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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Cenário pior, governo travado



Fica mais feio a cada semana, com inflação mais alta e recessão mais funda, o cenário traçado por economistas do setor financeiro e divulgado pelo Banco Central (BC) em seu boletim Focus. Expectativas sempre piores podem parecer muito naturais, quando a presidente se torna dia a dia mais fraca e todo ajuste permanece travado por impasses políticos.  

A corrupção, a crise política, a reprovação do balanço fiscal pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e as pressões contra a presidente foram temas constantes quando se falou do Brasil, na semana passada, em Lima, durante a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI). O agravamento da crise brasileira é hoje um assunto internacional, assim como foi, há alguns anos, a aparente decolagem do país para os céus da modernidade e da seriedade política.

Encerrada a reunião em Lima e passado o feriado de 12 de outubro, um novo boletim Focus foi distribuído pelo BC, desta vez na terça-feira, não na segunda, e novamente os números mostraram uma piora das expectativas. Para este ano, a mediana das projeções passou a indicar uma inflação de 9,70%, pouco superior à estimada uma semana antes (9,53%). O número esperado para 2016 passou de 5,94% para 6,05%. Foi a décima semana consecutiva da alta e a taxa projetada continuou a aproximar-se do limite de tolerância, de 6,50%, no caminho apontado no fim de setembro por alguns analistas.

A tendência de aceleração foi confirmada na última semana. Depois de um breve recuo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a subir com vigor e avançou 0,54% em setembro. Em agosto, a alta havia ficado em 0,22%, mas uma trajetória semelhante, com taxas mais baixas no meio do ano, já havia ocorrido em 2013 e 2014. O aumento acumulado em nove meses, de 7,64%, foi o maior observado entre janeiro e setembro depois de 2003, quando chegou a 8,05%. Mas em 2003 havia um esforço de arrumação das contas públicas e de combate à inflação e dados melhores logo apareceram.

O quadro brasileiro é muito diferente neste momento. Há promessas de correção das contas públicas, mas quase nenhum progresso real nessa direção. A presidente vetou atos legislativos desastrosos para as finanças federais, mas os congressistas ainda vão decidir se os vetos serão mantidos. Se os votos, nesse caso, forem favoráveis ao governo, ainda sobrarão muitas dúvidas quanto à execução orçamentária do próximo ano. Depois de mandar ao Congresso um projeto com déficit primário de R$ 32 bilhões, o Executivo mudou de ideia e recompôs a proposta.

Nessa versão está previsto um superávit primário (sem despesa de juros) equivalente a 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas isso dependerá de algumas condições importantes e ainda incertas. Uma das principais é a recriação do imposto do cheque, a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

Não há perspectiva de cortes importantes de gastos. A presidente mostra pouca disposição de racionalizar a despesa, seu partido é defensor da gastança e o apoio da base governamental a uma política de austeridade é duvidoso. A execução orçamentária continuará, portanto, muito dependente da receita e, portanto, do ritmo da atividade econômica. Mas as perspectivas de reanimação dos negócios continuam piorando

A contração econômica prevista para este ano passou de 2,85% para 2,97%. Uma nova redução do PIB é esperada para o próximo ano. Agora se projeta uma retração de 1,20%. Uma semana antes, o recuo projetado era de 1%. O pior desempenho continua e continuará sendo o da indústria, com taxas de -7% em 2015 e -1% em 2016. A nova redução do produto industrial afetará duplamente a base tributária, pelo menor volume de mercadorias e pela piora das condições de emprego e de renda.

Neste, como nos anos anteriores, as projeções da pesquisa Focus pioraram a cada mês. 

 O roteiro se repete, mas com o governo travado e a presidente em risco de impeachment.

Fonte: Editorial – O Estadão


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