[esperteza demais costuma f ... o esperto; Lula, se julgava e era julgado o super esperto, o gênio, está preso há 300 dias, passou uma Noite de Natal e uma da Virada em cana - e mais condenações estão chegando; Renan, vai por caminho parecido. ]
Ao
candidatar-se à presidência do Senado pela quinta vez, Renan Calheiros livrou a
instituição de um mito que arruinava sua imagem: a esperteza da velha raposa de
Alagoas. Em má fase, Renan demonstrou que, entre o certo e o errado, há sempre
espaço para mais erros na política. De todos os equívocos que produziram a
derrota de Renan o despacho noturno do amigo Dias Toffoli foi a macumba mais
surpreendente. A raposa e seu séquito celebraram efusivamente a anulação
judicial da votação na qual 50 senadores haviam instituído o voto aberto na
escolha do comandante do Senado. Enxergaram uma luz no fim do túnel. Era pus.
Há no Senado 81 senadores. Ao restabelecer o voto secreto, Toffoli
tornou-se uma espécie de 82º senador, mais poderoso que os demais. Sua presença
invisível no plenário transformou a eleição do novo presidente da Casa numa
espécie de teatro de bonecos —do tipo em que o boneco é manipulado por pessoas
vestidas de preto dos pés à cabeça. Nessa modalidade de teatro, a plateia sabe
que os manipuladores dos bonecos estão em cena. Entretanto, para o bom
andamento do espetáculo, convencionou-se que os espectadores devem fingir que
eles são invisíveis. A interferência de Toffoli deixou o teatro do Senado muito
parecido com o original. Com uma diferença. A diferença é que, na apresentação
convencional, a presença dos manipuladores de preto é enfatizada. A plateia
sabe que a cumplicidade do fingimento é parte show. No palco do Senado, os
manipuladores querem que o brasileiro acredite que eles não estão lá. Pior:
desejam que todos se convençam de que os bonecos são seres independentes. Os
adeptos do voto aberto desnudaram o truque ao decidir expor seus votos na
marra, dando de ombros para a decisão monocrática de Toffoli. O gesto
constrangeu o grupo de senadores-bonecos —aqueles que só admitiam votar em
Renan, um aliado radioativo, no escurinho do escrutínio secreto.
O feitiço de Toffoli transformou Renan numa pequena criatura. Ao se dar
conta do próprio encolhimento, Renan bateu em retirada: "Para demostrar
que esse processo não é democrático, eu queria dizer que o Davi não é o Davi. O
Davi é o Golias. Ele é o novo presidente do Senado e eu retiro a minha
candidatura, porque eu não vou me submeter a isso." Fora de si, Renan
exibiu o rancor que tem por dentro: "Eles querem ganhar de todo jeito, com
voto da minoria. Onde é que nós estamos? O PSDB anunciou agora que estava
abrindo o voto para retirar, contra decisão do Supremo, qualquer possibilidade
de termos os votos de José Serra e de Mara Gabrilli. O Flávio Bolsonaro,
diferentemente do que fez na votação anterior, abriu o voto, abriu o
voto!"
Renan conseguiu um milagre: transformou uma vitória na Suprema
Corte em pedrinhas de brilhante para ladrilhar a avenida que conduziu o
adversário Davi Alcolumbre à presidência do Senado. Restou uma mágoa com o
Planalto, pois o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) inflou a candidatura de
Alcolumbre. Nos próximos meses, uma das boas diversões da política será
assistir às piruetas que Renan fará para se vingar do governo e, ao mesmo
tempo, negociar com a gestão de Jair Bolsonaro a liberação de verbas federais
para o governo de Renan Filho em Alagoas.