Dilma e Lula, cada qual a seu tempo e estilo, voltaram a protagonizar
espetáculos anedóticos nos últimos dias.
E só rindo mesmo para não
chorar diante dos desaforos que lançam sistematicamente contra a
inteligência de cada um de nós brasileiros. Lula escolheu como picadeiro
o banco dos réus e palanques na rua, habitat tradicional para seus
showzinhos particulares. Dilma, por sua vez, optou pelos grandes salões
mundo afora, num tour que fez corar de vergonha não apenas os patrícios
como a plateia estrangeira que dedicou tempo a ouvi-la. Comecemos pois,
fazendo jus ao cavalheirismo, pela dama e suas diatribes. Não foi uma,
mas inúmeras as escorregadelas e falta de compostura que adotou, até
quando se arriscou a dialogar em um francês sofrível com gafes em
profusão.
No que disse de absurdos, atribuiu os maus resultados da
economia a sua queda, decorrência direta do “golpe” – para usar uma
lorota muito em uso nos discursos petistas – contra o mandato que
exercia. Não foram as barbeiragens que executou, nem mesmo as medidas
populistas que ordenou aos comandados, as verdadeiras razões da mais
devastadora recessão da história do País. De maneira alguma! Esqueçam
isso! Dilma, na tortuosa linha de raciocínio exposta ali, era a razão do
sucesso, o porto seguro para as inversões redentoras do capital. Sem
ela, estaríamos perdidos, chafurdando na lama. E assim aconteceu,
acredita a honorável ex-presidente deposta. E disse isso literalmente a
cada um dos ouvintes: “você acha que alguém investe em um país em que
parte da oposição pede o impeachment da presidente? Eles construíram
algo irresponsável, a insegurança do Brasil. Hoje a economia se
deteriora”.
Vamos nos ater a alguns itens dessa pantomima. Não foi “parte da
oposição” que gerou o seu impeachment. A quase totalidade do Congresso,
somada às hordas de milhões de brasileiros desesperados nas ruas – em
maioria ensurdecedora, cujos panelaços e buzinaços não deixariam negar
–, a afastou do poder, por obra e graça de improbidades administrativas
notórias. Na letra da lei. E, qualquer um sabe, não é de “hoje” que a
economia se deteriora. Dilma apagou da memória os números devastadores
de PIBs negativos sob sua gestão. Esqueceu (só ela!) os milhões de
trabalhadores que empurrou para o desemprego, os repiques da inflação, o
descontrole nas contas públicas, a destruição das empresas, o caos em
resumo, frutos das inconsequentes escolhas tomadas por ela. Dilma,
ardilosamente, gosta de entrar em modo de negação e fez isso mais uma
vez.
Falseou os fatos. Pensava enganar a quem? Na Suíça, onde a rigidez
de princípios e a qualidade de vida se sobrepõem à média, disse para
assombro geral: “duvido que vão continuar chamando o PT de corrupto
daqui para frente!”. Um pouco mais de sensatez seria aconselhável nos
discursos da senhora Dilma. Na rota europeia, sem fundamento algum,
chegou a falar no risco de adiamento das eleições do ano que vem e na
ameaça de mudanças de regras para condenar Lula. Há de se perguntar de
onde ela tira tantas ilações? A ex-presidente difama o Brasil, a
democracia e as instituições como quem despreza escrúpulos. A tentação
populista de encobrir e distorcer a realidade em proveito próprio ganha
força por esses dias.
Mesmo seu mentor Lula não fica atrás nesse aspecto. Na primeira
audiência a que compareceu como réu para prestar esclarecimentos sobre a
acusação de tentar atrapalhar investigações da Lava-Jato fez da sessão
um espetáculo. Se disse vítima de perseguição. Tripudiou de indagações.
Os favores que teria ganho em um triplex, reformas do sítio (que não o
pertence) ou mesmo os gordos dividendos recebidos por palestras a
empresas que, em troca, lhe pediam favores, não passam de besteira!
Intriga da oposição. Não existe organização criminosa no PT, uma
definição de juízes da mais alta corte que o ofende.
Na oitiva
preliminar reclamou de levantar todo dia com receio de ser preso e negou
qualquer influência na indicação daqueles que a seguir saquearam as
empresas do Estado. O senhor Lula, como deixou transparecer mais de uma
vez, gostaria mesmo que tudo isso fosse esquecido. Não reconhece
malfeitos. Fez troça até quando indagado sobre seus rendimentos; “põe aí
R$ 50 mil”. Com a profusão de amigos a socorrê-lo quando precisa, não
saberia mesmo dizer de onde vem seu sustento. Dias após o interrogatório
judicial, como se nada tivesse acontecido, estava ele novamente no
palanque a reclamar com veemência contra as reformas da previdência. O
rombo no caixa do Estado não é problema seu – muito embora tenha
crescido espantosamente em pouco mais de uma década de PT no poder.
Valem mesmo as promessas eleitoreiras a arrebanhar massa de manobra para
colocá-lo mais uma vez no comando da farra. Lula anseia o papel de
“salvador da pátria” contra o “governo ilegítimo”. Não toma jeito. Culpa
de quem ainda acredita nele.
Fonte: Editorial - IstoÉ - Carlos José Marques é diretor editorial da Editora Três
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