O jogo é realmente pesado. Outro bandido, agora na trilha para ser herói, também resolve acusar o presidente; já não há mais investigação, mas um conjunto de armadilhas
É, meus caros, o jogo é pesado. No dia
em que vem a público o relatório preliminar da Polícia Federal a
sustentar que há evidências de que o presidente Michel Temer cometeu
crime de corrupção passiva — e o texto da PF tem lá suas marotices —,
outra granada é jogada do quintal do presidente. Só que não estourou
porque o pino está enroscado e não tem como desenroscar. Explico.
Lúcio Bolonha Funaro, mais um notável
bandido que parece estar disposto a seguir a trilha do herói Joesley
Batista, afirmou, informa reportagem da Folha, que Michel Temer fez
“orientação/pedido” para operações de crédito junto ao Fundo de
Investimentos do FGTS em benefício de duas empresas privadas. A ação
teria gerado comissões de R$ 20 milhões, que teriam sido destinados às
campanhas de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, em 2012, e
também à presidencial de 2014.
Funaro está preso na Papuda, em
Brasília. Foi um dos operadores do mensalão. E foi flagrado também no
petrolão e seus derivados. Agora, buscando o berço do herói, ele diz
ainda que Temer tinha conhecimento do pagamento de propina sobre o
contrato entre a Petrobras Internacional e a Odebrecht para a construção
das plataformas. Não é mesmo fabuloso? Notaram como uma
nova — e, ao mesmo tempo, muito velha — narrativa está em curso. E ela
assevera, vejam que coisa!, que o grande bandido do Brasil é justamente
aquele que Rodrigo Janot, o procurador-geral da República, decidiu
derrubar: Michel Temer! Quem diria! O homem que não conseguiu manter a
coordenação política do governo Dilma quando ministro — embora tenha
sido eficiente nos poucos meses que lá ficou — porque foi derrubado
pelos petistas se revela, agora, o verdadeiro Senhor das Sombras.
Que PT que nada! Que Lula que nada! São Joesley já disse: “O Número Um é
Temer, e o Número Dois é Aécio. Trata-se de uma patuscada que só pode
beneficiar, vamos convir, o número 13, não é mesmo? O relatório prévio da PF, especialmente
porque elaborado sem nem mesmo as perícias necessárias, não tem
importância nenhuma. É jogo de cena. Como diria a filósofa Gaby
Amarantos, se botar o dito-cujo na vitrine, ele nem vai valer 1,99. E o
mesmo se diga do que Funaro afirmou até aqui. Vamos ver o que vai rolar
na sua possível delação. Joesley, o mestre dos mestres na área, já
evidenciou que a Procuradoria Geral da República gosta de história
pesada, com muito sangue institucional correndo na praça.
Observem que as acusações do criminoso
dizem respeito ao período em que Temer era vice-presidente da República.
Assim, cumpre lembrar o “Parágrafo 4º do Artigo 86 da Constituição: “O
Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções”. Funaro acusou ainda Moreira Franco, hoje
na Secretaria Geral da Presidência, de ter recebido comissão em razão
da liberação de recursos do FI-FGTS, em 2009. Geddel Vieira Lima, por
sua vez, teria recebido R$ 20 milhões quando vice-presidente de Pessoa
Jurídica da CEF por liberação de recursos para o grupo J&F. Os dois
peemedebistas rechaçaram as acusações.
Mas como era o relacionamento de Funaro
com Temer, a ponto de ele saber que o vice “orientava ou pedia” ações
irregulares que rendiam benefícios ao PMDB? A Folha informa: “O corretor
disse que não tinha ‘relacionamento próximo’ com o presidente, mas que
com ele esteve em três oportunidades: na base aérea de São Paulo,
juntamente com o deputado Eduardo Cunha; em um comício para as eleições
municipais em Uberaba (MG), no ano de 2012, também com Cunha e com [o
executivo da JBS] Ricardo Saud, e em uma reunião de apoio à candidatura
de Gabriel Chalita à Prefeitura”.
Três encontros, e ele já está pronto
para denunciar o presidente! E que se lembre no arremate: Funaro era uma
das personagens daquelas 82 perguntas da PF, em tom acusatório,
enviadas a Temer e que o presidente preferiu não responder. Fez muito
bem! A armadilha resta evidente: tivesse respondido, levaria agora na
testa as acusações de Funaro. Não sei se os senhores ouvintes
entenderam: não se trata mais de uma investigação, mas de um conjunto de
armadilhas para tentar derrubar o presidente.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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