Quem ainda aguenta ouvir falar da
presidente afastada Dilma Rousseff? Talvez somente ela mesma,
e os 81 senadores que começarão a julgá-la por crime de responsabilidade a
partir do próximo dia 25. Quanto a esses, só por obrigação. Contam os
dias que faltam para mudar de assunto. A carta que Dilma escreveu aos
senadores, e que divulgou ontem, é a prova definitiva
de que ela nada mais tem a dizer de novo aos seus juízes e aos brasileiros.
Nem em defesa do seu mandato, prestes a ser cassado. Nem
em defesa do que fez ou deixou de fazer no seu período presidencial de cinco
anos. Vejamos:
"Na
jornada para me defender do impeachment me aproximei mais do povo, tive
oportunidade de ouvir seu reconhecimento, de receber seu carinho. Ouvi também
críticas duras ao meu governo, a erros que foram cometidos e a medidas e
políticas que não foram adotadas. Acolho essas críticas com humildade e
determinação para que possamos construir um novo caminho".
(A
falsa humilde não cita um só erro que tenha cometido. Não apresenta uma só
ideia capaz de iluminar o que ela chama de “novo caminho”.)
"Quem
afasta o presidente pelo 'conjunto da obra' é o povo e, só o povo, nas
eleições. Por isso, afirmamos que, se consumado o impeachment sem crime de
responsabilidade, teríamos um golpe de Estado".
(Havia
uma dezena de referências ao “golpe” no original da carta. Restaram duas
referências apenas. Dilma só oferece uma opção aos senadores que a julgarão:
absolvê-la. Do contrário merecerão ser chamados de “golpistas”. Por tabela, igualmente de “golpista” merecerá ser
chamado o presidente do Supremo Tribunal Federal, que comanda a fase final
do impeachment.)
"Os
atos que pratiquei foram atos legais, atos necessários, atos de governo. Atos idênticos
foram executados pelos presidentes que me antecederam. Não era crime na época
deles, e também não é crime agora".
(Em
pelo menos três ocasiões até aqui, os senadores reconheceram que os atos
cometidos por Dilma, e pelos quais será julgada, configuram crime, sim senhor. Dilma perdeu todas as ações que impetrou
na Justiça para abortar o processo de impeachment.)
"Jamais
se encontrará na minha vida registro de desonestidade, covardia ou traição. Ao
contrário dos que deram início a este processo injusto e ilegal, não tenho
contas secretas no exterior, nunca desviei um único centavo do patrimônio
público para meu enriquecimento pessoal ou de terceiros e não recebi propina de
ninguém".
(Dilma
não será julgada por desonestidade, covardia ou traição. Mas por ter gasto
muito além do que o Congresso autorizara. Isso configura crime de
responsabilidade, segundo a Constituição. No futuro, poderá ser julgada por ter
tentado obstruir a Justiça e até por corrupção, a depender do que ainda está
sendo investigado pela Lava-Jato.) "A restauração plena da
democracia requer que a população decida qual é o melhor caminho para ampliar a
governabilidade e aperfeiçoar o sistema político eleitoral brasileiro".
(O
parágrafo acima tem a ver com a proposta feita por Dilma de realização de um
plebiscito para que os brasileiros decidam se querem antecipar a próxima
eleição presidencial. Ela também propôs uma reforma política. A ideia da
reforma é velha. Ela falou em reforma muitas vezes e nunca a levou adiante.
Quanto a antecipação da eleição presidencial de 2018, nem o Congresso concorda
nem mesmo o PT.)
"A
vida me ensinou o sentido mais profundo da esperança. Resisti ao cárcere e à
tortura. Gostaria de não ter que resistir à fraude e à mais infame injustiça”.
(...) "Quem deve decidir o futuro do país é o nosso povo. A democracia
deve vencer".
Fonte:
Ricardo
Noblat – O Globo
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