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segunda-feira, 26 de junho de 2017

A face oculta

A democracia brasileira está ameaçada. O que a Lava Jato está revelando é um propino-Estado

A Lava Jato desvendou a face oculta da democracia brasileira, tal como foi implementada na última década. Uma organização criminosa, disfarçada de ideias esquerdistas, tomou de assalto o Estado, trabalhando em benefício próprio e no de seus comparsas, que enriqueceram nessa apropriação partidária do público. Seria simplesmente hilário o fato de os responsáveis de tal apropriação dizerem que o atual governo subtrai “direitos”, não fosse o caso de alguns ainda lhes darem ouvidos. Contentam-se estes com o velho chavão de não haver problemas com a Previdência, bastando repetir-lhes as velhas fórmulas carcomidas que levaram o País a este buraco. 

Foram precisamente os erros passados que conduziram o País a este descalabro de depressão econômica e social, para não dizer psicológica dos que perderam o emprego e nada têm a oferecer em casa a seus filhos. Os autores desse desastre já deviam ter sido responsabilizados, condenados e presos. Posam, entretanto, de “oposição”, num claro sintoma de podridão do sistema político.  Um fato merece ser ressaltado, por ser revelador de certa concepção de democracia. Quando do enterro da ex-primeira-dama, Lula recebeu pêsames de vários adversários, por ele até considerados inimigos, entre eles Fernando Henrique. Tal ato de solidariedade veio acompanhado de “propostas” de diálogo em nome do Brasil e da democracia, como se o líder de uma organização criminosa fosse um interlocutor privilegiado. No caso, parece até que as ideias esquerdistas comuns de antanho orientariam esse tipo de diálogo, como se elas pudessem encobrir os crimes perpetrados contra o Estado. 

Trata-se de uma nuvem de fumaça que deixa transparecer um diagnóstico completamente equivocado do que aconteceu com o Brasil nos 13 anos de governo lulopetista. Não houve “erro político”, mas sequestro da representatividade política e dos bens dos contribuintes. É uma tentativa de reatar com um passado que simplesmente não existe mais. Mas eles não estavam sozinhos nesse empreendimento, contaram com o apoio da maioria dos partidos políticos, destacando-se o PMDB, o PP e o PDT, numa salada partidária de causar inveja aos maiores chefs pela diversidade ideológica e pelo fisiologismo. 

A nova lista de Janot é de estarrecer até os mais incautos, por envolver seis ministros atuais mais quatro anteriores do atual governo, os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, quatro de seus ministros, incluindo dois da Fazenda. A lista estende-se, agora, também a dirigentes do PSDB, incluindo potenciais candidatos à Presidência da República. Isso sem contar os presidentes da Câmara e do Senado e um número expressivo de senadores e deputados. 

A classe política foi literalmente dizimada, deixando de exercer a sua função de representatividade. Como pode uma democracia sustentar-se sem uma adequada representação política, respaldada por partidos idôneos e com ideias de nação?  A situação é bem mais problemática do ponto de vista institucional porque a linha sucessória presidencial será atingida se os presidentes da Câmara e do Senado forem condenados. 

Não se trata de fazer um juízo de valor sobre essas pessoas, que têm seu direito legítimo de defesa, mas de apontar uma questão da maior gravidade, qual seja, a de uma democracia que pode tornar-se acéfala. Uma sociedade sem alternativas pode rumar para aventuras, agarrando-se a qualquer pessoa que lhe apareça como uma âncora, por mais falsa que seja. [por esse entendimento - sem alternativas a sociedade opta por agarrar-se a qualquer pessoa - é que grande parte da imprensa insiste na saída de Temer sem apontar uma solução exequível, funcional e que não deixe o Brasil mais a deriva do que está.
Mais a deriva? sim - o Brasil está à deriva, mas, ainda tem algum rumo, saindo Temer e sendo escolhido qualquer um estaremos indo para o CAOS CAÓTICO; a redundância é uma tentativa de acordar os que insistem em  modificar a Constituição,  inserindo eleições diretas imediatas para presidente, esquecendo prazos e mais importante: medidas que permitam que aventureiros se candidatem e sejam eleitos por eleitores que NÃO SABEM VOTAR, tanto que elegeram e reelegeram coisas como Lula e Dilma.]

 Fonte: Denis Lerrer Rosenfield,
*Professor de filosofia na UFRGS; e-mail: denisrosenfield@terra.com.br

 

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