no governo e faz a cabeça dos filhos do presidente e até a dele mesmo. 0 senhor não o subestima?


Não é questão de subestimar. Olavo arrumou aí, em linguagem militar, uma via de acesso por onde progride, conquista adeptos, os filhos do presidente gostam dele... É urna questão de gosto.


O senhor e o presidente conversam muito?

Durante a campanha, ele passou boa parte do tempo no hospital ou em recuperação. Depois da posse, viajou e novamente se hospitalizou. Trocamos mensagens pelo celular. Não gosto de perturbá-lo. Prefiro manter uma posição mais recuada, e, quando ele precisa ou eu adio que devo ir lá, vou. Várias vezes, sozinhos, já tivemos longas conversas.


O presidente não poderia aproveitar melhor o senhor?

Na primeira reunião depois da nossa vitória, ele perguntou se eu não queria um ministério. Não quis. Até para que ele pudesse compor o governo de maneira mais ampla. A figura do vice existe para assegurar a estabilidade. À medida que for necessário, o presidente poderá me delegar missões. Estou naquilo que em linguagem militar se chama "dispositivo de expectativa".
 

"Parte da mídia nunca foi condescendente com o presidente. Tratou-o até com certo sarcasmo, como uma figura folclórica. Ele não é isso. Ele ainda está magoado"

O senhor gostou de trocar a farda pelo terno de politico?

Meu tempo de Farda havia se esgotado. Foram 51 anos usando uniforme.
Quando terminar o mandato. pretende continuar na politica?
Vamos ver o que acontecerá daqui para a frente. Se o presidente prosseguir...


E se não?

Se ele não prosseguir, acho que terminarei por aqui A renovação é importante.


A democracia brasileira está forte ou inspira cuidados?

Forte. A democracia liberal enfrentou e venceu a crise dos impérios na I Guerra, o nazifascismo na II Guerra, o comunismo, e agora vive a crise da sociedade de consumo, da comunicação ampla, da queda de todas as fronteiras. A nossa, em particular, tem dado mostras de sua força. Veja o que enfrentamos nos últimos tempos.  E todas as crises foram resolvidas dentro dos limites do nosso sistema.


E assim continuará?

É claro. Sou crítico de várias coisas. Do nosso sistema político. Do partidário, que é uma zorra. Deveríamos ter partidos políticos que representassem as várias correntes de pensamento, e ai estaríamos até mais fortes.


O PT fez boas coisas pelo Brasil?

Vamos colocar assim... A parcela boa do PT tem o pensamento voltado para a solução dos problemas sociais, apesar de eu não concordar com ela em tudo. Você não tem de dar esmola, mas capacitar as pessoas oferecendo-lhes saúde, educação de qualidade. Não adianta querer fazer tudo por decreto, achar que todos serão felizes, porque os seres humanos são diferentes. Assistencialismo apenas não resolve.


VEJA – Entrevista General-de-Exercito Hamilton Mourão - Transcrita do site DefesaNet



sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Riscos à democracia

Manipulando assim os medos e promovendo desinformação, candidatos podem ter acesso estável ao poder, sem ter que liderar um processo de melhoria expressiva e não excludente de seus países


Na semana passada, tivemos o primeiro debate entre candidatos à Presidência na televisão, um embate que foi percebido pela imprensa e por boa parte dos telespectadores como morno ou desprovido de propostas concretas.   O ponto alto, nos comentários das redes sociais, foi um tal dePlano Ursal”, que, segundo um dos candidatos, estaria pondo em risco a nação por propor o fim das fronteiras e uma pretensa união das repúblicas socialistas da América Latina.

As postagens jocosas incluíam duas versões de um hino da Ursal, uma delas recuperando uma música cantada pela Xuxa nos anos 1990 e memes, os mais diversos.
Independentemente da diversão proporcionada pelo infeliz candidato, há muito o que se refletir a partir do que vem ocorrendo recentemente no Brasil e sobre os riscos (estes reais) que estamos correndo.  A História nem sempre se repete, mas pode ser boa conselheira. Ao ouvir o debate, lembrei-me do Plano Cohen, de 1937, um documento forjado pelo então capitão integralista Olímpio Mourão Filho (com um título que diz muito sobre o antissemitismo dos anos 1930).

Este foi utilizado para justificar a decretação do estado de guerra e, certamente, parte do clima de medo que precedeu o golpe do Estado Novo. Mas não é esse, sem dúvida, o único candidato que, ao adotar uma retórica voltada a instilar o temor no eleitorado, deixa de falar de suas propostas de políticas públicas e de divulgar sua visão para o futuro do país. Além disso, o Brasil não está sozinho, nestes tempos sombrios, ao tentar ressuscitar práticas associadas ao período em que floresceu o nazifascismo.

Madeleine Albright, em seu livro “Fascism, a Warning” (fascismo, um alerta, em tradução livre), chama a atenção para os riscos do uso de expedientes parecidos em países como a Hungria, a República Checa, a Turquia ou a nossa vizinha Venezuela.  Em cada um destes casos, candidatos ou governantes que querem se perpetuar no poder usaram o medo como arma e o ódio em seus discursos.  O perigo adviria da modernidade, com seus costumes “devassos” a corromper as novas gerações, da insegurança advinda do aumento da violência (atribuída a um menor rigor com o crime ou a “esse pessoal dos direitos humanos”), do afluxo de imigrantes ou de uma conspiração em curso, seja dos “comunistas”, seja dos americanos (de acordo com a narrativa mais conveniente ao contexto de cada país).

Manipulando assim os medos e promovendo desinformação, candidatos podem ter acesso estável ao poder, sem ter que liderar um processo de melhoria expressiva e não excludente de seus países. Esse sim é o risco real à democracia que precisa ser enfrentado!

Claudia Maria Costin, professora universitária 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Na véspera de ato de puxa-sacos, presidente do PT-SP vê manifestação nazi-fascista em protesto anti-Dilma



Emídio de Souza (SP), presidente estadual do PT, precisa tomar Rivotril. Ou, então, voltar aos livros para saber o que é nazi-fascismo. Ou, então, tem de entrar em contato com eles — hipótese em que, espero, ele não os confunda com armas, como faz seu colega de partido, Vagner Freitas, presidente da CUT.

Em entrevista à Folha, este senhor viu, como é mesmo? um caráter “nazi-fascista” nas manifestações de mais de 600 mil pessoas ocorrida no domingo. E como esse nazifascismo se traduziria?  Segundo ele, no desejo de que Lula seja preso e eu realmente vi manifestações nesse sentido — e de que Dilma tivesse morrido na ditadura. E isso eu não vi nem ouvi em lugar nenhum.

Mas digamos que um ou outro  tenham dito essa besteira. Certamente gente sem expressão nas manifestações de rua. Nos carros de som, ninguém afirmou tal boçalidade. Já Vagner Freitas pregou, sim, que se pegassem em armas caso Dilma venha a perder o mandato ou Lula a ser processado. E o rapaz disse isso em pleno Palácio do Planalto.

Os petistas mentem quando tentam atribuir um caráter violento às manifestações que pedem o impeachment de Dilma. E isso não é um juízo de valor. Trata-se da mais pura expressão dos fatos. Nós sabemos em que costumam resultar as manifestações de extremistas de esquerda. E vocês viram os desdobramentos dos três maiores protestos do país feitos realmente pelo povo, por pessoas que efetivamente trabalham — o que não é o caso dos nababos de esquerda que estarão nas ruas nesta quinta, em dia útil.

A força que hoje mais atua em favor da queda de Dilma Rousseff é o próprio PT. A cada vez que manifestantes pacíficos são chamados de nazifascistas, mais as ruas se inflamam. Souza diz que houve queda no número de manifestantes. Ele está errado. Em relação ao evento de abril, houve crescimento. Desta feita, não havia ambiguidade na agenda. O que se pedia, em uníssono, eram “Fora Dilma”, “Fora Lula” e “Fora PT”.

Em tempo: gritar “fora Dilma” e “cadeia para Lula” é tão nazi-fascista como era pedir “Fora Collor” e “cadeia para Collor”. Ou palavras de ordem como essas só são legítimas quando conduzidas pela esquerda? Ninguém pede “fora Dilma” porque ela abuse de anacolutos e das frases sem sentido. Ninguém pede cadeia para Lula por causa de sua gramática. Nos dois casos, o que se entende é que estão comprometidos com o petrolão. Só isso. Mais: os que advogam a tese do impeachment o fazem de acordo com as leis.

Não adianta! O PT é reacionário demais para entender o peso da realidade. O discurso de Emídio, sim, tem uma natureza eminentemente fascistoide na medida em que busca deslegitimar uma manifestação genuína de setores expressivos do povo brasileiro. Hoje, senhor Emídio, aqueles que o senhor chama “fascistas” e que cobram a saída de Dilma somam dois terços da população.

O fim do PT dará trabalho à democracia. Mas ela vencerá. E o partido vai desaparecer.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo