Ter um ministro da Fazenda enfraquecido pelos constantes ataques
internos e por frequentes derrotas agrava a crise econômica. E é esse
caminho que o governo e o PT escolheram. Lula, a sombra de Dilma, acha
que Henrique Meirelles será a solução dos aflitivos problemas da
economia brasileira. Ninguém tem o poder de sozinho tirar o país do
buraco em que este governo o colocou.
O equívoco — mais um — do ex-presidente Lula é achar que ministro tem
prazo de validade e que o de Joaquim Levy acabou. Então compre-se um
remédio novo na farmácia chamado Henrique Meirelles. É o que Lula está
determinando que a presidente em exercício, sua criatura, faça. Ela mais
cedo ou mais tarde obedecerá ao seu criador. Joaquim Levy deveria ter saído do governo, por sua própria vontade,
quando foi enviado ao Congresso o orçamento deficitário. De todas as
vezes que ele não foi ouvido, aquele momento foi o pior.
Primeiro,
porque a decisão foi tomada pela presidente com os ministros Aloizio
Mercadante e Nelson Barbosa, enquanto ele cumpria missão de defesa da
CPMF junto a empresários. Chamado às pressas a Brasília ele entrou em
reunião que já havia decidido enviar aquele orçamento. Levy sabia, e
alertou, que a decisão levaria ao rebaixamento do Brasil. E foi o que
aconteceu. Naquele momento ele deveria ter deixado o governo, mas ficou e
foi seguidas vezes ignorado. Um ministro que não é ouvido pelo governo e
cujas propostas o Congresso rejeita ajuda pouco a tirar o país da
crise. Pelo contrário, os sinais contraditórios de uma situação como
esta aumentam a incerteza e agravam a turbulência.
Nos últimos dias a presidente o ouviu e recuou da decisão de aceitar
novos truques na meta. Essa coisa de meta com desconto é também uma
forma de manipulação de números. A meta é ou não é. Essa pequena vitória
de Levy foi uma forma de a presidente livrar-se da convicção de que ela
faz o que o seu mestre manda. Como se intensificaram os ataques de Lula
a Levy, ela lhe concedeu uma pequena vitória para simular
independência.
A grande questão é se Henrique Meirelles, hoje na presidência da
holding do JBS, seria solução para o nosso dilema de uma economia com
inflação alta, recessão forte, desordem nas contas públicas e aguda
falta de confiança do investidor. Meirelles foi visto como boa opção
pelo mercado, tanto que ao circular seu nome a cotação do dólar caiu.
Agradou também ao empresariado que o recebeu como quase-ministro na
Confederação Nacional da Indústria.
Meirelles tem muitas qualidades e ajudou o país a atravessar um
momento de dificuldade e desconfiança que começou com a posse de Lula. O
momento atual é muito pior e nada do que ele fez garante que repetirá o
mesmo desempenho agora. No começo do governo Lula, o país estava com
contas ajustadas, a alta da dívida tinha sido efeito da desvalorização
cambial que foi revertida com a nomeação de uma equipe determinada a
defender a estabilidade. A crise de confiança foi dissolvida com a
nomeação daquela equipe em que Meirelles contava com diretores do
período de Armínio Fraga, e o então ministro Palocci havia nomeado
Marcos Lisboa, Joaquim Levy e Murilo Portugal. O mundo vivia o início do
boom de commodities.
Com a recuperação da confiança na economia, muitos dólares entrando e
a unidade na equipe econômica foi mais fácil virar o jogo. Depois
Meirelles enfrentou maiores dificuldades quando Guido Mantega assumiu.
Muitas vezes houve tentativa de interferência do PT na política
monetária. Meirelles teve que várias vezes lembrar ao presidente Lula
que ao receber o convite pedira carta branca e recebera essa garantia.
Todas as vezes que o então presidente do Banco Central lembrou a Lula
daquele compromisso, o ex-presidente recuou da tentativa de
interferência no BC.
E agora, ele teria essa autonomia? Não teria. Por temperamento, a
presidente Dilma centraliza e interfere em tudo, e está convencida de
que sabe economia por ser economista. Seu [des]conhecimento do tema nos
trouxe à inflação de dois dígitos e à pior recessão desde o Plano
Collor. Um Meirelles sozinho não fará verão. Se ele receber convite
“concreto” que se lembre de que a história não se repete.
Fonte: Coluna da Míriam Leitão - O Globo
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