Por Ernesto
Caruso
A reforma da previdência venceu o primeiro obstáculo por 379 votos contra
131 na Câmara dos Deputados. Emblemático número 13 a lembrar dos petistas da
estrela vermelha. Treze dezenas mais um contra o grito das ruas. Radicais da
Silva contra tudo; tripulantes do quanto pior, melhor. A reforma que não pode esperar. O inverso desproporcional entre os baixos
índices de natalidade e o crescente índice de longevidade aflorou no consciente
do cidadão. As fatias maiores nas mesas de uns e as migalhas nas marmitas de
muitos estimularam as reações.
Os ouvidos moucos do mundo político saíram da inércia; os olhos estão a
enxergar pouco além do próprio umbigo; e, o cérebro faz pensar na
sobrevivência; os anéis se vão, ficam os dedos. Mas, a vontade não é férrea. O barulho da reforma da previdência abafa outras pretensões. Como o
acréscimo de R$ 2 bilhões ao valor atual do fundo eleitoral. O presidente
da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM/RJ), considera que não é exagero
fazer o seu valor chegar até 3,7 bilhões de reais para financiar as campanhas
municipais de 2020. Claro, olhando as ditas de 2022.
[terá a serventia acima os R$ 3,7 bilhões que Maia quer para o Fundo Partidário - Blog Prontidão Total]
Velha estória. “São mais de 5 mil municípios com milhares de candidatos a
vereador”. Na verdade, parte deles envolvidos em reeleição mais bem aquinhoados
e próximos às cúpulas partidárias contra candidatos novos sem os mesmos
recursos financeiros e assessores pagos com verba pública, na disputa eleitoral
desequilibrada, mas dita “democrática”. Abjetos fundos, o partidário que já
existia somado ao mais recente, o eleitoral.
Lembrando ao presidente da Câmara, é exagero, sim, se considerados os
gastos do PT do Fundo Partidário, como simples exemplo, do me engana que
eu gosto, nos eventos do “Lula livre”, em passagens aéreas/hospedagens,
locação de vans e inclusive com as equipes de segurança nos dias que Lula
participava de comícios no entorno da sua prisão. A bagatela de um milhão de
reais. (https://istoe.com.br/dinheiro-publico-banca-o-lula-livre/)
É exagero, sim, deputado. Senador! Vereador! Que cada candidato/partido
gaste do seu bolso. Falta verba pública para a saúde, que está intimamente
ligada à vida. Hospitais em frangalhos. É exagero, ainda mais com a falta de
pudor incontestável e fotografável no porão corrupto da administração pública
nos municípios, estados e na União. Mensalão, petrolão... tudo no aumentativo. E no diminutivo absoluto em termos de IDH (índice de desenvolvimento
humano), na saúde, educação, segurança, transporte, estradas-atoleiros,
saneamento...
Como no seu discurso, deputado Rodrigo Maia, ao final da votação quando
destaca os problemas nacionais da pobreza, dos abaixo da pobreza, dos milhões
sem emprego, do desarranjo na educação, na saúde, na segurança e na necessidade
do protagonismo do Congresso Nacional...
Que seja protagonista! Cabe ao Poder Legislativo fazer as leis em
benefício da cidadania e não para benefício dos seus servidores e eleitos com
tantos assessores e mordomias. Obeso, lerdo e caro. Poucos dias de trabalho,
passagens aéreas, férias, recessos e gratificações a mãos-cheias. Por que não
fez leis mais duras contra os criminosos, menores inclusos, que sufocam a
sociedade?
Ora, Rodrigo Maia está presidente da Câmara de Deputados desde 2016.
Passou pela reforma da previdência do governo Temer (PEC287/05.12.16),
semelhante à proposta em tramitação. Sexto mandato, ensino médio completo. Segundo notícias de 19Fev18, a PEC 287 “chega à data prevista para
votação longe de ser aprovada”. Maia também era um dos fiadores da reforma. Em
coletiva de imprensa admitiu que a votação será adiada e corre risco de não ser
votada... "Não posso exigir que deputados, num ano eleitoral, já
entrando março ou abril, você introduza um debate onde 60% é contra e 27% a
favor da reforma."
Enquanto se deu conta que “o texto da reforma foi aprovado em maio de
2017, mas demorou nove meses para dar o próximo passo”, agora, com pouco mais
de seis meses do governo Bolsonaro, a aprovação na Câmara é líquida e certa. Quem deflagrou o processo na Câmara dos Deputados que redundou nas
manifestações de rua, face ao corpo mole ou a prática do “toma lá, dá cá” dos
parlamentares daqui e dacolá? Rodrigo Maia ou Bolsonaro?
Qual a força de Rodrigo Maia no seu reduto eleitoral? Foi o 13º colocado no
pleito para deputado, alcançando 74.232 votos, enquanto Hélio Lopes-Bolsonaro,
o foi com 345.234 votos. Flávio Bolsonaro foi eleito ao Senado com mais de 4
milhões de votos; 31,36% dos votos válidos, o segundo eleito obteve 17,06%. O
pai de Rodrigo Maia, que já tinha sido prefeito do município do Rio de Janeiro,
por duas vezes e, deputado federal, não foi eleito para o Senado.
A força para a reforma da previdência veio das ruas, nas manifestações
dos dias 26 de maio e 30 de junho/19, somadas às demais que fizeram parte da
campanha eleitoral. Ratificando o apoio ao presidente Bolsonaro e às propostas
de governo por ele apresentadas. Para os cientistas políticos que não aparecem
nos telejornais, a grande novidade dos atos foi colocar a reforma da
previdência como pauta favorável de rua. [vale lembrar que a reforma da Previdência corre riscos de não se concretizar; a velocidade da semana que passou, travou com o adiamento para agosto.
Maia, como tem sido habitual faz que quer uma coisa e de repente faz outra.
Em dois dias de discussão dos destaques da reforma da Previdência, Maia temendo perder, encerrou a sessão e com isso criou o clima para o adiamento.]
O que se constata na mídia é a tentativa de enfraquecer Bolsonaro, ainda
que seja agredindo algum dos seus ministros como bem demonstra a orquestração
sobre o ministro Sérgio Moro. Enquanto não se aprova o pacote anti-crime, se faça a reforma tributária
e eleitoral como o povo deseja, a começar por extinguir a reeleição, que se
conclua a reforma da previdência que a nação anseia, briga e convence.
Paciência. Os deputados empurraram a votação em segundo turno para 6 de
agosto. Eles não são de ferro.
Ernesto Caruso é
Coronel de Artilharia e Estado-Maior, reformado.