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domingo, 12 de setembro de 2021

O dia em que Alexandrinus, o Calvo, pediu minha cabeça - Ideias

Gazeta do Povo - Jones Rossi

Fábulas modernas

Era uma vez… Toda fábula começa com “Era uma vez”, mas o que vou contar a seguir pode ser verdade — ou não. Quem vai decidir a veracidade do meu relato é você, leitor, mas aviso de antemão que tempos ambíguos muitas vezes exigem textos igualmente ambíguos, nos quais as linhas que separam a realidade da mentira sejam confusas de propósito


O jovem escriba escapou por pouco da temível guilhotina| Foto: BigStock

Dito isto, era uma vez um reino chamado Zabril e um condado chamado Pão Saulo (sutileza não é o meu forte). Nesta cidade, corria o ano 1008 de Nosso Senhor e o alcaide era um senhor solteiro e sem filhos — não que isto fosse de alguma forma relevante, mas o assunto veio à tona durante a dura campanha eleitoral, levantado pela candidata opositora que se dizia progressista, Martina. Este alcaide, pensando no bem do condado, resolveu dar o controle do tráfego de carruagens para Alexandrinus, o Calvo.

No comando do órgão que controlava o tráfego das carruagens, Alexandrinus não fez um bom trabalho. Curiosamente, em vez de ser enviado para as galés ou jogado numa masmorra, Alexandrinus ganhou mais poderes. Passou a controlar também as caravanas que circulavam pelo condado, e ainda ganhou o título de Sir. Um jovem escriba que na época trabalhava na prestigiosa publicação 'O Pergaminho de P. Saulo' resolveu descobrir se as decisões do todo-poderoso Alexandrinus, o Calvo, estavam melhorando o fluxo das carruagens no condado. O resultado de meses de investigação mostrou que cada vez mais camponeses, cavaleiros e condutores das carruagens estavam morrendo, e a culpa não era da peste negra.

O Pergaminho de P. Saulo publicou as agourentas novidades em sua primeira página, desenhada à mão com esmero pelos monges copistas. Furioso, Sir Alexandrinus perdeu os últimos fios que lhe restavam na cintilante careca. Ainda tomado pela cólera, enviou um pombo correio aos editores de 'O Pergaminho', acusando o jovem escriba de publicar FEIQUE NIUS, um termo que só ficaria plenamente conhecido mil anos depois. Alexandrinus queria mais: a cabeça do escriba em uma bandeja de prata para servir de exemplo perpétuo a qualquer outro que ousasse criticá-lo.

Os editores, chocados, se prontificaram a corrigir eventuais erros. Alexzinho (a essa altura já estamos íntimos) não conseguiu mostrar onde estavam as inverdades do texto, e a confusão foi debelada. Muitas ampulhetas depois o jovem escriba mudou de emprego, indo trabalhar para a revista Ptolomeu, e também acabou deixando as brumas do tempo apagarem o entrevero de sua memória. As lembranças foram reavivadas quando Alexandrinus foi alçado ao cargo de Mago Supremo pelo Conde Drácula, que assumiu o poder no lugar da Rainha Tilma, a de Fala Enrolada. Uma vez confortavelmente instalado no Supremo Castelo Feudal, Alexandrinus não tolerou mais críticas, por insignificantes que fossem.

A primeira vítima foi Eustaquius. Acusado de promover atos antimonárquicos, foi trancafiado na torre e jogaram a chave fora. Os bobos da corte também ficaram sem ganha-pão quando os guardas enviados por Alexandrinus desmonetizaram suas piadas — o significado de “desmonetizar” também só ficou conhecido um milênio no futuro.

Toda fábula tem uma moral da história e esta não poderia ser diferente: manda quem pode e obedece quem tem juízo. (E, em tempos de censura, não arrisque jamais contar a verdade. A cadeia pode estar a um “inquérito das fake news” de distância).

Jones Rossi, colunista - Gazeta do Povo - Ideias


domingo, 20 de dezembro de 2020

A grande sabotagem - Nas entrelinhas

Países de dimensões continentais têm inércia de manobra comparada aos grandes navios. Erros estratégicos na economia e nas políticas públicas têm graves consequências

A história universal tem inúmeros exemplos de tragédias humanitárias, causadas por fenômenos geológicos, climáticos, biológicos e/ou decisões políticas equivocadas, às vezes a combinação de duas ou mais causas. Essas tragédias deixam traumas sociais e provocam mudanças culturais e políticas. Uma das calamidades mais devastadoras da humanidade foi a peste negra, entre 1347 e 1351, que matou 50 milhões de pessoas na Europa e na Ásia. Causada por uma bactéria (Yersinia Pestis), a doença foi transmitida ao ser humano por meio das pulgas dos ratos e outros roedores. A peste disseminou o antissemitismo, provocou revoltas camponesas e a Guerra dos 100 Anos, mas, também, deu origem ao Iluminismo, em contraposição às teses místicas que atribuíam a doença ao castigo divino.

Em 1755, o grande terremoto de Lisboa resultou na destruição da capital portuguesa. O número exato de vítimas da tragédia é desconhecido, mas estima-se que pode ter chegado a 90 mil pessoas. Como consequência, o primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, precisando de recursos para reconstruir Lisboa, acabou com as capitanias hereditárias no Brasil, transferiu a capital de Salvador para o Rio de Janeiro, criou o Distrito Diamantino, aumentou a cobrança de impostos nas Minas Gerais e fortificou as fronteiras na Amazônia, entre os quais o grande Forte Real do Príncipe da Beira, à margem direita do Guaporé, em Rondônia. Em contrapartida, a “derrama” deflagrou o movimento de Independência, cujo marco histórico foi a Inconfidência Mineira.

Em abril de 1986, um reator da central nuclear de Chernobyl explodiu e liberou uma imensa nuvem radioativa, contaminando pessoas, animais e o meio ambiente de uma vasta extensão da Europa. Na Ucrânia, Belarus e Rússia foram evacuadas e reassentadas 200 mil pessoas. O negacionismo e a censura agravaram a tragédia. Mais de 90 mil pessoas ainda poderão morrer de câncer, causado pela radiação do acidente nuclear. O episódio foi decisivo para Gorbatchov iniciar a glasnost (transparência) e desistir da corrida nuclear, o que acabou com a guerra fria com os Estados Unidos e foi um dos catalisadores do fim da própria União Soviética.

Pandemias e fome
No final da I Guerra Mundial, em 1918, uma pandemia do vírus Influenza se espalhou por quase todo o mundo. A gripe espanhola afetou 50% da população mundial. O número de mortos pode ter chegado a 100 milhões de pessoas. O vírus Influenza A, do subtipo H1N1, matou mais gente do que qualquer outra enfermidade na história e desapareceu tão misteriosamente como surgiu, mas ajudou a acabar com o conflito, provocou grandes reformas urbanas, uma revolução nas pesquisas médicas e nas políticas de saúde pública.

A maior tragédia humanitária do século passado, porém, não teve nada a ver com eventos geológicos, climáticos ou biológicos. Foi fruto do nacionalismo extremado de algumas nações e da ambição de poder de Adolf Hitler. A II Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, mobilizou mais de 100 milhões de militares e deixou mais de 70 milhões de mortos. Foi a única vez que armas nucleares foram utilizadas em combate, resultando na morte de mais de 140 mil pessoas no Japão, nos bombardeios feitos pelos Estados Unidos nas cidades de Hiroshima e Nagasaki. Além disso, a loucura de Hitler resultou no Holocausto. Dos 6 milhões de judeus mortos somente em Auschwitz, o mais conhecido campo de concentração nazista, 1 milhão foi assassinado nas câmaras de gás e cremados.

Mortes em massa também foram provocadas por decisões políticas e econômicas equivocadas de líderes comunistas. As coletivizações forçadas de Josef Stálin, na antiga União Soviética, nos anos de 1932-33, mataram de fome 10 milhões de camponeses na Ucrânia, e 1,25 milhão no Cazaquistão. O Grande Salto Adiante de Mao Tse Tung, na China, de 1958 a 1961, matou de fome 20 milhões de chineses. Entre 1994 e 1998, na Coreia de Norte, o fim da ajuda soviética, fatores climáticos e erros de planejamento de Kim Jong-un provocaram a morte de, pelo menos, 600 mil pessoas por desnutrição (fala-se em até 3 milhões de norte-coreanos).

Países de dimensões continentais, por sua escala demográfica, têm inércia de manobra comparada aos grandes navios. Erros no rumo estratégico, principalmente na economia e políticas públicas, têm consequências de grande envergadura. O que está acontecendo nos EUA, por exemplo, devido ao negacionismo de Donald Trump, entrará para os anais da história como uma dessas grandes tragédias. O país é o epicentro da pandemia de covid-19, com 17 milhões de casos confirmados e 300 mil mortos pelo novo coronavírus, mais do que o número de soldados americanos mortos na II Guerra.

Aqui, no Brasil, com quase 7 milhões de infectados e 190 mil mortos, o presidente Jair Bolsonaro vai pelo mesmo caminho, com seu negacionismo, que chega a aponto de se recusar a tomar a vacina contra a covid-19. Sabota, assim, os esforços realizados por autoridades de saúde, prefeitos, governadores e até mesmo pelo governo federal — cuja atuação deixa muito a desejar — para conter a epidemia e imunizar a população contra a doença, única maneira de salvar a economia de profunda recessão e do desemprego em escala sem precedentes, ou seja, de voltar à vida normal. A história não perdoa erros dessa magnitude. [estávamos surpresos, até incrédulos, pela rara oportunidade de ler sete parágrafos de uma excelente matéria - característica do ilustre articulista -  abrangendo diversos exemplos claros, induvidosos, e o presidente Jair Bolsonaro não ser mencionado.

Lamentavelmente, sobrou para o nosso presidente. As abordagens exatas passaram ao campo das conjeturas, das afirmações sem fatos comprobatórios, etc. Foi esquecido que a VACINA pelo menos para o Brasil AINDA NÃO EXISTE - seja a vacina física, o conteúdo da ampola, seja a autorização legal da Anvisa ou de algum órgão da credibilidade do FDA.

A do governador paulista chegam carregamentos que noticiam ser da coronavac, só que nada é solicitado para a Anvisa.

Insistimos que não há uma única morte - comprovada, por óbvio - que possa ser atribuída como resultado dos comentários e frases, às vezes politicamente inadequadas, proferidas pelo nosso presidente.]

 Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense


sexta-feira, 23 de outubro de 2020

A neurose do vírus — ou o vírus da neurose

J.R. Guzzo - Oeste

A doença real não vai ser encontrada na infecção dos pulmões, e sim no equipamento cerebral de cada um

Oito meses seguidos de covid estão deixando claro, cada vez mais, que um dos piores efeitos colaterais da epidemia foi um assalto maciço à saúde mental de pessoas que nunca tiveram um único sintoma real da infecção, nem precisaram de qualquer tipo de cuidado médico por causa dela. Essa patologia, mal percebida no começo da onda, e progressivamente instalada no comportamento cotidiano das vítimas, se manifesta através de uma anomalia básica: a aceitação passiva, e em seguida muito ativa, de convicções irracionais no seu sistema cerebral, emotivo e psicológico. É como se tivessem desligado, em algum lugar, a chave-geral que assegura o funcionamento normal — ou aquilo que era considerado normal até algum tempo atrás — dos circuitos nos quais se movimenta o pensamento humano.

Faz algum sentido o cidadão entrar num restaurante, sentar-se à mesa e só tirar a máscara na hora de comer — ou, pior ainda, ficar pondo e tirando a cada garfada? Claro que não, mas quem se comporta desse jeito está convencido de que está certo e os demais estão arriscando a própria vida — e a vida dele, nas ocorrências mais radicais de militância antivírus. Não é normal, da mesma maneira, que muita gente considere essencial, além da bike”, do capacete e do uniforme importados, usar máscara para rodar ao ar livre de bicicleta. Fazem como se fazia no ano 1300, ou por aí, quando os barões, os médicos e os padres convenceram as pessoas que a peste negra vinha pelo “ar”. (Seu conselho capital, 700 anos atrás: “Fique em casa”.) Já se viram mães que colocam mini máscaras em seus bebês quando vão passear com o carrinho; é óbvio que a única doença presente no caso está na cabeça delas mesmas.

Na França, berço da civilização ocidental-cristã-progressista, farol da sabedoria, da inteligência, da lógica e do humanismo, as autoridades acabam de tomar uma medida realmente extraordinária: os quase 70 milhões de habitantes do país estão proibidos de sair de casa entre as 9 horas da noite e as 6 da manhã. Nada de restaurante, bar, café, concerto, teatro, balada; só no dia seguinte. Ficamos assim, então: segundo o governo francês, o vírus só pega de noite; durante o dia o cidadão pode circular à vontade, pois o bicho vai embora e só volta quando escurece. Naturalmente, eles dizem que a sua providência vai reduzir “a aglomeração” de pessoas (estar próximo dos seus semelhantes, nestes dias de perturbação mental, é quase um crime de lesa-pátria), mas na verdade não é nada disso. Por que a “aglomeração” à noite seria pior que a “aglomeração” ao meio-dia? Trata-se de puro pânico de manada por parte de governantes que continuam não tendo ideia do que fazer e se valem, para dar as suas ordens, da aceitação religiosa do “distanciamento social”.

(...) 

O problema do presidente francês, e dos agentes do seu governo, não é propriamente ter ideias erradas. O problema é que não são capazes de ter ideia nenhuma — não uma ideia original, ou mesmo simplesmente aproveitável, ou com algum propósito útil. [o presidente francês teve recentemente uma idéia que - para os inimigos do Brasil = adeptos do' quanto pior, melhor', - foi fantástica: internacionalizar a Amazônia.] Apenas repetem ideias mortas; não há o menor risco de criarem alguma coisa.

(...)

 O que envolve o Brasil na grande anomalia mental trazida pela covid é, de um lado, a superstição médica ou científica que se tornou curiosamente comum hoje em dia. Esse tipo de superstição anda muito popular por aqui e pelo mundo afora. Os médicos, no fundo, sabem sobre a covid não muito mais do que sabiam em fevereiro; como não sabem, inventaram a “quarentena”. A maioria dos homens de ciência, é claro, sabe perfeitamente bem que as condutas aberrantes que foram  descritas acima estão muito próximas da insanidade. Mas não querem falar disso; ficam com medo de ser acusados de genocídio, ou algo assim, se abrirem a boca para dizer que dois mais dois são quatro. Se nem o presidente da República escapou da acusação de ter matado 160 mil pessoas, inclusive por parte do Supremo Tribunal Federal, por que um simples médico que tem de ganhar o seu sustento iria se meter na contramão das psicoses que comandam o pensamento atual?

Revista Oeste, leia MATÉRIA COMPLETA


terça-feira, 26 de maio de 2020

As consequências da crise – Editorial - O Estado de S. Paulo

A palavra “crise”, amplamente empregada para significar qualquer ruptura abrupta e radical, tem origem médica. Nos cânones de Hipócrates ou Galeno o vocábulo grego krisis designa “o ponto de inflexão em uma doença rumo à recuperação ou à morte”. Curiosamente, o termo é derivado da terminologia moral e jurídica: krinein – “separar, decidir, julgar” – da raiz protoindo-europeia krei – literalmente “peneirar”, e daí “discriminar, distinguir”. Na maior crise da nossa era estes sentidos se interpenetram. As perdas em vidas e empregos são catastróficas e os riscos de uma “geração perdida” são reais. Mas conhecendo-os é possível discernir oportunidades de transformação para melhor.

Em números compilados pelo Fórum Econômico Mundial o impacto é sem precedentes: 500 milhões de pessoas podem despencar na pobreza; 
a produção global deve encolher 3%; o comércio, de 13% a 32%; os investimentos estrangeiros, de 30% a 40%; 
mais de 80% dos estudantes estão fora das escolas; e 34% dos adultos experimentam efeitos adversos sobre sua saúde mental.

Após consultar 350 analistas de risco, o Fórum divisou quatro zonas críticas: os riscos das transições econômicas e mudanças estruturais; os riscos de paralisia e retrocesso na agenda do desenvolvimento sustentável; 
os traumas decorrentes das rupturas sociais; 
e os riscos derivados da adoção abrupta da tecnologia.

A recessão econômica domina os temores. “Uma dívida crescente provavelmente onerará os orçamentos públicos e os balanços empresariais por anos, as relações econômicas globais podem ser fraturadas, economias emergentes correm o risco de mergulhar em uma crise mais profunda, enquanto os negócios podem enfrentar condições cada vez mais adversas nos padrões de consumo, produção e competição.”

Essas rupturas podem ter amplas reverberações ambientais, sociais e tecnológicas. “Omitir os critérios de sustentabilidade na recuperação ou retornar a uma economia de emissões intensivas de carbono ameaça perturbar a transição para a resiliência climática do baixo carbono”, desencadeando um “ciclo vicioso de contínua degradação ambiental, perdas de biodiversidade e mais surtos de doenças infecciosas zoonóticas”.

Além das ameaças à saúde pública, o bem-estar individual e social deve ser perturbado pela automação acelerada da força de trabalho. O colapso das economias mais vulneráveis pode ter consequências humanitárias pavorosas. E há os riscos crescentes para a liberdade individual, educação e prosperidade da geração mais jovem.  A digitalização abrupta pode criar novas oportunidades de trabalho, mas também precipitar os riscos de insegurança cibernética, fragmentação digital e desigualdade. A desconfiança da tecnologia e os desvios na sua utilização podem ter efeitos duradouros sobre a sociedade.

Mas o Fórum deixa claro que estas conjecturas não são exercícios de futurologia. “Ao contrário, elas nos lembram da necessidade de ação proativa hoje para moldar o ‘novo normal’ desejável.” O choque foi brutal, mas despertou sentimentos de solidariedade que, se canalizados na reativação das economias, podem “embutir mais igualdade social e sustentabilidade na recuperação, acelerando, antes que freando, o progresso rumo aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável de 2030”. Mas, para tanto, os riscos precisam ser manejados.


Historicamente não há qualquer padrão determinista para o desfecho de uma pandemia. As interpretações sobre a pior de todas, a Peste Negra, por exemplo, são ambivalentes: 
se para muitos historiadores ela recrudesceu aspectos mórbidos da cultura medieval tardia, para outros ela precipitou o processo que levaria à Renascença – para outros ainda, passado o choque, ela não produziu transformações duradouras. Plausivelmente as três tendências – à indiferença, ao progresso e ao retrocesso – interagiram entre si. Agora não é diferente. O mundo saiu do controle e escapou das nossas mãos. Há o risco de que elas não o recuperem mais – mas ainda está ao seu alcance apanhar essa massa crítica para moldar um futuro melhor. 

Editorial  - O Estado de S. Paulo


quarta-feira, 22 de abril de 2020

A praça vazia - O Globo

Ao seu crescente desprestígio a velhice somou sua vulnerabilidade ao novo vírus

Escrevo, com muito receio, neste começo de minha primeira pandemia. Tenho o duvidoso privilégio, pela idade e outras agravantes, de estar no grupo de alto risco. Melhor, assim, escrever logo estes comentários.  A inquietante constatação é ver a velhice como vítima favorita do novo vírus. Em calamidades anteriores — seja porque os velhos eram muito poucos e os muito velhos mais escassos ainda e porque nas guerras e conflitos eram os moços que iam lutar e morrer —, não costumavam ser os idosos os alvos preferidos. A Gripe Espanhola que é a minha epidemia de referência —, pelo que sei, foi ecumênica em suas vítimas. O cólera e a peste negra, também. Havia mesmo doenças que, em boa medida, pareciam poupar os mais velhos. A poliomielite tinha entre nós o nome caseiro de paralisia infantil, o que parece sugerir qual era seu alvo favorito. A tuberculose procurou, durante seu longo reinado, sobretudo os mais jovens, e toda a arte romântica comemora este fato. O começo da vida, até pouco tempo atrás, parecia quase tão perigoso quanto o seu fim.

A velhice, além do prestígio que vinha da escassez de seus números, presumia mesmo uma medida de imunidade e resiliência dos que haviam chegado tão longe. É bom acentuar aqui a extraordinária novidade que a velhice numerosa e crescente de hoje representa. Antes os velhos tinham o prestígio de serem os depositários de uma coisa então valiosa, que recebia o nome genérico e respeitoso de experiência, e de que era subproduto quase que natural uma coisa ainda melhor avaliada que chamávamos de sabedoria.

A imensa velocidade da incorporação da ciência e das tecnologias nos últimos anos fez com que essa lenta sedimentação de conhecimentos trazida pela passagem dos anos ficasse menos relevante e pudesse mesmo ser vista hoje não como uma luz que ilumina o caminho pela frente e explica o trajeto já feito, mas possa parecer uma irrelevante perda de tempo e de rumo. Ao seu crescente desprestígio a velhice somou agora a fragilidade adicional de sua vulnerabilidade ao novo vírus e corre o risco de provocar uma impaciência crescente da sociedade com os custos necessários para protegê-la. Os mais moços já davam sinais de exasperação, e as batalhas sobre reformas previdenciárias aqui e em outros países eram o sinal desta nova realidade. A indagação é saber até que ponto o futuro aceita ser refém do passado, em outras palavras, que valor a sociedade atribui aos mais velhos que teimam em se multiplicar e a exceder, largamente, seus prazos originais de validade.

Acredito que o coronavírus veio precipitar a urgência de uma ampla negociação entre moços e velhos e, para essa urgente releitura do contrato social, a atual crise talvez tenha servido como o gatilho necessário. Mudo de registro. Depois de semanas de incessante ócio, quero compartilhar algumas poucas imagens destes dias que em mim devem perdurar. A primeira é de um imenso porta-aviões norte-americano dotado de armas de última geração e fragilizado por um número crescente de marinheiros doentes que seu comandante corajoso quis proteger. O comandante foi sumariamente demitido, já que a publicidade que cercou a inesperada vulnerabilidade da sua moderna fortaleza não estava prevista nos manuais. O inimigo não estava lá fora. Já estava dentro.

A segunda é de uma Casa Branca e de um Palácio da Alvorada conduzidos por insensatos que, buscando reeleições, não enxergam o óbvio.  A minha imagem mais duradoura deste período é, contudo, a da Praça de São Pedro, em Roma, vazia sob a chuva para escutar o Papa estender à cidade e ao mundo a sua bênção. Praças foram feitas para acolher multidões e para isso seu tamanho e situação. Aquela apenas parecia vazia. Uma imensa audiência virtual assistia, comovida e esperançosa, à comunhão da mais cosmopolita das religiões, com sua cidade-sede e com o mundo ao redor. O jogo continua.

Marcos Azambuja,  diplomata - Jornal O Globo



segunda-feira, 6 de abril de 2020

‘Não saia de casa!’ - A vida ou a liberdade, o que vale mais? - O Globo

Demétrio Magnoli 

[Gás de cozinha em falta = efeito colateral cascata do isolamento total]


[ATENÇÃO ISOLACIONISTAS -                                               ALERTA sobre FATO -                                                       não é fake, nem motivo de alarmismo. Apenas de prevenção.

Começa a faltar GLP - o popular 'gás de cozinha' - no DF praticamente não encontramos GLP - quando é encontrado cobram R$ 120, pelo bujão de 13 Kg.

Em entrevista hoje no Bom Dia DF o presidente do sindicato das distribuidoras de gás disse que a Petrobras justifica a falta devido a quedo no consumo de gasolina - devido a política de isolamento o consumo caiu demais e com isso o refino do GPL pela Petrobras também caiu.
A produção do GLP está atrelada ao refino de gasolina.
Com a queda do consumo o refino da gasolina caiu e, consequentemente, o do GLP, só que o consumo deste aumentou.
Um efeito colateral cascata, não previsto, do isolamento total.]

Nós vencemos. Mas quem somos “nós”?
“Não saia de casa!”. A ordem universal reflete a vitória da tradição filosófica do contrato social, que inscreve os direitos do indivíduo na moldura das normas de segurança coletiva. A tradição não é monolítica, fragmentando-se em tonalidades que se estendem do liberalismo progressista, numa ponta, ao totalitarismo, na ponta oposta. A Peste Negra em curso testa essas diferenças, colocando-nos diante de um espelho de cristal. Quem quer ser China?

A OMS exibe a China como modelo de eficiência, calando-se sobre a camuflagem inicial, a repressão aos médicos que davam o alerta, a brutalidade estatal do isolamento de Wuhan e, agora, sobre as suspeitas estatísticas chinesas, contaminadas pelo vírus do triunfalismo. Na Hungria, Viktor Orbán quer ser China: o primeiro-ministro obteve poderes de exceção por prazo indefinido de um parlamento controlado por seu partido, manipulando a crise sanitária para converter o país na primeira ditadura da União Europeia. “Não saia de casa!” — ou te coloco na cadeia por oito anos, ameaça o ídolo húngaro de Bolsonaro.

A vida ou a liberdade, o que vale mais? Da Itália à Suécia, passando por Espanha, França e Alemanha, estende-se um gradiente de medidas emergenciais que vão da quarentena severa a moderadas reduções de contatos sociais. Há penalidades, desde multas até processos criminais. Mas os governos estabelecem normas claras e temporárias, operando pela persuasão. Não é assim no Reino Unido, onde regras obscuras convivem com inumeráveis atos de arbítrio: drones filmam casais que passeiam com o cachorro no campo, motoristas são convocados a tribunais por dirigirem numa estrada aberta, policiais advertem alguém que fazia compras “não essenciais”.

“Agora estou dando uma ordem”, bradou Wilson Witzel, o improvável “campeão da vida” que mira “bem na cabecinha” e não entrega água potável às residências. O coronavírus carrega, no seu RNA, o gene do Estado policial. Mandetta explicou que “as pessoas podem caminhar, fazer algum esporte”. Witzel promete encarcerar os que desrespeitarem um isolamento social genérico. Na Rocinha, no Alemão, em tantas ilhas onde vale a lei da força, serão as milícias a aplicar sua ordem?

O vigilantismo escorre para baixo, despertando instintos latentes numa sociedade assustada. Moradores de edifícios cujas janelas se abrem para o longo viaduto do Minhocão, em São Paulo, vaiam, xingam, agridem pedestres e ciclistas que se atrevem a “caminhar, fazer algum esporte” na via elevada deserta. “Vai pra casa!” — o grito de guerra santifica, purifica, desinfeta. Fechamos fronteiras nacionais, trancamos rodovias intermunicipais
Por que não montar barreiras de vigilantes em torno de bairros ou quarteirões?

“Juntos vamos derrotar o coronavírus” — a capa unificada dos jornais brasileiros de 23 de março, cópia da iniciativa argentina, traz implícita uma curiosa mensagem jornalística contra a pluralidade de opiniões. “Juntos”, como quem? China ou Suécia? Alemanha ou Reino Unido? 
E com quem: Mandetta ou Witzel? 
Orbán decretou penas de prisão para quem divulgar notícias sobre a pandemia classificadas como falsas pelo seu governo. 
A imprensa está pronta a aceitar qualquer medida formulada sob o alegado propósito de derrotar o “inimigo comum”? [no caso o inimigo comum da totalidade (assim se espera) é o coronavírus, e de grande parte é o Presidente da República JAIR BOLSONARO.] 

Jair, a exemplo de Brady, nunca leu os libertários. Depois de confraternizar na praia, pode mudar radicalmente de ideia, imitando Viktor para se declarar um “presidente em guerra”. Vamos, juntos, proteger as liberdades enquanto protegemos a vida?


Demétrio Magnoli - Opinião - O Globo








segunda-feira, 23 de março de 2020

“NUREMBERG” para os culpados pelo Covid-19 - Sérgio Alves de Oliveira


A cada dia mais surgem indícios de que de realmente  tenha existido  “engenharia” genocida humana  no surgimento ,certamente “plantado”, e  rápida  disseminação  pelo mundo, do vírus Covid-19, como pandemia, conforme   já declarado pela Organização Mundial de Saúde-OMS, a partir do seu “berçário”,em março de 2020,na localidade de Wuhan, China.

Esse convencimento preliminar  necessariamente leva à conclusão que a pandemia Covid-19 tratou-se de um crime, de um genocídio contra a humanidade, de bioterrorismo sem precedentes na história, só não assumindo  o “tamanho”,  as trágicas consequências da “peste negra”,ou “bubônica”, que dizimou 1/3 (um terço) da população da Europa, no Século XIV, em virtude dos avanços da ciência médica e dos novos  remédios, e “prevenções” que surgiram desde então.

Os efeitos danosos à saúde do povos do mundo, tanto durante a “peste negra”, no Século XIV,quando no atual  ciclo devastador do Covid-19, só não podem ser atribuídos às consequência de uma “guerra biológica”, pela sua modalidade de “guerra virológica”,em razão do seu surgimento ter ocorrido  sem que tivesse  havido  qualquer declaração formal de “guerra” entre os países de “origem”, e “vítimas” da pandemia.

E se o Covid-19 não foi “guerra biológica”, ou “virológica”, provavelmente  teria sido   ação de terrorismo biológico,ou “terrorismo virológico”, mais precisamente , de ECOTERRORISMO, mesmo considerando a hipótese de envolvimento “não declarado”,”informal”, do governo de algum país “interessado” nos efeitos devastadores dessa nova doença, inclusive vantagens econômicas, que a cada dia que passa se tornam mais evidenciadas. E qualquer estudante  de Direito vai saber perfeitamente que  eventuais vantagens econômicas podem configurar indícios  de autoria de crime,apontar os primeiros suspeitos.Quem estaria “lucrando”  com o Covid-19 ? 
”Comprando” o resto do mundo a “preço de banana”, em virtude da “quebradeira” generalizada?

Mas paralelamente aos interesses econômicos que possam estar porventura envolvidos nessa guerra biológica, ou virológica”, há que trazer à baila “certas” informações “complementares”, no sentido de  que determinados grupos que dominam o mundo, política e economicamente, estariam interessados em diminuir drasticamente a população  mundial,a humanidade, havendo informações de que certas facções desses grupos estariam considerando o percentual de extermínio de 40% da humanidade, que passaria, por essa medida,de uma população total de 7,7 bilhões de pessoas, para 4,6 bilhões”eliminando”  a vida de cerca de 3 bilhões  de pessoas, de “transtornos”,  assim deixando o Planeta terra mais “folgado”.

Diversos países do mundo  [citaremos alguns adiante, não uma lista conclusiva, cabendo adições e supressões, por se se tratar de uma capacidade que muitos possuidores escondem.]: Israel,  Iraque, Irã, Síria, Índia, Paquistão, China, Estados Unidos, Coreia do Norte e Afeganistão  possuem laboratórios especializados na criação de “bioarmas”.Mas com certeza outros, “não oficiais”,também devem ter tais tipos de laboratório.

[Entendemos pertinente registrar:
atribuir o novo coronavirus e seu produto, Covid-19, a uma produção da engenharia genética e feita com fins belicosos ou até redução da população do planeta Terra, é uma hipótese que circula, apesar de não se sustentar.

Sabemos que capacidade para criar tal 'produto' existe, diversas correntes padecem de usa falta de escrúpulos de tal ordem, que matar alguns bilhões para preservar o planeta Terra não seria algo tão horrível.

Ocorre que, a criação de um vírus é impossível ao ser humano e a qualquer tecnologia - é o que dizem os que estudam o assunto, uma elite de sábios - restando o caminho de alterar um vírus existente, provocando uma mutação a partir de uma 'matriz' - procedimento que permite rastrear o DNA original, identificando o vírus modificado, etc, etc.

A propósito quando surgiu a AIDS, inicio da década de 80, circulou o boato de que era uma arma química produzida pelos Estados Unidos, e que devido um acidente havia escapado do controle.

Apesar da capacidade de produzir grande mortandade, não ser uma 'gripezinha', o Covid-19 é bem menos letal que a 'peste negra' e a 'gripe espanhola'.
A primeira, matou entre 300 a 400 milhões de pessoas - em uma época em que a população era rarefeita  e a transmissão extremamente demorada.
A 'espanhola' matou entre 50 a 100 milhões de pessoas, em um mundo com maior densidade demográfica, mas sem dispor de meios de transporte rápidos - o que reduzia,em muito, a velocidade de contágio.

Há suspeitas sobre a China - mas, sem suporte, exceto alguns interpretarem que as três pestes deste século, surgiram na China e que cada uma, foi seguida de um 'boom' da economia chinesa;
outros atribuem culpa aos chineses devido seus hábitos alimentares estranhos = inclusive ingestão de carne de morcego.

Já o Covid-19, apesar de globalização, facilitando o contágio, agora em março é que o número de mortos ultrapassou os 10.000 - apesar dos primeiros casos surgidos inicio de 2020 e a globalização aliada aliada a velocidade dos meios de transporte, 'extinguiu' fronteiras.]

Considerando que o mundo já passou por situações  semelhantes, embora talvez não tão graves e de rápida disseminação  como a atual pandemia do Covid-19, e que foi também da China que partiram anteriormente  diversas outras doenças que ameaçaram o mundo, urge que se investigue profundamente a atual crise, apontando-se os culpados, para que se os coloque no banco dos réus de um tribunal internacional ,podendo ser constituído  com inspiração no Tribunal de Nuremberg, que funcionou de novembro de 1945, a outubro de 1946, no Palácio da Justiça de Nuremberg, Alemanha, e que julgou e condenou   22 nazistas, por crimes de guerra e contra a humanidade, responsáveis pelo genocídio, pelo “holocausto”, pelo assassinato brutal de 6 milhões de judeus, durante a  2ª Guerra Mundial. Ressalte-se que dito tribunal serviu de inspiração para edição de diversas leis internacionais, e que o seu “espírito” poderia ajudar na elucidação do Covid-19, apontando as responsabilidades, julgando e condenando os  seus culpados.

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo