Além da crise econômica, ação na Justiça
eleitoral sobre a ‘lavagem’ de propinas deve chamar a atenção da presidente, pois parece ameaça
maior que o impeachment
São
demais os problemas que cercam a presidente Dilma. É bem verdade que parte
substancial deles, representada pela crise fiscal e assustadores
desdobramentos, é de sua responsabilidade em associação com o presidente
Lula, no segundo mandato deste.
Se
não houvessem decidido exercitar a esperteza e aproveitar a crise mundial, a partir de fins de 2008, para colocar em cena, como aprendizes de feiticeiro, a velha
agenda econômica do PT, as finanças internas não teriam
explodido. Porém, o mal foi feito, e resta a Dilma se livrar da
herança maldita, o que, infelizmente para o povo e o país, ela não tem
conseguido por teimosia ideológica —Dilma não considera necessário um ajuste
fiscal.
Se os
prognósticos para a economia continuam de arrepiar, acaba de aparecer no
radar da presidente, e do seu vice, Michel Temer, a tempestade carregada do
julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de ações movidas pelo PSDB contra a
legalidade da vitória da chapa PT-PMDB em 2014. Dos quatro processos, um
deve preocupar o Palácio.
Para
instruí-lo é que o juiz Sérgio Moro, de Curitiba, da Lava-Jato, enviou, em
outubro, documentos com tóxicas provas colhidas pela operação.
Elas foram apensadas à Ação de
Impugnação de Mandato Eletivo (Aime), movida pelo PSDB,
e comprovam, a considerar depoimentos dados na Lava-Jato, que houve “lavagem”
na Justiça eleitoral de propina garimpada por empreiteiras em conluio com
dirigentes da Petrobras e partidos (PT, PP, PMDB). Assim, dinheiro
proveniente do superfaturamento de contratos assinados com a estatal, por meio
do esquema lulopetista do petrolão, irrigou o caixa de campanha de candidatos,
a começar por Dilma e Temer, vitoriosos na busca pela reeleição. Por isso, o
PT, procurado toda vez que surge algum fato em torno do assunto, repete o
mantra de que “todas as doações foram legais”. Sim, mas e a origem do dinheiro?
Já
existe, inclusive, uma condenação, por Moro, do ex-tesoureiro do PT João
Vaccari Neto, preso em Curitiba. Condenado em setembro do ano passado a 15 anos
e quatro meses de prisão em regime fechado, Vaccari,
segundo denúncia do MP aceita pelo juiz, recebeu R$ 4,26 milhões desviados
da estatal e os repassou ao PT, “legalmente".
“Lavagens”
de
dinheiro de corrupção na Justiça eleitoral foram objeto de vários depoimentos
de personagens-chave no petrolão: Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras;
Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da estatal, o “homem de 100 milhões de
dólares”; o operador financeiro Alberto Youssef e o empreiteiro Ricardo
Pessoa, da UTC. Parece uma ameaça maior que o impeachment.
Esta ação
trata de um ponto central do escândalo, o da adulteração de resultados eleitorais
pelo poder do dinheiro subterrâneo da política. Este, segundo o próprio Moro, o aspecto mais
reprovável do petrolão. As atenções da presidente terão de se dividir entre
a crise e o que acontecerá neste processo no TSE.
Fonte: Editorial - O Globo
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