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domingo, 12 de setembro de 2021

O dia em que Alexandrinus, o Calvo, pediu minha cabeça - Ideias

Gazeta do Povo - Jones Rossi

Fábulas modernas

Era uma vez… Toda fábula começa com “Era uma vez”, mas o que vou contar a seguir pode ser verdade — ou não. Quem vai decidir a veracidade do meu relato é você, leitor, mas aviso de antemão que tempos ambíguos muitas vezes exigem textos igualmente ambíguos, nos quais as linhas que separam a realidade da mentira sejam confusas de propósito


O jovem escriba escapou por pouco da temível guilhotina| Foto: BigStock

Dito isto, era uma vez um reino chamado Zabril e um condado chamado Pão Saulo (sutileza não é o meu forte). Nesta cidade, corria o ano 1008 de Nosso Senhor e o alcaide era um senhor solteiro e sem filhos — não que isto fosse de alguma forma relevante, mas o assunto veio à tona durante a dura campanha eleitoral, levantado pela candidata opositora que se dizia progressista, Martina. Este alcaide, pensando no bem do condado, resolveu dar o controle do tráfego de carruagens para Alexandrinus, o Calvo.

No comando do órgão que controlava o tráfego das carruagens, Alexandrinus não fez um bom trabalho. Curiosamente, em vez de ser enviado para as galés ou jogado numa masmorra, Alexandrinus ganhou mais poderes. Passou a controlar também as caravanas que circulavam pelo condado, e ainda ganhou o título de Sir. Um jovem escriba que na época trabalhava na prestigiosa publicação 'O Pergaminho de P. Saulo' resolveu descobrir se as decisões do todo-poderoso Alexandrinus, o Calvo, estavam melhorando o fluxo das carruagens no condado. O resultado de meses de investigação mostrou que cada vez mais camponeses, cavaleiros e condutores das carruagens estavam morrendo, e a culpa não era da peste negra.

O Pergaminho de P. Saulo publicou as agourentas novidades em sua primeira página, desenhada à mão com esmero pelos monges copistas. Furioso, Sir Alexandrinus perdeu os últimos fios que lhe restavam na cintilante careca. Ainda tomado pela cólera, enviou um pombo correio aos editores de 'O Pergaminho', acusando o jovem escriba de publicar FEIQUE NIUS, um termo que só ficaria plenamente conhecido mil anos depois. Alexandrinus queria mais: a cabeça do escriba em uma bandeja de prata para servir de exemplo perpétuo a qualquer outro que ousasse criticá-lo.

Os editores, chocados, se prontificaram a corrigir eventuais erros. Alexzinho (a essa altura já estamos íntimos) não conseguiu mostrar onde estavam as inverdades do texto, e a confusão foi debelada. Muitas ampulhetas depois o jovem escriba mudou de emprego, indo trabalhar para a revista Ptolomeu, e também acabou deixando as brumas do tempo apagarem o entrevero de sua memória. As lembranças foram reavivadas quando Alexandrinus foi alçado ao cargo de Mago Supremo pelo Conde Drácula, que assumiu o poder no lugar da Rainha Tilma, a de Fala Enrolada. Uma vez confortavelmente instalado no Supremo Castelo Feudal, Alexandrinus não tolerou mais críticas, por insignificantes que fossem.

A primeira vítima foi Eustaquius. Acusado de promover atos antimonárquicos, foi trancafiado na torre e jogaram a chave fora. Os bobos da corte também ficaram sem ganha-pão quando os guardas enviados por Alexandrinus desmonetizaram suas piadas — o significado de “desmonetizar” também só ficou conhecido um milênio no futuro.

Toda fábula tem uma moral da história e esta não poderia ser diferente: manda quem pode e obedece quem tem juízo. (E, em tempos de censura, não arrisque jamais contar a verdade. A cadeia pode estar a um “inquérito das fake news” de distância).

Jones Rossi, colunista - Gazeta do Povo - Ideias


quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Já há um derrotado nos Estados Unidos: as pesquisas eleitorais - Matheus Leitão

A credibilidade das sondagens fica abalada porque a folgada margem para Biden não aconteceu, qualquer que seja o resultado

Independentemente de quem ganhar as eleições norte-americanas, o que ainda permanece incerto na manhã desta quarta-feira, 4, as pesquisas eleitorais são o primeiro grande derrotado do pleito de 2020 nos EUA. A credibilidade delas sai, assim como em 2016, chamuscada, mas neste ano será ainda mais grave porque havia um consenso de que os erros de quatro anos atrás haviam sido corrigidos.

Não foram, aparentemente. A metodologia de segurança, de fato, continua a não ser encontrada – podendo se dizer, sem exagero, que é desconhecida dentro deste processo eleitoral complexo e dividido por delegados, que é o dos Estados Unidos. O que as pesquisas mostravam, antes da abertura das urnas, era uma margem grande de probabilidade de vitória de Joe Biden contra Donald Trump. Os institutos garantiram que tinham identificado falhas e corrigido. Terão que voltar às suas planilhas.

O que temos testemunhado desde ontem à noite? Nas pesquisas, o estado do Texas estava apertado, mas com estreita tendência pró-Trump. As pesquisas acertaram. Mas na Flórida, por exemplo, a previsão era empate, mas pró-Biden. Erraram feio. A vitória foi de Trump. Em Ohio, a análise era de empate, mas com um leve movimento pró-Trump. Acertaram. Na Georgia, no entanto, empate pró-Biden. Ou seja, por enquanto estão errando.

Usando apenas esses estados como ponto de partida entendemos a gravidade dos erros das pesquisas eleitorais. São lapsos que, no caso da Flórida e da Georgia, por exemplo, envolvem 45 delegados. É um número considerável se o objetivo é obter 270 delegados para ganhar a eleição. Michigan e Wisconsin, dois estados que eram apontados como vitórias de Biden, estão incertos e podem dar vitória a Trump. Erraram em prever um favoritismo folgado, isso já se sabe. O mesmo foi previsto no estado da Pensilvânia, onde o republicano, neste momento, tem uma vantagem forte, mas são esperados votos enviados pelos correios, que podem ser majoritariamente em favor do candidato democrata.

O quadro real é mais de contagem de condado a condado para decidir o próximo presidente da mais importante potência econômica do mundo. Acontece que algumas pesquisas davam probabilidade de vitória de Biden de até 90%, vendo um mapa bem mais folgado para o candidato democrata do que para o republicano. Alguns estados não fecharam, mas a verdade que centros de pesquisas, como Nate Silver, previam vitórias folgadas para Biden em estados que têm revelado uma outra realidade.

Voltando ao ponto principal, trata-se de uma eleição apertada, decidida voto a voto, em uma contagem que pode varar a semana, olhando condado por condado. Isso porque alguns estados contarão os votos que chegaram pelos correios devagar. Mesmo em caso de viradas nos estados ainda abertos, na direção do que havia sido apontado nas pesquisas, nenhuma delas previu uma disputa tão acirrada em tantos colégios eleitorais norte-americanos.

Matheus Leitão, jornalista - Blog Matheus Leitão - VEJA


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Glenn não é jornalista, e pronto! - José Nêumanne Pinto

A ministra do STF e presidente do TSE, Rosa Weber, decretou a extinção da interpelação do americano Glenn Greenwald contra o presidente Jair Bolsonaro por causa de sua declaração em julho de 2019 de que o gringo, que, atenção, não é nem nunca foi jornalista, nunca seria alvo da portaria do ministro da Justiça, Sergio Moro, de deportação de criminosos estrangeiros no País.




Verdevaldo, como é conhecido o autor da interpelação, é acusado de ter cometido crime de pornografia e de haver sonegado impostos em seu condado de Nova York, mas é assim definido nos meios de comunicação e também tratado pela cúpula da Justiça brasileira como vítima de atentado contra a liberdade de expressão em bizarra liminar do ministro Gilmar Mendes, que impediu o juiz Ricardo Leite de denunciá-lo no processo aberto contra seus cúmplices estelionatários que furtaram mensagens de cerca de mil autoridades do combate à corrupção na Operação Spoofing, divulgadas pelo Intercept Brasil. Direto ao assunto. Inté. E só a verdade nos salvará.

[Lembrete:  o indigitado corre risco de logo que a liminar seja revogada e a denúncia aceita pela Justiça Federal de puxar uma cadeia no Brasil - não é jornalista, o que retira o manto protetor da 'liberdade de imprensa'.

Nada impede que seja extraditado para os Estados Unidos e lá puxe uma cadeia - o Brsil não extradita seus nacionais natos, só que o citado tem nacionalidade brasileira em função de uma adoção de crianças, algo do tipo.
Sendo revogada a adoção, cai a nacionalidade brasileira.]