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domingo, 2 de fevereiro de 2020

A geopolítica imposta pelo coronavírus - O Globo


Dorrit Harazim 

Geopolítica do vírus

China consegue bloquear a circulação de 54 milhões de várias províncias, e ter a certeza de que ordens serão cumpridas


Mais de duas décadas atrás, o biólogo evolucionário Jared Diamond nos brindou com uma narrativa fulgurante de como e por que algumas sociedades se desenvolveram mais que outras. Ótima hora para reler essa obra que deu a Diamond um Pulitzer em 1998 — “Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas” (Ed. Record) — e olhar para o surto global do novo coronavírus com melhor compreensão da história. 

Mesmo que a atual epidemia não venha a representar um ponto de inflexão para o curso humano, ela capta um instantâneo dinâmico (escusas pela aparente contradição) de como está o mundo em 2020. A convencional classificação de países por Índice de Desenvolvimento Humano e outros indicadores socioeconômicos estarão sendo testados, com desdobramentos ainda imprevisíveis. O próprio mapa atual da geopolítica pode chegar bastante alterado ao final da crise. 

Começando pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os escancarados elogios à China feitos pela entidade na quinta-feira, ao finalmente decretar o vírus 2019n-CoV uma emergência de saúde pública em escala planetária, foram recebidos com impaciência pela comunidade científica. O sentimento majoritário de “foi muito tarde e muito pouco” lembra a reação mundial às proclamações anticorrupção feitas em anos recentes por entidades como o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Fifa, quando seus casos de roubalheira sistemática já haviam viralizado.

É da muralha da China, mais especificamente do controle absoluto exercido pelo regime de Pequim sobre seus 1,38 bilhão de habitantes, que o mundo depende para evitar a mutação da epidemia em pandemia. Até a tarde de sexta-feira, a China diagnosticara perto de dez mil casos em suas províncias (1.527 em estado crítico), enquanto a centena de outros confirmados se dividia entre 22 nações. Também o mapa de mortandade seguia padrão geográfico semelhante — 99% do total de 234 vítimas fatais ocorreram em território chinês. Portanto, para a OMS, e para governantes do resto do mundo de forma mais comedida, quanto mais o regime chinês conseguir controlar e confinar sua população, melhor. O regime comunista de Xi Jiping tem à mão um leque de ferramentas que vai da construção e habilitação plena de hospitais em 14 dias, ou a desinfestação de todas as ruas de Wuhan, cidade-epicentro da crise com 11 milhões de habitantes. Também consegue bloquear a circulação de 54 milhões de cidadãos de várias províncias, e ter a certeza de que ordens serão cumpridas. Vigilância 1984, versão 2020. 

[o Prontidão Total fez uma comparação como seria a situação se a epidemia tivesse iniciado no Brasil, ou sua evolução fosse significativa, com as medidas já adotadas pela China (cumpridas pelos chineses sem contestações) que, se necessário, serão ampliadas - leia: suspensão do carnaval. 

Na ocasião, desconsideramos a necessidade da criação de uma LEI ESPECÍFICA para normatizar eventual quarentena de brasileiros trazidos da China ou por qualquer razão considerados suspeitos de terem o vírus.
Se o Congresso Nacional não aprovar tal lei - e, caso aprove, algum partido político ou cidadão não ingressar na Justiça Federal contra a quarentena e um magistrado conceder liminar suspendendo a vigência da nova lei - a solução será deixar os suspeitos de estarem portando o coronavírus, juntos e misturados, com a população. 

Ou postergar a volta ao  Brasil dos nacionais que estão na China. Sabemos que logo o presidente Bolsonaro será acusado de estar se negando a resgatar os brasileiros ou ser compelido por determinação judicial a efetuar o repatriamento.
O sempre presente deputado Rodrigo Maia, para variar e de acordo com sua postura de 'dono' dos votos do Congresso, já declarou achar ser possível aprovar a nova lei na próxima semana. Todos esquecem que a situação é de EMERGÊNCIA NACIONAL podendo provocar mortes de inocentes - o que justifica que 'constituição cidadã' seja esquecida em caso específico.]
Por ser pêndulo não só da economia mundial como do comércio planetário e das bolsas de mercados, a China conseguiu que a OMS não recomendasse a interrupção de voos internacionais ao país nem sugerisse a viajantes estrangeiros que mudassem de planos. Tarde demais e pouco demais, como disseram os cientistas. Uma a uma as grandes empresas aéreas cancelaram seus voos à China continental, mantendo apenas o tênue cordão umbilical com Hong Kong. Um a um, países vizinhos fecharam fronteiras e colocaram sob quarentena passageiros vindos da província de Hubei. Os Estados Unidos deram o passo maior, proibindo a entrada de todo estrangeiro que tenha estado na China há pouco tempo. Cingapura cancelou a emissão de vistos para chineses. 

Como denominador comum, quase todos priorizam a retirada de seus cidadãos confinados em Hunan. Dependendo do grau de competência de cada governo, dos seus recursos, empenho, e poder de barganha junto a Pequim, voos fretados da aviação civil ou aviões militares têm retirado levas mistas de funcionários públicos e cidadãos comuns. Alguns governos, como o da Austrália, que ainda aguarda autorização para retirar 600 compatriotas, decidiu que quem já tiver diagnóstico positivo confirmado será deixado onde está. Os demais serão internados na remota Ilha Christmas, de triste histórico no tratamento de refugiados. Repatriados de outras nações, como da vizinha Nova Zelândia, pagarão apenas uma ínfima taxa fixa para conseguir voltar para casa.

Não que a operação de repatriação seja simples. Todas as suas etapas são complexas, do pré-embarque ao acompanhamento da infecção durante o voo, até as várias etapas de trânsito em isolamento na chegada. Uma das atribuições da OMS é justamente prover recursos a países desprovidos de meios em casos de emergência de saúde pública internacional. 

O Brasil, que pretende ascender ao clube dos grandes na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), não costuma apresentar-se como parte do mundo desvalido e pedir socorro à OMS. Talvez devesse. A começar pela linguagem do chefe da nação ao tratar de tema tão crucial para o momento.
“Nós não temos uma lei de quarentena. Ao trazer brasileiros para cá, coloca em quarentena, mas qualquer ação judicial manda a gente tirar. Se não estiver tudo redondinho no Brasil, não vamos buscar ninguém. Quem vier para cá tem que se submeter aos trâmites”, informa Jair Bolsonaro. “Custa caro um voo desses. Ali, se for fretar um voo é acima de 500 mil dólares o custo”. Poderia começar cancelando todos os voos em jatinhos da FAB para integrantes do governo.
E começar a cuidar da saúde da nação.

Dorrit Harazim, jornalista - O Globo


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Parolagens olímpicas



De que servirão instalações e legado olímpicos para os pobrezinhos da Cidade de Deus? 


Publicado no Blog do Nêumanne

Nos dez primeiros dias da Olimpíada de Londres, em 2012, o Brasil figurava na 28ª colocação no quadro de medalhas, 1 acima da 29ª até as 18 horas desta segunda-feira, com 1 medalha de prata mais e 2 de bronze menos, 1 mais no total: 1 de ouro, 3 de prata e 4 de bronze. São 8 agora e foram 7 há quatro anos. A delegação participante desta edição é recordista, com 465 atletas, 188 mais que os 259 que foram a Londres (79,5% maior, portanto) e 206 mais que o recorde anterior (277), na de Pequim. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) estabeleceu a meta de chegar ao 10º lugar em pódios, posição atual da Coreia do Sul com 6 de ouro, 3 de prata e 5 de bronze, 14 no total, quase o dobro das conquistas brasileiras até agora. E o que vale mais: 6 a 1 em número de medalhas de ouro. Na Rio 2016 serão disputadas 306 provas, quatro a mais do que os 302 de 2012.

No último fim de semana, em entrevista à GloboNews, emissora oficial do evento, com 16 canais de transmissão, o presidente do COB e do Comitê Organizador da Rio 2016, Carlos Artur Nuzman, qualificou como “positivo” o balanço da primeira semana do evento. Na certa, ele não considerou as perspectivas de desempenho atlético, longe de assegurar o acesso do País ao Primeiro Mundo dos campeões olímpicos, mas o mantém no vexaminoso lugar de sempre, com poucos acessos ao pódio, se comparados com inscrições de atletas em disputas. Ainda assim, o ufanismo irrealista do atleta que virou cartola não produziu a primeira parolagem pública a virar notícia na primeira semana dos torneios.

Antes do festejado espetáculo de abertura, que encantou jornalistas estrangeiros, prontos para dar notícias sobre vítimas da zika e da chikungunya e velejadores contaminados pelas fezes boiando na deslumbrante Baía da Guanabara, que inspirou o compositor Cole Porter, começaram a pipocar no noticiário os senões e, depois deles, a enxurrada de declarações desastrosas, que ascendeu ao pináculo do poder político.

Uma bala perdida estilhaçou o retrovisor de uma viatura da Guarda Nacional, convocada a participar da segurança da capital olímpica mundial, mas logo fomos tranquilizados: aquele “incidente” nada teve que ver com os Jogos Olímpicos. Que, no fim das contas, nem tinham sido inaugurados.

Primeiros a ocupar a bela Vila Olímpica inacabada, os atletas australianos nem entraram em seus alojamentos, de vez que não dispunham de condições adequadas. Diante das notícias, o prefeito parlapatão da antiga Cidade Maravilhosa brincou com a hipótese de providenciar cangurus para divertirem os incômodos hóspedes incomodados. A piada infame não foi levada em conta e Eduardo Paes terminou ganhando um canguruzinho de pelúcia. 

Antes dos australianos, os homens da Guarda Nacional não encontraram chuveiros nem camas adequadas nas casas que lhes foram reservadas e também foram vitimados pela incúria dos gestores.

O deslumbramento dos espectadores com o espetáculo de abertura não impediu os desastres da infraestrutura. Plateias das arenas não viram os jogos porque as filas impediram. O público que compareceu à estreia do torneio de futebol feminino perdeu parte do jogo porque alguém escondeu o cadeado que abriria um portão da Arena Nilton Santos, craque que não merecia homenagem desse jaez. No primeiro dia, faltou comida nos equipamentos esportivos, pois não havia quem a fornecesse na quantidade necessária. Foram convocados concessionários de quiosques, mas as refeições não atenderam à procura por falta de quem as servisse. Garçons foram contratados, mas aí faltou a matéria-prima demandada.

Até o décimo dia depois da abertura, não se registrou nenhum dos temidos ataques terroristas. Isso, contudo, não impediu que houvesse uma baixa: o PM Hélio Vieira Andrade, de Roraima, foi morto com um tiro na cabeça, dirigindo uma viatura ocupada por outros dois militares de fora do Rio: um capitão do Acre e um praça do Piauí. Não foi um “acidente”, como definiu o presidente em exercício, Michel Temer, de forma pra lá de desastrosa. E, de fato, o assassinato não “deslustrou” a Olimpíada. Serviu, sim, foi para exibir a sesquipedal desumanidade insensível dos poderosos chefões de nossa República.
 
Ocupada em se livrar do impeachment inevitável, a presidente afastada, Dilma Rousseff, não se dignou sequer a lamentar a morte do agente a serviço da lei. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou que a Guarda Nacional errou, por ter entrado em local ocupado por traficantes de drogas. Nada disse de novo: todos sabem que tais traficantes invadiram partes do território brasileiro como se comandassem facções do Estado Islâmico em terreno hostil. O tido como inviolável esquema de segurança não havia contado com esse fato notório para qualquer brasileiro de posse de suas faculdades mentais.

Aliás, Alexandre de Moraes preferiu disputar uma modalidade na qual o Brasil é imbatível: brigar com um colega do governo por um lugar no pódio dos noticiários. Às vésperas da Olimpíada, com a Amazônia e a capital do Rio Grande do Norte ardendo, ele instalou seu QG no Rio para se mostrar ao mundo como comandante do aparato federal de segurança da Olimpíada, competindo com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen. Menos exibicionista do que o civil, o militar optou por desaparecer.

Ao inventar o balanço “positivo” da Rio 2016, seu encarregado em chefe, Nuzman, perdeu uma excelente ocasião para mostrar que a incompetência dele e de sua equipe produziu pelo menos uma revolução nos hábitos e costumes nacionais. Logo no começo da Olimpíada, um ônibus da organização com jornalistas patrícios e estrangeiros foi acertado por um “objeto contundente” desconhecido. Antes que a polícia fluminense o identificasse, outro similar foi atirado contra outro ônibus no mesmo local. A diferença entre os dois incidentes (ou melhor, “acidentes”, como prefere o presidente) é que o segundo, ao contrário do primeiro, não feriu ninguém. Ambos são adicionados aos crimes sem autoria conhecida na cidade. Só que desta vez ninguém pôs tranca na porta arrombada.

Nenhum desses casos produziu feridos, graças a Deus. Da mesma forma que o assalto à mão armada a atletas americanos saindo de uma festa na Hípica. Ao contrário de seus colegas, Ryan Lochte, nadador que conquistou medalha de ouro num revezamento, não se deitou no asfalto, como exigiam seus assaltantes. Nem por isso o grupo foi executado friamente, como sempre o fazem os bandidos. E assim estes não prejudicaram a imagem do Rio e do Brasil no exterior seria se tivessem assassinado (por “acidente”?) um ianque com uma medalha dourada no peito, mantido intacto, em prova inconsciente de respeito hospitaleiro ao insigne visitante.

Idêntica cortesia foi negada ao atleta pelo ministro dos Esportes de Banânia. Do alto de seu espírito hospitaleiro de carioca da gema, Leonardo Picciani, o garoto cujas bochechas denotam uma vida sedentária, sem pretensões esportivas, criticou o visitante porque este não estaria em hora nem em lugar apropriados. Segundo a autoridade, cujo topete é digno dos “embalos de sábado à noite” nos anos 1970, a segurança da Olimpíada no Rio de Janeiro é “absolutamente eficiente” nas competições e nos treinos em Deodoro, no Engenho de Dentro e nas arenas. Sua constatação é desmentida pelas falhas na revista pessoal e de bolsas de pessoas com ingresso e pelos flagrantes postados pela delegação chinesa de pessoas se escondendo de um tiroteio. Não foi só para contrariá-lo que, nesta segunda-feira, 15, rompeu-se um cabo de aço que sustentava uma câmara de TV, que desabou, atingindo sete pessoas, quatro delas levadas ao hospital.

No instante em que Picciani perpetrava aquela idiotice, o sociólogo britânico David Goldblatt, especialista em Jogos Olímpicos, dava entrevista a Silo Bocanera, da GloboNews, desmentindo a bazófia de que Olimpíadas deixam legados de interesse social, como garantiram Lula, Sérgio Cabral e Eduardo Paes em Genebra, em 2009, após o anúncio da vitória do Rio sobre Tóquio, Madri e Chicago. O scholar disse ainda que todo o lucro de tais eventos vai para o COI, o maior culpado pela crônica do desastre anunciado em nossos gaiatos trópicos à beira-mar. 

E reduziu a pó a teoria de Paes de que a iniciativa privada assumiu a maior parte das despesas na primeira Olimpíada na América do Sul. Para Goldblatt, esta só serve para enriquecer corruptos, pois se gasta mesmo é em obras públicas, que invariavelmente viram elefantes brancos, sem serventia para nada. Até agora não apareceu ninguém para informar de que servirão o Parque Olímpico de Deodoro e o Bulevar do Porto para os pobrezinhos da Cidade de Deus, onde nasceu e foi criada a judoca de ouro Rafaela Silva.

 

domingo, 17 de julho de 2016

Ação de lobos solitários se tornará ataque cada vez mais comum

Governo afirma que o país está preparado para receber os jogos, mas, para presidente do COI, "ninguém controla" o terror

Intensivo antiterror: por que o Brasil está vulnerável a atentados

O atentado terrorista em Nice, na França, alarmou as autoridades brasileiras para o risco de episódios violentos no Brasil durante as Olimpíadas, que começam em 5 de agosto. Ouvidos pelo Correio especialistas consideram elevado o risco de o país sofrer ataques como os que vitimaram centenas de pessoas nos últimos meses na França. Eles identificam ainda erros pontuais nas ações do governo para prevenir que o país seja alvo de possíveis ameaças. “Não estamos preparados (para conter atos terroristas)”, alertou o doutor em segurança internacional e professor na University of Central Florida, nos Estados Unidos, Marcos Degaut. Questionado sobre o risco de o Brasil ser alvo durante as Olimpíadas, Degaut enfatizou: “O risco é elevado. Não se trata de falso alarmismo ou de querer criar nenhum tipo de paranoia, mas todas as variáveis com que se pode trabalhar indicam para a realização de um atentado no Brasil”. Na última quinta-feira, após o episódio da França, o governo anunciou a revisão de todo o plano de segurança a fim de evitar qualquer incidente no Rio e nas cidades que recebem jogos. [o Brasil utiliza nos dias atuais técnica antiterroristas que teriam sido eficazes se utilizadas em Munique, 1972; se preocupa com o pós ataque, quando a prevenção deve ser a prioridade.]

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, afirmou que vai trocar o “pouco conforto (com o trânsito) por muita segurança” frisando que novas barreiras serão instaladas para impedir acessos de carros próximos a pontos de jogos. Ele alertou que a Agência Brasileira de Inteligência se reuniu com representantes franceses para buscar informações. Além disso, o espaço aéreo do Rio estará restrito a partir do dia 24. Em nota enviada ontem ao Correio, o Planalto informou que “O plano de segurança do governo federal está em permanente ajuste para garantir que os jogos sejam disputados com total segurança para as delegações e todas as pessoas que venham ao Brasil”.
À Globonews, o presidente interino Michel Temer afirmou que o país está preparado. “Nós resolvemos fazer uma reunião, tendo em vista os acontecimentos da França, ou seja, a segurança será muito maior, para dar conforto e segurança” disse na sexta-feira.

Estratégia reativa

As medidas anunciadas pelo governo, porém, foram duramente criticadas por Degaut por considerar que não se antecipam aos atos. “Quer focar muito em contraterrorismo (pós-ataque) e pouco ou quase nada em estratégia de prevenção (antiterrorismo)”, avaliou. “O foco foi um estabelecimento de protocolos de atuação para o caso de terem sido realizados atentados. O que teria feito era focar nas políticas de prevenção aos atos”, alertou.

Para o professor, a cultura de país de boas relações exteriores, sem ataques, corroborou para que o tema não fosse discutido. “Não existe no Brasil, a cultura de prevenção, combate ou conscientização do que é o terrorismo. É um tema maldito e as pessoas usam a estratégia da negação. Não são alocados recursos humanos, tecnológicos e administrativos contra o terrorismo.”

Ex-secretário de segurança pública do Distrito Federal, o professor Arthur Trindade ponderou que o país está preparado para possíveis ataques. “Não é verdadeiro afirmar que a preocupação acontece depois de o caminhão, pois a área de segurança está trabalhando há anos com essa preocupação. O Brasil corre risco, mas não diria que é alto”.

Especialista em segurança pública, George Dantas afirmou que a preparação inclui a necessidade de se antecipar métodos de ataque. “O terrorismo, ao envolver a inteligência e a ardilosidade humana, faz com que seus prepostos estejam constantemente em processo de adaptação e ajuste a novos métodos de prevenção e resposta”, analisou. Hoje, a principal preocupação dos especialistas são os chamados lobos solitários, pessoas sem vinculação com células terroristas, mas dispostos a cometer ataques individuais.

Simulações no Rio

O presidente do Comitê Organizador Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, disse ontem que o Brasil se preparou contra possíveis atos de terrorismo durante as Olimpíadas, mas que não há como controlar os terroristas. “Nunca houve tanta gente (forças de segurança) assim nos Jogos Olímpicos. É só ver nas ruas. Mas vamos torcer, pois o que acontece hoje no mundo ninguém controla”, disse. Durante o fim de semana, uma série de eventos de treinamento tem ocorrido em diferentes pontos do Rio de Janeiro.

Ontem, forças de segurança fizeram uma simulação na estação de trens de Deodoro — bairro na Zona Oeste que concentra sete instalações olímpicas. A ação envolveu 500 pessoas e incluiu até mesmo a explosão de uma bomba. O explosivo foi colocado em uma mochila abandonada em uma plataforma, ao lado dos trilhos. Voluntários que trabalham na organização da Olimpíada se passaram por passageiros feridos e foram levados para a plataforma, onde receberam os primeiros socorros. Também foram simuladas intensa troca de tiros e perseguição a terroristas.

De acordo com a Secretaria de Segurança do Estado do Rio, o objetivo foi “testar o planejamento e as ações de resposta em um cenário crítico”. No treinamento, foi testada a capacidade de resposta coordenada a atentados, com acionamento das forças de segurança, neutralização de agressores, varreduras, isolamento da estação, atendimento a vítimas e tentativa de identificação de terroristas. A região no entorno da estação de trem foi isolada e houve alterações no trânsito da região. O exercício foi acompanhado em tempo real pelos funcionários do Centro Integrado de Comando e Controle (Cicc), que abrigará agentes de inteligência e segurança de 106 países.

Neste domingo, equipes de segurança, transporte e trânsito farão treinamento para a cerimônia de abertura da Olimpíada. A simulação acontecerá em vários pontos da Zona Sul, Barra da Tijuca (Zona Oeste), no entorno do estádio (Zona Norte) e no Centro. Serão testados os deslocamentos de atletas, organizadores, voluntários e autoridades, com interdição e liberação das ruas. As simulações começarão de madrugada, às 5h, e deverão ser encerradas às 12h.
 

Fonte: Correio Braziliense
 

 

 

 

 

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Contra terror, COI diz que antecedentes de 400 mil pessoas foram avaliados no Rio

A informação foi passada pela entidade em Lausanne depois da revelação pelos serviços de inteligência da França de que o Estado Islâmico poderia estar organizando um atentado no Brasil.  “A segurança começou a ser implementada no dia 5 de julho, com 85 mil pessoas para garantir a segurança nas ruas do Rio de Janeiro durante os Jogos”, indicou o COI em um comunicado. “As autoridades brasileiras estão fazendo tudo o que podem para garantir a segurança antes e durante os Jogos”, disse. 

O COI ainda explicou que “para proteger visitantes de qualquer ameaça, os serviços de segurança estão realizando um verificação dos antecedentes de todos envolvidos nos Jogos”. “No total, os antecedentes de cerca de 400 mil pessoas foram avaliados, incluindo voluntários, jornalistas e dirigentes”, revelou. 

Segundo a entidade, além dos 85 mil homens brasileiros, 250 policiais de 55 países vão “apoiar as forças armadas locais e os serviços de polícia”. “Membros do serviço de inteligência dos EUA, Bélgica e França e outros países estarão no Rio como parte dos esforços do Brasil contra o terrorismo”, avisou. Foi em Bruxelas, Paris e EUA que os últimos ataques importantes ocorreram. 

Há duas semanas, a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelou que a Direção de Combate ao Terrorismo na ONU considerava os Jogos do Rio como um “alvo fácil” para grupos extremistas e que a Olimpíada representava um maior risco que a Copa do Mundo, em 2014. “Durante os Jogos, forças de segurança vão patrulhar a Vila Olímpica, instalações esportivas, áreas de turismo e locais estratégicos como aeroportos e principais avenidas”, garantiu o COI. “Dois centros de operação – no Rio e em Brasília – vão trabalhar 24 horas por dia”, disse. 

“Acreditamos que, com o reforço de nosso policiamento, apoio das forças armadas e membros de forças de outros países, teremos a capacidade total para garantir um ambiente pacífico”, disse Andrei Rodrigues, chefe da Secretaria para a Segurança de Grandes Eventos do Ministério da Justiça.

Fonte: Estadão
 

terça-feira, 21 de junho de 2016

Fala aí, Michel!

Por que Temer não conta quanto foi roubado nos desgovernos do PT?

As manchetes, que ocuparam o alto da primeira página e tiveram o maior destaque nas editorias de Política e Economia do Estadão, sábado e segunda-feira, dizem respeito a assuntos correlatos. Uma é a informação do delator premiado Vinicius Veiga Borin de que a Odebrecht comprou um banco para distribuir propina e a outra, o decreto de calamidade pública no Rio de Janeiro. Uma é a causa e a outra, o efeito. A primeira resulta do estado de absoluta devassidão moral que tomou conta do país desde que Lula da Silva, o mais popular presidente da História da República, entregou os cofres das estatais (inclusive bancos) à organização criminosa que reuniu burocratas do alto escalão da máquina pública e dirigentes partidários para planejar, organizar e realizar o maior furto de dinheiro público do planeta em todos os tempos. A segunda, da impossibilidade de cobrir as despesas do Estado com os poucos recursos que restaram para financiar o funcionamento das instituições democráticas.

Não dá para pagar as contas da educação, da saúde e da segurança públicas após o saque metódico e permanente do dinheiro arrecadado por impostos escorchantes, por mais escorchantes que eles fossem e sejam, pela associação perversa entre políticos ambiciosos e empresários inescrupulosos. Para o assalto funcionar e permanecer foi criado um esquema minucioso de superfaturamento de contratos de obras e serviços públicos com empresas privadas, em troca de um propinoduto pelo qual fluía a remuneração dos gestores das estatais que administravam a contabilidade, parlamentares que asseguravam a manutenção dos larápios em seus postos, ministros de Estado delinquentes e dirigentes partidários que enriqueceram abundante e ilicitamente em nome do sagrado princípio da velha e boa governabilidade.

Foi montado um sofisticado método de “engana trouxa” para o esquema funcionar e escapar aos controles (cuja fragilidade é agora revelada) da Receita Federal, do Banco Central, do Conselho Administrativo dos Recursos Fiscais (Carf) e de outros órgãos da administração federal encarregados de fiscalizar, punir e evitar a bandalheira. Tais mecanismos fiscalizatórios foram desativados por gorjetas milionárias, propiciando boa vida, sombra e água fresca para cidadãos encarregados de fazê-los funcionar. Ou seja, zelotes, denominação exata dada à operação policial e judicial que os investiga.

Por sua vez, com o bolso aliviado por essa casta canalha, o cidadão foi facilmente seduzido por miçangas retóricas e truques rasteiros de marketing político e deixou-se enganar, cômoda e confortavelmente, pela astuciosa súcia de agentes políticos que se perpetuam no poder fazendo-se de cegos, surdos e mudos como, na prática, age a cidadania. Desmontado o esquema, denunciado o roubo, esta é convocada a pagar a conta e patrocinar a impunidade dos salafrários. Assim, a falta de moral desemboca na crise econômica que engrossa e embrutece o caos político. Não é, portanto, mera coincidência o Brasil bater recordes mundiais de safadeza, desemprego, falência de empresas, queda de arrecadação e instabilidade.

Paraíso dos bicheiros que se tornaram traficantes, maravilha da malandragem e território do jeitinho, o Rio é uma calamidade antiga, enfim decretada. Mas não é o primeiro estado a encarar a ruína. Antes, foi o Rio Grande do Sul, cujo calote precedeu o fluminense. Clio, a deusa da História, caprichou na ironia: Leonel Brizola nasceu no Rio Grande do Sul e tornou-se célebre no Rio de Janeiro, a antiga capital federal, em cujo obelisco central seu prócer maior, Getúlio Vargas, amarrou os “pingos”.

Além dessa coincidência histórica, também assolaram o burgo fundado por Estácio de Sá as quinquilharias mais vistosas dos 13 anos, 4 meses e 12 dias em que a organização criminosa obteve anuência cega, surda e muda dos comandantes da nau sem rumo: a descoberta do pré-sal, a Copa do Mundo e agora a Olimpíada de 2016. Nada mais condizente com o reinado do pão e circo dos césares Augusto, Tibério e Nero, com o Maracanã servindo de Coliseu no encerramento do desastrado torneio de futebol e na abertura dos jogos modernos da zika, do arrastão e da ciclovia derrubada pela ressaca. O circo frustrado e o pão de fancaria, que parecia ser distribuído com fartura inédita por conta do petróleo do pré-sal só fizeram a festa dos delinquentes, que ficaram com o dinheiro de obras que se desfazem quando brilham no ar, como fogos de artifício no réveillon de Copacabana. O artífice do show, Lula da Silva, vencedor das batalhas da FIFA e do Comitê Olímpico Internacional (COI), e seus asseclas querem dos mortos e feridos um perdão que nem sequer se dão ao luxo de pedir.

Nesse particular, não estão sozinhos. Neste instante, ficamos sabendo que a oposição, que parecia apenas ser preguiçosa, inepta e desleixada, pode ter sido é cúmplice, conforme revela delação seletiva de Sérgio Machado, premiado com pena de 3 anos de tornozeleira em casa no lugar de 20 recolhido à cela. Tudo o que Lula queria na vida é que todo brasileiro tivesse a memória benevolente desse delator e fosse reconhecido pelo mérito das obras imperfeitas, como os estádios do Mundial, ou incompletas, como a transposição do São Francisco. Mas que não fosse lembrado pelo acesso que deu a todos quantos arrombaram os cofres da viúva em nome de falsos ideais bolivarianos que os poderosos de plantão fingem ter. Nem pela paternidade política da Mãe do Desemprego e do PIB cru.

Agora que tudo está sendo esclarecido e que do pré-sal da política o  que se extrai é a queda dos que meteram a mão ou fizeram vista grossa e ouvidos de mercador a suas malfeitorias, ainda restam dois mistérios a lamentar e desvendar. O primeiro: por que Aécio Neves não explicou aos eleitores tungados esse teorema no qual o furto é causa e crise, efeito. É mais compreensível do que o de Euclides. Mesmo que a Operação Lava Jato comprove que os tucanos compartilharam, pelo menos, sobejos do butim, essa ainda é uma equação sem solução.

O outro só pode ser desvendado por Michel Miguel Elias Temer Lulia. Que razão obscura e oculta mantém a mordaça que o impede de vir a público para contar a que os sócios do desgoverno comandado pelo PT, mas do qual ele também fez parte, reduziram o patrimônio público durante sua passagem pelo poder republicano. E quais são as consequências funestas de seus desmandos. Milhões pagam pra ver as cartas desse jogo de cujo baralho sujo Dilma Vana Rousseff Linhares está sendo excluída. Quais seriam as razões de ocultá-las na manga do colete?

Fonte: Blog do Nêumanne

 

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Dilma e os delatores



Num processo de mistificação do passado a serviço da corrupção do presente, a doutora confundiu o STF com o DOI
Um dos enigmas do comportamento político de Dilma Rousseff está na sua capacidade de viver numa realidade própria. É a essa característica que se deve atribuir parte do descrédito que acompanha sua administração. Diz uma coisa, faz outra e vai em frente. Recuando quase meio século na história do país para manipular os desdobramentos da Operação Lava-Jato, a doutora afirmou o seguinte:  Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas presas e garanto a vocês que resisti bravamente”.

Mistificando o presente, associou o comportamento de quem passa pela carceragem de Curitiba com o dos presos do DOI durante a ditadura. Seu paralelo ofende o Ministério Público, o Judiciário e o Supremo Tribunal Federal, que homologa cada um dos acordos onde estão as confissões. Nenhum preso da Lava-Jato passou por qualquer constrangimento físico. Até agora, todos os atos praticados pelos investigadores respeitaram o devido processo legal.

Deixando-se essa questão de lado, o que não é pouca coisa, vai-se ao coração da fala: “Eu não respeito delator". Num lance de autoexaltação, lembrou que “resisti bravamente". Ela sabe que o comportamento de um preso sob tortura nada tem a ver com sua bravura. 
 Relaciona-se apenas com o caráter do torturador e do regime a quem ele serve. Quem fala sob tortura não é delator, é apenas um cidadão torturado e a doutora respeita muitos deles. Dilma Rousseff, a “Wanda” do Comando de Libertação Nacional, sabe que o “Kleber” não foi um delator. Em 1969, depois de ter sido torturado por vários dias, ele indicou para a polícia o endereço de um aparelho da Rua Atacarambu, em Belo Horizonte, onde estavam sete de seus companheiros. Dos milhares de presos torturados durante a ditadura, talvez não tenham chegado a uma dezena aqueles que, livres, continuaram colaborando com os agentes da repressão. Se os acusados que estão colaborando com a Lava-Jato são mentirosos, não merecem respeito e seus acordos devem ser  cancelados. Insultá-los leva a lugar nenhum.

Misturar empreiteiros milionários com militantes torturados é um truque que desmerece o estado de direito e o regime democrático de hoje. Nas palavras de um ministro do governo Médici, referindo-se aos presos de seu tempo, “a delação, para eles, é o supremo opróbrio". Outro hierarca elaborou o lance seguinte: os presos, tendo delatado, justificavam-se inventando que haviam sido torturados. Donde, não havia tortura, mas delatores. No paralelo de Dilma não haveria roubalheiras, mas delatores que não merecem respeito.

Há ainda outra diferença entre os presos que eram torturados nos DOI e os que passam pela Lava-Jato. Uns sequestravam diplomatas, assaltavam bancos e roubaram o cofre onde a namorada de um ex-governador de São Paulo guardava dois milhões de dólares, parte dos quais vindos de empreiteiras. Seus alvos faziam parte do arco de interesses que todos, inclusive a doutora, pretendiam destruir. Nenhum deles pensava em aumentar seu patrimônio. Os empreiteiros da Lava-Jato buscavam o enriquecimento pessoal e o PT enfiou-se nesse mundo de pixulecos porque quis.

Fonte: Coluna do Elio Gaspari