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domingo, 17 de julho de 2016

Ação de lobos solitários se tornará ataque cada vez mais comum

Governo afirma que o país está preparado para receber os jogos, mas, para presidente do COI, "ninguém controla" o terror

Intensivo antiterror: por que o Brasil está vulnerável a atentados

O atentado terrorista em Nice, na França, alarmou as autoridades brasileiras para o risco de episódios violentos no Brasil durante as Olimpíadas, que começam em 5 de agosto. Ouvidos pelo Correio especialistas consideram elevado o risco de o país sofrer ataques como os que vitimaram centenas de pessoas nos últimos meses na França. Eles identificam ainda erros pontuais nas ações do governo para prevenir que o país seja alvo de possíveis ameaças. “Não estamos preparados (para conter atos terroristas)”, alertou o doutor em segurança internacional e professor na University of Central Florida, nos Estados Unidos, Marcos Degaut. Questionado sobre o risco de o Brasil ser alvo durante as Olimpíadas, Degaut enfatizou: “O risco é elevado. Não se trata de falso alarmismo ou de querer criar nenhum tipo de paranoia, mas todas as variáveis com que se pode trabalhar indicam para a realização de um atentado no Brasil”. Na última quinta-feira, após o episódio da França, o governo anunciou a revisão de todo o plano de segurança a fim de evitar qualquer incidente no Rio e nas cidades que recebem jogos. [o Brasil utiliza nos dias atuais técnica antiterroristas que teriam sido eficazes se utilizadas em Munique, 1972; se preocupa com o pós ataque, quando a prevenção deve ser a prioridade.]

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, afirmou que vai trocar o “pouco conforto (com o trânsito) por muita segurança” frisando que novas barreiras serão instaladas para impedir acessos de carros próximos a pontos de jogos. Ele alertou que a Agência Brasileira de Inteligência se reuniu com representantes franceses para buscar informações. Além disso, o espaço aéreo do Rio estará restrito a partir do dia 24. Em nota enviada ontem ao Correio, o Planalto informou que “O plano de segurança do governo federal está em permanente ajuste para garantir que os jogos sejam disputados com total segurança para as delegações e todas as pessoas que venham ao Brasil”.
À Globonews, o presidente interino Michel Temer afirmou que o país está preparado. “Nós resolvemos fazer uma reunião, tendo em vista os acontecimentos da França, ou seja, a segurança será muito maior, para dar conforto e segurança” disse na sexta-feira.

Estratégia reativa

As medidas anunciadas pelo governo, porém, foram duramente criticadas por Degaut por considerar que não se antecipam aos atos. “Quer focar muito em contraterrorismo (pós-ataque) e pouco ou quase nada em estratégia de prevenção (antiterrorismo)”, avaliou. “O foco foi um estabelecimento de protocolos de atuação para o caso de terem sido realizados atentados. O que teria feito era focar nas políticas de prevenção aos atos”, alertou.

Para o professor, a cultura de país de boas relações exteriores, sem ataques, corroborou para que o tema não fosse discutido. “Não existe no Brasil, a cultura de prevenção, combate ou conscientização do que é o terrorismo. É um tema maldito e as pessoas usam a estratégia da negação. Não são alocados recursos humanos, tecnológicos e administrativos contra o terrorismo.”

Ex-secretário de segurança pública do Distrito Federal, o professor Arthur Trindade ponderou que o país está preparado para possíveis ataques. “Não é verdadeiro afirmar que a preocupação acontece depois de o caminhão, pois a área de segurança está trabalhando há anos com essa preocupação. O Brasil corre risco, mas não diria que é alto”.

Especialista em segurança pública, George Dantas afirmou que a preparação inclui a necessidade de se antecipar métodos de ataque. “O terrorismo, ao envolver a inteligência e a ardilosidade humana, faz com que seus prepostos estejam constantemente em processo de adaptação e ajuste a novos métodos de prevenção e resposta”, analisou. Hoje, a principal preocupação dos especialistas são os chamados lobos solitários, pessoas sem vinculação com células terroristas, mas dispostos a cometer ataques individuais.

Simulações no Rio

O presidente do Comitê Organizador Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, disse ontem que o Brasil se preparou contra possíveis atos de terrorismo durante as Olimpíadas, mas que não há como controlar os terroristas. “Nunca houve tanta gente (forças de segurança) assim nos Jogos Olímpicos. É só ver nas ruas. Mas vamos torcer, pois o que acontece hoje no mundo ninguém controla”, disse. Durante o fim de semana, uma série de eventos de treinamento tem ocorrido em diferentes pontos do Rio de Janeiro.

Ontem, forças de segurança fizeram uma simulação na estação de trens de Deodoro — bairro na Zona Oeste que concentra sete instalações olímpicas. A ação envolveu 500 pessoas e incluiu até mesmo a explosão de uma bomba. O explosivo foi colocado em uma mochila abandonada em uma plataforma, ao lado dos trilhos. Voluntários que trabalham na organização da Olimpíada se passaram por passageiros feridos e foram levados para a plataforma, onde receberam os primeiros socorros. Também foram simuladas intensa troca de tiros e perseguição a terroristas.

De acordo com a Secretaria de Segurança do Estado do Rio, o objetivo foi “testar o planejamento e as ações de resposta em um cenário crítico”. No treinamento, foi testada a capacidade de resposta coordenada a atentados, com acionamento das forças de segurança, neutralização de agressores, varreduras, isolamento da estação, atendimento a vítimas e tentativa de identificação de terroristas. A região no entorno da estação de trem foi isolada e houve alterações no trânsito da região. O exercício foi acompanhado em tempo real pelos funcionários do Centro Integrado de Comando e Controle (Cicc), que abrigará agentes de inteligência e segurança de 106 países.

Neste domingo, equipes de segurança, transporte e trânsito farão treinamento para a cerimônia de abertura da Olimpíada. A simulação acontecerá em vários pontos da Zona Sul, Barra da Tijuca (Zona Oeste), no entorno do estádio (Zona Norte) e no Centro. Serão testados os deslocamentos de atletas, organizadores, voluntários e autoridades, com interdição e liberação das ruas. As simulações começarão de madrugada, às 5h, e deverão ser encerradas às 12h.
 

Fonte: Correio Braziliense
 

 

 

 

 

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