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sábado, 6 de março de 2021

O colapso - Revista Época

Monica de Bolle

Estamos prestes a viver outra ruptura, essa muito pior do que a primeira. Da ruptura iminente talvez tenhamos convulsões sociais e políticas. Viveremos a tragédia em outro patamar

A economia brasileira colapsou em 2020, já me apresso a dizer. O PIB não reflete as mortes, o sofrimento de quem teve sequelas de Covid-19, que talvez tenha ficado debilitado e não possa retornar ao mercado de trabalho. O PIB não reflete as marcas que permanecerão depois de tantos óbitos, apesar de um sistema de saúde que, mesmo subfinanciado, tentou dar conta daa que ações e omissões intencionais do governo federal deram uma dimensão que não imaginaríamos um ano atrás. O PIB reflete o apoio à economia que o auxílio emergencial representou. Ele mostra que o auxílio foi um dinheiro da sociedade empregado em seu próprio proveito, apesar do atual governo antibrasileiro. Sem ele, o “tombo”, como alguns se referem à recessão brutal, teria sido muito maior. Esse é o passado que se desdobra no presente. Mas e agora?

No presente estamos explorando as profundezas do colapso. De acordo com estudos já publicados e outro prestes a ser publicado em formato preprint pelo Observatório Covid-19 rede multidisciplinar de cientistas a qual integro —, a variante P1, que surgiu em Manaus ao final de 2020, é cerca [advérbio que justifica qualquer palpite e pode ser adaptado a realidade - o seu uso justifica qualquer excesso ou redução.]   de duas vezes e meia mais transmissível que as anteriores. Isso tem ao menos dois significados: a curva exponencial de contágios é muito mais agressiva e a disseminação é de magnitude mais elevada. Para que se tenha uma ideia, a P1 é duas vezes mais transmissível que a variante viral que pôs toda a Europa em lockdown ao final do ano passado. É provável que seja a propagação da P1 a responsável pelos colapsos hospitalares que temos visto no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Maranhão, no interior de São Paulo, além de em várias outras partes do país.

[quando  foi citado o observatório covid-19 e ser uma rede multidisciplinar de cientistas, entre eles a articulista, receamos a presença entre os cientistas de algum especialista em nada, cuja única função é a de arautos do pessimismo.
Só que a proposição do lockdown, especialmente em âmbito nacional, mostrou que estávamos errados: não tem apenas um que vai para a TV prever hoje o que aconteceu ontem, o cara de pau do especialista em nada, o observatório foi invadido, dominado pelos indivíduos citados.
Todos sabem, especialmente os cultores da ciência, que se lockdown resolvesse metade da Europa já estaria livre da praga.]

Diante dessa variação do vírus, a pandemia brasileira entrou em sua fase mais crítica desde que o sars-CoV-2 aterrissou no país em fevereiro do ano passado. Por esse motivo, o Brasil tem sido manchete dos principais jornais internacionais — como The Washington Post e The New York Times — desde o último fim de semana. Em entrevista ao jornal O GLOBO no último domingo, alertei para o perigo de que o Brasil se tornasse pária internacional, isolado do resto do mundo, devido à pandemia descontrolada e ao laboratório de mutações em que as ações e omissões do presidente da República [nota: ao presidente da República só cabe criticá-lo por eventuais ações, já que foi vedado de interferir no combate à covid-19 (vedação que o absorve de qualquer acusação de omissão)  - os prefeitos e governadores receberam um mandado de agir como lhes aprouvesse e não souberam cumprir.] e outros de nossos governantes nos transformaram. Somente as consequências disso para a economia já seriam alarmantes. E a elas somam-se outras: a população que não conta com o auxílio, as multinacionais que decidiram deixar o país, o desgoverno de Bolsonaro.

O que deveríamos estar fazendo agora? Primeiramente, um lockdown estrito, sobretudo nas localidades mais afetadas, onde os hospitais já carecem de leitos. Penso, inclusive, que o lockdown deveria ser decretado para o país inteiro, mas sei que isso é esperar demais de um país em que muitos ainda acreditam que saúde e economia não se misturam. Um ano não foi suficiente para que entendessem que o colapso da saúde é o colapso da economia, algo que tenho dito desde março do ano passado. A medida requer dar apoio material para que as pessoas a observem.

Traduzindo, não é possível instituir um lockdown sem que se tenha, ao mesmo tempo, a adoção do auxílio emergencial no valor de R$ 600, o custo de uma cesta básica. Diante da catástrofe anunciada, o término do auxílio só pode ser determinado pelos dados epidemiológicos, aqueles que poderiam indicar a reabertura gradual e lenta. Por fim, o Brasil deveria, sem esperar mais um minuto sequer, comprar doses de todas as vacinas disponíveis nas quantidades que puder. É urgente que se tenha vacinação e cobertura amplas para frear as cadeias de transmissão dessa variante para lá de alarmante. Escrevo ciente de que nada disso será feito, de que ninguém no governo entende a gravidade do que vamos atravessar e, se entende, prefere nada fazer, mas faço questão de deixar essas palavras no papel, para marcar o momento.

Estamos prestes a viver outra ruptura, essa muito pior do que a primeira. Da ruptura iminente talvez tenhamos convulsões sociais e políticas. Por certo teremos muitas mortes evitáveis. Viveremos a tragédia em outro patamar. O colapso não é único, não tem dimensão. O colapso tem tão somente o tamanho do descaso de um governante em relação à população, inclusive aquela que o elegeu.

Monicade Bolle, pesquisadora do Peterson Institute, Economics,  professora da Universidade Johns Hopkins


terça-feira, 2 de março de 2021

A pandemia pela cartilha do coronel - Valor Econômico

Andrea Jubé

Para Randolfe Rodrigues, últimos fatos precipitam CPI da covid

[Destacando: 
- esse senador ser contra tudo e todos, defender CPIs para qualquer coisa que renda algumas linhas de manchete,  não surpreende a ninguém. 
Felizmente, seus projetos de travar pautas, atrapalhar governos, nunca decolam.
Será surpresa se um dia ele apresentar um projeto que favoreça seus eleitores , sirva para alguma coisa e seja aprovado;
- o alerta daquela cardiologista chega a ser cômico, ridículo,  de tão desnecessário - nesses tempos de covid-19, em que qualquer um que queira opinar, especialmente se contra o Governo Bolsonaro e favorável a maximização do que já é ruim,  encontra plateia. Resultado é  o que se ouve, e se lê, de absurdos, de acacianismos, de exibição do óbvio, até Deus duvida. Até nós, temos leitores para o que escrevemos,que são: ninguém e todo mundo.]

O Coronel Emílio é um chefe político de prestígio local, cujos domínios se estendem pelas fazendas de gado e metade da vila. Certo dia, ele recebe a notícia do assassinato de Bento Porfírio, um de seus capatazes, que estava de chamego com a prima De-Lourdes, casada com o Xandão Cabaça. Quando o marido descobriu a traição, espreitou o detrator em uma pescaria, golpeou-o pelas costas com uma foice e fugiu sem deixar rastro. Ao ser informado pelo sobrinho da tragédia envolvendo um de seus empregados mais antigos, Tio Emílio reagiu com fleuma: “Boi sonso, marrada certa”.

Perplexo, o sobrinho cobrou compaixão: “O senhor que é tão justiceiro e correto, e que gostava tanto do Bento Porfírio, vai deixar isto assim?” De súbito, entretanto, o coronel bateu na testa, saltou da cadeira, e ordenou que os jagunços fossem ao encalço do fugitivo da lei. O objetivo da ordem, entretanto, não era fazer justiça à vítima. O coronel estava preocupado em mitigar danos eleitorais. “Já perdi um voto, e, se o desgraçado fugir para longe, são dois que eu perco!”, desabafou com o sobrinho.

Pela cartilha do velho coronel político, retratado por Guimarães Rosa em “Sagarana” (1946), uma vida vale um voto. No Brasil da pandemia, a impressão que se tem é que a vida não vale nem isso mais. Se valer, os políticos já perderam pelo menos mais de 200 mil votos. A diferença entre o Coronel Emílio e uma ala de políticos da vida real é que pelo menos o personagem se preocupava com a preservação da vida de seus eleitores, ainda que por razões pragmáticas.

No Brasil, a perda de centenas de milhares de vidas, vítimas da covid-19, não despertou empatia em segmentos da classe política nem em segmentos da população. As aglomerações em bares e outros locais públicos, e festas clandestinas, ocorrem à luz do dia. Políticos e populares ainda resistem à adesão aos cuidados mais comezinhos, como uso de máscaras e distanciamento social. Um dos papéis das autoridades na pandemia deveria ser a conscientização dos brasileiros quanto à relevância de seguir os protocolos sanitários para coibir a disseminação do vírus.

A pandemia está em escalada galopante, mas os números não assustam. Um ano depois, chegamos ao pior momento da pandemia, com uma média móvel de 1.208 mortes diárias. São cinco Boeings caindo por dia, pela metáfora do neurocientista Miguel Nicolelis. Contabilizamos mais de 10 milhões de contaminados, e mais de 255 mil óbitos. É como se enterrássemos de uma vez a população de uma cidade inteira do tamanho de São Carlos (SP), ou Foz do Iguaçu (PR), sem direito a velório. As UTIs estão lotadas em todos os Estados.

O comportamento dos políticos que se omitem, ou que propagam discurso negacionista, estimula a conduta de uma parcela de brasileiros que resiste a encarar a pandemia. Ontem a doutora Ludhmila Hajjar, cardiologista e intensivista da Rede D’or, alertou em entrevista à “Globonews” que estamos à beira de um colapso nacional. [se a ilustre cardiologista usar o mesmo critério de oportunidade e conveniência no atendimento aos seus pacientes, que o utilizado no alerta, é conveniente que ela deixe no mínimo de ser intensivista - até o conselheiro Acácio não emitiria tão importante e necessário  alerta.]  Ela atribuiu o quadro dramático também a uma parcela de brasileiros que se esbaldou no carnaval em festas clandestinas, favorecendo o contágio.

Na quinta-feira, quando o Brasil atingiu um recorde de mortes por covid-19 (1.582), o presidente Jair Bolsonaro criticou, sem base científica, o uso de máscaras, em um comportamento que estimula seus seguidores a imitá-lo.[foi uma resposta para compensar a asneira que aquele cientista dos Estado Unidos, Antonio Fauci, especialista em manchetes  apavorantes, quando faz propaganda da necessidade de duas máscaras -sugestão que os contadores de cadáveres já começam a divulgar no estilo de quem não quer nada.]

Ontem o correspondente no Brasil do “The Washington Post” alertou que a tragédia em curso no Brasil pode ter “implicações globais”. Ele afirmou que se o Brasil não controlar o vírus, vai se transformar no “maior laboratório aberto do mundo para o vírus sofrer mutação”, favorecendo a “disseminação de variantes mais letais e infecciosas”. [ou seja: o alarmista prepara o terreno para os contadores de cadáveres começar a veicular que o Brasil será alvo do poder de fogo das potências nucleares - incineram nosso Brasil, milhões e milhões de habitantes, tornam terra de ninguém por algumas dezenas ou centenas de anos, acabam com o vírus nas terras onde o Brasil existiu... a Amazônia e os indígenas, que tanto defendem,também acabam e???]

Em outra frente, governadores e políticos independentes, ou da oposição, buscam saídas para driblar a lentidão do Programa Nacional de Imunização, e também para cobrar responsabilidade das autoridades que podem ser acusadas de negligência. [essa cobrança de responsabilidade, de repente vai parar no TPI - Haia - Holanda e será a oportunidade de se saber quem é culpado do que? 
quem proibiu quem de fazer o que? 
Os governadores e prefeitos, agora heróis de causa que perderam, tem que lembrar que coube a eles o protagonismo das ações de combate ao coronavírus - foi decretado que o Poder Executivo da União não seria o protagonista. Iria a reboque, atuando quando recebesse permissão.
E tudo que foi dito, escrito, talvez até pensado, sobre a covid-19 está gravado em várias fontes.]

Mais da metade dos governadores enfrentam a ira de empresários, de seus opositores e de segmentos da população por adotarem “lockdown” ou medidas restritivas, como toque de recolher, no esforço de conter o vírus. Ontem o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) defendeu imediato “lockdown” nos Estados com mais de 85% de ocupação de leitos, e de um toque de recolher nacional. Sob ataque de Bolsonaro, hoje os governadores reúnem-se em Brasília com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Na base eleitoral de Lira, em Arapiraca, segunda cidade mais importante de Alagoas, causou comoção na semana passada a morte de uma enfermeira vítima da covid-19. Ela se recusou a tomar a dose da Coronavac, a que tinha direito por ser profissional de saúde, por duvidar da comprovação científica do imunizante, embora autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Lira perdeu a oportunidade de se manifestar para condenar a disseminação de “fake news”, mazela que contribuiu, pelo menos lateralmente, para a morte de sua conterrânea, quiçá eleitora. Diante dessa conjuntura, no Senado, alguns parlamentares voltam a carga contra o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), nesta semana para pressioná-lo a instalar a CPI da covid. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirma que os fatos mais recentes sobre a pandemia “precipitam a instalação da CPI”. Ele cita, por exemplo, o depoimento modificado do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, à Polícia Federal; o embate do presidente com os governadores; a persistência do discurso negacionista.

O Coronel Emílio e uma ala de políticos da vida real têm em comum a falta de empatia pelo semelhante, ou seja, a incapacidade de se colocar no lugar do outro, de compartilhar a dor do outro. Mas, ao contrário do personagem, também falta a alguns políticos uma dose de pragmatismo para que se movimentem para salvar seus eleitores. A Justiça Eleitoral não instala urnas no cemitério.

Andrea Jubé, colunista - Valor Econômico


terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Um caminho árduo para o oxigênio chegar aos doentes no remoto Brasil - DefesaNet

Com as cobiçadas UTIs cheias, o consumo disparou o consumo de oxigênio, criando um pesadelo logístico

As palavras desesperadas de Thalita Rocha tornaram-se virais, em 14 de janeiro: “Estamos em uma situação deplorável”, disse ela em um vídeo postado no Instagram. “Quem tiver disponibilidade de oxigênio traga aqui na policlínica. Muitas pessoas estão morrendo." A sogra de Rocha, com teste positivo para coronavírus, estava internada em Manaus, a cidade isolada da Amazônia brasileira, quando o suprimento de oxigênio acabou naquele dia. Ao saber da carência, Rocha perguntou quando o hospital receberia mais oxigênio, apenas para ouvir que o Diretor não sabia.

Ela viu alguns pacientes serem ressuscitados nos corredores e outros sufocados até a morte. Ela viu médicos chorarem. Ela caiu de joelhos e orou. “Isto parecia o fim do mundo.” Nos dias 14 e 15 de janeiro, dezenas de brasileiros asfixiados enquanto as autoridades lutavam para levar mais oxigênio para Manaus. A sogra de Rocha era uma delas. “Há um colapso do sistema de saúde em Manaus. A fila para os leitos de UTI hospitalares está crescendo muito ”, disse

Com as UTIs lotadas e o alto consumo de Oxigênio o governo brasileiro inicia um esforço árduo para abastecer Manaus.
 
Ministro da Saúde do Brasil, Eduardo Pazuello, realizou uma transmissão ao vivo, em 14 de janeiro. Nos dias seguintes, o governo começou a transportar pacientes críticos para outros estados. Mas as filas para leitos de UTI hospitalares ainda são longas - há mais de 360 ??pessoas esperando. No ano passado, o consumo de oxigênio no estado do Amazonas, dobrou em 30 dias em abril, quando ocorreu a primeira onda do coronavírus. Mas, a demanda cresceu ainda mais rapidamente no mês passado, quase triplicando em duas semanas. Em meio à descoberta de uma variante do vírus no estado, o Amazonas notificou 66 mil casos em janeiro, mais de um terço do total registrado, em 2020.

Com os hospitais e UTIs lotados, o consumo de oxigênio disparou, criando um pesadelo logístico para as autoridades locais. O Brasil não é o único país com falta de oxigênio. O surto de casos de vírus corona em janeiro desafiou cidades de Lisboa à Cidade do México e Los Angeles. No Egito, os pacientes postaram vídeos de um hospital que parecia estar sem oxigênio, embora o governo negue qualquer escassez. O desafio no Amazonas é agravado pela dificuldade de acesso à sua capital, Manaus, que abriga todas as unidades de terapia intensiva do estado. A cidade de 2,2 milhões de habitantes está isolada do resto do Brasil.

As duas rodovias principais estão intransitáveis ??
por falta de manutenção (Nota DefesaNet A Rodovia BR-319 Porto Velho (RO) a Manaus está proibido de ter melhorias devido a licenças  ambientais). “Você só pode chegar aqui de barco ou de avião. Não existe outro acesso ligando a cidade ao resto do país ”, disse Marcellus Campêlo, secretário estadual de saúde. [preservam o meio ambiente - insuflados por ongueiros traidores da Pátria -  criam mais reservas indígenas, deixam brasileiros morrerem a míngua em hospitais e depois acusam Pazzuelo.]

Nas últimas semanas, o vírus começou a se espalhar rapidamente de Manaus para áreas rurais do estado, preocupando as autoridades sobre a logística de transporte para áreas remotas que só podem ser acessadas por barco. A viagem da capital dura, em alguns casos, dias. Um desafio de transporte O oxigênio é transportado em duas formas: gás, transportado em cilindros, e líquido, transportado em grandes tanques mantidos a menos 300 graus Fahrenheit

Apenas algumas aeronaves estão equipadas com o equipamento necessário para transportar oxigênio. A Força Aérea Brasileira tem usado três aviões para transportar oxigênio de outras capitais para Manaus. O avião de maior capacidade, um KC-390 Millennium, pode transportar apenas cerca de 6.000 metros cúbicos de oxigênio em cilindros ou tanques criogênicos por vez, menos de 7% do consumo diário do Amazonas. O oxigênio também está sendo embarcado para Manaus de barco. Embora isso permita embarques maiores, a viagem de Belém subindo o rio Amazonas leva pelo menos uma semana. Uma remessa de cerca de 90.000 metros cúbicos, aproximadamente o equivalente ao consumo de um dia no Amazonas, chegou a Manaus em 6 de fevereiro, várias semanas depois de deixar o estado de São Paulo.
 
O oxigênio é então transferido para veículos que podem chegar aos hospitais - um processo que leva três dias, segundo a fornecedora local White Martins. Em seguida, o tanque retorna para Belém, onde é reabastecido, e repete a viagem até Manaus. Para expandir a produção local, o governo estadual instalou 20 pequenas usinas de oxigênio em Manaus, que juntas geram cerca de 10,1 mil metros cúbicos de oxigênio por dia.

Outros 44 serão instalados na capital e nas áreas rurais do estado, segundo o governo. Uma doação de $ 300.000 do governo dos EUA será usada para construir mais fábricas de produção de oxigênio em todo o Amazonas. Embora a maioria dos hospitais em Manaus agora tenha oxigênio suficiente, muitos não têm capacidade para admitir novos pacientes.
 
Em 10 de fevereiro, as UTIs de coronavírus estavam 93,5% ocupadas, deixando os pacientes para se tratarem em casa. “Hoje recebi três ligações de pessoas que precisavam de oxigênio e não conseguiam encontrar”, disse Rocha, que se ofereceu para distribuir suprimentos pela cidade, ao The Washington Post. “A situação está longe do normal".

Avisos sobre a escassez de oxigênio , a White Martins, fornecedora local de oxigênio do governo, disse que avisou o governo sobre a escassez no dia 7 de janeiro e pediu à Força Aérea Brasileira para transportar mais oxigênio para Manaus. Em nota, a empresa informou, que também alertou o governo, em julho e setembro, que “o consumo de oxigênio fornecido ao estado não refletia mais o volume contratado”. Campêlo, o secretário estadual de saúde, reconheceu ter recebido a solicitação da empresa em 7 de janeiro, mas disseram que as autoridades não consideram, que o sistema de saúde está prestes a entrar em colapso. O presidente Jair Bolsonaro opinou. “Fizemos o que podíamos para resolver a crise”, disse ele. Mas, o Procurador-Geral da República (PGR) do Brasil, abriu uma investigação autorizada pela suprema corte sobre a resposta do governo federal e do Ministro da Saúde à crise. Ele observou que as autoridades federais não começaram a transportar oxigênio para Manaus até 12 de janeiro.

Bolsonaro negou negligência federal. Ele disse que não é “competência ou responsabilidade do governo enviar oxigênio para Manaus. ”Alex Machado Campos, diretor da agência reguladora de saúde do país, chamou a situação em Manaus de uma tragédia humana.   “É a expressão mais triste e revoltante do fracasso do governo em todos os níveis. Para Rocha, a falta de oxigênio é apenas um pequeno pedaço da crise de saúde em Manaus. “A crise do oxigênio foi a gota d'água, porque os hospitais ainda estão lotados, não tem leito de UTI, nem remédio, nem água em alguns hospitais. O problema é muito maior ”, disse ela. “Estamos lutando para sobreviver
"
 
DefesaNet - Transcrito em 16 fevereiro 2021
 
 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Uma lei autoritária – O Estado de S. Paulo

Opinião

A nova lei de segurança da França viola direitos fundamentais de forma inaudita

A sociedade francesa está com medo de uma nova onda de ataques terroristas, medo da violência policial contra negros e imigrantes, medo de perder direitos que são a essência da república, ora sob ameaça sem precedentes. É bastante significativo que as multidões que ocupam as ruas de Paris e de outras cidades da França há dias gritem o tempo todo o lema nacional francês: “Liberdade! Igualdade! Fraternidade!”.

[Animador e promissor o fato de que países considerados modelos  de democracia - Alemanha e França - começam a reconhecer que ou se combate os abusos cometidos em nome das liberdades civis ou teremos o CAOS.

Esperamos que esses bons ventos soprem também no Brasil e as polícias e demais agentes de segurança possam trabalhar na contenção dos distúrbios que ocorrem por qualquer coisa e na maioria das vezes sem motivação que possa ser considerada.

A ORDEM e PROGRESSO  da Bandeira Nacional precisam se tornar realidades e com bagunças por razões menores  continuarão sendo apenas uma frase. E os que teimam em zombar das normas, invocando razões ridículas ou mesmo vazias para não cumpri-las, tem que ser obrigados e cumprir e punidos com rigor pela omissão e cabe às autoridades da segurança pública, nos seus mais diversos níveis, enquadrá-los com o uso da força necessária.]

Foi assim na tarde do sábado passado, quando milhares de manifestantes se reuniram no entorno da Torre Eiffel para mais um dia de protestos contra a brutal agressão a Michel Zecler, um produtor musical negro surrado com cassetetes por três policiais brancos, no dia 21 passado. Zecler correu da polícia por não estar usando a máscara de proteção contra a covid-19, o que está sujeito à multa em Paris.

Os manifestantes também protestavam contra uma lei recentemente aprovada pela Assembleia Nacional que, sob pretexto de combater a escalada de ataques terroristas na França, põe em risco a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa no país, além de favorecer que policiais como os que agrediram brutalmente Zecler não sejam punidos.

Três pontos da chamada Lei de Segurança Global, que ainda precisa passar pelo Senado, representam risco concreto às liberdades civis na França. Um deles autoriza a prisão por um anoalém da aplicação de uma multa de 45 mil euros (R$ 287,7 mil) – de qualquer cidadão que divulgue de forma “mal-intencionada” imagens de policiais em ação. O que haverá de caracterizar a “má intenção”? Não se sabe. Trata-se, pois, de uma lacuna inconcebível em um Estado Democrático de Direito.

Isso significa que, caso o Senado aprove a Lei de Segurança Global sem alterações, todas as forças de segurança da França terão enorme margem para decidir quando imagens da atuação de seus agentes vieram a público de forma “mal-intencionada” e quando essa divulgação causou “prejuízos mentais” aos agentes. Temendo a prisão e a aplicação de tão vultosa multa, é lícito inferir que muitos cidadãos, incluindo os jornalistas, passarão a ter receio de filmar e expor as ações violentas da polícia francesa. E é sabido que muitos casos passariam ao largo do conhecimento público – e, portanto, da punição – não fossem as filmagens das câmeras de TV e dos celulares.

Ora, não será impedindo que a sociedade tome conhecimento dos casos de violência policial que essa chaga, longe de ser um problema restrito à França, será superada. Decerto não será por meio do acobertamento dos agentes que abusam do monopólio do emprego da violência que os casos de agressão policial vão diminuir.

De acordo com a Lei de Segurança Global, a polícia também pode usar imagens de câmeras de segurança sem autorização judicial e empregar drones com tecnologia de reconhecimento facial para monitorar a participação dos cidadãos em manifestações públicas. “(A Lei de Segurança Global) é a reversão de nosso modelo social a um que poderíamos nomear, sem exageros, de Estado policial”, disse ao jornal The Washington Post o advogado Vincent Brengarth, autoridade em Direito Penal e liberdades civis da república francesa.

O teor autoritário da nova lei não passou despercebido por órgãos ligados à defesa dos direitos humanos. Em nota, a Comissão Consultiva Nacional de Direitos Humanos afirmou que “nenhuma das instituições encarregadas da defesa dos direitos fundamentais da França foi consultada” sobre o texto. Por sua vez, o Conselho de Direitos Humanos da ONU também criticou a lei francesa por conter “violações significativas dos direitos humanos e das liberdades fundamentais”.

De 2012 para cá, houve 250 mortes causadas por ataques terroristas na França. Dia após dia, sucedem-se os casos de violência policial. Não se pode minimizar a gravidade desses problemas, que merecem a devida resposta do Estado. Mas essa resposta não pode ser uma violência em si mesma, isto é, não pode colocar em risco direitos e liberdades fundamentais quando a sociedade não se mostra disposta a abrir mão deles.

Recomendamos ler: aqui 

 

 Opinião - O Estado de S. Paulo


sábado, 24 de março de 2018

O poder das milícias: como agem as gangues que só crescem no Rio

Uma das linhas de investigação da morte de Marielle leva às quadrilhas que se alastram na surdina e dominam mais favelas que o tráfico de drogas 

Os quatro tiros que atingiram a cabeça da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) na quarta-feira, 14, abriram comportas certamente inesperadas pelos mandantes da execução brutal. Uma delas é a enorme dimensão do clamor popular, que se espalhou pelo Brasil  e chegou a grandes cidades dos Estados Unidos e da Europa. O jornal The Washington Post, em reportagem publicada na capa, chamou Marielle de “símbolo global”. Outra comporta escancara um segredo de Polichinelo no mapa da bandidagem no estado do Rio: a presença cada vez mais imperiosa de grupos de milícias na vida dos moradores de favelas e bairros quadrilhas que aprenderem a se mover nas sombras e a tirar partido dos limites difusos entre o legal e o ilegal. Uma das linhas de investigação da polícia apura justamente a ação dessas gangues na morte da parlamentar.

Dados de 2013, os últimos disponíveis, mostram que o tráfico de drogas, inimigo descarado e conhecido, controla 55% dos morros cariocas. Os outros 45% estão na mão dos milicianos. Estima-se que um contingente de 2 milhões de pessoas viva submetido a abusos, extorsão e terror na região metropolitana (aqui, um parêntese trágico: quase não há mais territórios neutros na cidade, sem a presença de bandos armados).  

Apesar da escassez estatística, polícia e estudiosos não têm dúvida: dentro dos limites do Grande Rio, as milícias controlam mais favelas do que as quadrilhas de traficantes. Na lógica deste Rio fora da lei, os traficantes ficam de certa forma enfraquecidos pela briga de foice entre facções. Reportagem de VEJA desta semana mostra como essas quadrilhas passaram a agir nos últimos anos, firmando acordos com traficantes e aperfeiçoando os “negócios” que aumentam sua força econômica.

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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Situação intolerável

Não cabe mais esperar que o ditador Nicolás Maduro, por si só, compreenda a situação insustentável de seu país, pois isso não vai acontecer

O ditador venezuelano Nicolás Maduro foi às redes sociais para festejar “o melhor carnaval dos últimos anos” na Venezuela. Não havia maneira melhor de escarnecer do sofrimento dos milhões de habitantes de um país que está em acelerado processo de destruição. Tamanho grau de descolamento da realidade é coerente com a transformação da Venezuela em Estado pária. A esta altura, Maduro só encontra solidariedade entre liberticidas como são os casos do PT e dos ditosmovimentos sociais” que orbitam o partido de Lula da Silva, todos engajados na defesa do regime bolivariano. No mundo civilizado, em que a democracia é um valor, não um meio para capturar o poder, tornou-se intolerável a coexistência com Maduro e seus sequazes, razão pela qual o governo venezuelano foi oficialmente desconvidado para a próxima Cúpula das Américas, em abril.

Essa reação diplomática é o caminho mais adequado para demonstrar ao mundo e especialmente à Venezuela que a escalada de sua crise não pode mais ser vista como um assunto interno dos venezuelanos. A imensa massa de cidadãos em fuga da Venezuela para os países vizinhos, como Brasil, Colômbia e Equador, é a prova de que o problema já deixou há muito tempo de ser local.

Além disso, informações recentemente divulgadas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, vinculada à Organização dos Estados Americanos, mostram que cerca de 80% dos venezuelanos vivem na pobreza e que mais da metade está na pobreza extrema. Não é por outra razão que tantos venezuelanos estão deixando o país ─ fala-se de um êxodo de 1,2 milhão nos últimos dois anos ─ e que mães estão abandonando os filhos porque não conseguem alimentá-los, conforme reportagem do jornal The Washington Post. Esse quadro dramático obriga a comunidade internacional a exigir que o governo da Venezuela aceite, sem mais delongas, as muitas ofertas de cooperação para mitigar a penúria de seu povo.

É a emergência humanitária que agora deve nortear as atitudes dos governos da região em relação ao regime de Maduro. Não cabe mais esperar que o ditador, por si só, compreenda a situação insustentável de seu país, pois isso não vai acontecer ─ e a celebração de Maduro no carnaval, diante de tanto padecimento, é uma afrontosa prova disso. É preciso, portanto, que o mundo pressione o ditador, pela via das sanções diplomáticas e econômicas, para mostrar que a tolerância com a aventura bolivariana, que tanto mal causou e ainda causa ao continente, acabou.

Como parte dessa pressão, fez bem o Grupo de Lima, do qual fazem parte Brasil, Argentina, Colômbia, México, Paraguai, Peru e Canadá, entre outros, ao “expressar seu mais firme rechaço” à antecipação da eleição presidencial na Venezuela para 22 de abril. O que poderia parecer uma medida democrática ─ afinal, para os chavistas, as urnas a tudo legitimam ─ nada mais é do que uma nova manobra de Maduro para conservar o poder, pois, como lembrou a nota do Grupo de Lima, “não pode haver eleições livres e justas com presos políticos, sem a plena participação dos partidos políticos e líderes presos ou inabilitados arbitrariamente, com uma autoridade eleitoral controlada pelo governo, sem a participação de milhões de venezuelanos no exterior impossibilitados de votar e convocadas originalmente pela Assembleia Constituinte, órgão carente de legitimidade e legalidade”.

Como se observa, a margem de condescendência com a qual a ditadura chavista sempre contou na América Latina estreitou-se consideravelmente. Restou a Maduro apoiar-se em gente como João Pedro Stédile, o chefão do MST, que chamou as terríveis notícias sobre a Venezuela de “mentiras e manipulações da grande imprensa” e convocou “todos os militantes, de todos os movimentos populares e partidos de esquerda” a “defender o povo da Venezuela e o processo bolivariano”. Para Stédile e para seus seguidores, os milhares de venezuelanos famintos que se amontoam na fronteira à espera de uma chance de fugir daquele pesadelo simplesmente não existem. [alguém avise para o general da banda Stédile que não se empolgue muito; portanto, mantenha distância da região fronteiriça Brasil x Venezuela, por o Estado do Pará ficar relativamente próximo, o que coloca o bandido chefão do MST ao alcance da Polícia Militar do Para.
Ao ouvir falar na PM-PA Stédile procura correndo o banheiro mais próximo.]

 O Estado de S. Paulo - Editorial


domingo, 17 de dezembro de 2017

Populismo: um brado de- 1ª parte

Sobre a luta para manter o governo nas mãos dos homens livres.


“Logo se descobriu que a forma de um governo livre e os fins de um governo arbitrário não eram coisas de todo incompatíveis entre si.”
Edmund Burke, Pensamentos sobre a causa dos presentes descontentamentos.

É curioso como algumas palavras acumulam uma nuvem de significados positivos enquanto outras, semanticamente tão inócuas quanto aquelas, acabam carregando sobre seus ombros uma gama de más intenções.  Considere, por exemplo, a diferença de significação entre os termos “democracia” e “populismo”.  Você conhece alguma pessoa responsável que admitiria estar contra a democracia? Exceto uma pessoa multimilionária, que não precisasse ganhar mais dinheiro, ninguém se arriscaria a dizer isso. Porém, muitas pessoas declarar-se-ão anti-populistas com gosto. Essa discrepância é curiosa por diversos motivos.

Primeiramente, é uma evidência da resiliência quase darwiniana da palavra “democracia”. Na acirrada batalha das ideias por sua sobrevivência, “democracia” não apenas sobreviveu como prosperou. E isto se deu apesar do fato de que pensadores políticos como Platão e Aristóteles, passando por Cícero e chegando aos dos tempos modernos fossem profundamente suspeitos a seu respeito. Aristóteles entendia-a como a pior forma de governo, que necessariamente se degeneraria em oclocracia ou governo das massas, o qual não é governo nenhum.

No ensaio Federalista nº 10, James Madison sabidamente alertou para o fato histórico de que regimes democráticos haviam, em geral, sido tão curtos em suas vidas quanto violentos em suas mortes.” “Políticos teoréticos”, ele escreveu – e seria difícil encontrar uma aplicação mais desprezível da palavra “teorético”-, até podem ter defendido a democracia, mas isso só ocorreu por causa de sua ignorância perigosa e utópica acerca da natureza humana. Para Madison, não estava claro ser a democracia uma guardiã confiável da Liberdade.

Não obstante, praticamente todo mundo quer associar a si mesmo com a palavra “democracia”. Regimes totalitários gostam de descreverem-se como a “República Democrática” do que quer que seja. Conservadores alardeiam as vantagens do “capitalismo democrático”. Planejadores centrais de todos os tipos avidamente implementam programas propagandeados como engrandecedores ou expansores da “democracia”. Até mesmo James Madison acabou por ladear-se a uma subespécie de democracia, ainda que uma filtrada pela influência moduladora de uma grande e diversificada população, bem como por um bem elaborado esquema de representação que aliviasse (embora Madison dissesse “excluísse”) a influência “do povo em sua capacidade coletiva.

“Democracia”, resumidamente, é uma palavra elegíaca, aquilo que o filósofo prático Stephen Potter definiu, em outro contexto, como uma “palavra bonita”. E vale a pena notar, algo que Potter ter-nos-ia alertado de pronto, que as pessoas que as pronunciam deliciam-se em propagandearem-se a si mesmas como “pessoas bonitas,” além de geralmente serem assim consideradas por outras pessoas. Com efeito, os elementos de pertencimento a uma classe e de aprovação moral – os quais algum gênio resumiu como “sinalização de virtude” – são a chave para entender isso.

É bem o oposto com “populismo”. À primeira vista, isto parece estranho porque a palavra “populismo” ocupa, semanticamente, um espaço quase adjacente a “democracia”. “Democracia” significa “governo pelo demos,” o povo. Do mesmo modo, “Populismo,” segundo o The American Heritage Dictioanary, descreve “uma filosofia política dirigida para as necessidades das pessoas simples e que busca uma distribuição mais equitativa de qualidade de vida e poder” – ou seja, justamente o tipo de coisas que o povo, se fosse governar, buscaria.

Ocorre que, a bem da verdade, “populismo” é, na melhor das hipóteses, uma palavra ambivalente. Às vezes, é verdade, uma pessoa carismática consegue fazer sobreviver e até mesmo adornar o rótulo “populista” como uma auréola pessoal. Bernie Sanders conseguiu esta proeza entre os eco-conscientes, racialmente onívoros, não-estereotipados-por-gênero, anti-capitalistas beneficiários do capitalismo que compuseram o núcleo de seu eleitorado.

No entanto, sempre tive a impressão de que neste caso o termo “populista” fora encampado menos por Sanders ou seus apoiadores do que por seus rivais e pela mídia, em uma tentativa de fixá-lo na imaginação do povo como mais um dos diversos exemplos lamentáveis de candidatos-que-não-eram-Hillary-Clinton, sendo ela presumidamente popular mas não populista.

Com efeito, há ao menos dois modos de associação negativa contra os quais o termo “populista”  deve se defender. O primeiro é a questão da demagogia: alguns intérpretes nos dizem que “populista” e “demagogo” são essencialmente sinônimos (embora eles raramente ressalvem que demagogos simplesmente significa “um líder popular,” como Péricles). A associação de demagogia e populismo descreve o que nós poderíamos chamar de aspecto de “comando-e-controle” do populismo. É dito que o líder populista abandona a razão e a moderação a fim de atiçar as paixões mais baixas e crônicas de um povo semianalfabeto e espiritualmente raso.

O outro é a questão sobre o “solo fértil mas não edificante” do populacho sobre o qual o líder demagógico opera. Qualquer um que tenha visto os comentários sobre o Brexit, a campanha e os primeiros meses da administração Trump, ou a recente eleição francesa terá notado isso. Considere, para ficar com apenas um exemplo, a frequência com que a palavra “ódio” e seus cognatos estão sendo empregadas para evocar as falhas psicológicas e morais tanto da multidão populista quanto de seus presumidos líderes. Em uma invectiva memorável e apocalíptica publicada nas primeiras horas de 9 de novembro de 2016, David Remnick, o editor do The New Yorker, alertou que o mandato de Trump representava “uma rebelião contra o próprio progressismo,” um “odioso ataque” contra os direitos civis das mulheres, negros, imigrantes, homossexuais e incontáveis outros. Outros comentaristas posteriores alertaram sobre nossos “tempos de ódio e cinismo”, sobre o tom “bruto, odioso e ressentido” da retórica de Trump, sobre “o ódio” não aplacado daqueles americanos que sentiam “terem sido deixados para trás”. “O ódio de Trump pode descambar em uma estrada tenebrosa” disse a CNN. “Por dentro do ódio e da impaciência de Trump – e sua súbita decisão de demitir Comey”, o The Washington Post. “Como o Ódio putrefato contra Comey Resultou em Sua Demissão”, o The New York Times.

Até há, pela imprensa, algumas concessões ocasionais de que o “ódio” diagnosticado pode ser compreensível, até justificável, mas nós somos deixados com a inconfundível impressão de que o fenômeno, em sua inteireza, é algo mal e irracional. Lemos nela referências ao ódio “que apodrece”. Ele conduz a decisões “súbitas”, ou seja, impulsivas. Diz ela também que o caminho para onde estamos sendo conduzidos pode ser “tenebroso” (Ah, como uma possibilidade pode ser rasteira: quando lemos que algo “pode ser” tenebroso, nós chegamos a pensar, como deveríamos, que este mesmo algo bem pode não o ser?)

O Populismo parece incapaz de escapar de associações com demagogia e corrupção moral. Assim como os fétidos ferimentos de Filoctetes, o mal cheiro é aparentemente incurável. Também pudera, há razões históricas e em abundância acerca da associação entre demagogia e populismo, como bem nos recordam os irmãos Tibério e Caio Graco, Padre Coughlin e o senador Huey Long.

Ainda assim, eu suspeito que, na presente situação, a associação aparentemente inseparável entre populismo e demagogia tem menos a ver com qualquer afinidade natural do que com seu ardiloso uso como rotulação retórica. O termo “Populismo”, é bom que se diga, está sendo brandido não tanto como um conceito descritivo senão como um termo deslegitimador. Acuse com sucesso alguém de simpatizar com o populismo e você conseguirá, gratuitamente e sem mais esforço, também imputar-lhe a pecha de demagogo e do que foi famosamente ridicularizado como bando “deplorável” e “imperdoável”. O sentimento de desprezo existencial é quase palpável.

Também o é o elemento de condescendência. Inseparável do diagnóstico de “populismo” vem a sugestão não apenas de incompetência mas também de uma rudimentaridade em parte estética e em parte moral do populista ou de seu apoiador. Por isso não deixa de ser curiosa a aversão visceral expressada pela opinião das elites pelos sinais de simpatia do povo por populistas. Quando Hillary Clinton acusou metade dos apoiadores de Donald Trump de serem um “bando de deploráveis”, “imperdoável”, e quando Barack Obama rotulou os eleitores republicanos que viviam em cidades pequenas de serem um pessoal “amargurado” que “se apega a armas ou religião ou que antipatiza com pessoas que não são como eles ou nutrem sentimentos anti-imigrantes ou anti-comércio”, o que eles expressaram foi antes uma repulsa condescendente do que sua mera discordância.


Continua Parte 2  e Parte 3
Roger Kimball, crítico cultural norte-americano, é o editor da revista The New Criterion e autor de vário livros, dentre os quais, “Radicais nas Universidades – Como a Política Corrompeu o Ensino Superior nos Estados Unidos da América” e “Experimentos Contra a Realidade – O Destino da Cultura na Pós-Modernidade”.
Tradução: Filipe Catapan

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Acabar com as criancinhas para desaquecer o planeta? – Europa: a substituição de uma população



Acabar com as criancinhas para desaquecer o planeta?


Para combater a "mudança climática", ONGs ecologistas pedem a redução da taxa de natalidade
até uma média estatística de "meio filho" por casal (sic) .

Tubarões assassinos, crocodilos perigosos, javalis predadores ou lobos devoradores de gado: todos eles são espécies protegidas pela estranha religião “verde” ainda que causem danos ao homem e a outros animais.  Mas os homens têm que ser reduzidos em número, em direitos, em condições de vida, segundo decreto dessa mesma religião! Têm de ficar insustentáveis nesta terra!

Eles são os únicos seres que não podem nem devem cumprir o preceito ecológico de se auto sustentar. O jornal
The Washington Post trouxe esclarecedora matéria a respeito. Militantes contra o “aquecimento global” se mobilizaram para cortar a taxa de nascimentos de crianças nos EUA.  O sofisma arguido, com muito sabor de luta de classe de pobres contra ricos, diz que os países ricos deveriam desencorajar as pessoas que querem ter filhos.

A causa?
Para protegê-los contra os danos – fictícios ou montados artificiosamente – do “aquecimento global” num século venturo e também para reduzir emissões que não explicam claramente.  Travis Rieder, diretor do Instituo Berman de Bioética na Universidade Johns Hopkins, disse à National Public Radio (NPR) que derrubar a fertilidade humana global a meio filho por mulher “poderia ser a coisa que vai nos salvar”.  “Eis um pensamento estimulante: talvez nós salvaremos nossos filhos não os tendo”, disse.

Ele propôs desanimar a procriação com novos impostos impedindo que os pobres tenham crianças, e impondo penalidades tributárias aos ricos. Algo assim como uma ‘taxa carbono aplicada contra os filhos’.  Rieder acrescentou que essas punições funcionariam melhor contra os ricos. Por sua vez os países ricos dariam o exemplo aos pobres de não ter filhos.

A proposta é mais radical que a “política do filho único” – pois seria só “meio filho” – e ficou registrada no livro “Population Engineering and the Fight Against Climate Change” (“Engenharia Populacional e o Combate contra a Mudança Climática”) que Rieder escreveu com mais dois professores da Universidade de Georgetown.  A ONG “Futuro concebível” de New Hampshire também adota como premissa a disparatada tese de que “a crise do clima é uma crise reprodutiva”, escreveu o “Washington Times”.



Enfermeira cuida de recém-nascidos em hospital de Jamestown, EUA.
Na proposta ambientalista, esta profissão deverá ser vista com maus olhos.
 Os extremistas tentaram logo dissimular o fundo totalitário de suas propostas, alegando que não propunham medidas coercitivas, nem leis despóticas como fez a China com a famigerada e fracassada “política do filho único”. Porém, Marc Morano, diretor do site Climate’s Depot especializado em denunciar as fraudes do ambientalismo radical, observou que as normas ditatoriais que esses ativistas negam com a língua, na prática seriam logicamente inevitáveis se se aprovam suas antinaturais premissas.

Morano também observou que os grupos que se dizem contra a “mudança climática” agora insistem que os homens deveriam ter menos contatos sexuais para conseguir um planeta menos cálido, e também para diminuir a natalidade.   “Os aquecimentistas já cansaram de combater as lâmpadas elétricas, as termoelétricas a carvão, os carros 4X4, e agora se assanham para ficar controlando o tamanho das famílias dos outros”.

Rieder anunciou o livro “Toward a Small Family Ethic: How Overpopulation and Climate Change are Affecting the Morality of Procreation” (“Rumo à ética da família pequena: como a superpopulação e a Mudança Climática estão afetando a moralidade da procriação”).

O disparate anticristão e antinatural salta aos olhos.

Publicado no blog
Verde: A cor nova do comunismo.
Luis Dufaur, escritor, jornalista, conferencista de política internacional, é sócio do IPCO e webmaster de diversos blogs.

Europa: a substituição de uma população


Sai o velho, entra o novo... A Europa, conforme vai envelhecendo, já não renova suas gerações e em seu lugar saúda o ingresso de um enorme contingente de migrantes provenientes do Oriente Médio, África e Ásia que irão substituir os europeus nativos e que trarão culturas com valores radicalmente diferentes em relação a sexo, ciência, poder político, cultura, economia e a relação entre Deus e o homem.

Em uma geração a Europa ficará irreconhecível.

Mortes excedendo nascimentos podem parecer ficção científica, mas já são a realidade da Europa. Simplesmente aconteceu. No ano de 2015 houve 5,1 milhões de nascimentos na União Europeia, ao passo que 5,2 milhões de pessoas morreram, significando que a UE pela primeira vez na história moderna registrou um crescimento vegetativo negativo. Os dados foram divulgados pela Eurostat (departamento que cuida da estatística da União Europeia), responsável pelo recenseamento da população europeia desde 1961. Portanto é imbuída de caráter oficial.

Há mais revelações surpreendentes: a população europeia aumentou ao todo de 508,3 milhões para 510,1 milhões. Imagina por quê? A população de imigrantes aumentou aproximadamente em 2 milhões de habitantes em um ano, enquanto a população autóctone da Europa foi encolhendo. É a substituição de uma população. A Europa perdeu a disposição de manter ou aumentar a sua população. A situação é tão grave em termos demográficos quando da Peste Negra do século XIV.

Esta transição é o que o demógrafo britânico David Coleman descreve em seu estudo "Imigração e Substituição Étnica em Países de Baixa Fertilidade: Terceira Transição Demográfica." A taxa de natalidade suicida da Europa, combinada com os imigrantes que se multiplicam rapidamente, irá transformar a cultura europeia. O declínio da taxa de fertilidade dos europeus autóctones coincide, na realidade, com a institucionalização do Islã na Europa e a "reislamização" dos muçulmanos que lá residem. Em 2015 Portugal registrou a segunda menor taxa de natalidade da União Europeia (8,3 por 1.000 habitantes) e crescimento natural negativo de -2,2 por 1.000 habitantes. Qual país da UE teve a menor taxa de natalidade? A Itália. Desde o "baby boom" dos anos 1960, o país famoso pelas suas famílias com um grande número de pessoas, a taxa de natalidade caiu pela metade. Em 2015 o número de nascimentos caiu para 485.000, menos do que em qualquer ano desde que a Itália moderna foi estabelecida em 1861.

A Europa Oriental já apresenta "a maior perda de população da história moderna", a Alemanha ultrapassou o Japão e já conta com a menor taxa de natalidade do mundo, segundo a média dos últimos cinco anos. Tanto na Alemanha quanto na Itália os decréscimos foram especialmente dramáticos, para -2,3% e -2,7% respectivamente.

Há empresas que não estão mais interessadas nos mercados europeus. A Kimberly-Clark, que fabrica as fraldas Huggies, saiu da maior parte da Europa. O mercado simplesmente não é rentável. Enquanto isso, a Procter & Gamble, que produz as fraldas Pampers, tem investido no negócio do futuro: fraldas geriátricas.

A Europa está ficando cinzenta; é possível sentir toda a tristeza de um mundo que se exauriu. Em 2008 os países da União Europeia viram o nascimento de 5.469.000 crianças. Cinco anos mais tarde, havia quase meio milhão a menos, ou seja 5.075.000 -- uma retração de 7%. As taxas de fertilidade não têm só caído em países com economias que estão encolhendo como a Grécia, mas também em países como a Noruega que saíram, pode-se dizer, ilesos da crise financeira.

Conforme ressaltou recentemente Lorde Sacks "a queda da natalidade pode ser o prenúncio do fim do Ocidente". A Europa, conforme vai envelhecendo, já não renova suas gerações e em seu lugar saúda o ingresso de um enorme contingente de migrantes provenientes do Oriente Médio, África e Ásia que irão substituir os europeus nativos e que trarão culturas com valores radicalmente diferentes em relação a sexo, ciência, poder político, cultura, economia e a relação entre Deus e o homem.

Os liberais e os secularistas tendem a ignorar a importância das questões demográficas e culturais. É por esta razão que os alertas mais contundentes vêm de alguns líderes cristãos. O primeiro a assinalar esta tendência dramática foi o grande missionário italiano Padre Piero Gheddo, explicando que, devido à queda nas taxas de natalidade e à apatia religiosa, o "Islã mais cedo do de se imagina conquistará a maior parte da Europa". Outros manifestaram a mesma opinião, como o cardeal libanês Bechara Rai, que está à frente dos Católicos Orientais, que estão alinhados com o Vaticano. Rai alertou que "o Islã irá conquistar a Europa através da fé e da taxa de natalidade". O Cardeal Raymond Leo Burke acaba de fazer um alerta semelhante.

De agora em diante, em uma geração, a Europa ficará irreconhecível. Em grande parte as pessoas na Europa parecem ter a sensação de que a identidade da sua civilização está ameaçada principalmente por um liberalismo descabido, uma ideologia dissimulada de liberdade, que quer desconstruir todos os laços que unem o homem à sua família, sua origem, seu trabalho, sua história, sua religião, sua língua, sua nação, sua liberdade. Ela parece vir de uma inércia que não se importa se a Europa irá triunfar ou sucumbir, se a nossa civilização irá desaparecer, se afogar em meio ao caos étnico ou se será atropelada por uma nova religião vinda do deserto.

Segundo explica o jornal Washington Quarterly, a combinação fatal da queda nas taxas de natalidade na Europa e a ascensão do Islã já tiveram consequências significativas: a Europa se transformou em uma incubadora de terrorismo; criou uma nova forma de antissemitismo virulento e mortal; uma virada política para a extrema-direita; experimentou a maior crise de autoridade da União Europeia e testemunhou uma reorientação da política externa desde a retirada da Europa do Oriente Médio.

O suicídio demográfico não é apenas experimentado, ao que parece, é desejado. A burguesia xenófila europeia, que hoje controla a política e a mídia, ao que tudo indica, está imbuída de um racismo esnobe e masoquista. Eles se voltaram contra os valores da sua própria cultura judaico-cristã, combinada com uma visão alucinógena, romantizada dos valores de outras culturas. O triste paradoxo é que os europeus estão importando grandes contingentes de jovens do Oriente Médio para compensar suas opções de estilos de vida.

Um continente agnóstico e estéril -- privado de seus deuses e filhos porque os baniu -- não terá forças para combater ou assimilar uma civilização de devotos e jovens. O fracasso de conter a transformação que se avoluma no horizonte parece estar do lado do Islã. O que estamos presenciando são os últimos dias de verão?

Giulio Meotti, editor cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.

Publicado no site do Gatestone Institute.

Tradução: Joseph Skilnik