Quando o IBGE divulgar o PIB de 2017, no dia 1º de março, o número
deve ficar em torno de 1%, mas o resultado do último trimestre ficará
pequeno, entre 0,1% e 0,3% em comparação com o terceiro. Vai parecer que
o PIB está desacelerando. Mas os economistas acreditam que a economia
está ganhando fôlego. As famílias vão gastar R$ 100 bilhões a menos com
dívidas e isso alavancará o consumo em 2018.
O Itaú Unibanco estima que o PIB do quarto trimestre subiu apenas
0,1% em relação ao terceiro. O Bradesco e o BNP Paribas projetam 0,3%.
Por essa forma de se olhar, a economia parece estar perdendo vigor, já
que no primeiro trimestre houve uma forte alta de 1,3%, seguida de um
número de 0,7%, no segundo, e de 0,1% no terceiro. O problema, explicam
os economistas, é que o crescimento da agropecuária ficou concentrado no
primeiro trimestre e agora está “roubando” PIB dos outros trimestres,
do ponto de vista estatístico: — O quarto trimestre deve ser baixo, em relação ao terceiro, mas por
uma questão estatística. O PIB da agricultura ficou concentrado no
primeiro trimestre e por isso ele ficou negativo nos outros três. Mas
quando a gente olha para as outras duas formas de comparação do PIB,
sobre o trimestre do ano anterior e no acumulado em 12 meses, a
tendência de aceleração é clara — explica o economista Artur Passos, do
Itaú.
A taxa em 12 meses, de fato, mostra isso. Depois de afundar 4,6% no
segundo trimestre de 2016, o PIB ficou cada vez menos negativo a cada
trimestre e fechará 2018 com uma alta em torno de 1%, voltando para o
azul pela primeira vez desde 2014. Em 2018, continuará acelerando,
podendo fechar em 3%, como estimam tanto o Itaú quanto o BNP Paribas, ou
até mais. — O índice de difusão do PIB, calculado pelo Itaú, que mostra quantos
setores estão crescendo, estava em 46% em janeiro. Em novembro já havia
subido para 54%. O crescimento está mais espalhado — completa Passos.
O economista Gustavo Arruda, do banco BNP Paribas, aposta que o
crédito será uma das alavancas para o crescimento. Ele chama atenção
para a queda do endividamento das famílias, que irá liberar renda para o
consumo. O Banco Central tem um indicador que mede o comprometimento da
renda mensal com o pagamento de dívidas. Em dezembro, ele caiu para
20%, o percentual mais baixo desde 2011. Pela estimativa do BNP, o
número continuará caindo este ano, para 18,5%, o que significa R$ 100
bilhões a menos de gastos com dívidas em 2018 em relação a 2017. — A média entre 2011 e 2016 foi de 22% de comprometimento da renda
com pagamento de dívidas. Agora, já percebemos uma queda mais acentuada e
isso vai continuar. É significativo o impacto disso no consumo —
explicou. [nos tempos do Lula e Dilma não havia controle para o endividamento; agora a queda do endividamento é que libera renda para o consumo - caindo o endividamento haverá mais renda para alimentar o consumo.]
O grande problema continuará sendo o desemprego. Apesar das
estimativas de queda ao longo deste ano, e com mais criação de vagas
formais, não há qualquer projeção de que a taxa, que hoje está em 11,8%,
volte rapidamente aos patamares anteriores à crise. O presidente da
Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel,
conta que o seu setor perdeu 130 mil vagas entre 2015 e 2016. No ano
passado, abriu apenas 2 mil postos e este ano deve gerar 20 mil: — Se esse ritmo for mantido, o setor vai precisar de mais seis anos
para recuperar o que perdeu. As empresas aprenderam a ficar mais
“magras”, ou seja, a produzir mais com menos funcionários. E, além
disso, há as incertezas na economia e na política que têm travado os
investimentos em novas plantas.
A reforma trabalhista, diz Pimentel, é positiva, mas ainda vai
precisar de uns 4 ou 5 anos para ser pacificada nos tribunais. Esse é o
tempo estimado para que a Justiça julgue as ações da nova legislação e
crie uma jurisprudência que retire as dúvidas sobre as novas regras. — A reforma foi muito positiva porque viabiliza a formalização de
outras formas de emprego e de relação entre empregador e empregado. Mas
levará tempo para se ter um panorama mais claro sobre os seus efeitos —
disse Pimentel.
A economia está em recuperação. As travas para uma retomada mais
rápida continuam sendo a incerteza política e a ausência de solução para
o desequilíbrio crônico das contas públicas.
Coluna da Miriam Leitão - O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário