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domingo, 16 de outubro de 2022

Classe C impulsiona voto à direita no País; segmento representa 100 milhões de brasileiros - O Estado de S. Paulo

Grupo socioeconômico exprime sentimento de abandono e desconfiança do Estado; 55% da população, é maior no Sudeste, Sul e Centro-Oeste, onde Bolsonaro venceu no 1º turno

Um contingente estimado em 100 milhões de pessoas, que têm perfil diverso e difícil de ser capturado por análises, se tornou um dos mais expressivos segmentos eleitorais do País, cujo comportamento pode ser fator decisivo em disputas polarizadas como a corrida presidencial deste ano. Para estudiosos do tema, é nessa fatia populacional chamada de classe C – que se concentra em grande parte a explicação para a formação de uma onda à direita na votação em primeiro turno das eleições. 
Além dos 51 milhões de votos alcançados por Jair Bolsonaro (PL), viu-se o triunfo de candidatos associados ao presidente nas eleições legislativas.
 
 Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2020, do IBGE, compilados pela consultoria Plano CDE para o Estadão, a classe C hoje compreende famílias com renda mensal entre R$ 500 e R$ 2 mil por pessoa, podendo chegar a R$ 8 mil no total. Essa parcela representa 55% da população brasileira, mas está mais concentrada nas regiões onde candidatos bolsonaristas tiveram melhor desempenho e Bolsonaro venceu a disputa com Luiz Inácio Lula da Silva (PT): no Sudeste (59%), no Centro-Oeste (61%) e no Sul (63%). No Nordeste, onde a maioria votou em Lula, as classes D e E correspondem à maior parte, 47%, e a classe C é menor, com 45%.
 
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De acordo com analistas, iniciativas como o aumento do auxílio emergencial às vésperas das eleições não mudaram essa relação já estabelecida entre o atual presidente e o Estado mínimo. “Mesmo que Bolsonaro não tenha conseguido fazer ações nesse sentido, o ‘não fique em casa’, o ‘Estado me atrapalha’, menos coletivo e mais individual, é uma visão que colou nele e que tem respaldo nesse grupo”, completa Prado.

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”A desconfiança em relação ao Congresso, aos partidos e até ao Judiciário é profunda”

José Álvaro Moisés, coordenador do grupo de trabalho sobre a qualidade da democracia da Universidade de São Paulo (USP)

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Intangível

Outro elemento que as análises mostram sobre este grupo é uma dificuldade em entender e se mobilizar pelo que parece intangível. Em suas pesquisas, Prado percebe posições fortes, por exemplo, contra o feminismo. “Eles são contra demitir uma mulher por estar grávida, mas não associam isso ao feminismo. Há uma visão geral da coisa, mas quando vai no detalhe, no tangível, se mostram a favor”, explica. As campanhas têm justamente explorado, sem explicações detalhadas – o que favorece essa confusão – temas como aborto, drogas e gênero.

No aspecto criminal, diferentemente do que ocorre com o PT, analistas avaliam que há baixa compreensão sobre suspeitas de corrupção no governo Bolsonaro, como a influência dos pastores no Ministério da Educação (MEC), revelada pelo Estadão, ou a investigação sobre compra de vacinas para covid-19, denunciada pela CPI no Senado. “Petista preso é algo mais concreto. Roubo, cadeia é mais simples de entender”, diz Prado.

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Identificação de Classe C com religião faz PT rever campanha
Uma comunicação clara e focada no concreto, segundo analistas, torna-se um trunfo neste segundo turno para que as campanhas consigam falar à classe C. Além disso, a religião, identificada como algo relevante para esse grupo, também já tem aparecido como protagonista na disputa nas redes socais e deve continuar em evidência.

Especialistas apontaram erros do PT em ter se utilizado, por exemplo, de artistas e intelectuais para buscar voto para Lula no primeiro turno. Prado diz que o grupo enxerga “um discurso de lacração, de esquerda arrogante progressista ou de um vitimismo, de grupos como os gays”.

Andreia Bassan, microempresária, é eleitora convicta de Jair Bolsonaro; ‘Sou cristã e contra o aborto’, diz.
Andreia Bassan, microempresária, é eleitora convicta de Jair Bolsonaro; ‘Sou cristã e contra o aborto’, diz. Foto: Felipe Rau/Estadão

Ele cita o movimento nas redes sociais que estimulava eleitores do PT a fotografar 13 livros de cor vermelha. “Muitos pensam: nunca li nem 13 livros, quanto mais vermelhos”, diz o antropólogo. O partido tirou os artistas e passou a veicular vídeos com pastores evangélicos logo nos primeiros dias da campanha do segundo turno.[artistas tipo a Mercury cujo último sucesso foi na década de 90, ou o Chico Buarque, mais recente sucesso também no século passado.].

O desafio da comunicação também aparece no discurso de não violência, contra as armas, diz Prado, já que a população se vê entre facções criminosas e tráfico. A evidência de que o aumento no número de armas leva a mais violência, demonstrada em pesquisas, é mais difícil de explicar do que o discurso de que a arma serve para a pessoa se defender.[Comentários: é sabido que vários morticínio nos Estados Unidos, em outros países e mesmo no Brasil, não se realizaram ou tiveram menos vítimas, por ter pessoas armadas entre as , ou próximas das, possíveis vítimas.]

A religião surge, de acordo com analistas, muito atrelada aos valores morais na classe C. Uma parte da narrativa desses segmentos de direita é de natureza dos costumes, há uma recuperação de um sentimento conservador, colado na fé religiosa, que existe na sociedade e foi trazido para o centro do debate”, diz o professor José Álvaro Moisés.

Apesar de as últimas pesquisas mostrarem que 30% da população é evangélica, como o último Censo demográfico foi feito em 2010 (e deveria ter sido repetido em 2020) os números podem estar defasados. Outros 50% se declaram católicos.


“Como cristã, valorizo a família, a vida, sou contra o aborto, contra corrupção”, diz Andreia Bassan, de 47 anos, que é evangélica. Ela e o marido têm uma microempresa de cursos online de artesanato. Seu voto é convicto em Bolsonaro. “Ele veio para mostrar as coisas que a gente não enxergava, fomos muito enganados pela política. Se ele não tivesse esse jeito de falar, o sistema já teria engolido ele.”

Andreia mora na zona norte da capital e reclama de não poder trabalhar durante a pandemia e de ser obrigada a “entrar como bandida em seu escritório”. O casal não se vacinou contra a covid por não acreditar no imunizante “feito às pressas”. “Meu marido pegou covid no começo da pandemia, foi terrível, estávamos sem plano de  saúde, mas sou uma mulher de fé.”
 
Em Política - O Estado de São Paulo - LEIA MATÉRIA COMPLETA
 
 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Retração econômica não é normal, mas uma fase de transição, diz Barbosa em Davos



Segundo ministro da Fazenda, "reduzir a desigualdade é tão importante quanto aumentar o PIB per capita"
O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, disse hoje (21) que a retração econômica não é normal, mas “uma fase de transição para o Brasil”. Ele participou de um painel no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, sobre a retomada do crescimento global. Com o novo cenário internacional de queda no preço das commodities, o país está se adaptando a essa realidade, segundo o ministro.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) piorou a projeção de queda da economia brasileira este ano. A estimativa para a retração do Produto Interno Bruto (PIB) passou de 1% para 3,5%. De acordo com o FMI, 2016 será o segundo ano consecutivo de queda da economia. Em 2015, de acordo com o fundo, houve retração de 3,8%. Em 2017, a expectativa é de estabilidade, com estimativa de crescimento zero para o PIB. Em outubro do ano passado, o FMI projetava crescimento de 2,3%, em 2017.

Barbosa afirmou que o Brasil se beneficiou dos preços altos de commodities e investiu os recursos na rede proteção social. “Reduzir a desigualdade é tão importante quanto aumentar o PIB per capita em economias emergentes e isso requer ação governamental. Mesmo em um cenário econômico mais adverso, o governo tem que atuar para reduzir a desigualdade, e o desafio é manter as políticas de redução da desigualdade.”

Para o ministro, é possível ter aumento de produtividade e, ao mesmo tempo, diminuição da desigualdade. “A chave para conseguir isso é ter as instituições certas para distribuir os ganhos de produtividade de uma forma que gere mais oportunidades de emprego e melhor qualificação da força de trabalho.”

América Latina
Perguntado sobre o papel do Brasil para a volta do crescimento da América do Sul, Barbosa destacou que a retomada econômica exige aumento dos investimentos. “O Brasil tem uma baixa taxa de investimento comparada a outras economias emergentes, e nossa principal tarefa é aumentar nosso investimento, o que requer não apenas mais estabilidade macroeconômica, mas, especialmente, um papel mais ativo do governo para coordenar os projetos de investimento e incrementar a integração regional”, completou.

[Barbosinha deve ter conversado com Dilma e ‘desconfigurou’ seus neurônios e perdeu o rumo da conversa durante o painel em Davos;  ótimo que o Brasil priorize a redução da desigualdade social e o aumento do PIB per capita.

Só que os números mostram que PIB per capita caiu, o que levou a uma redução da desigualdade social indesejável, haja vista que a IGUALDADE aconteceu com a queda da renda per capita e o aumento da miséria.

Os que migraram – na base do estímulo ao endividamento de pessoas sem renda – das classes D e E para a C, estão retornado as classes originais, só que com menor renda, mais dívidas, piores condições de vida.]

Fonte: Agência Brasil

sábado, 2 de janeiro de 2016

PT propõe aumentar alíquota Imposto de Renda para 40%

PT quer superar ajuste com mais impostos e empréstimos da China

Documento entregue por deputados ao governo traz pacote de medidas econômicas

Para superar a pauta do ajuste fiscal, a bancada do PT na Câmara vai intensificar a pressão sobre a presidente Dilma Rousseff com o objetivo de que o governo adote um pacote de medidas na economia, como a reformulação da cobrança do imposto de renda com adoção de alíquota de  40%, a tributação de lucros distribuídos por empresas a acionistas, além da busca de empréstimos na China.
 
A troca do comando do ministério da Fazenda, com a saída de Joaquim Levy e a entrada de Nelson Barbosa, mais alinhado com o PT, deu esperança aos parlamentares de que as propostas possam ser atendidas. No começo da semana passada, um grupo de cinco deputados, que incluía o líder da sigla na Câmara, Sibá Machado (AC), entregou ao ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, um documento de 18 páginas com 14 medidas para combater a crise.

A saída de Levy, considerado um representante do mercado, foi elogiada pelo PT e por movimentos que formam a base da legenda, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Mas a fala de Barbosa, ao tomar posse, de que seguiria a linha do seu antecessor gerou desconfiança. No começo da semana, o presidente do partido, Rui Falcão, alinhado ao movimento da bancada, cobrou, em um texto publicado na internet, a necessidade de Dilma adotar medidas ousadas na economia. O ex-presidente Lula também está afinado com os deputados. A avaliação é que o governo precisa ser pressionado para mudar a pauta.

NOVAS FAIXAS DE IMPOSTO DE RENDA
A maioria das propostas já vinha sendo defendida pelo partido e chegaram a constar da resolução aprovada no Congresso do PT, em Salvador, em junho. Mas, no documento entregue ao ministro da Casa Civil, as medidas foram detalhadas. A expectativa dos parlamentares é ter, já na primeira semana do ano, uma conversa sobre o assunto com Barbosa e com a própria Dilma. — O Jaques Wagner achou muito interessante e ficou de conversar com o Nelson (Barbosa), Valdir Simão (novo ministro do Planejamento) e com a presidente para promover uma reunião na semana que vem — afirmou o deputado Vicente Cândido (PT-SP), que coordena o grupo de parlamentares que elaborou o documento.

Na introdução, os petistas dizem que as medidas visam “aprofundar a justiça tributária, com a tributação dos setores privilegiados da sociedade, já que atualmente os impostos recaem sobre a classe média e os trabalhadores”.  Para atingir esse objetivo, a principal proposta é a reformulação do imposto de renda. No lugar das quatro faixas de cobrança de hoje, com alíquotas de 7,5% a 27,5%, seriam criadas sete, com índices de 5% a 40%. Pela sugestão petista, o valor de isenção subiria de R$ 1,9 mil para R$ 3,4 mil e a alíquota máxima de 40% atingiria os salários superiores a R$ 108,5 mil por mês. [são tão estúpidos os petistas que fingem interesse em tributar com 40% apenas os salários superiores da R$108,5 mil. Sabemos que são poucos os salários neste valor e o resultado da arrecadação seria tão pífio quanto um petista pensando - existem muitos brasileiros com salários superiores ao limite de R$108,5 mil, mas, é público e notório, que os que ganham tais salários dispõem de inúmeros recursos para não serem tributados.
Caso a infeliz idéia da corja petista fosse em frente - a Dilma vai esculhambar os que levarem a sugestão - conseguisse aprovação no Congresso, a primeira medida seria reduzir o valor proposto para menos da metade e assim ferraria milhares de brasileiros que já estão na alíquota máxima vigente.]

Também entraria nesse pacote de “justiça tributária”, a cobrança de imposto de renda sobre lucros e dividendos distribuídos pelas empresas a seus acionistas e sobre a remessa de recursos ao exterior. Cândido afirma que essas medidas poderiam gerar uma arrecadação extra de, pelo menos, R$ 40 bilhões por ano.   Apesar de o documento ser amplo, os deputados reconhecem que vão precisar priorizar os temas na negociação com o governo. Receberão o foco mais imediato as mudanças no imposto e outras duas medidas: a venda de papéis da dívida ativa para bancos privados e a busca de empréstimos na China.

Há ainda no pacote medidas já encampadas pelo governo, como a volta da CPMF, a repatriação de recursos do exterior e a alteração da legislação para acordos de leniência com empresas envolvidas em casos de corrupção. A proposta que pode gerar mais recursos, segundo os petistas, é de venda da dívida ativa. A ideia é que os bancos comprem com desconto papéis da dívida e executem as cobranças. Os estados e as prefeituras também poderiam aderir ao programa e vender as suas dívidas. — A gente calcula que há entre R$ 800 bilhões a R$ 1 trilhão vendável. Isso resolveria os problemas de caixa da União, dos governos e das prefeituras — diz Vicente Cândido.

Os deputados cobram ainda do governo a iniciativa de buscar acordos com as autoridades chinesas para viabilizar financiamentos dos bancos estatais locais, que poderiam repassar entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões para as empresas brasileiras. — Não podemos ter na economia só o olhar do setor financeiro. O setor produtivo não pode ficar de lado. A conta de 2015 foi muito dura. Essas propostas vão no sentido de abastecer o caixa do governo e garantir as questões sociais — avalia Sibá Machado.

Para o economista Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, que tem auxiliado na formulação das medidas, a recessão atual impede a continuidade do processo de distribuição de renda: — A proposta do PT é associada ao crescimento econômico. Com a recessão, não tem o que distribuir. [esse tal de Porchmann finge não saber que o transitório 'crescimento econômico' que pareceu ocorrer de 2003 para cá era fruto do crescimento econômico mundial - sobrava alguma coisa para o Brasil  - e no endividamento maciço dos brasileiros que achavam estar ingressando na NOVA CLASSE C.

Classe essa formada por brasileiros que passaram a viajar de avião - passagens compradas a crédito em 24 parcelas - e julgavam que poderiam possuir automóveis - automóveis 1.0 comprados em 100 meses e que por falta de manutenção não chegavam nem ao quinto ano - os primeiros defeitos, mais consequência de falta de manutenção, surgiam e o otário - classe D pensando ser C - tinha que escolher: fazer manutenção no carro ou rodar até quebrar.
A maioria escolheu a última e hoje o carro é uma sucata -que  nem no ferro velho consegue vender.

Causa pena ver o retorno dos NOVA CLASSE C para a CLASSE D ou mesmo a E, mas, infelizmente, estão pagando pela escolha errada que fizeram.]
 
AS 14 PROPOSTAS
1) Vender papéis da dívida ativa da União para bancos e levantar recursos para obras
2) Adotar sete faixas de alíquotas do Imposto de Renda a mais alta de 40% para salários acima de R$ 108 mil mensais — e isenção para quem ganha até R$ 3.390
3) Instituir imposto de renda sobre lucros e dividendos e remessa de recursos para o exterior
4) Fim da possibilidade de empresas poderem abater do IR o valor pago como juros para os acionistas
5) Aumentar o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) para propriedades improdutivas [claro que o ITR das propriedades invadidas pela GANG formada pelos bandidos do MST, continuará alíquota ZERO.]
6) Mudar tributação sobre cigarros
7) Criar um imposto sobre grandes fortunas
8) Elevar imposto sobre heranças e doações
9) Instituir imposto semelhante ao IPVA para jatinhos e helicópteros
10) Legalizar jogos de azar
11) Volta da CPMF (já encampada)

12) Alterar legislação para acordos de leniência (já encampada)
13) Repatriação de recursos mantidos no exterior (já encampada)
14) Captação de empréstimo na China para financiar empresas brasileiras

Fonte: O Globo

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Classe C diminuindo de tamanho = fim da farsa da riqueza criada por Lula e petralhada

Classe C passa a comprar menos e pode até diminuir de tamanho

Grupo reduz consumo pressionado por inflação alta e redução da oferta de crédito

O cenário de inflação alta, crédito escasso e renda comprometida está fazendo a parcela da população brasileira que ascendeu para a classe C comprar menos nos supermercados neste começo de ano do que nos últimos seis meses. E a percepção para o primeiro semestre de 2015 não é nada animadora: o carrinho de compras deve continuar encolhendo. Estes são os primeiros resultados de uma pesquisa inédita, chamada O Bolso do Brasileiro, que o Instituto Data Popular, especializado na classe C, acaba de concluir. 
 Já segundo a Nielsen, empresa especializada em pesquisar hábitos dos consumidores, diante deste cenário de comprometimento de renda, endividamento e inflação, a classe C é a mais afetada em sua vida financeira, já que apresenta em média um gasto 15% superior à sua renda mensal. Levantamento recente da Kantar Worldpanel, outra companhia especializada em pesquisar as tendências de consumo, mostrou que as classes C e D/E já diminuíram em cerca de oito vezes o número de idas aos pontos de venda, enquanto a classe A diminuiu apenas quatro vezes.

Pela metodologia do Data Popular, as famílias da classe C têm renda média de R$ 2,9 mil e, nos últimos anos, passaram a consumir produtos e serviços antes inacessíveis. O levantamento foi feito entre os dias 18 e 29 de janeiro em 150 cidades do país e foram entrevistadas 3.050 pessoas.

DESCENDO UM DEGRAU
De acordo com a pesquisa, 47% dos entrevistados disseram estar comprando menos produtos no supermercado na comparação com os últimos seis meses. Outros 36% afirmaram que compram a mesma quantidade, e 12% responderam que estão comprando mais produtos. Os pesquisadores perguntaram aos entrevistados se nos próximos seis meses, pensando na condição financeira atual, eles esperavam comprar mais ou menos. Entre as respostas, 45% afirmaram que vão comprar menos; 36% disseram que vão comprar a mesma quantidade e 19% responderam que vão comprar mais. — O brasileiro da classe C já percebeu que a inflação está comendo sua renda e que está sobrando menos dinheiro para o consumo. Em relação ao futuro, ele mostra desesperança, porque não vê perspectiva de melhora da renda e da situação da economia em geral. Para ele, a inflação deve continuar subindo, assim como os juros do cheque especial utilizado por eles. Ou seja, o brasileiro que já passou aperto em 2014 começa 2015 preocupado em não conseguir encher o carrinho — avalia Renato Meirelles, presidente do instituto de pesquisa Data Popular.

Para o economista Miguel Ribeiro de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), o aumento dos impostos e o crédito mais caro e restrito afetam todas as classes, mas especialmente a classe C, que pode até encolher neste ano. — Quando a situação econômica se torna mais difícil, e a renda disponível fica menor, essas categorias podem até cair um degrau (na ascensão social que tinham experimentado)afirma Oliveira.

Meirelles, do Data Popular, ainda não vê um retrocesso na ascensão social dessa parcela da população, mesmo com a perda de poder aquisitivo. Ele explica que como o critério para definir classe social é o salário, enquanto o desemprego estiver em níveis baixos, não haverá mudanças. [é o salário que define classe social, mas, de forma artificial, haja vista o salário coloca uma pessoa em determinado degrau social, só que o poder de compra do mesmo é que define a REAL classe social.
Uma analogia simples é que um individuo pode comprar vestimentas de classe A, fazer um esforço e frequentar ambientes da mesma classe, mas, logo tem que cair = voltando a classe que o PODER AQUISITIVO do seu salário permite.] 
Enquanto o desemprego não aumentar, esse brasileiro que ascendeu não vai sair da classe C. Mas seu poder de compra diminui, com o aumento da luz, do aluguel e dos produtos em geral — diz o presidente do Data Popular.

Mas o emprego é exatamente o ponto crucial, destaca o economista Luiz Otávio Leal, do banco ABC Brasil. Na análise de Leal, tão importante quanto a inflação, sobretudo de alimentos e tarifas, o que pesa mais para a classe C, é o impacto do mercado de trabalho, que este ano deve ser marcado por uma queda real na renda: — Neste ano, as discussões salariais vão se concentrar em repor as perdas, e o trabalhador ficará contente se conseguir manter o emprego.

Outra mudança sutil, esta constatada pela Kantar, é que mais pessoas estão priorizando as compras no início da semana, em detrimento dos finais de semana, para aproveitar as promoções, que se concentram entre segunda e quarta-feira. Foi o que fez o casal Silvia Santana, de 51 anos, e Alexandre Domingos, de 43, donos de uma empresa de artesanato e costura de São Paulo. Os dois passaram a fazer a despesa do mês durante a semana para aproveitar os descontos. Aos sábados e domingos, só quando falta algum item essencial. — Na medida do possível, trocamos as marcas mais caras por outras mais baratas. E nossa compra mais pesada é feita durante a semana quando os supermercados fazem as promoções — diz Domingos.

ADEUS, SUPÉRFLUOS
Já a aposentada Iara Palmiro, de 65 anos, moradora do Itaim Bibi, também na Zona Sul de São Paulo, foi mais radical e cortou alguns itens considerados supérfluos de sua cesta de compra. — Em relação aos alimentos, o consumidor acaba trocando por uma marca mais barata. Setores como cosméticos, itens de higiene pessoal e moda, por exemplo, devem ter crescimento menor já que estes itens eram aspiracão da classe C — afirma Reinaldo Saad, sócio da área de bens e consumo da consultoria Deloitte.

Mas especialistas avaliam que, diante do orçamento mais apertado, não só o brasileiro da classe C, mas toda a população, deverá continuar mudando seus hábitos de consumo em 2015. A expectativa é de mais um ano ruim para a economia, com juros ainda elevados. Sem perspectiva de aumento de salário, e até de desemprego, a confiança do consumidor caiu 14,5% em janeiro. Ele evita tomar novas dívidas, posterga as compras mais caras e acaba mudando seus hábitos de consumo — diz o assessor econômico da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio), Vitor França.

O brasileiro está com a renda mais comprometida com itens essenciais como conta de luz e água, transporte e aluguel, que ficaram mais caros nos últimos meses. Uma pesquisa do Datafolha também constatou que quase metade dos brasileiros (46%) vai consumir menos nos próximos seis meses, e 56% já vêm cortando despesas desde o segundo semestre de 2014. Significa que o consumo, que vinha puxando o crescimento da economia desde 2008, dará freada prejudicando ainda mais o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto dos bens e serviços produzidos no país). Não sem motivos, na média, os analistas de mercado preveem que a economia encolha 0,5% este ano. [multiplicar essa previsão por dez aumenta em muito as chances de acertar.]

(Colaborou Clarice Spitz)

Fonte: O Globo